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2.3 Joint ventures internacionais: motivos e contingências

2.4.3 Contribuições da economia dos custos de transação para os estudos de

A Economia dos Custos de Transação (ECT) tem sido aplicada em vários aspectos dos estudos organizacionais, os quais incluem cooperação interorganizacional, inovação, estratégias de produção, logística e relações de

trabalho. Child e Faulkner (1998) explicam que a Economia de Custos de Transação (ECT) considera alianças estratégicas como um método potencial para reduzir custos em transações comerciais. Esses autores afirmam que a ECT apontou vantagens oferecidas pelas formas híbridas como alianças estratégicas, entre as quais a capacidade de reduzir elevados graus de incerteza, causadas pelas falhas de mercado, e os altos custos para estabelecer hierarquia. Além disso, eles enfatizam que, “muito da pesquisa empírica baseada na Economia de Custos de Transação (ECT) aponta que joint ventures clássicas ou equity joint ventures são usadas para superar ineficiência de mercados intermediários para prover matéria prima e componentes, conhecimento tácito, empréstimo de capital e sistemas de distribuição” (p.22).

Teece (apud EBERS, 1997) afirma que “as interdependências que são cruciais para inovação bem sucedida podem ser alcançadas mais efetivamente e eficientemente por redes interorganizacionais do que pelo sistema de preços de mercados ou do que através da organização das firmas internamente” (p.11).

Finalmente, partindo do trabalho de Child e Faulkner, pode-se afirmar que a Economia de Custos de Transação (ECT) é importante por contribuir com elementos sobre que formas de alianças podem surgir à luz das circunstâncias que elas são formadas. “A perspectiva da ECT sobre relacionamentos cooperativos evidencia a relevância dos motivos dos parceiros, a natureza dos investimentos que eles comprometem para a colaboração e o caráter específico de suas transações” (CHILD; FAULKNER, 1998, p.22). A ECT, ao evidenciar os elementos que podem interferir nos custos de transação presentes nas transações internacionais, permite um cálculo mais realista das vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de arranjos interorganizacionais. Ainda que esses elementos informados pela Economia de Custos de Transação (ECT) não sejam completamente determinantes, eles exercem um papel importante no processo de formação de arranjos cooperativos interorganizacionais.

Tsang (2000) defende que os custos de transação têm sido a abordagem dominante nos estudos de joint ventures. Muitos pesquisadores (HENNART, 1991; 1988; KOGUT, 1991; FEY; BEAMISH, 2001; GOMES-CASSERES, 1996) têm empregado custos de transação para explicar muitos aspectos de JVs. Esses estudos têm

avançado em relação ao trabalho de Williamson ao explicar a formação de JVs como não resultante exclusivamente de uma busca por redução de custos. Contribuições de outras abordagens teóricas têm sido empregadas para entender JVs, tais como

resource based-view (TSANG, 2000) e teoria institucional (CHEN; BOGGS, 1998).

Brown et al. (apud FEY; BEAMISH, 2001) defendem o ponto de vista que dissimilaridades da cultura organizacional e nacional entre as empresas-mãe, em uma joint venture, podem levar o empreendimento ao fracasso, caso mal gerenciado. Eles acreditam que essas dissimilaridades aumentam a probabilidade de oportunismo que, por sua vez, aumenta o custo associado ao uso de joint

venture. Conforme proposições apresentadas anteriormente, diferenças culturais

podem influenciar o processo de formação de joint ventures internacionais. Nesta linha, baseados na ECT, Fey e Beamish (2001) defendem que climas similares entre as empresas-mãe costumam reduzir os custos de transações em JVIs. Entre os motivos para que similaridades do clima organizacional produzam economias estão, primeiro, o de similaridades evitarem processos de perdas na coordenação e controle, os quais estão normalmente associados com dissimilaridades. Segundo, o de minimizarem incertezas resultantes de dificuldades de mensuração. E, terceiro, o de diminuírem o oportunismo ao reduzir a probabilidade de desentendimentos das ações dos parceiros.

