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Incentivos existentes e exemplo de cálculo de sobrecustos

No documento Tributação ambiental e energias renováveis. (páginas 191-200)

Paola Mondardo Sartori 1 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL Após definirmos ser dever do Estado agir de forma a

E) Suécia: em 1991, a Suécia instituiu o Imposto sobre Dióxido de Carbono (CO²) incidente

8. PANORAMA NACIONAL E EXEMPLOS DE INCENTIVOS EXISTENTES NO BRASIL

8.2. Incentivos existentes e exemplo de cálculo de sobrecustos

O desenvolvimento de novas tecnologias e o advento da Resolução Normativa da ANEEL nº 482/2012 permitiram que se implantasse uma nova forma de sistema fotovoltaico31 no Brasil: o sistema conectado à rede. Neste tipo de sistema, a residência permanece sempre conectada à rede convencional, deste modo, caso necessite de mais energia do que pode captar através dos seus painéis solares, poderá consumir a energia oferecida pela mesma. Da mesma forma, quando a demanda é menor do que a quantidade de energia produzida, o excesso de energia é entregue de volta à rede para a distribuidora, virando crédito a ser utilizado pelo consumidor.32 Portanto, além da

30 ALVES, Raquel Barone de Mello Belloni. Energia solar como

fonte elétrica e de aquecimento no uso residencial. São Paulo:

Universidade Anhembi Morumbi, 2009, p. 16. Disponível em: <http://engenharia.anhembi.br/tcc-09/civil-39.pdf>. Acesso em abril de 2016.

31 Sistema de captação de energia solar.

32 JANNUZZI, Prof. Dr. Gilberto de Martino. Sistemas

Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica no Brasil: Panorama da Atual Legislação. Campinas: Universidade Estadual de Campinas e

possibilidade de se obter uma redução considerável na conta de energia, é possível, inclusive, zerá-la (pagando-se apenas a chamada “taxa de disponibilidade”, cujo valor varia, custando, em média, R$ 35,00).

Ocorre que a citada Resolução não surgiu acompanhada de qualquer outra medida de incentivos tributários. O resultado, por conseguinte, é que, após quase quatro anos da criação da mesma, existem apenas 53333 consumidores com micro ou minigeração de painéis solares conectados à rede de distribuição em todo o país (dados coletados até março de 2015 pela ANEEL).

No caso dos painéis solares, deve-se destacar que, de modo geral, não há fabricação nacional dos componentes do sistema e, quando esta existe, compreende poucas opções de modelo sendo estes geralmente de qualidade inferior aos fabricados no exterior. Dessa forma, a maior parte das empresas responsáveis pelo dimensionamento e instalação de sistemas fotovoltaicos importa os componentes para a produção dos painéis, revendendo-os em solo brasileiro. Outrossim, o consumidor que quiser, diretamente, adquirir um painel solar para sua residência, sem utilizar uma empresa como intermediária, também deverá passar pelos trâmites da importação.

Ao analisar o tratamento tributário conferido às importações conforme a legislação brasileira visualiza-se que este compreende a reunião de impostos federais, estaduais e municipais, quais sejam: o Imposto de Importação (II), o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o Imposto International Energy Initiative, 2009, p. 10.

33 ANEEL. Nota Técnica nº 0017/2005-SRD/ANEEL. Disponível em:

<http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/arquivo/2015/026/d ocumento/nota_tecnica_0017_2015_srd.pdf>. Acesso em: abril/2016.

Sobre Serviços (ISS), o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), a PIS-PASEP e a COFINS. Ademais, além da carga tributária referente aos impostos incidentes, ainda incidem as taxas AFRMM (Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante), no caso de importação por via marítima, ATA (Adicional de Tarifas Aeroportuárias), taxa de Armazenagem, de Capatazia, do Despachante Aduaneiro e de Emissão da Declaração de Importação (SISCOMEX).

