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Análise da Categoria: Significado (Palavras associadas e conceitos de aprendizagem organizacional)

E ANÁLISE DOS DADOS

4.1.2. Análise dos dados

4.1.2.1. Análise da Categoria: Significado (Palavras associadas e conceitos de aprendizagem organizacional)

A categoria: Significado da AO (i) palavras associadas e (ii) conceitos de aprendizagem organizacional serão analisadas de forma associadas, dada a interconexão das respostas dadas pelos participantes. Percebe-se, na fala dos participantes, uma ênfase conceitual de aprendizagem organizacional relacionada aos processos de aquisição de conhecimento, distribuição de informação, interpretação de informação e memória e cultura organizacional (SENGE, 2005, p.192).

Quando perguntados sobre que palavras associam à aprendizagem organizacional, os participantes gestores enfatizaram suas respostas, mais acentuadamente, aos arranjos organizacionais, tais como: estruturas físicas, organizacionais, relacionais e sistêmicas dos CEP. As expressões mais comuns que caracterizam a forma como os gestores percebem a aprendizagem organizacional são: “escola organizada, escola estruturada com metodologia e instrumentos,

sistematização, envolvimento de todos os setores, encontro para aprender, planejamento, liderança, organização, inovação, compartilhamento e troca de informações, aprender com o outro”.

No que se refere aos arranjos organizacionais, Senge (2005, p.194) observa que quando esses arranjos são conectados deliberadamente às idéias orientadoras dos processos de aprendizagem para provocar uma remodelagem da estrutura da escola em seus objetivos e em sua visão, eles podem promover o desenvolvimento de comunidades aprendentes. Segundo esse autor, arranjos organizacionais são:

Os meios pelos quais um sistema escolar disponibiliza recursos. Incluem estruturas para a tomada de decisões, políticas, alocação de espaço e tempo, mecanismos de retorno de avaliações e comunicações e processos de planejamento. Todos eles podem promover ou inibir a aprendizagem, e alguns são mais úteis do que outros para conduzir aos resultados desejados (SENGE, 2005, p.194 )

No contexto de uma comunidade escolar que aprende, Senge (2000, p.194) inclui algumas características consideradas essenciais para a ocorrência desse aprendizado, tais como: (i) organizar tempo e espaço para os professores se encontrarem e conversarem, isso é importante para desenvolver uma comunidade aprendente; (ii) estrutura de ensino interdependente, projetos interdisciplinares que proporcionem a estrutura para a comunicação continuada no que se referem aos objetivos comuns; (iii) proximidade física, a fim de evitar o isolamento que constitui uma verdadeira barreira ao trabalho conjunto, então, deve-se organizar os espaços das salas de modo que haja mais espaços comuns para facilitar a troca de experiências entre os professores; (iv) estrutura de comunicação, a fim de viabilizar as trocas de informações e a comunicação produtiva; apoderamento do professor e autonomia da escola, os professores com mais liberdade para tomar decisões relacionadas com o seu trabalho tendem a se sentir mais responsáveis pelo quanto seus alunos aprendem; (v) alternar papéis, aumentar as oportunidades para ter perspectivas diversas e aprender com os outros.

Sobre este enfoque, os docentes, também, se manifestaram ao associarem o significado da aprendizagem organizacional a uma visão sistêmica que abrange tanto a estrutura física quanto à

estrutura social em suas relações com a comunidade escolar, num sistema de trocas de informações e geração de conhecimentos que possibilitam a melhoria da qualidade do ensino.

“Ensino, melhoria do ensino, qualidade do ensino, proposta de mudanças, estrutura física, recursos humanos, tudo isso vem à mente [...] Um programa bem elaborado, com plano de curso, com a programação de pessoas, com professores bem capacitados, bem informados, alunos integrados fortalecendo o processo de aprendizagem” (docentes).

