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2.6 Teoria institucional: relação organização/ambiente e mecanismos de

2.6.2 As dimensões institucional e técnica do ambiente: combinando pressões

2.6.2.1 Ambiente e teoria organizacional

Scott e Meyer (1991) classificam os modelos de relação organização-ambiente em três conjuntos distintos: modelos de cenário organizacional, modelos das populações organizacionais e modelos dos campos organizacionais.

Os modelos de cenário organizacional apresentam o ambiente organizacional do ponto de vista de uma organização focal específica, ou seja, partem de uma organização central estabelecendo relações bem definidas com outras a sua volta. Essas outras organizações vão prover recursos críticos e/ou informações necessárias para suas operações. Identificaram-se como principais limitações desses modelos focalizar conexões e fluxos diretos em detrimento dos fluxos indiretos entre organizações e ver o ambiente de um ponto privilegiado de uma organização particular, negligenciando as características dos sistemas mais amplos de relações, do qual a organização focalizada é apenas uma unidade componente (SCOTT; MEYER, 1991).

No conjunto de modelos das populações organizacionais, Scott e Meyer (1991) explicam que populações são concebidas como agregados ou coleções de organizações percebidas como similares no que concerne à forma e às funções. O conceito de população apresenta uma analogia com o conceito de espécie na biologia. Entre os critérios propostos pelos representantes deste modelo, para se identificar os integrantes de uma determinada população organizacional, pode-se encontrar as características estruturais comuns, padrões similares do núcleo de processos de trabalho e responsividade similar às variações ambientais.

modelos ecológicos assumem que devido às propriedades inerciais das estruturas organizacionais, muitas mudanças nas suas formas ocorrem através da substituição: formas menos bem sucedidas são substituídas por formas mais bem sucedidas. O ajustamento das formas organizacionais às condições ambientais é presumido ocorrer principalmente através da seleção antes do que através de processos de adaptação. (SCOTT; MEYER,

1991, p.110).

Entre os aspectos limitadores deste modelo está a desconsideração ao desenvolvimento de relações cooperativas entre organizações não similares,

considerando apenas os processos competitivos como dominando as relações entre as unidades que compreendem uma população. Considerando a crescente participação de formas cooperativas no ambiente das organizações, esta limitação assume hoje uma dimensão superior àquela dos anos 70.

O terceiro conjunto de modelos de relação organização-ambiente, comentado por Scott e Meyer (1991), é o do campo organizacional, o qual difere daquele utilizado por DiMaggio e Powell (1983), uma vez que o mesmo deixa de fora as relações verticais que se estabelecem entre as unidades componentes do campo. Esses modelos dão prioridade às relações horizontais. Este conjunto de modelos está centrado na natureza das relações que ligam um agregado de organizações diversas em um sistema ou rede comum.

Entre as vantagens, em relação ao conjunto de modelos anteriores, está o exame de relações entre organizações similares e também não similares, localizadas na mesma área geográfica como, por exemplo, uma comunidade ou uma área metropolitana. Aqui o foco está mais nos padrões de relações que se estabelecem, do que sobre as organizações propriamente ditas. Como limitação deste conjunto de modelos, está a ênfase nos laços horizontais entre organizações localizadas em uma mesma localidade, em detrimento dos vínculos verticais ou hierárquicos que se dão entre organizações distribuídas em espaços geográficos distintos.

Hatch (1997), por sua vez, desenvolve uma análise das relações organização/ambiente, classificando-as em três blocos distintos: as perspectivas modernistas, a perspectiva simbólico-interpretativa – o construcionismo social da

enactment theory – e a perspectiva pós-moderna. Entre as teorias modernistas que

enfocam as relações organização/ambiente pode-se citar a teoria da contingência, a teoria da dependência de recursos e a ecologia populacional. A perspectiva institucional é colocada na fronteira entre a perspectiva moderna e pós-moderna. Nesse debate, consideram-se questões como a existência de limites entre a organização e o seu ambiente, a objetividade deste para os membros da organização, o papel da percepção dos atores organizacionais na definição do ambiente e os elementos que compõem a análise ambiental em cada abordagem teórica – questões sociais e questões relacionadas ao meio ambiente.

Segundo Hatch (1997), o ambiente organizacional, na perspectiva modernista, é definido como uma entidade que repousa fora das fronteiras da organização, influenciando seus resultados ao impor limitações e demandar adaptação como o preço da sobrevivência. Assim, dependência e incerteza vão ser dois elementos- chave que permearão a explicação da estrutura e o desempenho organizacional, uma vez que falta à organização controle sobre suas demandas.

A visão modernista enfoca o ambiente como uma dimensão objetiva, com limites bem definidos com a organização. Esta visão é marcada ainda por definir princípios universais quanto ao impacto do ambiente sobre a organização – desconsiderando especificidades locais – e por negligenciar aquelas dimensões relacionadas ao bem estar social, ao poder e ao meio ambiente.

Na perspectiva simbólico-interpretativa, contrastando com a abordagem anterior, o ambiente é concebido como uma construção social. Ou seja, “ambientes são vistos como construtos teóricos formados pelas crenças sobre suas existência e constituídos pelas expectativas movidas por essas crenças” (HATCH, 1997, p.64). A autora salienta ainda que ambientes têm impactos objetivos ou conseqüências materiais, embora suas principais conseqüências sejam simbólicas.

