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Alguns exemplos de políticas públicas de incentivo

Oksandro Osdival Gonçalves 1 1 Introdução

6. Alguns exemplos de políticas públicas de incentivo

Existem várias políticas públicas que buscam incentivar a geração de energias renováveis, desde aquelas que visam prover os recursos necessários à realização dos empreendimentos, até aquelas baseadas em incentivos fiscais.

Um dos mecanismos de incentivo é o programa denominado PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), criado pela Lei n. 10.438/2002, que, segundo informação da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), tem como objetivo “aumentar a participação de fontes alternativas renováveis na produção de energia elétrica, privilegiando empreendedores que não tenham vínculos societários com concessionárias de geração, transmissão ou distribuição”. Esse programa é custeado “por todos os consumidores finais (livres e cativos) do Sistema Interligado Nacional (SIN), exceto os classificados como baixa renda”. Esse custeio “é dividido em cotas mensais, recolhidas por distribuidoras, transmissoras e cooperativas permissionárias e repassadas à Eletrobras”. Essa política visa prover os recursos necessários ao implemento da geração de energias renováveis, mas não tem caráter extrafiscal, todavia, dada sua importância é digna de nota neste trabalho porque ela é associada às políticas públicas extrafiscais destinadas para o mesmo setor.

No campo da extrafiscalidade, há o projeto de lei do Senado n. 311/2009, que busca criar o REINFA (Regime Especial de Tributação para o Incentivo ao Desenvolvimento e à Produção de Fontes Alternativas de Energia Elétrica), tendo com justificativa principal o

elevado custo de implantação de projetos de geração de energias renováveis e a necessidade de combate ao efeito estufa, conforme

Segundo informa a justificação, a matéria tem como objetivo associar o enorme potencial brasileiro de fontes alternativas por explorar com o premente esforço mundial de combate ao efeito estufa, causado, em boa medida, pela geração de energia por fontes não renováveis. O esforço brasileiro pelo desenvolvimento intensivo das fontes alternativas tem esbarrado no custo mais alto destas em comparação com as fontes convencionais.31

Uma das vantagens do REINFA é a previsão de que o programa também abrangerá a pesquisa, o desenvolvimento e a produção e equipamentos utilizados na geração de energia eólica, solar e marítima, além de novas tecnologias ou materiais de armazenamento de energia, inclusive de veículos que possam utiliza-las.

O projeto prevê a isenção da Contribuição para o PIS/PASEP e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), da Contribuição para o PIS/PASEP-Importação e Cofins Importação incidentes sobre os bens, sem similar nacional, e serviços necessários; e o Imposto de Importação (II) incidente sobre os bens, sem similar nacional. Além disso, isenta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) os bens necessários ao desenvolvimento das atividades relacionadas à geração de energias renováveis. Além disso, ainda confere vantagens às empresas beneficiadas quando precisarem de financiamento junto a entidades oficiais de fomento para projetos. Finalmente, com o intuito de fomentar esse mercado, ainda estabelece que as empresas distribuidoras de energia elétrica

31 http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/- /materia/92056. Acesso em 12/10/2016.

deverão priorizar a aquisição de energia limpa dos produtores independentes.

No âmbito estadual, em razão dos limites do presente trabalho, dá-se ênfase aos três Estados do Sul do País. O Estado do Rio Grande do Sul instituiu a política denominada “RS Energias Renováveis”, um

“programa destinado ao desenvolvimento do setor elétrico regional, através do incentivo às fontes renováveis aqui existentes, visando à diversificação da matriz elétrica e a autonomia energética. Os financiamentos concedidos no programa são direcionados aos empreendedores que queiram investir em projetos de conversão elétrica através de fontes limpas, os benefícios são destinados exclusivamente a pessoas jurídicas (CNPJ) e de acordo com a potência de instalação definida pelo Programa”

No Estado de Santa Catarina, há o Programa Catarinense de Energias Renováveis, que tem por objetivo

... fazer com que o momento delicado que vive o setor energético do país, resultado da escassez de chuvas e o aumento de consumo da população, não chegue à Santa Catarina. Para dar viabilidade ao programa foram reunidos diversos órgãos do Governo, uma força- tarefa para incentivar a atividade financeira do setor, aproveitar o potencial catarinense de geração de energia e manter-se na vanguarda do crescimento. A ideia é fortalecer principalmente as energias consideradas limpas e renováveis, como Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs), Eólica, Solar e Biomassa. São atividades de baixo impacto ambiental, menor que as fontes de energia com origem nos combustíveis fósseis. 32

Além da criação de um fluxograma simplificado para reduzir a burocracia na aprovação desse tipo de empreendimento, o programa catarinense ainda oferece incentivos fiscais com a

