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2.3 Joint ventures internacionais: motivos e contingências

2.3.4 Relações de poder: pressões externas e controle em joint ventures

2.3.4.2 Controle em joint ventures internacionais

2.3.4.2.2 Bases do controle em joint ventures internacionais

Segundo Child e Faulkner (1998), as principais teorias sobre controle identificam três principais fatores, os quais provêem as bases para o controle em alianças. Esses fatores podem ser empregados para explicar o controle em JVIs, a saber:

participação acionária majoritária: provê o direito legal de voto para determinar as políticas do empreendimento através do quadro de diretores, caso não sejam estabelecidas restrições específicas sobre esses poderes;

poder de barganha dos parceiros da joint venture: deriva da disponibilidade de parceiros alternativos, da importância da aliança para a própria estratégia do parceiro e do comprometimento de recursos do parceiro para a aliança. Segundo Child e Faulkner (1998), um parceiro que possui maior poder de barganha pode estar mais apto também a negociar para ter maior participação de capital quando a joint venture está sendo formada;

capacidade ou disposição favorável para comprometer recursos-chave para a aliança: a provisão desses recursos, segundo Child e Faulkner (1998), é um aspecto que justifica que a empresa busque empregar seu sistema gerencial e técnico, bem como a nomeação de pessoal de apoio para conduzir tais sistemas.

Child e Faulkner (1998) explicam que a participação acionária tem sido um foco de atenção em muitos estudos de controle em alianças. No entanto, enquanto muitas corporações americanas vêm buscando o controle acionário, tem sido verificado que isso pode ser dependente de outros fatores anteriores que contribuem para seus poderes de barganha. Segundo Lecraw (1984), o poder de barganha de uma empresa está associado ao poder de barganha do seu país de origem. Lecraw (1984) considerou, em sua pesquisa, o poder de barganha das corporações transnacionais em termos de suas vantagens tecnológicas, de seu tamanho e intensidade de capital, de sua intensidade de propaganda e da dependência sobre suas subsidiárias para acessar o mercado externo. O poder de barganha do país hospedeiro foi avaliado com referência à atratividade do mercado local, ao grau de controle de acesso a esse mercado e à disponibilidade do país hospedeiro de outras fontes de ativos, além daquelas da companhia transnacional.

Consideraram-se importantes, nesta tese, as bases de poder identificadas por Child et al. (1997) em investigação realizada na China sobre joint ventures internacionais. Os autores avaliaram o controle principalmente em termos do nível de influência que os chineses e as companhias-mãe estrangeiras exerciam sobre um determinado conjunto de atividades e decisões. A pesquisa identificou quatro bases significativas para controle nas joint ventures:

a) participação acionária majoritária: essa base fornecia o controle dominante sobre decisões políticas-chave, incluindo as prioridades estratégicas da joint

venture, políticas de reinvestimento e distribuição de lucros. Essa

participação majoritária também assegurava a indicação de gerentes e diretores para cargos-chave;

b) nomeação do diretor geral e de outros chefes de funções-chave: dispor de profissionais nomeados para essas funções garante alto poder de controle para o parceiro estrangeiro. Tais indicações não são totalmente determinadas pela participação majoritária, podendo ser negociadas entre os parceiros;

c) contratos legais: são empregados principalmente para prover segurança ao parceiro estrangeiro quanto à sua tecnologia, ao vazamento de informações, para garantir padrões e assegurar um aumento corrente dos royalties. Eles também são usados para proteger marcas;

d) apoio não contratual: é um tipo de apoio provido sem nenhum mecanismo contratual e pode incluir know-how de produto, tecnologia de produção, assistência de marketing, sistemas gerenciais e treinamento.

Child e Faulkner (1998) explicam que suas descobertas são congruentes com os resultados da pesquisa de Yan e Gray (1996) ao identificar que maior participação acionária está relacionada a maior controle estratégico das operações de joint

ventures, enquanto que a provisão de outros recursos que não capital, relaciona-se

mais diretamente ao controle operacional.

Pode-se observar, a partir das considerações teóricas acima, que o controle como uma expressão das relações de poder interorganizacionais em JVIs é um conceito complexo e multidimensional. Aspecto este que foi primeiramente salientado por Geringer e Hebert (1989).

