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2 ENQUADRAMENTO GERAL

SUB-SISTEMAS (EDIFÍCIO)

3.2.4 Edifício por camadas e níveis

No sentido de decomposição do edifício nas suas diversas partes alguns autores referem-se às noções de “camadas” (“layers”) e “níveis” (“levels”), no sentido de observar padrões de longevidade e adaptabilidade do edifício e das suas partes. A este respeito destacam-se as acepções de Frank Duffy e outros, Stewart Brand, Bernard Leupen (BRAND, 1994; DUFFY et al., 1999; LEUPEN, 2006) e as decorrentes do conceito de “open-building” (KENDALL; TEICHER, 2000). Faz-se, também, referência à classificação anatómica do edifício apresentada por Vítor Cóias e Silva (2004) no “Guia Prático para a Conservação de Imóveis”.

Segundo Frank Duffy e outros, os edifícios são relativamente permanentes, enquanto que as organizações e as actividades realizadas nestes estão em constante alteração (DUFFY et al., 1999). Frank Duffy entende que um edifício devidamente concebido estabelece diferentes camadas de longevidade para os seus componentes (BRAND, 1994), distinguindo neste sentido o edifício numa hierarquia funcional (figura 3.3) estabelecida consecutivamente pela “carcaça”, instalações, cenário e “suplementos” 24

.

Figura 3.3 – Camadas do edifício segundo Frank Duffy: “carcaça”, instalações, cenário e “suplementos ” [Fonte: DUFFY et.al, 1999 (traduzido)]

As camadas definidas por Frank Duffy são orientadas para o ambiente de trabalho em edifícios comerciais e de escritórios, procurando estabelecer uma unidade de análise do edifício em termos do seu uso ao longo do tempo. Neste sentido, considera o “tempo” como a essência do verdadeiro problema de desenho.

Stewart Brand (1994) procede a uma classificação de seis camadas do edifício, por referência às classificações de Frank Duffy e de modo a expandir a sua definição, e assumindo um

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propósito genérico no âmbito da edificação. Neste sentido classifica o edifício em sítio, estrutura, pele, serviços, plano espacial e “recheio”25, estabelecendo uma associação com as

sequências seguidas tanto no desenho como na construção. As camadas estabelecidas por Stewart Brand (figura 3.4) relacionam-se com o grau de velocidade com que se procede à mudança dos componentes do edifício, na medida em que ao longo do tempo o edifício necessita de ser desfeito e refeito (BRAND, 1994).

Figura 3.4 – Camadas (layers) segundo Stewart Brand associadas a padrões de alteração dos componentes do edifício em termos temporais (BRAND, 1994)

Para Stewart Brand (1994) o sítio assume-se como a camada preponderante, definindo o ambiente geográfico, a localização urbana, e a implantação decorrente da definição legal do lote, cujos limites e contexto ultrapassam gerações de edifícios. Em termos de longevidade dos elementos do edifício segue-se respectivamente a estrutura, a pele, as instalações o plano espacial e o “recheio”. O entendimento do edifício por camadas assume, também, uma equivalência ao nível da organização de responsabilidades.

Para Stewart Brand a aptidão para a adaptação dos edifícios, é associado à ideia de que as diversas camadas do edifício vão sendo “aparadas” 26

. Neste sentido, o edifício é visto como um conjunto de componentes que se relacionam em diferentes escalas de tempo, em que cada camada assume um determinado padrão de mudança, numa gradação que vai do mais permanente ao mais mutável. Este autor salienta que no sentido de possibilitar a adaptabilidade do edifício, as camadas sujeitas a substituições ou alterações regulares (por exemplo, instalações) não devem ser obstruídas por outras camadas de carácter mais permanente (por exemplo, estrutura). A teoria de Stewart Brand assume referência aos processos da natureza em que os ecossistemas podem ser entendidos pela observação dos padrões de mudança dos diferentes componentes que acontecem em diferentes ciclos temporais. Este autor transpõe para o âmbito da edificação o estabelecimento de uma

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Tradução do inglês dos termos “site”, “structure”, “skin”, “services”, “space plan” e “stuff”.

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hierarquia entre diferentes camadas do edifício em associação com o padrão de mudança dos seus componentes.

Bernard Leupen (2006) ao abordar a flexibilidade e adaptabilidade nas habitações refere-se à noção de “moldura” (“frame”), no sentido de definir a parte imutável do edifício que cria as condições para a adaptabilidade, o permanente que liberta o temporário. O permanente corresponde à “moldura”, que define o espaço no qual a mudança pode ocorrer, sendo este espaço definido como “espaço genérico” (figura 3.5).

Figura 3.5 – Edifício entendido em termos de “moldura” (frame) e espaço genérico (generic space) [Fonte: LEUPEN, 2006 (traduzido)]

No sentido de analisar a relação da “moldura” com o “espaço genérico”, Bernard Leupen estabelece uma classificação de cinco “camadas” (“layers”) do edifício, definidas como estrutura, pele, cenário, instalações e acessos (figura 3.6). Cada “camada” corresponde a uma colecção de elementos arquitectónicos associados à função ou papel que a montagem dos seus elementos assume como um todo. Por sua vez, cada edifício pode ser entendido como uma montagem das suas cinco camadas (LEUPEN, 2006).

A concepção de níveis em aproximação ao conceito de “open-building” está associada a uma separação do campo de decisão no âmbito da edificação e que se relaciona com a definição de hierarquias relativas a grupos de partes físicas e espaciais. Os níveis estabelecem os pontos onde os limites da construção, da organização social e de território coincidem (KENDALL; TEICHER, 2000).

A distinção de níveis segundo o enquadramento do “open-building” pode ser definida do seguinte modo (KENDALL; TEICHER, 2000):

• Suporte (“support”) ou edifício base (“base building”): corresponde ao permanente, à parte partilhada do edifício. Tipicamente inclui a estrutura e a fachada do edifício, entradas, escadas e corredores de acesso, elevadores e as redes principais de instalações técnicas.

• Enchimento (“infill”): corresponde às partes relativamente mutáveis, que podem eventualmente ser alteradas pelos inquilinos sem afectar o suporte ou edifício base.

Destaca-se ainda a classificação de Vítor Cóias e Silva (2004) que estabelece uma divisão do edifício nas suas partes considerando a sua anatomia, constituição ou organização. Neste sentido, este autor considera a envolvente (“vizinhança”), envelope (“pele”), interiores, estruturas / fundações e as instalações / sistemas. A classificação proposta visa a caracterização da anatomia dos edifícios recentes e antigos no sentido de estabelecer uma abordagem ao diagnóstico das anomalias da construção e a aspectos de manutenção e conservação.