Prorrogação para 2021 da isenção de ICMS para a cadeia produtiva do setor energético, proporcionando condições atrativas para investimentos em ampliações ou implantações de novas unidades industriais. A desoneração vale para as operações com equipamentos e bens relacionados à produção de energia eólica e solar. No caso das PCHs, serão concedidos benefícios fiscais por meio dos programas Pró-Emprego e Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense (Prodec).33

Para fornecer um panorama geral da Região Sul, o Estado do Paraná também possui um Programa Paranaense de Energias Renováveis, através do Decreto Estadual nº 11.671/2014, que “como objetivo promover e incentivar a produção e o consumo de energia de fontes renováveis através de pequenas indústrias produtoras de energia, contribuindo com o desenvolvimento sustentável no âmbito do Estado do Paraná, com prioridade para as regiões de menor desenvolvimento humano”.

O programa paranaense associa o incentivo à produção e energias renováveis com o desenvolvimento regional, na medida em que prevê como prioridade regiões onde há menor desenvolvimento humano, promovendo a ligação entre a proteção e defesa do meio ambiente com as questões de natureza socioambientais.

Os incentivos fiscais no Paraná são de diversas ordens, desde isenções até o diferimento de tributos, mas associados a um programa de incentivos mais abrangente,

conhecido por “Paraná Competitivo), conforme Decreto n. 6080/2012 e Decreto n. 630/2011.

O impacto de cada política pública, contudo, é diferente em cada Estado. Abaixo estão listados os dez Estados brasileiros que mais produzem energia eólica, uma das mais importantes energias renováveis à disposição, e do qual se extrai que o Estado o Paraná não está entre os dez maiores produtores, embora conte com uma política de incentivos fiscais:

Estado instalada MW Capacidade Número de parques Parques em construção Potência total até 2018 MW

RN 1.339,2 46 88 3.654,2 CE 661,0 22 70 2.325,7 BA 587,6 24 109 1.978,9 RS 460 15 73 1.978,9 SC 236,4 13 0 236,4 PB 69 13 0 69 SE 34,5 1 0 34,5 RJ 28,1 1 0 28,1 PE 24,8 5 18 534,5 PI 18 1 33 951,6

Fonte: Ecodesenvolvimento e Revista Exame34 – elaborado pelo autor

Além disso, é possível verificar que se excetuando os cinco primeiros Estados, os demais possuem uma geração muito pequena, mas que pode ser estimulada. Nada obstante, somente as políticas de incentivos fiscais parecem não ser suficientes, devendo vir associadas a outras que possam estimular a produção de energias renováveis.

34 http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2014/os-dez-estados- brasileiros-que-mais-produzem?tag=energia. Acesso em 12/10/2016.

7. Conclusão

A questão ambiental é urgente e demanda a adoção de medidas enérgicas visando suprir uma defasagem temporal, pois a matriz energética foi baseada predominantemente em recursos não renováveis.

Apesar das mudanças já a caminho, dada a urgência da questão ambiental e da necessidade de reversão do processo de degradação das condições de vida no mundo, é necessário instituir políticas públicas fortemente voltadas para acelerar o processo de migração da matriz energética para fontes renováveis. Neste processo, destaca- se a intervenção do Estado através de tributos com caráter extrafiscal.

Assim, cabe ao Estado incentivar mediante a concessão de incentivos como, por exemplo, isenções, créditos presumidos, e outros instrumentos tributários, a geração de energia renovável. Esse processo não deve, contudo, romper de imediato com o sistema predominante em vigor, destaca-se o processo de substituição e de complementariedade dos dois sistemas, renováveis e não- renováveis. Todavia, o processo de migração de um sistema para outro pode ser acelerado mediante políticas de incentivo fiscal.

Além do incentivo para as empresas investirem em energias renováveis, outras políticas podem se associadas. Destaca-se a necessidade de políticas voltadas para os investidores como, por exemplo, incentivos fiscais sobre os resultados das debêntures de infraestrutura. Neste cenário os investidores seriam estimulados a alocar seus recursos em projetos voltados à produção de energias renováveis mediante a isenção de impostos sobre os resultados apurados ao final do prazo das debêntures.

Tratam-se, evidentemente, de algumas sugestões para sanar falhas de mercado existentes, mas o objetivo é aprimorar o sistema em torno das energias renováveis para

viabilizar a ampliação da oferta e a consequente substituição das energias ditas não renováveis, com ganhos coletivos importantes na esfera do meio ambiente, garantindo-se não somente as gerações atuais, mas também às gerações futuras um mundo mais equilibrado ambientalmente.

8. Bibliografia

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LA EXTRAFISCALIDAD DE LOS