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Nos últimos 40 anos aconteceram mudanças importantes nos domicílios brasileiros, tanto em termos de tama- nho quanto de composição. Isto é reflexo da queda da fecundidade e mudanças nas formas de organização das famílias, assim como da expansão da oferta ou disponibilização de domicílios (ALVES; CAVENAGHI, 2005). Adicionalmente, vários autores (BERQUÓ, 1998; BRUSCHINI, 1989; MEDEIROS; OSORIO, 2001; ARRIAGA- DA, 2007; JELIN, 2007) têm mostrado um aumento das mulheres assumindo a responsabilidade pelo domicílio, resultante das mudanças nas relações de gênero, do aumento de separações e divórcios, e de algumas alte- rações na forma de se perguntar pela chefia do domicílio. A comparação entre os resultados das duas últimas PNDS mostram, em geral, tendências que acompanham e reforçam aquelas observadas em outras pesquisas.

Tabela 7 - Distribuição percentual da população por sexo do responsável pelo domicílio e tamanho do domicílio, segundo a situação de residência. Brasil, PNDS 2006.

CAP

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Características

Situação de Residência

1996 2006

Urbano Rural Total Urbano Rural Total

Sexo do responsável pelo domicílio

Masculino 78,4 86,3 80,0 76,1 85,9 77,6 Feminino 21,6 13,7 20,0 23,9 14,1 22,4 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Número de componentes 1 6,1 6,5 6,2 9,6 3,4 8,7 2 14,7 13,2 14,4 20,5 16,4 19,8 3 20,5 17,6 20,0 27,0 27,2 27,1 4 24,6 19,3 23,5 23,6 25,9 23,9 5 17,0 17,2 17,1 11,4 15,1 11,9 6 8,3 10,5 8,7 4,6 7,1 5,0 7 4,1 6,7 4,6 2,0 2,5 2,1 8 2,2 4,3 2,6 0,8 1,7 0,9 9+ 2,4 4,5 2,8 0,6 0,7 0,6 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Tamanho Médio 4,0 4,4 4,1 3,4 3,8 3,4 Número de domicílios1 10.689 2.594 13.283 10.592 4.025 14.617 N. de domicílios expandidos2 46.386.565 8.292.509 54.679.074 Nota: Tabela baseada na população residente habitual do domicílio entrevistado.

Fonte: PNDS 1996 e 2006.

1 Número de domicílios entrevistados, sem expansão. 2 Número de domicílios expandidos com base na PNAD 2006.

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// Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher: PNDS 2006

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Com relação à distribuição por sexo, há maioria de mulheres (51,3%). Na área urbana estes valores são

muito parecidos, no entanto, na área rural há presença levemente superior de homens (50,3%), um valor esperado devido às características da migração rural-urbana que inclui maioria de mulheres. No entanto, a declaração da responsabilidade pelo domicílio é de grande maioria de homens. Nos dez anos analisados houve pequena mudança, mas pouco significativa, com um aumento de somente dois pontos percentuais na chefia feminina. Na área rural este comportamento foi ainda mais desigual, com 14,1% dos domicílios onde a mulher foi declarada como a responsável, como se vê na Tabela 7.

A continuada queda da fecundidade, mesmo após ter alcançado níveis baixos, é em grande parte responsável pela queda no número de componentes nos domicílios, que passou de 4,1 pessoas em média para 3,4. Esta queda teve a mesma magnitude nas áreas urbanas e rurais. A redução relativa do número de componentes foi maior nos domicílios com cinco ou mais pessoas, assim como um aumento dos domicílios com duas ou três pessoas9. Entretanto, não é

somente a redução na fecundidade que diminui o tamanho dos domicílios. O aparecimento de novos arranjos domés- ticos, principalmente com a diminuição de famílias estendidas, também colabora na redução do tamanho familiar. Na Tabela 8 disponibiliza-se a distribuição dos tipos de arranjos domésticos encontrados no total de domicílios entrevistados. Novamente, observa-se um diferencial na distribuição para a área urbana e rural, mas com pequenas diferenças. Os tipos de arranjo com maior prevalência são aqueles formados por casal morando com os filhos, que em 1996 somavam quase 65% e, em 2006, diminuíram para 58,7%. Destes, somente 6,3% tinham outras pessoas morando junto (a maioria de outros parentes) e o número destes domicílios com essa característica teve uma redução grande, pois em 1996 totalizavam 12,3%. Ou seja, houve uma sim- plificação da composição das famílias. O percentual de domicílios com casais com filhos e netos era de 6,0%; geralmente formados pelos pais, seus filhos, em geral com pelo menos uma filha, a qual já teve seu próprio filho. Outro dado interessante é sobre a presença de enteados na composição do arranjo domésti- co. Este se dá em geral pela conformação de novas famílias após separações. Este tipo de arranjo cresceu de 2,2% para 5,0% no período.

Tabela 8 - Distribuição de arranjos domésticos por situação de residência. Brasil, PNDS 1996 e 2006.

