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2 ENQUADRAMENTO GERAL

TEMAS E CONCEITOS DESCRIÇÃO

2.4 Qualidade da habitação

2.4.3 Avaliação da qualidade habitacional

Na perspectiva de estabelecer um controlo da qualidade da habitação, existem metodologias que visam a sua avaliação, constituindo mecanismos de referência importantes para os diversos intervenientes no processo construtivo.

A avaliação da qualidade constitui um objecto de estudo em diversos países, dos quais de destaca em França o “Referencial de Certificação Qualitel” e na Suiça o “Método Sel”. Em Portugal têm sido desenvolvidos alguns trabalhos neste âmbito destacando- -se os “Métodos de Avaliação da Qualidade de Projectos de Edifícios de Habitação” de Jorge Moreira da Costa (1995) e a “Definição e Avaliação da Qualidade Arquitectónica Habitacional”

de João Branco Pedro (2003). Refere-se, ainda, o estudo de Anabela Paiva e Sandra Pereira (2001) intitulado “Métodos de Avaliação da Qualidade de Edifícios de Habitação”, no sentido de proceder a uma revisão e comparação dos diversos métodos existentes.

Procede-se, em seguida, a uma abordagem genérica aos métodos de avaliação da qualidade mencionados, com incidência na descrição dos aspectos contemplados por estes.

2.4.3.1 Referencial de Certificação Qualitel14

O Referencial de Certificação Qualitel15

(2005), foi criado em França em 1974 pela “Association Qualitel” (PAIVA; PEREIRA, 2001). Reúne um conjunto de elementos de apreciação e modos de cálculo aplicáveis à habitação nova (colectiva e individual agrupada), permitindo exprimir os níveis de qualidade técnica (QUALITEL, 2005). Em 1985 foi criado o “Label Qualitel” (Rótulo Qualitel), que caracteriza uma certificação deliberada pela “Association Qualitel”, marca relativa à qualidade sobre a concepção técnica das habitações (PAIVA; PEREIRA, 2001), actualmente designada como Certificação Qualitel (QUALITEL, 2005). Desde a sua introdução já foi usado para avaliar mais de 600 000 habitações e sujeito a diversas actualizações e reformulações de modo a traduzir modificações no modo de vida, na regulamentação e tecnologias construtivas (PEDRO, 2003).

Apresenta no seu conteúdo uma metodologia reconhecida à disposição de profissionais para apreciação prévia de princípios de qualidade dos seus projectos de habitação, constituindo uma ferramenta determinante para a optimização do desempenho técnico dos projectos. Por outro lado, a Certificação Qualitel é uma certificação de produto no sentido do código de consumo, previsto na lei francesa, constituindo um suporte de simplificação para a comunicação entre diferentes intervenientes no acto de construir e para o utilizador final das habitações (QUALITEL, 2005).

Na versão de 2005, a certificação Qualitel é atribuída, considerando 7 critérios de apreciação, através de um estudo técnico realizado com base no caderno de encargos. São definidas as seguintes rubricas de certificação (QUALITEL, 2005):

• Acústica exterior; • Acústica interior; • Térmica de Verão; • Térmica de Inverno; • Instalações sanitárias; 14

Síntese de Paiva e Pereira (2001), Association Qualitel (2005), Pedro (2003) 15

• Durabilidade do “envelope”; • Concepção económica de encargos.

Junta-se, ainda, uma rubrica opcional, relativa à acessibilidade a deficientes.

Cada rubrica é avaliada numa escala de 1 a 5 pelos examinadores Qualitel, definindo desempenhos (no caso de se avaliar a qualidade funcional) e custos (no caso de se avaliar a exploração e a manutenção). A nota 3 em todas as rubricas, necessária à certificação, equivale à habitação com qualidade técnica superior à média das construções novas realizadas em França (PAIVA; PEREIRA, 2001).

Na medida em que as exigências prévias à atribuição da Certificação Qualitel são satisfeitas, os donos de obra podem requer, se entenderem, uma ou mais declinações da Certificação Qualitel por melhoramentos no desempenho dos seus projectos sobre aspectos específicos (QUALITEL, 2005), sendo necessário obter classificações concordantes na avaliação das rubricas de certificação. As declinações da certificação Qualitel são as seguintes:

• Em acústica, a opção Conforto Acústico;

• Sobre o plano energético, a opção de Alto Desempenho Energético e Muito Alto Desempenho Energético;

• Em matéria de economia de encargos (exploração e manutenção), a opção de Concepção Económica de Encargos e a Concepção Muito Económica de Encargos; • Em matéria de acessibilidade, a opção Acessibilidade Deficientes.

