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Geração de energia solar fotovoltaica no Brasil A energia solar integra atualmente a matriz

Denise Lucena Cavalcante 1 1 Considerações iniciais

4 Geração de energia solar fotovoltaica no Brasil A energia solar integra atualmente a matriz

energética nacional ainda num percentual muito pequeno (0,01% em 2015 - BEN/2015), no entanto, não restam dúvidas de que será, num futuro próximo, uma das importantes fontes complementares de energia no País e no Mundo.

Com um prognóstico positivo, Gernot Wagner e Martin Weitzman29, ao enfatizarem o crescimento acelerado dessa fonte de energia, asseveram que o fato de os preços das energias fotovoltaicas solares terem caído mais de 80% em cinco anos é um sinal de esperança nesse panorama da crise ambiental.

Atualmente resta comprovado que os instrumentos fiscais, atuando em harmonia com os demais elementos de proteção ambiental, encurtam o caminho à transição para a “economia verde”, hoje um objetivo global.

O processo solar fotovoltaico ainda é relativamente recente, tendo sido a Resolução da ANEEL n. 482/2012 um importante marco em prol do desenvolvimento desta fonte no Brasil, pois, antes de 2012, só havia sistemas isolados não ligados a rede e voltados praticamente para o bombeamento de água. Além do mais, não sendo possível

29 WAGNER, Gernot; WEITZMAN, Martin L. As consequências

económicas de um planeta mais quente. Lisboa: Bertrand, 2015, p.

o armazenamento da energia gerada pelas residências, o sistema de compensação com o consumo de energia elétrica ativa, previsto na Resolução n. 482, foi um grande avanço no setor30.

A geração distribuída, onde se dá o consumo, na microgeração e na minigeração de energia solar, ainda possui custo elevado, o que retarda o progresso do setor. Hoje, somente consumidores de elevado poder aquisitivo, com o consumo médio de 400 a 100kwh/mês, têm condições de instalar os equipamentos no primeiro momento, conforme relatado na pesquisa do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Senado Federal31.

Uma vez editada a Resolução ANEEL n. 482/2012, criaram-se as condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica, por meio do sistema de compensação de créditos.

Posteriormente, a Resolução ANEEL

n. 687/2015 revisou a Resolução n. 482/2015, trazendo grandes melhorias e maiores incentivos para a geração solar fotovoltaica, destacando as principais, como: os créditos de energia elétrica adquiridos por proprietários de micro e minigeração participantes do Sistema de Compensação de Energia Elétrica serão calculados integralmente, com base em todas as componentes da tarifa de energia elétrica; a possibilidade do autoconsumo remoto, permitindo um gerador utilizar créditos em outra unidade consumidora; a

30 Sobre o tema, ver: MARTINS FILHO, Luiz Dias. Energia limpa, construções sustentáveis e a Resolução Normativa ANEEL n. 482/2012. In: CAVALCANTE, Denise Lucena (Org.). Tributação

ambiental: reflexos na construção civil. Curitiba: CRV, 2013, p. 318.

31 SILVA, Rutelly Marques da. Energia solar no Brasil: dos incentivos aos desafios. Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, Fevereiro/2015 (texto para discussão n. 166), p. 29. Disponível em: <www.senado.leg.br/estudos>. Acesso em: 12 jun. 2016.

geração compartilhada, ensejando a que diversos interessados se unam em consórcio ou cooperativa e instalem uma micro ou minigeração distribuída e utilizem a energia gerada para redução das faturas; expandiu o tempo de duraç ão dos créditos de três para cinco anos.

Destaca-se hoje no Brasil a possibilidade da geração compartilhada de energia solar, que permite fazer a transferência dos créditos excedentes entre diversas propriedades.

Outra novidade recente é o autoconsumo remoto, sendo possível utilizar um terreno de propriedade do produtor para construir um sistema fotovoltaico e aplicar a produção de energia para abater a conta de luz em outro local também de sua propriedade.

No atual panorama, é imprescindível a adoção de medidas governamentais que proporcionem o fomento ao setor de energia solar no Brasil, principalmente, em relação às cidades da região Nordeste, localizadas na área do País com maior grau de radiação solar e com uma população de baixo poder aquisitivo. Nessa região, considerada um parque natural para instalação dos painéis solares em virtude da constância da radiação solar, com poucas variações climáticas, garantindo a produção energética por todo o ano com baixa intermitência, estima-se duplo benefício, tanto no concernente à questão ambiental, como também em acréscimos socioeconômicos, o que enseja a prática de uma tributação apropriada decorrente de uma política fiscal eficiente e promocional.

