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2.6 Teoria institucional: relação organização/ambiente e mecanismos de

2.6.3 Combinando as dimensões técnica e institucional do ambiente

A partir do reconhecimento de que organizações não tinham sua sobrevivência condicionada apenas pela sua capacidade de lidar com os fluxos técnicos no ambiente, de que não se constituíam apenas em sistemas de produção e de que suas estruturas não eram moldadas apenas pelas suas tecnologias e aspectos técnicos, crescente atenção passou a ser dada às dimensões sociais e culturais do ambiente.

Os institucionalistas reconhecem que organizações são também sistemas técnicos mas, mesmo as técnicas, com o tempo, passam a ser moldadas pelas relações sociais que se estabelecem tanto no nível da organização como no do campo. Assim, muitas vezes uma determinada técnica perde sua eficiência, mas se mantém por ter sido institucionalizada e por transmitir legitimidade àqueles que a adotam. Estas considerações vêm ao encontro da afirmação de Meyer e Rowan (1991, p.41) de que “as estruturas formais de muitas organizações na sociedade pós-industrial refletem profundamente os mitos dos seus ambientes institucionais ao invés das demandas das suas atividades de trabalho”.

Scott e Meyer (1991), contrapondo-se aos modelos tradicionais de relação organização/ambiente, desenvolveram o conceito de setor social, definido como:

(1) uma coleção de organizações operando no mesmo domínio, quando identificado pela similaridade dos seus serviços, produtos ou funções; (2) junto com essas organizações que criticamente influenciam o desempenho das organizações focais: por exemplo, principais fornecedores e clientes, proprietários e reguladores, fontes de investimentos e competidores. O adjetivo 'social' enfatiza que setores organizacionais nas sociedades modernas são prováveis de estender-se de atores locais para nacionais ou mesmo internacionais. As fronteiras dos setores sociais são definidas em termos funcionais e não geográficos; setores são constituídos de unidades que estão funcionalmente inter-relacionadas ainda que elas possam estar distantes geograficamente. (SCOTT; MEYER, 1991, p.117-118).

Os autores identificam o conceito de setor social com os conceitos de sistema industrial de Hirsh (1972; 1985), de rede interorganizacional de Benson (1975) e de campo organizacional de DiMaggio e Powell (1983). Destacam, também, que os aspectos considerados nesse modelo diferem dos anteriores nos seguintes pontos: atenção para as estruturas de relações mais amplas em que funcionam as organizações, para além dos vínculos entre organizações específicas; vínculos entre organizações similares e não similares, bem como os vínculos horizontais e verticais e as conexões locais e não locais são considerados de mesmo interesse e, por último, aspectos técnicos e institucionais são considerados importantes e salientes no ambiente organizacional.

Os setores sociais são compreendidos como possuidores de níveis distintos de ambiente – o técnico e o institucional – os quais não são dicotômicos, mas dimensões ao longo das quais os ambientes variam. Os processos institucionais e competitivos não são necessariamente opostos, e a análise separada pode conduzir a equívocos na interpretação da realidade organizacional (POWELL, 1991; MEYER; ROWAN, 1991; SCOTT, 1991).

O entendimento das dimensões técnica e institucional do ambiente é necessário para o reconhecimento da imersão da organização em espaços sociais, culturais e políticos, construídos e reconstruídos em tempo e lugar específicos que, por sua vez, explicarão, em parte, a estrutura e o desempenho organizacional e o comportamento dos atores no interior da instituição.

Segundo Scott (1991), as primeiras definições de ambiente eram vagas, pois ambiente técnico era concebido apenas em termos de trocas e tecnologias complexas, enquanto que ambiente institucional era entendido em termos de regras e categorias socialmente definidas.

Ambiente técnico expressa a natureza mais visível da organização, a qual tem recebido atenção central dos teóricos da administração. Powell (1991) explica sucintamente que organizações, operando em ambientes técnicos, são avaliadas pelos seus resultados. Assim pode-se dizer que:

ambientes técnicos são aqueles nos quais um produto ou serviço é produzido e trocado em um mercado tal que organizações são recompensadas pelo controle efetivo e eficiente dos seus sistemas de produção. (...) Organizações operando em tais ambientes são esperadas concentrarem suas energias em controlar e coordenar seus processos técnicos e são prováveis de tentar amortecer ou proteger esses processos centrais dos distúrbios ambientais. (SCOTT; MEYER, 1991, p.123).