Ressalta-se que, além da Resolução nº 482/2012, que incentiva a instalação de sistemas fotovoltaicos através da possibilidade de abatimento de valores na conta de luz, os módulos solares possuem incentivos fiscais como, por exemplo, a isenção de IPI e de ICMS, diminuindo-se os custos necessários para sua importação. Entretanto, os demais componentes do sistema de captação de energia solar são tributados com alíquotas muito elevadas, acarretando em uma porcentagem de sobrecustos que ultrapassa a metade do valor do produto, desincentivando, deste modo, a sua importação e, por consequência, a instalação deste tipo de sistema de geração de energia no país. Portanto, fica visível que, em virtude da tributação e da falta de incentivos, o preço para a aquisição dos painéis solares no Brasil acaba sofrendo um acréscimo desmedido no seu valor final, sendo este, principalmente, o fator responsável pelo número ínfimo de adquirentes e usuários da energia solar fotovoltaica no Brasil.

Como forma de demonstrar o encarecimento do produto devido à legislação tributária brasileira, segue tabela com exemplo de cálculo aproximado dos sobrecustos:

Tabela 1 - Exemplo de cálculo dos sobrecustos

Fonte: ERWES, Hanno et al, (2012) – modificada pela autora com alíquotas e valores atuais 34

Percebe-se que, afora os módulos solares, que já possuem algum incentivo fiscal como já mencionado, os demais componentes são tributados com alíquotas muito elevadas, acarretando em uma porcentagem de sobrecustos que ultrapassa a metade do valor do produto. Desta feita, com intuito de proteger o meio ambiente e a eficácia do direito fundamental a um meio ambiente equilibrado, faz-se necessária a implementação de incentivos fiscais que acarretem um barateamento dos componentes do sistema solar fotovoltaico, como também dos demais sistemas de energia renovável que também sofrem em razão da tributação excessiva.

Afora os incentivos já citados, constam na cartilha disponibilizada pelo Senado Federal35 os seguintes incentivos tributários no campo das energias renováveis, em especial a solar:

A) Programa Luz para Todos: instala painéis solares em determinadas comunidades que não possuem acesso à energia elétrica, utilizando-se de sistemas isolados, ou seja, que funcionam através de baterias ou, ainda, que funcionam apenas enquanto há luz solar.

B) Descontos na Tarifa de Uso dos Sistemas de Transmissão (TUST) e na Tarifa de Uso dos Sistemas de Distribuição (TUSD): o desconto é

Equipamentos de Mini & Micro-Geração Distribuída Fotovoltaica no Brasil. Rio de Janeiro: Câmara de Comércio e

Indústria Brasil-Alemanha e Cooperação Alemã para o Desenvolvimento – GIZ, 2012, p. 9.

35 SENADO FEDERAL. Energia Solar no Brasil: dos incentivos e

desafios. Disponível em:

<https://www12.senado.gov.br/publicacoes/estudos-

legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td166>. Acesso em abril de 2016.

de 80% para empreendimentos de potência até 30.000 kW que entrarem em funcionamento até 31 de dezembro de 2017 e passa a ser de 50% a partir do 11º ano de operação da usina solar e para empreendimentos que começarem a operar a partir de 01 de janeiro de 2018.

C) Venda Direta a Consumidores: permissão para que geradores de energia solar e de outras fontes alternativas com potência inferior a 50.000 kW comercializem energia elétrica sem intermediação das distribuidoras. Ainda, os consumidores referidos são beneficiados com desconto na TUSD, estimulando-se a substituição da distribuidora convencional pela distribuidora de fonte alternativa de energia. D) Sistema de Compensação de Energia Elétrica

para a Microgeração e Minigeração Distribuídas: conforme já exposto, trata-se da Resolução nº 482/2012 da Aneel. Os empreendimentos devem ter potência máxima de 1.000 kW.