Um outro aspecto percebido na fala dos participantes quando questionados sobre o significado de aprendizagem organizacional (palavras associadas e conceitos) foi a ênfase dada às interrelações de comunicação e disseminação de informações para gerar o conhecimento no CEP. Esse foi um ponto comum entre os gestores, os servidores administrativos e os docentes. A convergência das idéias e pontos de vistas dos participantes esteve presente em quase todas as categorias inerentes à dimensão Aprendizagem Organizacional. O quadro a seguir, demonstra a convergência do pensamento sobre essa categoria, entre os diversos segmentos de participantes:

Tabela 10 - Pontos convergentes sobre significado de AO (palavras associadas e conceitos) entre os participantes da pesquisa

SEGMENTO DE

PARTICIPANTES VERBALIZAÇÕES

Gestores

Compartilhamento e troca de informações; aprender com o outro; aprender a partir da prática e do convívio e troca de experiências com outros... Envolvimento de todos os setores, normatização, sim, mas, também, encontro para aprender.

Administrativos

Significa pessoas que trabalham dentro de uma empresa aprendendo, inovando, crescendo, fazendo com que a empresa cresça, evolua, fixe-se melhor no mercado, são pessoas pensando dentro da instituição, pessoas que aprendem e que fazem a empresa aprender. Docentes

Na verdade significa um aprendizado individual e ao mesmo tempo do todo, um ensino, pra trabalhar numa instituição que não se resume só a sala de aula, mas, uma organização como um todo. É um aprendizado, é um conflito também, é uma mudança de paradigmas de conceitos, implica nisso.

Fonte: Dados das entrevistas realizadas no período de julho a setembro de 2008 pela pesquisadora.

O exame dessas convergências leva à compreensão de que existem muitos desafios a serem enfrentados, num ambiente de aprendizagem organizacional. Um deles é entender o processo pelo qual se dá a aprendizagem organizacional de tal forma que o conhecimento e o aprendizado individual sejam incorporados à memória e à cultura organizacional. Tendo clara a compreensão desse processo de transferência, pode-se gerenciar, de forma dinâmica, o

aprendizado organizacional, a fim de que seja incorporado de forma coerente com as metas, a visão e os valores da organização (KIM, 1996, p. 71). Entretanto, é preciso entender que a mudança em processos, estruturas ou comportamentos, por si só, não são indicadores de que houve aprendizagem. Por outro lado, não se pode negar, também, que esse processo pode gerar conhecimentos, que vão sendo incorporados de forma explícita ou implicitamente à memória organizacional e sendo disponibilizado para uso dos membros da organização (FLEURY & FLEURY, 2004, p.40). Quando as organizações são vistas como campo de interação humana, a aprendizagem é um produto natural dessas interações. A informação e o conhecimento produzem aprendizagem significativa para o indivíduo e para a organização. A aprendizagem não pode ser vista como uma mera recepção de informação. Ela ocorre por um processo ativo, que requer o compromisso, a motivação e a participação das pessoas (AGUERRONDO, 1996, p.19).

Segundo Argyris (2000), uma instituição aprende, quando por meio do processamento de informações, seus comportamentos potenciais se modificam, se uma unidade adquire conhecimento que ela reconhece como útil.

Dessa forma, construir uma escola que aprende significa desenvolver continuamente uma capacidade de criar uma nova visão de futuro. Gerenciar incentivando o compartilhamento dos conhecimentos individuais, enfatizando sempre o aprendizado coletivo. Para tanto, torna-se necessário fomentar uma constante educação gerencial que prepare os gerentes para combinar análise e síntese em um novo estilo de raciocínio. (KIM, 1996; ARGYRIS & SCHÖN, 1996; SENGE, 2000).

Ainda, nas categorias Significado (i) palavras associadas e (ii) conceitos, os participantes do segmento administrativo concentram suas falas na cultura organizacional, na inovação e na mudança,

“Inovação, mudança, cultura organizacional, pessoas e adaptação ao mercado e principalmente inovação [...] Significa pessoas que trabalham dentro de uma empresa aprendendo, inovando, crescendo, fazendo com que a empresa cresça, evolua, fixe-se melhor no mercado, são pessoas pensando dentro da instituição, pessoas que aprendem e que fazem a empresa aprender” (administrativos).