No Referencial de Certificação Qualitel são avaliados os projectos nos seus aspectos construtivos da qualidade residencial, aspectos relativos à funcionalidade e à incidência de custos de exploração e manutenção.

2.4.3.2 Método SEL16

O método SEL “System d’Evaluation de Logements” (Sistema de Avaliação de Habitações), foi implementado na Suiça a partir de 1975, como instrumento de apoio a uma politica de incentivo à construção e aquisição de habitações de qualidade, recorrendo ao financiamento do Estado (PEDRO, 2003).

O método SEL, coordenado pelo “Office Fédéral du Logement”, incide na avaliação dos projectos ao nível das necessidades de uso dos moradores com base em critérios de avaliação divididos em três grupos (PAIVA, 2001):

16

• Habitação;

• Meio envolvente próximo da habitação; • Local de implantação.

O método SEL baseava-se em 66 rubricas, tendo sido reduzidas para 39 na versão de 2000. Aplica-se a todo o tipo de habitações, a diversos tipos de agrupamento (quarteirões ou loteamento), na cidade ou no campo, e para as habitações em fase de projecto, existentes ou para renovar. Permite que os seus critérios sejam utilizados como lista de controlo para os autores dos projectos durante a fase de concepção, permitindo igualmente a análise comparativa de projectos. Permite, ainda, a definição de um valor de utilização que é uma escala de qualidade que põe em evidência as vantagem de uma habitação perante o utilizador (PAIVA, 2001).

O método permite determinar um valor de utilização, podendo estar relacionado com o custo da habitação, definindo uma escala de qualidade que coloca em evidência as vantagens de uma habitação na perspectiva do utilizador. As notas podem variar de 1 a 3, em que 1 significa que o objectivo foi parcialmente atingido e a nota 3 significa muito bom, sendo ainda atribuída nota 0 sempre que não se cumpram determinados requisitos. Os resultados do método SEL são apresentados globalmente através do valor de utilização, podendo também ser analisados resultados parciais (PAIVA, 2001).

2.4.3.3 Métodos de Avaliação da Qualidade de Projectos de Habitação de Jorge Moreira da Costa

Jorge Moreira da Costa desenvolveu o “Método de Avaliação da Qualidade de Projectos de Habitação“ (1995) como dissertação de doutoramento na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. O método apresentado foi desenvolvido de modo a ser aplicável ao contexto português, com base na definição de uma hierarquia de objectivos que descreve as diversas componentes da qualidade de um edifício de habitação (COSTA, 1995).

O método apresenta uma ponderação dos vários níveis de hierarquia de objectivos, permitindo obter níveis de qualidade parcelares e globais para o projecto. A subdivisão e os critérios de avaliação utilizados neste método baseiam-se nas indicações do Método SEL (COSTA, 1995). O objectivo principal a atingir com a aplicação do método é a qualidade da habitação, contemplando critérios relativos à eficiência de aspectos construtivos e de eficiência da utilização de espaços, resumidos do seguinte modo (COSTA, 1995):

• Eficiência de aspectos construtivos:

- Segurança estrutural (fundações, superstrutura);

- Segurança contra incêndio (segurança passiva, meios de ataque);

- Conforto ambiental (conforto térmico, acústico, iluminação e ventilação natural, iluminação artificial);

- Durabilidade de materiais não-estruturais (revestimentos de paredes e pavimentos, caixilharias, coberturas, entre outros);

- Eficiência e manutenção de instalações. • Eficiência de utilização de espaços:

- Concepção espacial de zonas privativas (áreas e dimensões de compartimentos);

- Utilização de zonas comuns do edifício (arrumos, salas de condomínio e de jogos, aparcamento, jardim entre outros).

O método perfaz um total de 86 aspectos quantificáveis que são avaliados numa escala de 0 a 4, em que a nota 0 corresponde ao não cumprimento das disposições regulamentares em vigor ou das exigências mínimas de avaliação, e as notas de 1 a 4 correspondem reciprocamente a soluções de projecto com um nível de qualidade insuficiente, suficiente, bom e muito bom. O resultado final é apresentado sob a forma de uma nota final resultante das notas parciais multiplicadas por um factor de ponderação (PAIVA, 2001).