O ambiente institucional expressa a natureza mais complexa das relações da organização com o ambiente, incluindo os aspectos normativos (influência cultural), coercitivos (influência política) e mimético (influência social). Dessa forma, é correto afirmar que:

ambientes institucionais são, por definição, aqueles caracterizados pela elaboração de regras e requerimentos para os quais organizações individuais deverão conformar-se se elas estão para receber apoio e legitimidade. Os requerimentos podem vir de agências reguladoras autorizadas pelo estado-nação, de associações profissionais ou de negócio, de sistemas de crenças generalizados que definem como tipos de organizações específicas estão para conduzirem-se, além de outras fontes similares. (SCOTT; MEYER, 1991, p.123).

Powell (1991), em outras palavras, declara que organizações operando em ambientes institucionais são avaliadas mais pela adequação da sua forma do que pelos seus resultados. Essa adequação é julgada por atores como o Estado, associações profissionais e de negócio e mesmo outras organizações – fornecedores, clientes e concorrentes.

Regras e procedimentos institucionais e técnicas são de difícil distinção empírica, pois quem formula as primeiras luta para que elas pareçam técnicas em natureza, enquanto que as regras e regulamentos técnicos, quando institucionalizadas, podem se manter independente de sua eficiência. As trocas no mercado, em muitos aspectos, são altamente institucionalizadas, pois relações pessoais são construídas gerando comportamentos esperados, que não dependem dos contratos. Mesmo nas atividades mais competitivas existe uma profunda

dependência de arranjos institucionais no nível macro e micro que asseguram a reprodução das trocas econômicas (SCOTT; MEYER, 1991; POWELL, 1991).

Combinando a incidência dos aspectos técnicos e institucionais em dois níveis – alto e baixo – Scott e Meyer (1991) construíram uma tipologia que permite compreender a natureza das formas organizacionais, para além da explicação tradicional dada pelos teóricos da contingência. A Figura 5 apresenta os quatro quadrantes com as respectivas classificações.

farmacêutico

utilities (empresas

de luz, água, telefone, etc.) bancos

hospitais gerais

empresas de manufatura

clínicas de saúde mental escolas, agências legais e igrejas

restaurantes clubes de saúde mais forte mais fraca

mais forte mais fraca A M B I E N T E T É C N I C O AMBIENTE INSTITUCIONAL

Figura 5: Combinando ambiente técnico e ambiente institucional

Fonte: SCOTT; MEYER, 1991, p.124.

Na Figura 5, apresentam-se quatro grupos de organizações que, devido à localização, passam a compartilhar características estruturais e de desempenho semelhantes.

Organizações tais como empresas de serviços essenciais (telefonia, água, energia elétrica, gás etc.), companhias aéreas e bancos são vistas como sujeitas a

pressões técnicas e institucionais altamente desenvolvidas. Elas enfrentam demandas por eficiência e efetividade, bem como pressões para se conformarem às demandas usuais. Esta combinação de pressões ambientais leva a gerar estruturas administrativas maiores e mais complexas do que aquelas organizações que enfrentam ambientes menos complexos.

Organizações manufatureiras estão principalmente sujeitas a fortes solicitações técnicas com mais fracos – mas variando – graus de pressões institucionais, relacionadas a matérias como saúde, segurança, controles de poluição, entre outros. Pode-se afirmar que o grau de exigência com relação a esses fatores está associado ao estágio de desenvolvimento do país em que a organização opera.

Muitas organizações de serviços profissionais, tais como escolas, clínicas de saúde mental, igrejas e firmas de advocacia, operam sob fortes pressões institucionais e fracos ambientes técnicos, embora níveis variados de controles técnicos estejam presentes.

Organizações como pequenos restaurantes e unidades de serviços pessoais – clubes de saúde – que emergem sob condições nas quais ambientes técnicos e ambientes institucionais não são altamente desenvolvidos, apresentam dificuldades para se desenvolver ou florescer. Nessas condições ambientais, as formas organizacionais tendem a ser pequenas e instáveis.

As considerações feitas por Scott e Meyer (1991) devem ser ponderadas pelo contexto de referência utilizado para o desenvolvimento da teoria. Esses autores têm como referência central a realidade norte-americana. Em outros países, a disposição das organizações nos quadrantes pode ser diferente e, mesmo nos EUA, alterações nos campos organizacionais podem gerar mudanças na forma como cada ambiente influencia a dinâmica organizacional. Evidentemente que tais mudanças não são cotidianas, mas resultam de alterações do mercado e das políticas governamentais.