Beamish e Banks (1987) reconhecem que joint ventures envolvem alto custo administrativo. No entanto, eles empregam a Economia de Custos de Transação (ECT) para explicar que os custos de usar JV podem ser menores do que os benefícios resultantes. Eles destacam algumas condições nas quais JVs podem prover uma melhor solução para os problemas de oportunismo, de pequeno número de negociadores e de incerteza, quando comparados com a opção de usar subsidiárias próprias. Entre estas condições citam: primeiro, em situações nas quais uma JV é estabelecida com um espírito de confiança mútua e comprometimento para um sucesso comercial de longo prazo, sendo improvável o oportunismo. Segundo, na ausência de oportunismo do parceiro local, problemas associados com pequeno número de negociadores apresentam dificuldades muito menos sérias nas transações do que normalmente poderia ser esperado.

A despeito das vantagens inerentes às joint ventures, Beamish e Banks (1987) defendem que existem limites para os ganhos de eficiência relativa providos por elas. Assim, JVs podem sofrer da mesma distorção de objetivos das hierarquias. Em outras palavras, outros interesses, para além da redução de custos ou lucros de longo prazo, enviesam a manutenção da JV. Além disso, o risco de perda de controle sobre conhecimento de propriedade da empresa também serve para limitar a eficiência de ganhos através de JVs. Os autores defendem que isso pode acontecer em duas circunstâncias: a) quando o parceiro local decide resignar-se e usar o conhecimento adquirido na JV para estabelecer uma firma para competir; b) quando o parceiro local decide dissolver o arranjo e usar o conhecimento obtido através da JV como base para continuar a servir o mercado local (e possivelmente um mercado estrangeiro) através da sua própria organização.

Kogut (1991) salienta que joint venture representa uma opção real para expandir, em resposta aos futuros desenvolvimentos tecnológicos e de mercado. O autor afirma que JV pode ser empregada para compartilhar risco e para reduzir os custos de investimentos em muitas indústrias. Ao analisar uma amostra de JVs localizadas nos EUA, Kogut (1991) descobriu que firmas não se engajam em

ventures cooperativas, vendo-as como amortecedores para incerteza. Neste sentido,

os dados de Kogut (1991) evidenciam que motivos estratégicos podem exercer uma maior importância do que a redução de custos sobre a escolha entre joint ventures e subsidiárias totalmente controladas.

Ainda que se possa reconhecer as contribuições da Economia de Custos de Transação (ECT) para o estudo de joint ventures, Osborn e Baughn (1990) sugerem que a ECT apresenta restrições quando empregada em estratégias globais para grandes multinacionais. Eles explicam que multinacionais muito grandes podem ser comparativamente invulneráveis aos riscos de oportunismo e pequeno número de negociadores. Segundo os autores,

com abundante elasticidade de recursos, múltiplos núcleos técnicos, a habilidade para retaliar contra incursões, sozinha ou em cooperação com governos e o interesse investido de proteger sua reputação, uma grande organização pode ser menos preocupada com a exploração possível de um parceiro do que uma pequena firma. (DOZ apud OSBORN; BAUGHN, 1990,

Assim, como enfatizado acima, o foco sobre posicionamento estratégico da firma substitui a preocupação com os custos associados com alianças ou com o ajustamento tático na forma originária de fatores tecnológicos. Esta restrição conduz à defesa da integração da Economia de Custos de Transação (ECT) com outras duas teorias, como um meio para avançar no entendimento de joint ventures internacionais– teoria institucional e dependência de recursos.

Baseando-se nos elementos centrais da Economia de Custos de Transação (ECT) – ativos específicos, pequeno número de negociadores e incerteza – e em estudos empíricos sobre JVIs que levam em conta a ECT, apresentam-se as seguintes considerações:

ainda que especificidade dos ativos, pequeno número de negociadores e incerteza exerçam um papel importante na formação de JVIs, não o fazem de maneira determinante;

redes, e particularmente JVs, podem ser empregadas como uma estratégia para minimizar a probabilidade de oportunismo e incerteza decorrentes das ações do parceiro estrangeiro;

nos casos em que ativos específicos estão presentes, JVs clássicas tendem a ser empregadas para garantir a fluidez da troca de conhecimento tácito, bem como para controlar o uso da tecnologia envolvida na transação;

redes, e particularmente JVs, podem ser empregadas como um mecanismo para minimizar o impacto em casos onde haja pequeno número de negociadores;

diferenças na cultura nacional e no estágio de desenvolvimento dos países das empresas-mãe da JV tendem a aumentar os custos implicados no processo de formação da JV.

2.5 DEPENDÊNCIA DE RECURSOS: AS RELAÇÕES DE PODER