Existem, certamente, outras formas de compreender a variável poder nas relações interorganizacionais. No entanto, optou-se pelo controle como uma alternativa operacionalmente mais adequada e teoricamente mais significativa para arranjos organizacionais do tipo joint ventures. Nesse sentido, as proposições a

seguir seguem a linha dos trabalhos referidos na revisão teórica, colocando-se como diferente o fato de a pesquisa ser realizada no Brasil e em um caso no qual, aparentemente, o grau de conflito e de disputa pelo controle da joint venture foi negociado e ocorreu sem atritos.

Acredita-se inovar, também, pelo fato de a pesquisa ser realizada em um país com instituições que dispõem de maior confiança internacional do que as instituições da China (Child e Rodrigues, 2000), e menor confiança em relação aos países desenvolvidos como EUA, França e Alemanha. Finalmente, salienta-se que outro aspecto que poderá interferir no desenho do controle é a nacionalidade das empresas-mãe, uma vez que países com culturas similares tendem a alcançar mais facilmente confiança um no outro.

Com base na revisão da literatura, pode-se concluir o seguinte, com relação aos mecanismos de controle:

a) joint ventures internacionais envolvendo dois países em estágios distintos de desenvolvimento e culturalmente diferentes tendem a empregar mecanismos formais de controle e, ao longo do processo, passam a desenvolver mecanismos informais;

b) os mecanismos formais de controle são aplicados pelas empresas-mãe do país estrangeiro, principalmente com o intuito de evitar o uso indevido da tecnologia, assegurar os resultados financeiros planejados, controlar o uso de marcas;

c) os mecanismos informais tendem a ser empregados como um mecanismo paralelo para assegurar controle operacional das atividades;

d) os mecanismos formais de controle tendem a ser definidos e delineados pelo parceiro estrangeiro, no caso dos países em desenvolvimento.

Quanto à extensão, ao foco e às bases de controle em JVIs, conclui-se, a partir da revisão teórica:

a) o controle aplica-se para uma variedade de atividades e decisões; sendo que a importância estratégica da atividade e as competências centrais de cada

parceiro vão determinar a distribuição desse controle. Além disso, fatores como o grau de confiança nas instituições do país hospedeiro da joint venture e o seu estágio de desenvolvimento vão influenciar na decisão do parceiro estrangeiro de conceder maior controle ao parceiro local;

b) o foco do controle é determinado pela importância estratégica de cada área a ser controlada, bem como do grau de confiança que o parceiro estrangeiro têm sobre o parceiro local;

c) em joint ventures internacionais, envolvendo empresas de países culturalmente distintos e em estágios diferenciados de desenvolvimento, diferentes bases de controle são utilizadas pelos parceiros, tais como participação acionária, nomeação do diretor geral e outros gerentes funcionais, contratos legais e apoio não contratual. Enquanto os primeiros são pré-estabelecidos, o último decorre do amadurecimento da joint venture.

2.4 A ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO, A TEORIA INSTITUCIONAL E A DEPENDÊNCIA DE RECURSOS

Nesta tese propõe-se uma abordagem que contrastará três perspectivas diferentes: economia dos custos de transação (ECT), teoria institucional (TI) e dependência de recursos (DR). Como já argumentado anteriormente, essas teorias, ao focalizarem diferentes aspectos organizacionais, podem ser usadas de maneira complementar para o alcance de uma compreensão mais profunda do fenômeno alianças estratégicas.

Juntas, essas abordagens teóricas podem ser empregadas para entender como aspectos econômicos, sociais e culturais e políticos exercem um papel chave na formação de joint ventures internacionais.

Por muito tempo, pesquisas sobre alianças estratégicas negligenciaram o papel dos aspectos sociais e culturais do ambiente. Ainda que a sociologia econômica tenha apontado que a ação econômica está imersa nas relações sociais (GRANOVETTER, 1985), esta asserção não foi incorporada pelas teorias de gerenciamento internacional. Foi somente no final dos anos 80 e na década de 90 que pesquisadores empregaram abordagens sociais para entender arranjos cooperativos (EBERS, 1997; POWELL, 1987, 1990, 1998; GULATI, 1995, 1998; RODRIGUES, 1999).

O aspecto entendido como original, nesta tese, consiste em não somente empregar dimensões sociais para entender alianças estratégicas, como também verificar como essas dimensões estão interconectadas com dimensões econômicas e políticas na formação de JVIs. A hipótese é de que motivos econômicos e estratégicos são centrais em alianças estratégicas. No entanto, uma abordagem contextualizada é necessária para compreender esses dois aspectos motivadores. Assim, a Teoria Institucional (TI) será usada para alcançar uma abordagem mais contextualizada de todas as fases da formação de JVIs, pois teorias baseadas somente em competição de mercado não apresentam uma visão completa da natureza das relações interorganizacionais (DIMAGGIO; POWELL, 1991).

