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INDICADOR DE NECESSIDADES BÁSICAS INSATISFEITAS

Em relação à dimensão da qualidade da habitação das mulheres, observa-se que 2,5% viviam em condições inadequadas para a característica “telhado”, 11% para “tipo de parede” e 4% para “tipo de piso”. Assim, 13% das mulheres brasileiras residiam em domicílios que não preenchiam condições básicas satisfatórias de habitação em pelo menos uma dessas características, com cerca de 2% delas em mais de uma categoria de NBI. Em relação aos dados da PNDS 1996, a situação melhorou em todos os itens; em termos gerais. Em 1996 a proporção de mulheres em domicílios com NBI era de 27,5%, sendo que a característica “telhado”, que representava 18% dos domicílios, foi a que mais contribuiu para a melhoria do indicador.

Há importantes diferenças entre as macrorregiões do país, pois enquanto 5,6% das mulheres na região Su- deste viviam em domicílios em condições inadequadas, 44% viviam nessas condições na região Norte. Em 1996, a situação na região Norte era de 70% de mulheres vivendo em domicílios com NBI.

Em relação à densidade domiciliar, identificaram-se 8% das mulheres vivendo em condições inadequadas (versus 14% em 1996), concentrando-se entre as residentes na região Norte (16%) e entre as mulheres negras já que 10% viviam em domicílios com mais de três pessoas por cômodo-dormitório e 4% entre as brancas no País. Entre as mulheres residentes em áreas urbanas, cerca de 9% viviam com três ou mais pessoas utilizando o mesmo cômodo para dormir, e nas áreas rurais perfaziam cerca de 15%.

Entre as condições sanitárias consideradas como necessidades básicas, a disponibilidade de água potável é uma das mais importantes, sobretudo na manutenção da saúde. As mulheres residentes na região Norte apresentaram as piores condições, com 46% sem acesso à água potável e 57% das mulheres em áreas rurais. Ressalta-se que havia 9% de mulheres em domicílios em condições inadequadas nas áreas urbanas ainda. Em termos nacionais, 17% das mulheres viviam com NBI relativa à água potável, proporção que em 1996 era de 22%.

Com relação ao saneamento básico, aproximadamente 80% dos domicílios das mulheres apresentavam esgotamento sanitário, em 1996 essa proporção era de 70%. Na região Norte, 50% das mulheres viviam em domicílios considerados como NBI no que se refere à forma de saneamento, enquanto em 1996 a maior proporção se encontrava na região Nordeste (45%); nas regiões Sul e Sudeste a situação melhorou, mas

permanece preocupante, já que 15% e 11%, respectivamente, das mulheres residiam em domicílios que apresentaram condições de saneamento inadequadas em 2006.

Finalmente, para compor o indicador de necessidades básicas insatisfeitas (INBI), considerou-se a combinação de todas as características anteriormente mencionadas. Sendo assim, a mulher classificada como vivenciando situação de NBI apresenta pelo menos uma das características domiciliares insatisfeitas, tratamento este que identifica um conjunto mais amplo de mulheres em situação de vulnerabilidade. Assim, calcula-se que 39% das mulheres brasileiras em idade reprodutiva vivem em condições de NBI. Contudo, essas mulheres estão desigual- mente distribuídas no território nacional. Na região Norte, cerca de 80% delas viviam em condições de NBI, en- quanto na região Sudeste essa proporção era de 24%. Destaca-se que, na região Sul, 49% das mulheres foram classificadas na situação de “alguma necessidade básica insatisfeita”, valor superior somente ao encontrado na região Norte, seguido das regiões Nordeste e Centro-Oeste, com 48% e 44%, respectivamente.

A situação de domicílio tem um peso importante na composição do indicador, pois em áreas rurais a proporção de mulheres vivendo em domicílios em NBI foi maior (78%), enquanto para as que residem em áreas urbanas essa proporção foi de 32%. De fato, essa característica está relacionada à composição das dimensões e critérios das necessidades consideradas básicas como, por exemplo, a falta de esgotamento sanitário, que correspondia a 50% dos domicílios em NBI em áreas rurais, enquanto em áreas urbanas essa proporção era de 15%.

Tabela 6 - Percentagem de mulheres em domicílios com necessidades básicas insatisfeitas (NBI) segundo dimensão das necessidades e macrorregiões do Brasil. Brasil, PNDS 2006.

Dimensão da NBI Satisfeita Insatisfeita Total

Habitação 85,1 14,9 100,0 Norte 55,2 44,8 100,0 Nordeste 88,5 11,5 100,0 Sudeste 94,4 5,6 100,0 Sul 66,8 33,2 100,0 Centro-Oeste 84,0 16,0 100,0 Densidade 92,4 7,6 100,0 Norte 84,1 15,9 100,0 Nordeste 91,8 8,2 100,0 Sudeste 92,4 7,6 100,0 Sul 96,8 3,2 100,0 Centro-Oeste 93,9 6,1 100,0 Abastecimento de Água 82,6 17,4 100,0 Norte 53,3 46,7 100,0 Nordeste 77,6 22,4 100,0 Sudeste 91,6 8,4 100,0 Sul 77,4 22,6 100,0 Centro-Oeste 85,6 14,4 100,0 continua CAP

