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Análise da categoria contribuições para os resultados: O que aprendeu e como aplicou

DA GESTÃO PARA (AO) APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS RELATIVOS

4.2.2.3. Análise da categoria contribuições para os resultados: O que aprendeu e como aplicou

Nesta categoria são analisados os resultados decorrentes da aprendizagem organizacional, sob a perspectiva dos participantes e à luz da revisão de literatura. Todos os participantes indicaram alguns pontos de aprendizagem os quais foram aplicados na instituição. Esse dado corrobora o conceito de Argyris & Schön (1996), segundo os quais a aprendizagem organizacional é um processo que permite a melhoria e o desenvolvimento das ações da organização por meio da aquisição de novos conhecimentos e de uma melhor visão. Esses autores defendem que a aprendizagem ocorre no nível individual e organizacional, ressaltando que a aprendizagem não se limita a aquisição de conhecimento, mas, sobretudo, à utilização desse conhecimento em prol dos objetivos organizacionais.

Questionados sobre o que aprenderam, em decorrência da avaliação interna da gestão e como colocaram em prática, os participantes foram unânimes em afirmar que tudo que foi aprendido foi aplicado. As verbalizações indicam resultados nos diversos níveis do processo de gestão escolar. Nesse sentido, faz-se importante ressaltar o depoimento de um gestor que afirma:

“O que aprendi eu tenho tido oportunidade de colocar em prática, exemplo do que eu aprendi e tenho aplicado é lidar com o público direto, a questão da humildade, do respeito é muito evidente todos os dias. A minha obrigação enquanto pessoa aqui dentro, enquanto gestora é tratar todos bem, não só com o funcionário da limpeza, com os servidores, mas com todos os professores.” (gestor)

O sentido do aprendizado expresso na prática de lidar com as pessoas reflete também a idéia do conceito de escola aprendente que, segundo Santos Guerra (2001), é uma escola de pessoas, com pessoas, para pessoas. É a escola que se reconhece na sua história de vida (coletiva, única, irrepetível); no espaço de sua memória e identidade; no seu desejo de evoluir. E é nesse espaço de reconhecimento e reflexibilidade que se dá a aprendizagem. A escola é um lugar onde a aprendizagem deve estar impregnada em todas as suas ações, com envolvimento de toda a comunidade escolar. É uma organização criada para promover a aprendizagem; dessa forma, o gestor escolar, mas que qualquer outro gestor, precisa aprender a disseminar oportunidades de aprendizagem em todos os níveis (SENGE, 1990). O processo pedagógico constitui verdadeiro trabalho humano e supõe a existência de um objeto de

trabalho, que, no caso, é o próprio educando (PARO, 1998). No que se refere ao aluno, há todo um processo planejado e executado no sentido de proporcionar-lhe momentos de aprendizagem; mas, a função do gestor escolar extrapola a sala de aula e até a própria escola. A responsabilidade do gestor envolve docentes, servidores administrativos, pais, enfim, toda a comunidade escolar. Para que haja uma educação de qualidade, todos devem estar envolvidos num processo de aprendizagem que também extrapole os limites da sala de aula.

O gestor que se reconhece como um educador é capaz, também, de fazer compreender melhor o funcionamento da escola, da comunidade escolar, dos parceiros e dos mantenedores, conhecer com mais profundidade os que nela estudam e trabalham, consegue intensificar seu envolvimento com ela e, assim, acompanhar melhor a educação nela oferecida (SANTOS GUERRA, 2001).

Senge (2000, p. 196) adverte para a importância de se reconhecer que há uma interdependência entre a escola e a comunidade e que a característica mais fortemente arraigada na comunidade é a sua complexidade. Dessa forma, o gestor deve dar atenção especial e distinguir o valor dessas redes de influências invisíveis, buscando fortalecê-las e sentindo-se responsáveis por todas as pessoas conectadas a elas.

Nesse mesmo contexto, cabe destacar, também, o depoimento de um profissional da área administrativa, que ressalta em sua fala a contribuição da avaliação para a sua maturidade pessoal e profissional,

“Eu poderia falar que aprendi a trabalhar melhor, poderia citar algumas tarefas, mas o ponto principal é com relação a minha pessoa, algo mais pessoal com relação à maturidade profissional, eu acho que com as visitas dos técnicos da avaliação, com as conversas e com os resultados apontados em relatórios, eu aprendi a ser mais maduro, a ser mais cauteloso, a ser mais criterioso, estar mais conectado às normas, aprendi a ser e ficar mais atento ao que acontece e a ter maturidade profissional. Eu entendo isso como aprendizagem” (administrativo).

