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2 ENQUADRAMENTO GERAL

AMBIENTE SEGURANÇA/ HIGIENE NO

TRABALHO OFERTA DO MERCADO RETORNO DA INFORMAÇÃO “aprender com os erros”

Figura 2.7 – O projecto integrado no processo de empreendimento

A qualidade deve ser encarada de um modo integrado e contemplar todas as fases e intervenientes actuantes no processo construtivo. Desde logo, a definição do programa geral

do empreendimento deve contemplar as fases subsequentes do projecto, construção, manutenção e gestão do produto acabado (SOARES, 2000).

A qualidade no processo de empreendimento deverá garantir (SOARES, 2000) a satisfação do dono de obra, do utilizador final e a conformidade com as exigências da sociedade e meio em que se insere.

O sector da construção abarca um largo espectro de actividades que envolvem uma grande variedade de intervenientes e é, externamente, influenciado pelo mercado e o ambiente institucional ao nível local, nacional e internacional (ANDERSSON, 2005).

2.3.2 Intervenientes

No processo de empreendimento, desde a definição da proposta até ao final da vida útil do edifício, actuam diversas entidades com determinadas funções. A concepção do projecto deve considerar todo o espectro alargado de intervenientes e a sua interdisciplinaridade de modo a coordenar esforços com vista à qualidade global do empreendimento.

Em seguida faz-se uma descrição geral das diversas entidades actuantes no processo de empreendimento, considerando a sua importância perante a concepção do projecto (ANDERSSON, 2005; SOARES, 2000; COSTA, 1995; P, 1972; SEQUEIRA, 2003):

• Poder local, nacional e internacional: assumem um papel preponderante no sector da construção a uma macro escala pela definição de directivas e regulamentos e políticas com influência no sector;

• Dono de obra: entidade que decide e promove o empreendimento e manda elaborar o projecto. Deve tomar uma posição activa nas decisões de projecto ao longo de todo o processo do seu desenvolvimento;

• Autor do projecto: empresa, técnico ou grupo de técnicos que contrata com o dono da obra a elaboração do projecto;

• Projectistas: responsáveis pelo desenvolvimento dos diversos projectos de especialidade e que incluem arquitectos, engenheiros civis, electrotécnicos, mecânicos e outros. Estes devem actuar no âmbito das orientações transmitidas pelo coordenador de projecto;

• Coordenador de projecto: responsável pela programação e coordenação do projecto que deverá assumir a função de realizar a ligação entre o dono da obra, especialistas da equipa de projecto e outros intervenientes;

• Medidores orçamentistas: responsáveis pela definição das quantidades e orçamentação dos diversos trabalhos da construção;

• Gestor geral da qualidade: assume a responsabilidade global pelo empreendimento a quem compete organizar e coordenar as actividades dos diversos intervenientes; • Fabricantes e fornecedores: fabricam e fornecem os materiais constituintes da

construção. A especificação dos diversos materiais em fase de projecto deverá ser realizada de forma coerente, para tal assume grande importância a relação recíproca entre fabricantes e projectistas;

• Empresa de topografia e geotecnia: executam a topografia e o estudo geotécnico do terreno;

• Construtores: executam a obra de acordo com os projectos, sendo muitas vezes auxiliados por subempreiteiros para determinados trabalhos;

• Utilizador final: procede à avaliação e crítica do produto que lhe é entregue. A satisfação do utilizador e as suas expectativas devem ser contempladas no projecto; • Empresas de exploração, reparação e manutenção: garantem o desempenho dos

edifícios para o uso previsto, garantindo as necessidades dos utentes durante a fase de utilização;

• Empresas gestoras de condomínio: garantem a gestão corrente dos empreendimentos.

2.3.3 Anomalias no projecto e na construção

As deficiências de construção devidas à não-qualidade são responsáveis pela origem de custos ocultos que representam entre 10% a 18% do valor dos trabalhos de construção conforme estudos da União Europeia (DIAS, 1998).

Os erros inerentes ao processo construtivo implicam custos directos e indirectos com um peso significativo. Será importante considerar os custos monetários associados aos custos de

reparação, aos custos de tempo despendido pelos intervenientes e aos custos psicológicos com significado para os clientes, utilizadores e opinião pública (SANTO, 2003).Deste modo, a prevenção assume-se como a forma mais económica de minimizar as consequências das patologias construtivas, contribuindo para tal uma cultura de projecto e de execução de obra que valorize a qualidade do edificado.

O projecto, entendido como forma de antecipação da construção, é uma das etapas onde se concentra grande parte dos erros posteriormente materializados em obra a que se juntam os erros próprios da actividade de construção (SEQUEIRA, 2003). Os erros de projecto constituem uma das causas da falta de qualidade dos edifícios que se reflecte em anomalias que podem evidenciar-se durante o processo de construção ou durante a utilização do edifício, implicando normalmente custos adicionais para o construtor e utente.

Verifica-se que a crescente complexidade dos projectos não é acompanhada por novos procedimentos e metodologias no seu desenvolvimento (SANTO, 2003) com consequências na qualidade construtiva.