3

// Ministério da Saúde / Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

// 68

// Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher: PNDS 2006

// 69

Dimensão da NBI Satisfeita Insatisfeita Total

Coleta de Esgoto 79,2 20,8 100,0 Norte 49,1 50,9 100,0 Nordeste 69,4 30,6 100,0 Sudeste 88,7 11,3 100,0 Sul 85,3 14,7 100,0 Centro-Oeste 74,7 25,3 100,0 NBI Total 60,4 39,6 100,0 Norte 20,8 79,2 100,0 Nordeste 52,0 48,0 100,0 Sudeste 76,1 23,9 100,0 Sul 50,9 49,1 100,0 Centro-Oeste 55,4 44,6 100,0 Fonte: PNDS 2006

Este exemplo evidencia a necessidade de tomar cautela ao analisar os resultados baseados em indicadores sintéticos, sobretudo aqueles destinados a criar um único parâmetro, para países com tamanhas desigualda- des regionais como o Brasil. Por essa razão, é fundamental considerar as diferenças regionais e as especifici- dades de cada macrorregião para realizar uma análise mais detalhada. A Tabela 6 apresenta as dimensões utilizadas para a composição deste indicador, suas distribuições segundo as grandes regiões e as proporções obtidas no indicador sintético (NBI total).

Com a finalidade de qualificar os grupos de população feminina em idade reprodutiva identificados como mais vulneráveis depois de detectar algumas NBI, foram feitas análises adicionais explorando informações da PNDS 2006. Este é o caso, por exemplo, da informação sobre cobertura por convênios médicos. Destaca-se que 46% das mulheres que não possuíam convênio médico estavam vivendo em domicílios com NBI, mas, entre as mulheres classificadas como vivendo com alguma NBI, 20% possuíam convênio médico. Outro fato que merece destaque é que a condição de titularidade não discrimina a condição de NBI das mulheres, pois a diferença entre as titulares e as dependentes em planos de saúde não foi significativa: 18% e 22%, respectivamente.

Dentre as mulheres que viviam em domicílios com NBI, 44% eram negras e 34%, brancas. Entretanto, apesar da diminuição significativa de mulheres em condições de moradia na condição de NBI segundo a cor auto- declarada, constatou-se a manutenção do diferencial por cor da pele, já que em 1996, as negras assumiram uma proporção de 62% enquanto as brancas, de 51% das mulheres vivendo em NBI. Essa desigualdade se torna mais marcante quando desagregadas segundo macrorregiões do País; assim, a proporção de mulheres negras das regiões Norte e Nordeste residindo em domicílios com NBI foi de 78% e 73%, respectivamente, enquanto que na média do País essa proporção foi de 59% entre as mulheres negras.

Também foi alta a percentagem de mulheres que viviam com alguma NBI no domicílio entre as que não ti- nham instrução (64%), embora tenham sido identificadas 15% das mulheres com mais de 12 anos de estudo vivendo em domicílios com NBI. Em relação à idade, parece não haver diferenças marcantes, pois a propor- ção de mulheres vivendo nessa condição, segundo a faixa etária variou de 38% a 44%.

Tabela 6 - Percentagem de mulheres em domicílios com necessidades básicas insatisfeitas (NBI) segundo dimensão das necessidades e macrorregiões do Brasil. Brasil, PNDS 2006.

Considerando o acesso aos meios de comunicação, 39% das mulheres que declararam assistir televisão diariamente viviam em domicílios com NBI. Aquelas que afirmaram não assistir televisão constituem aproxi- madamente 60%. Essa relação se repete e se acentua quando se analisa a assiduidade da leitura de jornais e revistas, pois entre as mulheres que liam jornais e revistas todos os dias, 20% se encontravam nessa condição versus 50% entre aquelas que não liam.

A religião atual também parece discriminar as mulheres em relação aos domicílios na condição de NBI. As mulheres católicas apresentaram proporção de 43% em situação de maior vulnerabilidade, enquanto as evangélicas (tradicionais ou neopentecostais) encontravam-se na mesma condição em 35% dos casos. Em conclusão, segundo este indicador, as características das mulheres apresentaram melhora significativa se comparadas aos dados de 1996. Entretanto, vale destacar que diferenças regionais, por raça/cor e por situação de domicílio, persistem e ainda merecem atenção das políticas sociais. A sobreposição de desafios nestas situações de maior vulnerabilidade, como por exemplo, aquelas mulheres em situação de NBI e sem convênio médico apontam particularidades que devem ser atendidas de modo emergencial, sobretudo nas regiões mais carentes do País, tanto em termos de infra-estrutura de serviços públicos, como também de oportunidades de emprego e educação.

REFERÊNCIAS

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Brasil. São Paulo, 2008.

______. Critério padrão de classificação econômica Brasil/2008. São Paulo, 2007.

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<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/pnds/img/relatorio_final_pnds2006.pdf>. Acesso em: 9 set. 2008. FERES, J. C.; MANCERO, X. El método de las necesidades básicas insatisfechas (NBI) y sus aplicaciones en

América Latina. Santiago: CEPAL: Naciones Unidas, 2001. (Serie Estudios estadísticos y prospectivos).

FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. PNAD 2006: microdados. Rio de Janeiro, 2006.

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Saúde Coletiva, [S.l.], v. 9, n. 1, 2004. Disponível em:

<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232004000100009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 9 set. 2008.

CAP

Laura L. Rodríguez Wong

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