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FERRAZ, Roberto Tributação Ambientalmente orientada e as

No documento Tributação ambiental e energias renováveis. (páginas 141-146)

Josiane Ribeiro Minardi 1 1 INTRODUÇÃO

ORDENAMENTO JURÍDICO

21 FERRAZ, Roberto Tributação Ambientalmente orientada e as

espécies tributárias no Brasil. in TÔRRES, Heleno Taveira (org.).

penalizar aquele que agiu em desacordo com a conservação do meio ambiente, em vista do que dispõe o art. 3.º do Código Tributário Nacional no sentido de que “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.

Conforme afirma Roberto Ferraz22 o tributo, característico da democracia, sinal de cidadania e exercício de liberdade, somente se aplica ao âmbito das atividades lícitas, não podendo em nenhum momento ser concebido como sanção de atividade ilícita, como encargo a ser lançado contra atividades econômicas ou como espécie de punição.

Na verdade, pode-se dizer que a proposta da tributação ambiental, volta-se à função promocional do direito, em que está em causa uma prestação positiva ao indivíduo, na medida em que oferece um prêmio, um benefício, um incentivo para aquele que agir de acordo com o interesse público na proteção do meio ambiente.

Deixa-se de lado, a imagem tradicional do direito como ordenamento protetor-repressivo, onde as normas jurídicas prescrevem condutas e sanções.

No ordenamento puramente protetivo-repressivo a preocupação está em desfavorecer as ações nocivas à sociedade, enquanto o direito promocional busca favorecer as ações vantajosas.

As normas de sanção negativa atuam no ordenamento jurídico como forma de desencorajamento de certas atitudes a fim de manter a ordem social, enquanto que as normas de sanção positiva, que exercem a função premial do direito, voltam-se para o encorajamento de atitudes, de forma a contribuir para o desenvolvimento da sociedade, incentivando a mudança social.

22 Idem.

Norberto Bobbio23 distingue a função protetora- repressiva da função premial do direito pelo fato da primeira atribuir valor à inércia da sociedade, ao pretender que as coisas permanecerem como estão, e a segunda atribuir valor positivo à transformação, sendo a situação subseqüente diferente da anterior. Logo, a técnica do encorajamento tem uma função transformadora ou inovadora.

A função premial do direito é um instrumento valioso para a promoção do interesse público e do interesse social pelo Estado. Norberto Bobbio24 assinala que “a função promocional do direito pode ser exercida por dois tipos diferentes de expedientes: o incentivo e o prêmio”; seria incentivadora a medida que serve para facilitar o exercício de uma determinada atividade econômica e premial a medida que objetiva dar uma satisfação àquele que já cumpriu um determinado encargo; Bobbio25 entende que “a função de um ordenamento jurídico não é somente aquela de controlar o comportamento dos indivíduos, o que pode ser obtido através da sanção negativa, mas também, aquela de dirigir os comportamentos em direção a certos objetivos determinados. Assim, mostra-se desarrazoado sustentar que atividades poluidoras do meio ambiente suportarão uma maior carga tributária como forma de sanção. Para as sanções podem ser utilizadas as multas ou outra forma de punição.

Fernando Magalhães Modé26 ao tratar sobre o assunto destaca que:

23 BOBBIO, Norberto. Dalla Struttura alla funzione: nuovo

studi di teoria Del diritto. 2 ed. Milano: Edizioni di Comunità, 1984,

Pg 19.

24 Ibidem, p. 81. 25 Ibidem, p. 87. 26 Ob. Cit., p.82 e 83.

“Desta forma, verifica-se que a tributação ambiental, em regra, não se estrutura, como ocorre com os mecanismos de comando, em face de uma dicotomia: permitido/proibido. A tributação ambiental, ao revés, parte do pressuposto de que todas as atividades econômicas a comporem a hipótese de incidência de um tributo ambiental são lícitas, pois, se razão houvesse para tê-las como ilícitas, deveriam ser assim tratadas por normas de conteúdo proibitivo, e não pela tributação ambiental”.

No mesmo sentido, o autor complementa:

“A aplicação da tributação ambiental não tem por objetivo punir o descumprimento de um comando normativo (proibitivo); ao contrário, a partir do reconhecimento de que uma tal atividade econômica é necessária à sociedade (seja por fornecer produtos indispensáveis à vida social, seja por garantir empregos e renda a determinada comunidade, ou por outra razão qualquer) busca ajustá-la a uma forma de realização mais adequada do ponto de vista ambiental, desincentivando (pelo reflexo econômico negativo que impõe) que o comportamento de um determinado agente econômico ou conjunto de agentes, se modifique para o que se tenha por ambientalmente desejável”. José Marcos Domingues27 esclarece que a extrafiscalidade tributária não pode impedir o exercício de atividades econômicas, pois para esse fim o direito pode valer-se das multas e das proibições. Assim, a tributação ambiental estaria associada a uma liberdade de escolhas do

27 DOMINGUES, José Marcos. Direito Tributário e meio

próprio agente econômico, que não se confunde com uma tributação punitiva; ele esclarece o seguinte,

Portanto, a tributação extrafiscal, fundada na teoria Kelseniana da sanção pre-mial, como se verá, nada tem a ver com uma dita tributação punitiva (como incidente sobre a distribuição disfarçada de lucros), que pretende “impedir diretamente um ato que a lei proíbe”, por isso mesmo caracterizada por RUBENS GOMES DE SOUSA como uma penalidade e não como um vero tributo.

(...)

A tributação extrafiscal (e a tributação ambiental em particular) não se destina a punir ilicitudes. Busca-se com ela orientar o agente econômico (contribuinte) a planejar o seu negócio lícito de acordo com uma política pública legitimada pela Constituição. Se um imposto ambiental progressivo é instituído sobre emissões ou efluentes poluentes, não se está tributando qualquer violação à lei – emissões e efluentes podem ser absolutamente inevitáveis em face do estagio tecnológico vigente, e a conciliação do princípio do desenvolvimento com o princípio da preservação (em busca do desenvolvimento sustentável) pode determinar que se licencie certo empreendimento, estabelecendo- lhe, porém, um limite de emissões ou efluentes consentâneo com o conhecimento existente acerca da toxidade das substancias ou do seu efeito estufa, e das técnicas disponíveis de produção.

A utilização de tributos ambientais gera sem dúvida vantagens para toda a sociedade, vez que estimulam comportamento individual direcionado a uma postura ambientalmente correta.

A busca de condutas ambientalmente corretas é extremamente eficaz na conservação do meio ambiente, pois atua preventivamente, de forma a evitar o mal e não

apenas tentar repará-lo após o dano, que nem sempre é possível em matéria ambiental.

4. O PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR

No documento Tributação ambiental e energias renováveis. (páginas 141-146)