Num estudo recente, Jorge Sequeira (2003) realiza uma caracterização geral do sector da construção e, em particular, das empreitadas de recursos reduzidos mais sujeitas ao impacte dos erros construtivos, procurando inferir sobre as razões da sua ocorrência. São propostas algumas medidas de redireccionamento dos custos investidos na correcção de erros construtivos para áreas como a segurança, a qualidade e a manutenção do património construído. Um dos aspectos essenciais neste trabalho prende-se com o levantamento do tipo de erros mais frequentes, sendo definidos os seguintes tipos:

• Erros de projecto;

• Erros de execução de elementos estruturais;

• Erros nos encontros e interfaces entre elementos construtivos; • Erros de organização e planeamento em obra.

A falta de compatibilização dos projectos das diversas especialidades assume-se como um dos problemas de projecto, juntamente com a ausência de projecto de execução e falta de pormenorização, a inexistência de caderno de encargos ou a sua insuficiência, a omissão de medições e de orçamentação e os erros de projecto (SEQUEIRA, 2003).

Em França, os resultados de um estudo estatístico efectuado pelo Bureau Securitas4

, com base em sinistros verificados em todo o tipo de edifícios, verificou que 43% dos custos incorridos em

4

Dados decorrentes de um relatório em que foram analisado 10000 situações de sinistros entre 1968 e 1978. Segundo informações obtidas por Jorge Moreira da Costa (1995) a situação constatada no período de 1969-1979 não terá , muito provavelmente sofrido alterações qualitativas ou quantitativas nos anos seguintes.

59% 13% 10% 18% Pormenorização deficiente Erros de cálculo Materiais inadequados Concepção geral

reparações tiveram a sua origem em deficiências de projecto, decorrentes de pormenorização deficiente, erros de cálculo, materiais inadequados e na concepção geral, distribuídos conforme se apresenta na figura 2.8 (COSTA, 1995).

Figura 2.8 – Distribuição de deficiências de projecto segundo Bureau Securitas (COSTA, 1995)

A forma como são elaborados os projectos conduz, com frequência, à repetição sistemática dos mesmos erros em obra, com implicações no acréscimo dos custos. Os elementos construtivos de fronteira entre diferentes especialidades (SANTO, 2002) contribuem para esses mesmos erros, e decorrem da informação pouco cuidada fornecida aos projectistas pelos donos de obra, juntamente com o modo como são elaborados os projectos sem uma adequada coordenação.

A durabilidade da construção é um dos aspectos que deve ser contemplado no projecto. Neste sentido, assume grande importância garantir que os materiais de construção se revelem adequados ao fim a que se destinam no sentido em que os edifícios em que venham a ser aplicados satisfaçam as exigências técnicas essenciais5

(DL 113, 1993; P 566, 1993). As exigências essenciais das obras devem, em condições normais de manutenção, ser satisfeitas durante um período de vida útil economicamente razoável.

A qualidade da manutenção e utilização dos edifícios assume igualmente uma importância determinante na sua durabilidade, possibilitando a contínua satisfação dos seus utentes, minimizando os custos globais e prolongando a sua vida útil (FLORES-COLEN; BRITO, 2004). Segundo Inês Flores-Colen e Jorge de Brito (2004), os erros de utilização e manutenção correspondem a três tipos: o uso indevido (por negligência e/ ou falta de informação); as deficientes intervenções pós-ocupação (inadequadas limpezas, reparações, substituições) e a

5

O Decreto-Lei n.º113/93 visa dar cumprimento à Directiva Produtos da Construção (Directiva 89/106/CEE). A Portaria n.º 566/93 ao abrigo do nº2 do Decreto-Lei n.º 113/93 determina as exigências técnicas essenciais das obras susceptíveis de condicionar as características dos materiais nelas utilizados e estabelece o modelo da marca de conformidade CE e respectivos sistemas de comprovação de conformidade. As exigências essenciais das obras contempladas na Portaria n.º 566/93 são as seguintes: resistência mecânica e estabilidade; segurança contra incêndio; higiene, saúde e ambiente; segurança na utilização; protecção contra o ruído e economia de energia e isolamento térmico.

ausência de acções de manutenção. Deste modo, assume grande importância a definição de mecanismos que visam acções de utilização e manutenção adequados, destacando-se a obrigatoriedade da ficha técnica da habitação (DL 68, 2004; P 817, 2004) e a da compilação técnica (DL 273, 2003). A compilação técnica, contempla a definição de um registo de informação relevante sobre o edifício desde a fase de projecto, com o objectivo de minimizar os riscos de segurança nas intervenções durante a fase de utilização e manutenção.

A concepção do projecto deve atender à minimização de anomalias nas fases subsequentes de construção, utilização e manutenção. Para tal, assume grande importância a definição do projecto de execução com pormenorização adequada, a existência de caderno de encargos, medições e orçamentos, a determinação de materiais adequados aos usos previstos e a definição de soluções e procedimentos que facultem a utilização e manutenção dos edifícios.

2.3.4 Gestão do projecto

2.3.4.1 Âmbitos da gestão do projecto

O projecto assume uma importância determinante no nível de qualidade global dos empreendimentos, na medida em que os procedimentos que originam decisões nesta fase têm uma repercussão decisiva no objecto a edificar. Neste sentido, apresenta-se em seguida algumas aproximações à gestão do projecto numa perspectiva geral, que visa contemplar todo o ciclo de vida do edifício. No quadro 2.1, apresenta-se um resumo dos conceitos de gestão no processo de edificação, baseados em Emmitt (1999).

Quadro 2.1 – Vertentes de gestão no processo de edificação, baseado em Emmitt (1999)