No Brasil a energia solar ainda não é competitiva, como já ocorre com a eólica. Para criar este mercado, é preciso haver subsídios e incentivos do governo. Os incentivos fiscais devem estimular a diminuição do custo da geração fotovoltaica, em comparação com o custo das energias convencionais. Deve-se também rever o

percentual dos tributos na indústria solar, que atualmente gera um aumento considerável na geração da energia32.

Os investimentos para fins domésticos ainda são muito caros. Para melhor compreender a afirmação, tomar-se-á como exemplo uma família de quatro pessoas, cujo investimento para geração fotovoltaica ficará em torno de 15 e 25 mil reais, com retorno de cinco a dez anos para se pagar. Considerando que a vida útil dos equipamentos é de aproximadamente 25 anos, concluiu-se que o investimento para uso doméstico ainda não é economicamente vantajoso33. O alto custo do equipamento para a microgeração no âmbito das residências e comércios

32 NOTA TÉCNICA EPE - Análise da Inserção da Geração Solar

na Matriz Elétrica Brasileira. Estimativa do custo de investimento

no Brasil - para internalização dos custos descritos no item anterior, deve ser considerada a incidência de impostos (imposto de importação, IPI, quando for o caso, ICMS, PIS, COFINS etc.), que nem sempre ocorrem de forma homogênea sobre todas as parcelas. A partir de informações do Grupo Setorial Fotovoltaico da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – ABINEE, constata-se que esse sobre custo estaria entre 30 e 35%, percentual que incidiria sobre os valores de referência internacionais. De fato, para a instalação de 100kWp, o custo de investimento seria de R$6,31/Wp, desconsiderados impostos, elevando-se para R$8,36/kWp ao ser considerada a carga tributária, o que significa algo como 32,5% de elevação. Descontados, os impostos nos locais de origem, tem-se que, em termos líquidos, a internalização no Brasil dos custos de investimento em sistema de geração fotovoltaica importaria na elevação em cerca de 25% dos valores atribuídos como referência internacional.

Disponível em:

<http://www.epe.gov.br/geracao/Documents/Estudos_23/NT_Ener giaSolar_2012.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2016.

33 “O diretor-executivo da ABSOLAR acredita que o custo dos equipamentos poderia ter uma queda de 20 a 25 por cento se o governo conseguisse desonerá-los das cobranças de IPI, PIS/COFINS e se os Estados concordassem com isenção do ICMS.” Disponível em: <http://absolar.org.br/noticia/noticias-externas/energia-solar-pode- ter-desoneracao-mas-acesso-a-equipamento-ainda-e-desafio-.html>. Acesso em: 23 jul. 2016.

ainda é uma grande barreira e que pode ser superada com o apoio do governo. Medidas fiscais e de fomento podem auxiliar muito o desenvolvimento da energia solar no País.

A elevada incidência tributária também representa obstáculo na indústria solar, motivo pelo qual as políticas fiscais promocionais são bem-vindas neste momento. Algumas já estão sendo adotadas e merecem destaque, como, por exemplo, as inventariadas a seguir.

Municípios brasileiros estão concedendo desconto do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU para estimular a utilização a geração solar fotovoltaica em residências e em estabelecimentos comerciais.

O Programa PE Solar, instituído pelo Decreto n. 41.786, 29/05/2015, no Estado de Pernambuco, visa a estimular a implantação de microgerações e minigerações de fonte solar distribuídas em instalações consumidoras em todo o Estado, com a redução do IPTU34.

Em Salvador, o Decreto n. 25.899, de 24/03/15, institui o “Programa de Certificação Sustentável – IPTU VERDE”, com descontos de 5% a 10% para medidas que estimulem a proteção do meio ambiente, dentre as quais, a utilização de painéis solares nas residências35.

Em São Paulo, tramita o Projeto de Lei Municipal n. 346/2014, que prevê a redução no IPTU de parte dos gastos incorridos com a instalação de sistema fotovoltaico em imóveis localizados na Cidade, correspondente a até 10% do valor total nominal do contrato ou nota fiscal do investimento realizado no sistema fotovoltaico pelo interessado36.

34 Disponível em: <http://www.energia.pe.gov.br/?page_id=77>. Acesso em: 23 jul. 2016.

35 Disponível em:

<http://iptuverde.salvador.ba.gov.br/downloads/Decreto.pdf>. Acesso em: 6 ago. 2016.