Percebe-se a tendência dos profissionais administrativos com os valores arraigados na organização que podem servir de obstáculos à mudança e à inovação, necessárias ao enfrentamento dos mercados globais e competitivos. A mudança ocorre em uma dimensão cada vez mais acentuada e, nesse contexto, as organizações necessitam aumentar a velocidade de

aprendizagem organizacional e tecnológica, para tornarem-se competitivas (FLEURY & FLEURY, p.40).

De modo geral, nesta categoria, as respostas dadas pelos profissionais da área administrativa convergem com os conceitos utilizados pelos docentes, segundo os quais aprendizagem organizacional significa:

“Na verdade significa um aprendizado individual e ao mesmo tempo do todo, um ensino, pra trabalhar numa instituição que não se resume só a sala de aula, mas, uma organização como um todo. É um aprendizado, é um conflito também, é uma mudança de paradigmas de conceitos, implica nisso” (docente).

“Quando as pessoas aprendem, a organização aprende em conseqüência, então, sempre que as pessoas aprendem o resultado é que a organização aprende também” (docente).

Os dois segmentos entrevistados (administrativo e docente) evocaram a idéia de que a aprendizagem está relacionada aos sistemas internos e externos à organização e de que fatores internos podem alavancar mudanças e inovações que resultarão em aprendizagem. Para atender as demandas atuais caracterizadas pelo domínio das tecnologias, pela acessibilidade aos sistemas de informação e pela conseqüente disseminação e obsolescência do conhecimento, Nóvoa (1995, p.17) argumenta que as escolas têm de adquirir uma grande mobilidade e flexibilidade, incomparável com a inércia burocrática e administrativa que as têm caracterizado. Trata-se, diz Nóvoa, de erigir escolas em espaço de autonomia pedagógica, curricular e profissional, o que implica um esforço de compreensão do papel dos estabelecimentos de ensino como organizações, funcionando numa tensão dinâmica entre a produção e reprodução, entre a liberdade e a responsabilidade.

Um ambiente com características apropriadas à promoção da aprendizagem organizacional integra a estrutura interna aos diversos sistemas externos e tem a consciência de que são interdependentes. A literatura de aprendizagem organizacional aponta a adaptação, flexibilidade, permissão (deixar acontecer), disposição para experimentar, prontidão para repensar significados e fins, orientação para o questionamento, realização do potencial humano para a aprendizagem nos serviços de propósitos organizacionais e criação dos objetivos organizacionais como contextos para desenvolvimento humano (ARGYRIS 2000; SENGE, 1990, KOFMAN, 2004 ).

Corroborando a idéia de visão sistêmica à gestão escolar, Senge (2005, p. 174) argumenta que a maioria das escolas está se afogando em eventos isolados. Esse hábito de reagir de forma isolada, a cada vez que surge um problema, ajuda a desenvolver uma forma de “cultura de déficit de atenção” no sistema escolar, na medida em que as pessoas aprendem a resolver crises, em vez de procurar maneiras de preveni-las. Senge (2005, p.228) conclui que “a disciplina8 do pensamento sistêmico proporciona uma forma diferente de olhar os problemas e os objetivos, não como eventos isolados, mas como componentes de estruturas mais amplas”. Uma escola deve ser gerenciada como um sistema, pois envolve os valores, normas e procedimentos inerentes à própria escola, às leis, políticas e diretrizes impostas pelo Estado e pelos agentes que financiam os custos da escola, aos inerentes à comunidade de docentes, estudantes e pais.

Os participantes docentes acentuam, ainda, os conceitos de aprendizagem organizacional concentradamente voltados para melhoria do ensino, dos processos pedagógicos, da capacitação de docentes e das contínuas mudanças.