9 O comportamento de domicílio com uma pessoa indica que pode haver algum problema na captação deste dado em 2006.

Tipo de arranjo doméstico 1996 2006

Total Urbano Rural Total Urbano Rural

Casal com filhos 44,2 43,2 48,5 42,2 40,8 50,5 Casal com enteado e/ou filhos 2,2 2,3 1,8 5,0 5,0 4,9 Casal com filho adotivo e outros 2,4 2,4 2,4 0,7 0,6 1,3 Casal com filhos e netos 6,0 5,9 6,2 5,2 5,1 5,4 Casal com filhos e outros 9,9 9,9 9,9 5,6 5,4 6,4 Chefe com filho com neto e outros 3,6 3,9 2,3 3,5 3,5 3,6 Chefe com filho com outros 2,5 2,7 1,3 1,8 1,9 1,4 Chefe com filhos (ou enteados ou adotivo) 8,4 8,9 6,4 9,0 9,5 5,8 Chefe com outros 4,6 4,7 4,2 3,7 3,9 2,5 Casal sem filhos 8,4 8,4 8,5 12,6 12,6 12,6 Casal sem filho com outros 2,2 2,1 2,7 2,1 2,1 2,3 Pessoa sozinha 5,6 5,6 5,8 8,7 9,7 3,4 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: PNDS 1996 e 2006.

As famílias monoparentais estavam presentes em 14,5% dos domicílios em 1996 e praticamente não se alteraram. Entre estas, o responsável, que na quase totalidade eram mulheres, vivia com seus filhos, sem a presença de outro familiar (8,4%); em 2006, este arranjo esteve presente em 9,0% dos domicílios. Este fenômeno é mais urbano do que rural e o aumento se deu somente nas áreas urbanas, com diminuição nas áreas rurais. Apesar de ainda ser um número muito pequeno de casos, 2% das famílias monoparen- tais tinham o pai como responsável e não a mãe, como se observa tradicionalmente. Como apontado na literatura (SORJ; FONTES; MACHADO, 2007), as famílias monoparentais femininas estão mais presentes entre a população mais pobre.

Outro tipo de arranjo doméstico bastante frequente é formado pelos casais sem filhos, 12,6% em 2006, e mais 2,1% destes acrescidos de outras pessoas, que, juntamente com pessoa sozinha e casais com enteados, são os que mais cresceram nestes dez anos. O aumento dos casais sem filhos neste período ocorreu tanto pela redução da fecundidade, que passa a ser mundialmente um fenômeno cada vez mais frequente (CAIN, 2002; ROSERO-BIXBY; MARTIN; GARCIA, 2008; BARROS; ALVES; CAVENAGHI, 2008), quanto pelo adiamento ao ter o primeiro filho.

A menor presença de famílias estendidas, principalmente o convívio no mesmo domicílio de mais de duas gerações, pode ser analisada pela presença dos pais ou sogros do responsável pelo domicílio ou seu cônjuge. Em 1996 e 2006 foi inserida no questionário da PNDS uma pergunta sobre localização do pai e da mãe de cada indivíduo na família. A partir dessa informação, percebeu-se que em somente 3,5% dos domicílios em 1996 conviviam três gerações, avôs/avós, pais e filhos. Em menos de 1,1%, a geração mais velha era parte do domicílio, chefiado por um de seus filhos. Em 2006 estes valores praticamente não se alteraram. Apesar de mudanças muito intensas nos tipos de arranjos domésticos, a grande maioria dos ar- ranjos ainda é formada por casais morando somente com seus filhos. Com o envelhecimento populacional nos próximos anos, será observada uma mudança fundamental nesta situação. Até o presente momento, a inércia populacional, com o nascimento de muitas crianças, apesar da baixa fecundidade, fez com que as famílias chamadas nucleares e sem outros componentes ainda fossem a maioria dos arranjos domésticos. No entanto, nos próximos anos, além de continuar diversificando-se por motivos comportamentais, estas estruturas serão alteradas por questões demográficas de composição da estrutura etária da população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As últimas décadas trouxeram desenvolvimento e avanços tanto tecnológicos quanto melhoria de condições de vida da população brasileira em geral. O crescimento econômico, no entanto, não trouxe no mesmo nível uma melhor distribuição de renda da população e de maneira uniforme em todo o País. Os dados da PNDS sobre a situação socioeconômica dos domicílios nos últimos dez anos mostram que estes avanços continua- ram neste período, mas ainda identifica problemas graves, mesmo em análises macrorregionais.

Os resultados mostram que no período avaliado houve melhorias significativas nas condições de vida da popu- lação, principalmente, com uma mobilidade ascendente de pessoas de classes muito pobres para classes mais abastadas. No entanto, as desigualdades regionais, principalmente do Nordeste com relação às demais macror- regiões, é uma situação que deve estar na pauta das políticas públicas de inclusão universal aos direitos humanos. Adicionalmente, as diferenças nas áreas urbanas e rurais são ainda intensas, com sérios problemas de acesso aos serviços de infra-estrutura básica nas áreas urbanas e baixos níveis socioeconômicos nas áreas rurais.

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