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O processo de urbanização foi intenso no Brasil na década de 1980 e continua crescente nos últimos dez anos. Em 1996, 79,0% dos domicílios estavam localizados em áreas urbanas e em 2006 essa cifra já era de 83,3%, ou seja, somente cerca de 15% da população brasileira vivia em área rurais nesse ano. As informações sobre

eletricidade, forma de abastecimento de água, proveniência da água para beber, condições de saneamento básico, entre outras, estão disponíveis na Tabela 1, segundo a situação do domicílio, urbano ou rural, para os anos de 1996 e 2006. De modo geral, todos os indicadores melhoraram de maneira significativa nesse perí- odo, mesmo aqueles que já se encontravam em patamares bastante altos. Nesta análise apenas destacam-se algumas tendências mais relevantes e identificam-se algumas desigualdades ainda bastante pronunciadas. A disponibilidade de eletricidade nos domicílios brasileiros já é quase universal, principalmente em área urba- nas. Nas áreas rurais houve avanço de 1996 para 2006, período em que a percentagem da população que não tinha eletricidade passou de cerca de um terço a 6,0% dos domicílios. No entanto, a forma de captação de energia nas áreas urbanas é muitas vezes ilegal e, apesar de não incorrer em gastos financeiros, deixa a população em situação vulnerável. Assim, é necessário implementar formas mais refinadas de coletar esta informação em pesquisas futuras como, por exemplo, saber da existência de relógio de medição ou gasto mensal com energia elétrica, no intuito de identificar domicílios vulneráveis.

Quanto ao abastecimento de água, observa-se um pequeno aumento da percentagem dos domicílios servidos por outras formas de abastecimento e uma diminuição relativa daqueles servidos pela rede geral em áreas urbanas, mas estes valores não são significativos4. Mesmo na área rural houve percentagem expressiva de domicílios ser-

vidos pela rede geral (fato que também ocorre nas PNAD) e com aumento entre uma pesquisa e outra de 26,5% para 36,3%5. Para as questões de saúde, a proveniência da água para beber é mais importante do que a forma

de abastecimento. Ao longo dos anos, as pessoas passaram a utilizar mais a água engarrafada, e mais na área urbana do que na rural. Em certa medida, esse fato informa da água proveniente da rede geral, poços e nascentes apresentsa qualidade ruim e que água para beber está acessível a uma parcela pequena da população. De modo geral, pode-se afirmar que a qualidade e quantidade de água disponível para a população não tem melhorado no mesmo ritmo de outros bens. Diante de uma gestão da água cada vez mais difícil, este pode ser um problema que trará sérias consequências para a saúde da população, principalmente aquela com poucos recursos para comprar água de qualidade (BATTALHA; PARLATORE, 1977). Em termos de políticas de saúde, é importante filtrar ou ferver a água de beber para manter as condições de higiene e saúde, pois a água disponível vem geralmente de rede geral, poço ou nascente e outras formas ainda menos salubres. Em 2006, em 32,8% dos domicílios na área urbana a água não era fervida nem filtrada, e na área rural esta percentagem chegou a 42,7%. Apesar da qualidade da água em muitas áreas rurais ser de excelente qualidade, não é recomendado que se proceda desta forma, pois as contaminações aparecem das formas mais imprevistas.

Característica 1996 2006

Urbano Rural Total Urbano Rural Total

Eletricidade 98,8 72,4 93,6 99,7 94,0 98,7

Forma de Abastecimento de Água2

Rede geral 91,3 26,6 78,7 90,9 36,3 81,8 Poço ou nascente 7,7 65,4 19,0 7,7 49,0 14,7 Outro 1,0 8,0 2,4 2,4 15,5 4,6

Tabela 1-Distribuição percentual dos domicílios1 por situação de residência, segundo características sele-

cionadas. Brasil, PNDS 1996 e 2006.

continua

CAP

2

4 Valores comparados aos das PNAD mostram que tem havido pequeno aumento na forma de abastecimento por rede geral,

portanto, os índices da PNDS podem ser resultantes da variação amostral e não de uma tendência real.

// Ministério da Saúde / Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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// Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher: PNDS 2006

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Característica 1996 2006

Urbano Rural Total Urbano Rural Total

Proveniência da Água para Beber

Rede geral 84,3 24,9 72,7 72,5 33,0 65,9 Poço ou nascente 10,3 66,9 21,3 7,5 45,4 13,9 Água engarrafada 4,1 0,1 3,3 17,2 4,2 14,9 Outra 1,3 8,1 2,7 2,8 17,4 5,3 Não tem sanitário 4,2 37,5 10,7 2,5 17,4 5,0

Forma de escoadouro do sanitário

Rede de esgoto ou pluvial 58,1 25,9 53,7 57,1 12,6 49,6 Fossa séptica ligada à rede 12,7 6,3 11,8 15,5 8,7 14,3 Fossa séptica não ligada à rede 18,1 31,8 20,0 12,2 28,3 14,9 Fossa rudimentar/comum 11,1 36,0 14,5 9,3 24,3 11,8 Outro3 0,0 0,0 0,0 5,9 26,1 9,4