“Um programa bem elaborado, com plano de curso, com a programação de pessoas, com professores bem capacitados, bem informados [...] Na verdade significa um aprendizado individual e ao mesmo tempo do todo, um ensino, pra trabalhar numa instituição que não se resume só a sala de aula, mas, uma organização como um todo. É um aprendizado, é um conflito também, é uma mudança de paradigmas de conceitos, implica nisso” (docentes).

No que concerne à aprendizagem organizacional, Nonaka & Takeuchi (1997, p. 259) afirma que o centro do processo de construção do conhecimento ocorre em nível do grupo e não do indivíduo, no contexto compartilhado, onde os indivíduos podem interagir e se engajarem em um constante diálogo. Senge (2000, p.226) atribui à aprendizagem em equipe o elemento catalisador da aprendizagem organizacional. Segundo Senge, “em escolas de alto desempenho, uma comunidade profissional estimulante parece ser o receptáculo que contém a cultura da aprendizagem”. Os professores e demais profissionais se sentem revigorados, desafiados, profissionalmente envolvidos e fortalecidos, apenas porque participam da comunidade escolar.

8 Senge define disciplina como um conjunto de teorias e técnicas que devem ser estudadas e dominadas para serem

postas em prática. Praticar uma disciplina é diferente de copiar um modelo. O que geralmente ocorre é que as inovações no campo administrativo são descritas em termos de “as melhores estratégias” das assim chamadas grandes empresas. Embora interessantes, tais descrições podem ser mais prejudiciais que benéficas, levando a um estilo de administração por imitação e a uma eterna corrida para alcançar modelo.

Segundo Tedesco (2002), o papel da educação e do conhecimento na formação do cidadão implica incorporar nos processos educativos, uma maior orientação sobre a personalização dos processos de aprendizagem, desenvolver a capacidade de construir aprendizagens e valores significativos, de construir a própria identidade. Posto isso, considera-se o enfoque meramente pedagógico insuficiente para atender as condições de complexidade que a sociedade exige na atualidade.

A coesão e a qualidade de uma escola dependem, em grande parte, da existência de uma liderança organizacional efetiva e reconhecida. Essa liderança deve ser capaz de promover estratégias adequadas de atuação e estimular o envolvimento individual e coletivo na realização dos projetos de trabalho (NÓVOA 1995, p.26). Essa liderança, de acordo com Senge (2000, p. 190), é marcada por (i) diálogos reflexivos, os professores conversam sobre seus desafios, suas práticas de ensino, seus pensamento, posturas, crenças e percepções; (ii) unidade de propósito, serve como base para a tomada de decisão; (iii) foco coletivo na aprendizagem estudantil, os docentes consideram o compartilhar de idéias como algo valioso, encorajando empreendimentos coletivos; (iv) abertura ao aperfeiçoamento, o incentivo dos colegas leva à reflexão e à melhoria; (v) desprivatização da revisão prática e crítica, os docentes compartilham, observam e discutem sua prática diária, sua responsabilidade vai além da sala de aula; (vi) confiança e respeito, os docentes sentem que são respeitados enquanto compartilham e experimentam novas idéias; (vii) liderança apoiadora e informada, a coisa mais estratégica que os líderes escolares podem fazer é criar condições que fomentem na comunidade profissional uma cultura de interação e diálogo reflexivo.

Para que a aprendizagem organizacional seja de fato significativa, profunda e duradoura, os aspectos culturais devem estar envolvidos no processo, posto a cultura ser o aspecto mais duradouro de uma escola e a aprendizagem somente será duradoura quando incorporada à memória da organização. A figura 1, na seqüência ilustra o ciclo de aprendizagem profunda,, conforme descrita por Senge, 2005.

Figura 1 - Ciclo de aprendizagem duradoura Fonte: Adaptado de Senge, 2005, pág. 192.

4.1.2.2.Análise da categoria: setores da instituição associados à aprendizagem