E) Convênio nº 101/1997 do CONFAZ: também já citado, isenta de ICMS as operações envolvendo equipamentos destinados a geração de energia solar (basicamente módulos e painéis solares, não incluindo o restante dos componentes imprescindíveis para o funcionamento do sistema) e eólica (torre para suporte de gerador de energia eólica, pá de motor ou turbina eólica e aerogeradores de energia eólica).36

F) Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (REIDI):

36 CONFAZ. Convênio 101/1997. Disponível em: <https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/convenios/convenio- icms/1997/cv101_97>. Acesso em abril de 2016.

suspende o pagamento de PIS/PASEP e COFINS no caso de venda ou de importação de máquinas, aparelhos, instrumentos e equipamentos novos, de materiais de construção e de serviços utilizados e destinados a obras de infraestrutura, entre as quais as usinas geradoras de energia solar, destinadas ao ativo imobilizado. O projeto deve ser aprovado pelo Ministério de Minas e Energia e o benefício é válido por cinco anos a contar da habilitação do titular do projeto.

G) Condições diferenciadas de financiamento: para a instalação de um sistema de geração de energia renovável, o financiamento concedido possui taxas de juros abaixo das praticadas no mercado e prazo de amortização de até 20 anos.

Ainda, no que tange à energia solar, o Projeto de Lei do Senado nº 167 de 2013 pretende estabelecer a isenção de IPI sobre módulos solares (apenas um dos componentes necessários para a construção de um sistema fotovoltaico), estabelecendo ainda que a receita bruta da venda deste componente no mercado interno ainda será isenta de PIS/PASEP e COFINS e no caso de importação do referido produto também haverá isenção de Imposto de Importação, PIS/PASEP, COFINS e IPI. O Projeto também determina que as referidas isenções cessem quando o bem produzido no Brasil alcançar as mesmas condições do produto importado no que tange “ao padrão de qualidade, conteúdo técnico, preço e capacidade produtiva”. 37

37 SENADO FEDERAL. Projeto de Lei nº 167 de 2013. Disponível em: < http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/- /materia/112612>. Acessado em abril de 2016.

Ocorre que o referido projeto, apresentado em maio de 2013, atualmente, depois de transcorridos quase três anos, foi aprovado pela Comissão de Serviços de Infraestrutura, porém ainda se encontra com a relatoria da Comissão de Assuntos Econômicos para aprovação, ainda não tendo sido sequer votado pelo Senado Federal para posterior encaminhamento para a Câmara.

No que tange aos incentivos para energia eólica especificamente, em 2001 criou-se o Programa Emergencial de Energia Eólica (PROEÓLICA) com intuito de incentivar a contratação de empreendimentos deste tipo de geração de energia no país. O programa tinha como objetivo a contratação de 1.050 MW deste tipo de energia até 2003.38 Entretanto, o programa não obteve resultados sendo substituído, em 2002, pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, que estabelece incentivo a fontes de energia renováveis, entre elas a eólica. O Programa tem como objetivo o crescimento de instalações deste tipo de geração de energia no país através da garantia, conferida aos fabricantes, de compra da energia pelo governo. Após a implementação do referido programa, no final de 2009, ocorreu o primeiro leilão de comercialização de energia exclusivamente eólica. Atualmente, após está série de incentivos, há no país cerca de 9 GW de potência de energia eólica instalados no país.39

38 ABEEÓLICA – Associação Brasileira de Energia Eólica. Nosso

setor. Disponível em:

<http://www.portalabeeolica.org.br/index.php/nosso-setor.html>. Acesso em abril de 2016.

39 ABEEÓLICA – Associação Brasileira de Energia Eólica. Eólica

alcança 9 GW de capacidade instalada no Brasil. Disponível em: <http://www.portalabeeolica.org.br/index.php/noticias/4358-

e%C3%B3lica-alcan%C3%A7a-9-gw-de-capacidade-instalada-no- brasil.html>. Acesso em abril de 2016.