Nesta mesma direção, Meyer e Rowan (1991) reafirmam a idéia de um contínuo de ambiente técnico e institucional. Eles explicam que organizações de produção tendem a estar sob forte controle de resultados, sendo que seu sucesso depende do gerenciamento de suas redes relacionais complexas. Organizações institucionalizadas, por sua vez, têm seu sucesso condicionado ao alcance de

confiança e estabilidade através do isomorfismo com as regras institucionais. O caráter transitório das organizações nos quadrantes explica-se, então, por dois motivos:

primeiro, as propriedades técnicas dos resultados são socialmente definidas e não existem num sentido concreto que permita serem empiricamente descobertas. Segundo, ambientes e organizações freqüentemente redefinem a natureza dos produtos, serviços e tecnologias. Redefinição, algumas vezes, torna claros tecnologias ou padrões de avaliação. Mas freqüentemente organizações e ambientes redefinem a natureza das técnicas e resultados introduzindo ambigüidades e direitos de inspeção e controle. (MEYER; ROWAN, 1991, p.55).

Neste estudo, assume-se que organização e ambiente não apresentam fronteiras claramente delimitadas. Qualquer delimitação é sempre o resultado de condicionamentos culturais e políticos dos atores organizacionais. Assim, a percepção dos dirigentes sobre a existência do ambiente é um fator crucial para entender as relações interorganizacionais. No entanto, cabe destacar, que fatores ambientais influenciam as práticas organizacionais, em muitas circunstâncias, independente dessa percepção. Por esse motivo, torna-se essencial compreender as dimensões técnicas e institucionais do ambiente, como elas são percebidas pelos dirigentes da organização e como elas efetivamente afetam as práticas gerenciais e a estrutura organizacional.

O estudo de arranjos cooperativos interorganizacionais, conforme referido nos tópicos anteriores, tem sido pautado em diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. Ainda que não exista um consenso no campo sobre a forma mais adequada para estudar alianças, já existe um consenso sobre a necessidade de combinar diferentes teorias para compreender a natureza multifacetada deste fenômeno (Grandori e Soda, 1995; Ebers, 1997; Baldi e Lopes, 2002).

Conforme apresentado na Figura 1, bem como ao longo da revisão da literatura, a construção de um modelo para compreender alianças estratégicas e em especial

joint ventures deve incorporar dimensões econômicas, culturais, políticas e sociais.

Nesse sentido o modelo a seguir compõe-se de elementos de diferentes abordagens teóricas e incluí a seqüência de eventos referida por Gulati (1998) para formação de uma aliança.

Segundo Gulati (1998), do ponto de vista estratégico, algumas das facetas essenciais do comportamento das firmas, de como elas se relacionam nas alianças, podem ser entendidas quando se olha a seqüência de eventos do processo de sua formação. Esta seqüência, conforme já se aludiu anteriormente, inclui a decisão de entrar em uma aliança, a escolha de um parceiro apropriado, a escolha da estrutura para a aliança e a evolução dinâmica da aliança ao longo do tempo. Partindo das contribuições da teoria da imersão social de Granovetter (1985), bem como da teoria institucional (Meyer e Rowan, 1977; DiMaggio e Powell, 1983; Selznick, 1957) esta tese salienta a importância do contexto social e cultural, não reduzindo o ambiente

externo aos aspectos de mercado. O próprio mercado, é considerado como uma construção social, moldado pelas relações sociais entre os atores. Atores econômicos são vistos como atores sociais que não agem exclusivamente com base em uma racionalidade puramente instrumental, ou seja, para além da racionalidade limitada, atores econômicos sofrem pressões normativas que determinam suas ações, homogeneizando parte do comportamento organizacional, em um determinado campo organizacional. Tais pressões, no entanto, não são absolutamente determinantes, pois fatores políticos, culturais e a autodeterminação dos atores também se fazem presente nos processos organizacionais.

O modelo de análise proposto evidencia, em um primeiro momento, os elementos de cada abordagem teórica para análise de cada fase do processo de formação da aliança. Ainda que as dimensões culturais, sociais, econômicas e políticas estejam distribuídas nas teorias utilizadas para fundamentar o estudo, foi construída uma figura (Fig. 6), com referências específicas para cada uma dessas variáveis.

Para facilitar o entendimento do modelo, será explicitado no que consiste cada uma das fases do processo de formação, conforme proposto por Gulati (1998).