Material predominante do piso

Piso de terra/areia e tábua de madeira 9,6 25,6 12,8 6,5 15,3 8,0 Cimento 51,4 20,5 45,4 27,1 52,3 31,3 Outro material de boa qualidade4 38,4 52,5 41,1 65,2 31,5 59,6

Outro 0,6 1,3 0,7 1,2 0,9 1,1

Material predominante nas paredes

Alvenaria ou madeira aparelhada 96,6 83,8 94,1 97,0 86,8 95,2 Outro 3,4 16,2 5,9 3,0 13,2 4,8

Material predominante do telhado

Telha 44,8 70,4 49,8 67,3 88,6 70,9 Laje de concreto 38,8 6,2 32,4 31,0 6,1 26,8 Outros 16,5 23,3 17,8 1,7 5,3 2,3

Média pessoas por cômodo/dormir 2,1 2,2 2,1 2,0 2,1 2,0

Nº cômodos usados para dormir

1 25,7 24,2 25,4 25,1 25,6 25,2 2-3 69,0 68,7 69,0 69,6 69,3 69,5 4-5 5,1 6,8 5,4 4,9 4,9 4,9 6 ou + 0,3 0,3 0,3 0,3 0,2 0,3

Número de domicílios entrevistados 10.689 2.594 13.283 9.120 3.936 13.056

Fonte: PNDS 1996 e 2006.

1 Domicílios com pelo menos uma mulher de 15-49 anos de idade.

2 Esta pergunta tinha possibilidade de mais de uma resposta, portanto as porcentagens de cada tipo de abasteci-

mento de água não somam cem por cento.

3 Inclui vala negra e outros.

4 Inclui assoalho de madeira aparelhada (assoalho de madeira, paviflex, azulejos de cerâmica e carpete).

Tabela 1-Distribuição percentual dos domicílios1 por situação de residência, segundo características sele-

cionadas. Brasil, PNDS 1996 e 2006. conclusão

CAP

2

Nesses dez anos observa-se uma melhoria na presença de sanitário nos domicílios, reduzindo à metade o nú- mero de domicílios que ainda não tinham sanitário, redução mais intensa em áreas urbanas. Entretanto, em pleno século XXI, 17,4% dos domicílios na área rural não tinham sanitário, percentagem que pode ser ainda maior em áreas das regiões Norte e Nordeste. Por outro lado, onde há sanitários, mais de um terço dos domi- cílios tinham como forma de escoadouro um sistema não recomendado e, ainda assim, para aqueles ligados à rede de esgoto não há tratamento dos dejetos antes de serem devolvidos à natureza. Este evento, aliado à questão grave do uso da água, coloca um grande alerta na área de saúde, que não poderá dar conta da prevenção das doenças se não existirem ações conjuntas com essa finalidade (BARCELLOS et al, 1998). As condições de construção dos domicílios também estão diretamente vinculadas aos riscos associados à saúde, além de serem boas aproximações das condições socioeconômicas dos seus moradores (DEEB, 1987; CARDOSO, 2004). Na Tabela 1 observam-se as distribuições do tipo de material predominante na construção do piso, parede e cobertura. Em geral, em 1996 os materiais do piso e da parede estavam concentrados em materiais de boa qualidade e tiveram melhora em 2006. Ainda há um pequeno diferencial entre urbano e rural, mas está dentro de uma margem de erro esperada. Entretanto, não se deveria tratar mais do tipo de material, mas sim da qualidade e forma de uso. A parede de alvenaria, por exemplo, não é necessariamente uma construção salubre. Em muitos casos estas construções apresentam somente o tijolo sem o reboco e a pintura, o que pode causar problemas respiratórios, principalmente em crianças (YANG et al, 1997; MACEDO et al, 2007). O material do teto fornece uma informação mais bem qualificada para diferenciar os domicílios, e uma tendência ao longo dos anos diferente de outras observadas entre áreas urbanas e rurais. A melhoria em geral ocorreu na área rural e, na área urbana, cresceu o número de domicílios cobertos somente por lajes de concretos. Em 2006, 31,0% dos domicílios em área urbana tinham cobertura somente de laje de concreto. Com relação à média de cômodos para dormir, a situação em 1996 já era bastante satisfatória, aproximan- damente de duas pessoas por cômodo e não houve alteração significativa em 2006. Aqui também se chama atenção para novas formas de medir a densidade domiciliar, a partir do tamanho dos cômodos. Em geral, poucas pessoas dividem seus espaços para privacidade, mas muitas vezes estes espaços são extremamente reduzidos. Ou seja, novas informações deveriam ser coletadas em futuras pesquisas para fornecerem indica- dores mais adequados quanto às relações destes com a saúde da população.

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