Os municípios devem considerar que o retorno do investimento é em torno de cinco a dez anos e que o equipamento dura por volta de 25 anos, portanto, esses incentivos devem ser calculados com base neste tempo e em valores que realmente sejam percebidos pelo consumidor. Os impactos decorrentes da renúncia de receita devem ser analisados a longo prazo e considerando o ganho ambiental e o aumento dos serviços que surgirão em virtude das novas usinas solares. O critério ambiental tem que ser considerando nestes incentivos, devendo o art. 14, da Lei Complementar n. 101/2000, ser interpretado sistemicamente, quando a renúncia de receita for motivada por questão ambiental37.

Art. 1º Os imóveis residenciais, comerciais e industriais que instalarem sistema fotovoltaicos no município de São Paulo farão jus a redução no Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) na forma aqui estabelecida, por um período de 5 exercícios fiscais, a contar da data de início de operação do sistema fotovoltaico e após entrada em vigência da presente Lei.

§ 1º. Os imóveis que instalarem sistemas fotovoltaicos, obedecendo aos padrões técnicos estabelecidos em resoluções da ANEEL, nos Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST) e normas técnicas vigentes farão jus a uma redução anual correspondente a até 10% do valor total nominal do contrato ou nota fiscal do investimento realizado no sistema fotovoltaico pelo interessado.” Disponível em: < http://documentacao.camara.sp.gov.br/iah/fulltext/projeto/PL0346- 2014.pdf>. Acesso em: 6 ago. 2016.

37 Neste sentido: “O conceito de gestão fiscal responsável no Brasil deve ser ajustado às necessidades ambientais contemporâneas. Sugerimos a alteração da Lei Complementar n. 101/2000, no sentido de incluir em seus princípios o critério ambiental como condição de boa gestão e, ainda, acrescentar em seu art. 14 uma análise diferenciada para as renúncias de receita quando decorrentes de medidas voltadas à proteção ambiental.” (CAVALCANTE, Denise Lucena. Sustentabilidade financeira em prol da sustentabilidade ambiental. In:

Novos horizontes da tributação: um diálogo luso-brasileiro.

No âmbito estadual, o Convênio ICMS n. 16/2015 possibilitou aos estados isentarem a tributação do ICMS na eletricidade gerada pelo sistema fotovoltaico e injetada na rede de distribuição. A adesão é voluntária e deve ser manifestada por cada unidade federada. Até agosto de 2016, dezenove unidades federadas já aderiram ao Convênio n. 16/2015: Mato Grosso, Bahia, Distrito Federal, Maranhão, São Paulo, Pernambuco, Goiás, Rio Grande do Norte, Ceará, Tocantins, Minas Gerais, Roraima, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Alagoas, Rondônia e Acre.

No âmbito federal, o Projeto de Lei n. 8.322/201438 prevê a isenção do Imposto de Importação sobre equipamentos e componentes de geração elétrica de fonte solar, quando não houver produto similar nacional.

Uma das mais importantes e esperadas medidas de incentivo para o fomento da geração de energia solar fotovoltaica é a prevista no Projeto de Lei n. 371/201539, que permitirá a utilização dos recursos do FGTS para aquisição e instalação em moradia própria de equipamentos destinados à geração de energia elétrica oriundas das fontes hidráulica, solar, eólica ou biomassa. De acordo com o relatório elaborado a pedido do Greenpeace Brasil40 -

38 Atualmente o PL n. 8.322/14 está na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, desde 02/06/2016. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idPr oposicao=860916>. Acesso em: 20 maio 2016.

39 O PLS n. 371/2015 encontra-se na Secretaria de Legislativa do Senado desde 29/06/2016, aguardando inclusão na ordem do dia de

requerimento. Disponível em:

http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/- /materia/121833. Acesso em: 1 ago. 2016.

40 Disponível em:

http://www.greenpeace.org/brasil/Global/brasil/documentos/2016/ Relatorio_Alvorada_Greenpeace_Brasil.pdf. Acesso em: 26 jul. 2016.

ALVORADA: como o incentivo à energia solar fotovoltaica por transformar o Brasil - a utilização dos recursos do FGTS na aquisição do sistema de geração permitirá grande expansão e aceleração com vistas a difundir sistemas fotovoltaicos para a população brasileira.

Comprova-se, pois, que a energia solar fotovoltaica está em plena ascensão no Brasil, tendendo a ter um crescimento ainda maior nos próximos anos e, certamente, corresponderá a uma das mais importantes fontes renováveis do País, considerando o imenso potencial natural de Estado brasileiro, onde o sol é abundante e constante.