A Teoria Institucional (TI) tem se tornado um arcabouço essencial para entender fenômenos organizacionais. Ela ajuda a explicar como dimensões sociais e culturais do ambiente podem moldar a ação e a estrutura organizacional. É complementar às abordagens econômicas ao defender que eficiência pode ser o resultado das diferenças nas características do ambiente institucional dos países (WHITLEY, 1991). No entanto, quando tomada isoladamente, a Teoria Institucional (TI) pode apresentar uma visão supersocializada da realidade organizacional. Uma visão supersocializada é entendida aqui como:

uma concepção da pessoa como totalmente sujeita às opiniões dos outros e assim obediente aos ditames dos sistemas de normas e valores desenvolvidos e internalizados consensualmente através da socialização, de uma forma tal que obediência não é percebida como um mecanismo opressor. (GRANOVETTER, 1995, p.483).

De forma diferente, pode-se dizer que esta abordagem é problemática, uma vez que não enfatiza o poder das relações de poder e o papel da agência. A Teoria

Institucional (TI) tende a assumir uma visão passiva do comportamento dos atores organizacionais em fazer frente às demandas do ambiente. Ainda que esta crítica seja relevante, atualmente, autores que representam esta abordagem estão refinando seus argumentos ao incluir aspectos sobre o papel ativo exercido pelos atores organizacionais – em termos de questões políticas e estratégicas (DACIN; GOODSTEIN; SCOTT, 2002).

Sobre a Economia de Custos de Transação (ECT), pode-se dizer que, se usada isolada de outras teorias, produz uma visão subsocializada dos fenômenos organizacionais. Numa visão subsocializada, atores são vistos como se comportando ou decidindo como átomos fora do contexto social (GRANOVETTER, 1985). Nesta teoria, a falta de consideração dos efeitos das relações sociais e da estrutura social sobre os processos de produção, distribuição e consumo organizacionais cria um modelo altamente simplificado e abstrato para entender a realidade. Apesar desses problemas, a Economia de Custos de Transação (ECT) apresenta aspectos previamente negligenciados pela teoria organizacional, tais como a importância dos mercados e os problemas de oportunismo. O oportunismo, como uma tendência humana para agir em benefício próprio e com dolo, produz elevado custo nas transações, tornando fundamental a sua compreensão. A autoridade hierárquica é empregada para limitar esses efeitos.

Roberts e Greenwood (1997) afirmam que a Economia de Custos de Transação (ECT) provê um arcabouço útil de pressupostos, os quais podem ser construídos para explicar a adoção de um desenho organizacional específico. No entanto, quando fazem referência a Williamson, advertem que, “poucos economistas insistiriam em uma teoria irrealista da eficiência da organização econômica” (WILLIANSOM apud ROBERTS; GREENWOOD, 1997, p.2). O uso da Teoria Institucional (TI) e da Economia de Custos de Transação (ECT) para construir um arcabouço teórico mais potente é também desenvolvido no artigo de Hesterly, Lieberskind e Zenger (1990). Eles acreditam que Teoria Institucional (TI) pode oferecer direções úteis para identificar e entender os custos referidos na Economia de Custos de Transação (ECT). A Teoria Institucional (TI) também evidencia o papel exercido pelos mecanismos institucionais isomórficos na escolha das estruturas de governança. Desta forma, expande os elementos necessários para entender, de

maneira mais realista, como e por que arranjos interorganizacionais são escolhidos em relação a mercado ou hierarquia.

Finalmente, no que concerne à terceira abordagem teórica deste trabalho – Dependência de recursos (DR) – a mesma é usado para entender como aspectos de poder exercem um papel-chave na formação de JVIs, ao lado dos aspectos econômicos e institucionais. Sobre isso, pode-se concordar com Clegg (1990) que organizações podem ser concebidas como condutos, arenas e oportunidade de poder. Uma análise que não leva em conta poder e aspectos institucionais tende a simplificar a realidade organizacional.

As três teorias serão desenvolvidas no tópico a seguir. Para cada teoria, um conjunto de elementos será selecionado, compondo o modelo de pesquisa da tese.