No que pese o avanço nas instalações deste tipo de energia ao longo dos últimos anos, ressalta-se que a capacidade real de geração de energia eólica brasileira chega a 143,5 GW, ou seja, 272,2 TWh/ano, de acordo com os levantamentos realizados pelo Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio Brito (CRESERB), que produziu, com auxilio do Ministério de Minas e Energia, um atlas do potencial eólico brasileiro.40 Ainda, com o desenvolvimento de novas tecnologias, no ano de 2015, uma das principais consultorias internacionais na área de energia eólica, o DEWI, estimou o potencial eólico brasileiro atual em 500 GW.41 Ou seja, o país ainda se encontra muito longe de alcançar uma geração de energia eólica proporcional ao seu potencial.

O mesmo se aplica ao potencial de energia solar instalado no país. A Arábia Saudita42, por exemplo, maior exportador mundial de petróleo, possui planos de instalar 6 GW de energia solar fotovoltaica dentro de no máximo nove anos. Para que o leitor tenha uma ideia mais apurada da quantidade de energia em comento, 6 GW equivalem a quase três vezes a potência energética instalada na usina do

40 CRESESB - Centro de Referência para Energia Solar e Eólica. Atlas

do Potencial Eólico Brasileiro. Brasília: CRESESB, 2001, p. 34.

Disponível em: <

http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/atlas_eolico/Atla s%20do%20Potencial%20Eolico%20Brasileiro.pdf>. Acesso em abril de 2016.

41 PORTAL FATOR BRASIL. Potencial eólico do Brasil é de 500

GW, segundo DEWI. Disponível em: < http://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=303650>. Acesso em abril de 2016.

42 RITTL, Carlos. O que o Brasil ganha se assumir metas de

redução de emissões. Disponível em: <http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-

planeta/noticia/2015/01/o-que-o-brasil-ganha-se-assumir-bmetas-de- reducao-de-emissoesb.html>. Acesso em: set/2015.

rio Madeira.43 Por outro lado, o Brasil, país com território quase quatro vezes maior que o da Arábia Saudita e com número mais elevado de horas de sol no ano, possui planos de instalação de apenas 2 GW de energia fotovoltaica até 2024.44 A diferença de investimento fica mais evidente ainda quando comparamos o Brasil com a China, que atualmente investe fortemente neste tipo de geração de energia, com intuito de, nos próximos 15 anos, elevar sua capacidade para 100 GW45, o que equivaleria a quase dois terços de todo o parque gerador de energia elétrica do Brasil.46 Outro exemplo a ser comparado é a Alemanha, que atualmente já possui 35 GW de instalação (montante superior ao total instalado de usinas termoelétricas no Brasil - 26 GW) enquanto o Brasil, que recebe mais da metade de radiação solar anual e possui um território significantemente maior, tem apenas 15 MW instalados (0,015 GW).47 Fica, portanto, visível a falta de investimento governamental também neste tipo de energia limpa.

43 HIDRELÉTRICA de Santo Antônio já está com 32 turbinas em operação no rio Madeira, em Rondônia. PAC – Ministério do

Planejamento. Disponível em:

<http://www.pac.gov.br/noticia/11ca19d6>. Acesso em: set/2015. 44 GOVERNO prepara salto da energia solar em residências e empresas. Ministério de Minas e Energia. Disponível em: <http://www.mme.gov.br/web/guest/pagina-inicial/manchete/- /asset_publisher/neRB8QmDsbU0/content/governo-prepara-salto- da-energia-solar-em-residencias-e-empresas>. Acesso em: set/2015. 45 GARCIA, Ricardo. China quer chegar ao pico de emissões de

CO2 antes de 2030. Disponível em: <http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/china-quer-chegar-ao-pico- de-emissoes-de-co2-antes-de-2030-1700607>. Acesso em: set/2015. 46 MINISTÉRIO de Minas e Energia. Capacidade Instalada de

Geração Elétrica Brasil e Mundo (2014). Disponível em:

<http://www.mme.gov.br/documents/1138787/0/Capacidade+Instal ada+de+EE+2014.pdf/cb1d150d-0b52-4f65-a86b-b368ee715463>. Acesso em: ago/2015.

No documento Tributação ambiental e energias renováveis. (páginas 191-200)