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Capítulo

10

// Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher: PNDS 2006

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RESUMO

Objetivo: Analisar dados de aleitamento materno e de outras formas de alimentação infantil no Brasil e compará-los com dados da PNDS 1996.

Métodos: Foram analisados dados obtidos na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) 2006. Do total de 5.056 crianças menores de cinco anos foram incluídas na análise 4.817 que estavam vivas e moravam com suas mães no momento da entrevista. Essas crianças são representativas de um universo de 13,6 milhões de crianças brasileiras nessa faixa etária.

Resultados: Do total de crianças, 95% haviam iniciado a amamentação, das quais 42,9% foram amamentadas na primeira hora, proporção 30% superior ao encontrado na PNDS 1996. A propor- ção em aleitamento exclusivo aos 2-3 meses au- mentou de 26,4% em 1996 para 48,2% em 2006. A introdução precoce de leite não-materno foi alta, mesmo entre amamentados. O mingau foi alimento complementar frequente. O consumo diário de fru- tas, legumes e verduras, in natura ou em suco, não foi relatado para quatro de cada dez crianças na faixa de 6 a 23 meses. O consumo de carne entre quatro e sete vezes na semana foi reportado para 50% das crianças. Para 10% delas essa frequência era de uma vez na semana.

Conclusões: Apesar dos avanços observados, a maioria dos lactentes brasileiros ainda está sujeita a práticas inadequadas de aleitamento materno e à baixa qualidade da alimentação complementar ou substituta do leite materno. Portanto, é fundamental a revitalização de políticas de saúde que contemplem a melhoria dessas práticas.

Palavras-Chave:Aleitamento Materno, Ali- mentação Complementar, Inquérito, PNDS.

ABSTRACT

Objective: The aim of this chapter is to analyze

the Brazilian 2006 DHS breastfeeding and comple- mentary feeding data and to compare it against the 1996 DHS data.

Methods: The survey comprises a total of 5.056

children younger than 5 years old, 4.817 of them lived with their mother at the moment of the inter- view, representing a total of 13,6 million Brazilian children in this age bracket.

Results: It was observed that 95% of this total

were breastfed; with 42.9% breastfeeding within the first hour of life, this figure was 30% higher than in 1996. The proportion of 2-3 months old infants who were exclusively breastfed increased from 26.4% in 1996 to 48.2% in 2006. Among breastfed children the early introduction of non- human milk was very common. Porridge was identified as a complementary food frequently used among those younger than 6 months. Among 6-23 month old children, 40% did not consume veg- etables or fruit (either fresh or as juice) daily. Only 50% of the children consumed meat 4 to 7 times per week, and 10% ate meat only once per week.

Conclusions: Even though there have been

improvements in breastfeeding practices, most chil- dren are not adequately breastfed or fed comple- mentary foods following international recommen- dations. Thus, it is essential to reinforce health policies that can improve infant feeding practices.

Keywords: Maternal Breastfeeding, Complemen-

tary Nutrition, Survey, DHS

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INTRODUÇÃO

As transformações estruturais profundas ocorridas na sociedade a partir do início do século XX tiveram re- percussões dramáticas nas formas de alimentação dos lactentes (PELTON, 1981; JELLIFFE; JELLIFFE, 1971). Entre essas transformações, destacam-se: processo de urbanização crescente das populações; incorporação das mulheres à força de trabalho; além de mudanças nas características demográficas, no desenvolvimento tecnológico e nos padrões culturais e de assistência à saúde. Até o século passado, poucas crianças não amamentadas sobreviviam, pois não havia alternativas ao leite humano. A amamentação era condição fun- damental de sobrevivência e, consequentemente, a prática usual de alimentação infantil. No século XX o leite não-humano foi introduzido na dieta dos lactentes e formulações lácteas industrializadas foram desenvolvidas, com forte componente mercadológico, repercutindo negativamente nas práticas da amamentação (JELLIFFE; JELLIFFE, 1971; GOLDENBERG, 1988). Por volta dos anos de 1950 as prevalências do aleitamento materno eram muito baixas em praticamente todo o mundo, entretanto, permanecia como recurso fundamental da ali- mentação infantil nas comunidades tradicionais, especialmente de países pobres. Estimativas do Word Fertility Survey (WFS – Inquérito Mundial de Fecundidade) realizado nos anos de 1970 mostraram que, entre crianças com dois meses de idade, apenas 10% na Holanda e 15% no Reino Unido eram amamentadas no momento das entrevistas (HELSING; SAADEH, 1991). Esses inquéritos mostraram, para este mesmo período, medianas de amamentação muito baixas em alguns países em desenvolvimento, porém superiores àquelas dos países ricos: 2,6 meses na Malásia, 3,7 meses no Panamá e 1,8 meses na Costa Rica. Esses valores contrastam, também, com os de outros países pobres, cujas medianas altas de amamentação eram, por exemplo, de 15,9 meses no Quênia e 30,7 meses em Bangladesh (MUKURIA; KATHARI; ABDERRAHIM, 2006).

No Brasil, há poucas informações para épocas anteriores a 1980, entretanto, alguns estudos mostraram baixas prevalências de amamentação. Entre 1973 e 1974, na cidade de São Paulo, foi observado que a mediana do aleitamento materno era de apenas 28 dias na população de baixa renda (SIGULEN; TUDISCO, 1980). No início da década de 1980 as medianas de aleitamento materno eram de 2,8 meses na cidade de São Paulo e de 2,4 meses em Recife (REA; BERQUÓ, 1990). Análise mais recente dos dados do Estudo Na- cional de Despesas Familiares (ENDEF) permitiu estimar a prevalência de amamentação de 40% aos quatro meses de idade, para 1975 (VENÂNCIO; MONTEIRO 1998).

De 1960 a 1980 foi produzida grande parte do conhecimento que deu suporte aos formuladores de políticas públicas de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, com o objetivo de recuperar essa prática (REA, 2003). A produção científica desse período abrange estudos sobre as características específicas do leite humano, a fisiologia da amamentação, os padrões e determinantes do aleitamento materno, bem como as consequências do desmame precoce sobre a morbidade e a mortalidade infantil (JELLIFFE; JELLIFFE, 1971). Nessa época também surgiram os primeiros estudos sobre o impacto da amamentação na saúde da mulher e no espaçamento intergestacional (HUFFMAN, 1984).

O reconhecimento das vantagens da amamentação, tanto para os lactentes como para suas mães, e dos riscos e custos associados ao desmame precoce, fizeram surgir, a partir da década de 1980, várias iniciativas de organismos internacionais da área da saúde para promoção, proteção e apoio ao aleitamento mater- no. Entre essas iniciativas estão as recomendações sobre alimentação infantil da Organização Mundial de

CAP

// Ministério da Saúde / Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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// Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher: PNDS 2006

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