Por último, nos estudos organizacionais com um enfoque pós-modernista, variadas dimensões são assumidas em relação ao ambiente. Hatch (1997) salienta que, nesta perspectiva, vai-se contestar a separação entre organização e ambiente, conforme é sugerido pela noção de organizações sem fronteiras, introduzindo-se, assim, o debate sobre novas formas organizacionais – organizações virtuais e os modelos de rede. Deste ponto de vista, vão ser evidenciadas discussões sobre a exploração irracional do meio ambiente, justificadas pela noção de competição que permeia a abordagem anterior.

Nos estudos sobre planejamento organizacional e estratégia, o ambiente tem sido definido fundamentalmente pelos seus elementos, não aparecendo uma discussão quanto à sua natureza ou aos pressupostos que perpassam o

entendimento dos pesquisadores sobre a realidade organizacional1.

Hatch (1997) explica que, nas perspectivas modernistas, a base dominante para os estudos de planejamento organizacional, os ambientes vêm sendo definidos pelos seus elementos. Esses elementos são distribuídos de três formas distintas: a rede interorganizacional, o ambiente geral e o ambiente global ou internacional.

A rede interorganizacional é composta pelos membros do ambiente que interagem diretamente com a organização. Essa interação está associada à aquisição de matéria-prima, mão-de-obra, capital, conhecimento e equipamentos. Assim, pode-se identificar, como integrantes da rede, os fornecedores, os clientes, os competidores, sindicatos, agências reguladoras e grupos de interesses. Nas perspectivas tradicionais, a organização aparece sempre como central no ambiente, traduzindo com isso um desequilíbrio que, por sua vez, afeta a coerência dos planos de ação organizacionais. Uma visão mais equilibrada sobre a posição da organização no ambiente pode indicar uma limitação significativa na capacidade de escolha dos dirigentes, o que lhes reduz as bases de poder e a sua importância na determinação do caminho a ser seguido pela organização.

O ambiente geral apresenta uma segunda camada no ambiente da organização, constituindo-se de forças mais gerais que afetam toda a rede. Infinitas são as classificações do ambiente geral. No entanto, Hatch (1997) divide-o em sete setores: social, cultural, legal, político, econômico, tecnológico e físico. Estes setores podem ser agrupados ou subdivididos, não sendo necessário explicá-los, uma vez que eles estão amplamente disseminados na literatura organizacional e são de aplicação cotidiana na atividade gerencial.

Uma terceira dimensão ou camada do ambiente, a qual vem recebendo maior atenção nos últimos anos, é o ambiente global e internacional. Nesta, estão incluídos aspectos que atravessam as fronteiras nacionais ou que são organizados em escala global. Hatch (1997) salienta que o ambiente internacional pode ser analisado a partir das mesmas categorias que compõem a rede interorganizacional e

1 Deve-se fazer exceção ao trabalho de Mintzberg et al. (2000), O Safári da Estratégia, no qual o autor apresenta as diferentes visões de estratégia, destacando seus pressupostos e seus principais representantes. O autor, no entanto, assume uma postura contingencialista em relação às abordagens de estratégia.

o ambiente geral, embora concebê-lo como uma parte significa uma mudança substantiva de perspectiva e não somente uma agregação de camada.

Faz-se necessário explicar, também, como o conceito de ambiente é apresentado e operacionalizado em cada teoria. Assim, teóricos da contingência associaram a adequabilidade da estrutura organizacional – mecânica ou orgânica – ao comportamento do ambiente – estável ou instável. Nessa relação, Burns e Stalker (1968), com base em estudos empíricos relativos à introdução de inovações eletrônicas em empresas escocesas tradicionais, passaram a defender que a maneira mais efetiva para organizar é contingente sobre as condições de complexidade e mudança no ambiente.

Um segundo bloco de teorias, desenvolvidas a partir da década de 70, já sendo reconhecida a influência do ambiente organizacional, volta-se para o entendimento sobre as maneiras pelas quais esta influência opera. Nesse bloco são encontradas a Teoria da Dependência de Recursos, a Ecologia Populacional das Organizações e a Teoria Institucional.

Dependência de Recursos está centrada no poder de controle do ambiente sobre a ação organizacional. Seus teóricos consideram, no entanto, que esta relação é gerenciável. Cabe ao dirigente identificar os recursos que são críticos e escassos à organização, para buscar mecanismos que limitem a dependência desses recursos em relação ao ambiente. Assim, um conjunto de ações é prescrito nesta teoria, tais como estabelecer múltiplas fontes de suprimentos, estabelecer contratos de fornecimento, desenvolver estratégias de fusões e aquisições e desenvolver relações pessoais com membros de firmas das quais a organização depende (Hatch, 1997).

Na ecologia das populações, são apresentados os conceitos de variação, seleção e retenção, bem como a tese de que o ambiente determina a ação organizacional. O ambiente exerce pressões isomórficas competitivas, selecionando aquelas organizações mais eficientes. Nesta perspectiva, nega-se a capacidade dos gestores conduzirem autonomamente mudança organizacional. Em relação às teorias anteriores, esta abordagem é desenvolvida em um nível de análise distinto, ou seja, populações de organizações e não organizações isoladas.

A teoria institucional, ao apresentar o ambiente como um espaço no qual as relações entre os atores ultrapassam a dimensão econômica e a própria dimensão econômica é moldada por fatores políticos, sociais e culturais, constitui-se em uma das principais contribuições para a teoria organizacional nos últimos anos. Ao conceber as dimensões sociais e culturais do ambiente organizacional, vinculando- as com questões de poder numa perspectiva crítica, institucionalistas enriquecem a teoria organizacional.