Este método permite a obtenção de níveis de qualidade parcelares e globais para o projecto permitindo a comparação entre diversas soluções de projecto e eventualmente a sua utilização como apoio a sistemas de financiamento (COSTA, 1995).

2.4.3.4 Definição e Avaliação da Qualidade Arquitectónica Habitacional de João Branco Pedro

O estudo, intitulado “Definição e Avaliação da Qualidade Arquitectónica Habitacional”, foi elaborado no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) por João Pedro Branco, entre 1995 e 2000, e apresentado como dissertação de doutoramento na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) em 2001 (PEDRO, 2003). Este estudo resultou num programa habitacional que define um conjunto de exigências de qualidade arquitectónica, e num método de avaliação que permite verificar em que graus são satisfeitas essas exigências (PEDRO, 2005).

O programa habitacional desenvolvido, ajustado à situação portuguesa contemporânea, apresenta-se organizado em quatro partes que correspondem a quatro níveis físicos (PEDRO, 2003):

• Espaços e compartimentos; • Habitação;

• Edifício;

• Vizinhança próxima.

Cada nível físico está organizado segundo uma estrutura composta por dados de programa, exigências e modelos. Os dados de programa têm como objectivo classificar os espaços habitacionais, caracterizar os utentes e seus modos de uso, e identificar tipologias mais frequentes. As exigências de qualidade têm como objectivo definir o nível de desempenho dos espaços habitacionais que assegure a satisfação das necessidades dos utentes, sendo consideradas no estudo as exigências referentes ao conforto ambiental, à segurança, ao uso e à economia. Por sua vez, os modelos exemplificativos têm como objectivo apresentar modelos da aplicação prática do programa (PEDRO, 2003).

O estudo de João Pedro Branco apresenta inúmeras referências e sínteses bibliográficas relativas à qualidade arquitectónica habitacional. Destacam-se as referências às linhas de investigação sobre a habitação no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), nomeadamente o programa de investigação do LNEC desenvolvido nos anos 60 e 70 do século XX, sob a orientação e coordenação do Arq. Nuno Portas relativo à programação e racionalização de projectos de habitação social e também o programa de investigação elaborado por A. Reis Cabrita em 1987 “Boa habitação. Do conhecimento à gestão da qualidade” que adopta uma abordagem interdisciplinar à qualidade da habitação englobando a arquitectura, urbanismo, ciências sociais e outras, e que tem orientado a linha de investigação do LNEC na área da habitação (PEDRO, 2003).

O método de avaliação da qualidade habitacional desenvolvido por João Pedro Branco tem como objectivo avaliar o grau de adequação das características da habitação e da sua envolvente às necessidades imediatas e previsíveis dos moradores. Foi desenvolvido um modelo multicritério, possibilitando desagregar a avaliação da qualidade arquitectónica num conjunto de avaliações individualizadas (PEDRO, 2005). O método encontra-se organizado numa estrutura hierarquizada em árvore que considera como primeira subdivisão os níveis físicos (habitação, edifício e vizinhança próxima), sendo estes subdivididos em grupos de qualidades conforme se resume em seguida:

• Conforto ambiental (conforto acústico, conforto visual, qualidade do ar, conforto higrotérmico);

• Segurança (segurança no uso normal, segurança contra incêndio, segurança contra intrusão/ agressão/ roubo, segurança viária);

• Articulação (privacidade, acessibilidade); • Personalização (apropriação, adaptabilidade).

O método contempla para cada qualidade um ou vários indicadores que permitem medir objectivamente o desempenho das soluções. Cada indicador abrange um conjunto de elementos de avaliação classificados de 0 a 3 (0 – nulo, 1 – mínimo, 2 – recomendável, e 3 – óptimo). O método possibilita a obtenção de valores de desempenho parciais e globais para as habitações.

O método de avaliação de João Pedro Branco foi desenvolvido de modo a poder ser utilizado em processos de decisão relacionados, com a promoção, a utilização e a gestão da habitação, e em diversos tipos de empreendimentos, tais como edifícios unifamiliares ou multifamiliares. Foi também desenvolvido um programa informático para facilitar a aplicação deste método que no total abrange 375 elementos de avaliação.