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Peculiaridades da matriz elétrica brasileira O Ministério de Minas e Energia formula os

Denise Lucena Cavalcante 1 1 Considerações iniciais

3 Peculiaridades da matriz elétrica brasileira O Ministério de Minas e Energia formula os

princípios básicos e define as diretrizes da política energética brasileira. A Empresa de Pesquisa Energética – EPE realiza anualmente o Balanço Energético Nacional – BEN, segundo o qual, de acordo com os dados de 2015 as fontes renováveis representaram 75,5%, com destaque para o crescimento da eólica, que foi de 77,1%, confirmando o avanço na participação das fontes renováveis17, conforme ilustrado no gráfico oferecido no BEN18:

16 TAVARES, Suzana da Silva. Direito da energia. Coimbra: Coimbra Editora, 2011, p. 103.

17 Disponível em:

https://ben.epe.gov.br/downloads/S%C3%ADntese%20do%20Relat %C3%B3rio%20Final_2016_Web.pdf. Acesso em 28 jul. 2016.

18 Disponível em:

<https://ben.epe.gov.br/downloads/S%C3%ADntese%20do%20Rela t%C3%B3rio%20Final_2015_Web.pdf>. Acesso em: 8 fev. 2016.

No Brasil, a energia é um bem ambiental tutelado pela Constituição Federal e por leis infraconstitucionais19, conforme disposto no art. 20, inciso VIII, da CF/8820; no art. 83, I, do Código Civil21; na Lei n. 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) e em diversos outros instrumentos legais.

A Constituição da República Federativa do Brasil concentrou na União Federal a exploração econômica da energia elétrica proveniente dos cursos das águas22 (art. 21,

19 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; FERREIRA, Renata Marques.

Direito tributário ambiental. 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2010, p. 163.

20 “Art. 20. São bens da União: [...]; VIII – os potenciais de energia hidráulica. ” (CF/88).

21 “Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais: I - as energias que tenham valor econômico. ” (Código Civil).

22 “Art. 21. Compete à União: [...]; XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: [...]; b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais

inc. XII, “b”, CF/88), bem como a competência privativa para legislar sobre energia (art. 22, IV, CF/88). Resta, contudo, como bem lembra José Roberto de Lima, um certo espaço para a participação dos Estados na atividade, pelo fato de o potencial energético estar localizado em seu território e diante o papel fiscalizador deste ente em relação ao ambiente.23

A Lei n. 9.478, de 6 de agosto de 1997, instituiu a política energética nacional, definindo uma série de objetivos decorrentes do aproveitamento racional das fontes de energia24.

hidroenergéticos.” (CF/88).

23 LIMA, José Roberto Martinez de. A criação de incidências tributárias por Estados e Municípios e competência privativa da União. In: VIVAN, Alexei Macorin; SILVEIRA, Rodrigo Maito (Coords.).

Direito e energia. São Paulo: Quartier latin, 2001, p. 290.

24 “Art. 1º As políticas nacionais para o aproveitamento racional das fontes de energia visarão aos seguintes objetivos: I - preservar o interesse nacional; II - promover o desenvolvimento, ampliar o mercado de trabalho e valorizar os recursos energéticos; III - proteger os interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos; IV - proteger o meio ambiente e promover a conservação de energia; V - garantir o fornecimento de derivados de petróleo em todo o território nacional, nos termos do § 2º do art. 177 da Constituição Federal; VI - incrementar, em bases econômicas, a utilização do gás natural; VII - identificar as soluções mais adequadas para o suprimento de energia elétrica nas diversas regiões do País; VIII - utilizar fontes alternativas de energia, mediante o aproveitamento econômico dos insumos disponíveis e das tecnologias aplicáveis; IX - promover a livre concorrência; X - atrair investimentos na produção de energia; XI - ampliar a competitividade do País no mercado internacional; XII - incrementar, em bases econômicas, sociais e ambientais, a participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional; XIII - garantir o fornecimento de biocombustíveis em todo o território nacional; XIV - incentivar a geração de energia elétrica a partir da biomassa e de subprodutos da produção de biocombustíveis, em razão do seu caráter limpo, renovável e complementar à fonte hidráulica; XV - promover a competitividade do País no mercado internacional de biocombustíveis; XVI - atrair investimentos em infraestrutura para transporte e

A Lei n. 10.438/2002 criou o Programa de Incentivo às Fontes de Energia Elétrica - PROINFA, com a finalidade de aumentar a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos de produtores independentes autônomos, concebidos com base em fontes eólica, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa, no Sistema Elétrico Interligado Nacional, dando, assim, maior competitividade econômico-energética para os projetos de geração que utilizem fontes sustentáveis.

Posteriormente, a Lei n. 11.097, de 13 de janeiro de 2005, incluiu na matriz energética nacional a participação dos biocombustíveis e, também, o fomento por intermédio de políticas nacionais destinadas a estabelecer diretrizes para programas específicos, como os de uso do gás natural, do carvão, da energia termonuclear, dos biocombustíveis, da energia solar, da energia eólica e da energia proveniente de outras fontes alternativas.