Esse depoimento reflete a idéia de que as crenças e as premissas pessoais afetam diretamente a aprendizagem organizacional, da mesma forma como as políticas e os programas que as instituições adotam, voltados para a aprendizagem, influenciam também, as atitudes e os comportamentos individuais. É nesse ponto em que se dá o encontro entre os modelos mentais, descritos anteriormente, como interpretações, esquematizações, perspectivas, crenças e pontos de vistas que ajudam os indivíduos a perceber e definir a sua visão de mundo, com a cultura e a memória organizacional (SENGE, 1990). Os modelos mentais são pontos de interconexão entre o

aprendizado individual e a memória organizacional e, por maior que seja o esforço da instituição em promover ações canalizadas para a ocorrência de aprendizagem, se a visão que a pessoa tem do mundo permanecer inalterada, dificilmente essas ações resultarão em aprendizagem (KIM, 1996, p.65).

Nesse contexto há de se observar que a construção de uma escola aprendente enfrenta obstáculos que precisam ser bem diagnosticados, pois quando o diagnóstico é mal feito, as soluções são inevitavelmente deficientes. Santos Guerra (2001) argumenta que o funcionamento dessa comunidade crítica de aprendizagem não deve limitar-se apenas em prescrições e regulamentos. Deve, antes, preocupar-se em desenvolver diferentes tipos de inteligências:

Figura 3 - Inteligências necessárias à escola que aprende

Fonte: Adaptado pela pesquisadora, de Santos Guerra, 2001.

A apresentação das diferentes inteligências da fig. 03 tem um sentido apenas didático e ao mesmo tempo denota a interdependência que existe entre elas. Não se pode imaginar o gestor ou qualquer membro da comunidade escolar decidindo, “agora eu vou usar a inteligência pedagógica”, ou qualquer outra inteligência isoladamente. A capacidade de pensar, de agir, de

Inteligência ética Inteligência espiritual Inteligência emocional Inteligência colegial Inteligência pedagógica Inteligência reflexiva Inteligência acadêmica Inteligência estratégica Inteligência contextual Escola que aprende Inteligências

resolver problemas, de encaminhar soluções em qualquer área ou situação requer da pessoa envolvida nesses processos uma ação integrada. Didaticamente, a inteligência contextual é traduzida como a capacidade de autocrítica, de observar os contextos internos e externos à atuação da instituição, que podem interferir nos seus resultados. A inteligência estratégica está relacionada ao planejamento, ao desenvolvimento e a avaliação de projetos adequados à necessidade da instituição e da comunidade a quem ela serve. A inteligência acadêmica reflete a razão de ser de uma escola, a organização curricular dinâmica e compatível com as expectativas de aprendizagem dos alunos, ciente de que essa aprendizagem está intimamente ligada à aprendizagem do professor. A inteligência reflexiva expressa a competência para controlar (informações e dados sobre os processos) e avaliar todos os níveis da instituição. A inteligência pedagógica consiste na análise do processo de aprendizagem, nos métodos, nas práticas pedagógicas dos professores e alunos. A inteligência colegial consiste em saber lidar com o corpo discente, na capacidade de os docentes trabalharem em conjunto por um fim comum. A inteligência emocional é a capacidade de, a escola, envolver a comunidade escolar de forma afetiva, “esse tipo de inteligência é fundamental para a aprendizagem porque sustenta o pacto entre os membros da comunidade”. A inteligência espiritual torna-se importante porque por meio dela a escola valoriza a vida pessoal de cada indivíduo, consiste no respeito às diferenças. A inteligência ética, por sua vez, é a capacidade de reconhecer a dimensão moral e axiológica (SANTOS GUERRA, 2001).

A interação entre as inteligências individuais e a inteligência coletiva que forma a escola aprendente não se dá de forma simples e meramente pautada em normas e procedimentos emanados do sistema de educação ou mesmo da escola, mas suas bases estão fundamentadas nas interrelações e no diálogo produtivo. A visão e os objetivos que são realmente compartilhados levam tempo para emergir, pois é um subproduto de interações dos objetivos pessoais dos membros da instituição. É preciso um ambiente de muita abertura mental e boa vontade para considerar uma série de idéias diferentes. (SENGE, 1990).

4.3. DIMENSÃO: FATORES ORGANIZACIONAIS E GERENCIAIS NECESSÁRIOS