Mais diretrizes referentes ao estímulo de energias renováveis estão previstas na Lei n. 12.490, de 16 de setembro de 2011, que inclui como objetivos da política energética brasileira: a) a garantia de fornecimento de biocombustíveis em todo o território nacional; b) o incentivo à geração de energia elétrica a partir da biomassa e de subprodutos da produção de biocombustíveis, em razão do seu caráter limpo, renovável e complementar à fonte hidráulica; c) a promoção da competitividade do País no mercado internacional de biocombustíveis; d) a atração de investimentos em infraestrutura para transporte e estocagem de biocombustíveis; e) o fomento a pesquisa e ao desenvolvimentos relacionados à energia renovável e; f) estocagem de biocombustíveis; XVII - fomentar a pesquisa e o desenvolvimento relacionados à energia renovável; XVIII - mitigar as emissões de gases causadores de efeito estufa e de poluentes nos setores de energia e de transportes, inclusive com o uso de biocombustíveis.” (Lei n. 9.478, de 6 de agosto de 1997).

a mitigação das emissões de gases causadores de efeito estufa e de poluentes nos setores de energia e de transportes, inclusive com o uso de biocombustíveis.

O Brasil destaca-se no contexto mundial na produção de energia proveniente de fontes hidráulicas. Embora esta vertente energética seja considerada alternativa de energia renovável, sabe-se que ela não é genuinamente sustentável, considerando as influências ambientais negativas causados pelas grandes hidrelétricas e as oscilações na produção energética decorrentes da falta de água no País.

A contribuição da energia hidráulica na matriz de energia elétrica (Balanço Energético Nacional - 2015) é de aproximadamente 64%, sendo a principal fonte geradora de energia elétrica do Brasil. Só a usina hidrelétrica de Itaipu25, a maior produtora de energia acumulada do Planeta26, atende a 17% do mercado brasileiro e 75% do mercado paraguaio.

Não obstante a importância da prevalência das hidrelétricas no contexto nacional, a busca pela diversificação da matriz elétrica é de suma relevância, principalmente em virtude dos problemas da falta de chuva nos últimos anos e, ainda, em decorrência das dificuldades da transmissão da energia em razão das longas distâncias das hidrelétricas.

As energias renováveis estão em ascensão na matriz elétrica brasileira, principalmente, aquelas geradas das fontes eólica e solar, ambas em pleno desenvolvimento e com excelentes perspectivas para o contexto nacional. Aliás, de acordo com a Agência Internacional de Energia,

25 Disponível em: www.itaipu.com.br. Acesso em: 23 jul. 2016.

26 A maior hidrelétrica do mundo em potência instalada é a Usina de Três Gargantas, da China, contudo, mesmo com capacidade 60% superior, esta não superou o volume de energia gerado por Itaipu.

estas duas fontes são atualmente as que têm maior crescimento na eletricidade global27.

Tais fontes alternativas se tornam relevantes por dispensarem o uso de água na produção energética, considerando que a água é o recurso natural mais disputado no momento. Outra vantagem do País é que o período crítico da seca (setembro/outubro) coincide com o pico dos ventos e da radiação solar, o que torna as fontes de gerações eólica e solar ainda mais atraentes.

Quanto à geração da energia com suporte na biomassa, uma das principais fontes de energia da matriz energética nacional28 está sendo bem desenvolvida. É atualmente a terceira fonte em volume gerado de energia, e ficará ainda melhor com a futura aprovação da Política Nacional de Geração de Energia (Projeto de Lei n. 3529/2012).

A produção de energia proveniente das ondas e marés ainda está na fase de projetos no Brasil, não integrando ainda a matriz energética brasileira. O primeiro projeto para geração de energia elétrica por meio do movimento das ondas do mar da América Latina foi instaurado no Ceará em 2012. Apesar da ampla divulgação

27 Disponível em:

<http://www.iea.org/publications/freepublications/publication/Next GenerationWindandSolarPower.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2016. 28 “Em 2015, as empresas que utilizam biomassa como fonte de geração de energia elétrica produziram 22.572 GWh para o Sistema Interligado Nacional (SIN), de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Palha e bagaço de cana-de-açúcar foram responsáveis por 89,4% deste montante. A produção de bioeletricidade, que representou 4,2% do total produzido pelo setor elétrico brasileiro, só não foi superior ao volume gerado pelas usinas hidrelétricas e térmicas a gás, que entregaram 351.927 GWh e 61.843 GWh ao SIN,

respectivamente.” (Disponível em:

<http://www.unica.com.br/noticia/3102159920338941144/geracao- de-energia-eletrica-pela-biomassa-perde-apenas-para-hidreletricas-e- gas/>. Acesso em: 23 jul. 2016.

e dos elevados gastos (estimam-se 18 milhões de reais), está abandonado, não tendo tido, pelo visto, o êxito esperado.

Ante o contexto das energias renováveis no País, destacar-se-ão a seguir as duas fontes em ampla ascensão - a solar e a eólica - e exatamente por estarem na fase de consolidação deverão ter maior atenção das políticas públicas.

4 Geração de energia solar fotovoltaica no Brasil