• Nenhum resultado encontrado

Quadro nº 4 Guião da entrevista aos professores

5.3 Análise de conteúdo

Neste tipo de estudo, as técnicas utilizadas estão sempre associadas a uma técnica de análise de conteúdo. Isto é,

“(…) durante as entrevistas trata-se, de facto, de fazer aparecer o máximo possível de elementos de informação e de reflexão, que servirão de materiais para uma análise sistemática de conteúdo que responda, por seu lado, às exigências de explicitação, de estabilidade e de intersubjetividade dos processos” (Quivy e Campenhoudt, 1992, p. 196).

A análise de conteúdo foi definida, nos seus primórdios, como “uma técnica de investigação que visa a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação” (Berelson, 1952, citado por Estrela, 1994, p.455). Mais tarde, esta perspectiva, ainda com fortes marcas do positivismo, evoluiu e atualmente enfatiza-se o aspeto inferencial da análise de conteúdo (Bardin, 1988, 2008; Esteves, 2005).

Esta é uma das técnicas mais utilizadas na investigação empírica em ciências sociais e humanas porque “permite, quando incide sobre um material rico e penetrante, satisfazer harmoniosamente as exigências de rigor metodológico e da profundidade inventiva” (Quivy e Campenhoudt, 1992, p.225) e possibilita “tratar de

A Expressão Dramática/Teatro no 1º Ciclo do Ensino Básico – Conceções e práticas de Professores 31 forma metódica informações e testemunhos que apresentam um certo grau de profundidade e de complexidade” (ibidem, p.224).

Das vantagens desta técnica podemos realçar o facto de ser adequada ao estudo do que não é dito, do implícito, ao mesmo tempo que permite uma distância do investigador em relação a interpretações espontâneas e às suas próprias, já que…

“(…) não se trata de utilizar as suas próprias referências ideológicas ou normativas para julgar as dos outros, mas sim de as analisar a partir de critérios que incidem mais sobre a organização interna do discurso do que sobre o seu conteúdo explícito (Quivy e Campenhoudt, 1992, p.228).

Segundo Esteves (2005, com base em Bardin, 1988), a análise de conteúdo passa por diversas etapas. A primeira é a pré-análise e implica uma “leitura flutuante” do material recolhido, de forma a levantar hipóteses sobre a sua possível categorização, de acordo com os objetivos do estudo.

A segunda é a codificação e implica a escolha da unidade de registo, da unidade de contexto e da unidade de enumeração que se irá usar. Numa análise de conteúdo categorial, entende-se por unidade de registo, geralmente, o segmento mínimo de significação, enquanto a unidade de contexto corresponde ao segmento da mensagem mais lato que permite interpretar e verificar a interpretação da unidade de registo. Por sua vez, recorre-se à unidade de enumeração quando se pretende quantificar as ocorrências. Na maior parte dos casos, a unidade de enumeração corresponde à unidade de registo.

A etapa seguinte é a da categorização que implica o agrupamento dos dados a partir das suas analogias e dissemelhanças e pode ser realizada através de dois tipos opostos de procedimentos. Os procedimentos fechados ou dedutivos implicam a construção prévia de uma grelha de categorias, geralmente baseada no quadro referencial teórico que sustenta o estudo. Pelo contrário, nos procedimentos abertos ou indutivos, a grelha de categorias emerge do próprio material em análise, sendo construída gradual e progressivamente, como muitas reformulações até todo o material recolhido estar introduzido e produzir uma grelha estável.

Para a categorização, é importante ter em conta os princípios referidos por Esteves (2005, com base em Bardin, 1998): a exclusão mútua (a grelha de categorias deve estar construída de forma a que a que cada categoria não se sobreponha às restantes); a homogeneidade (todas as categorias devem obedecer a um mesmo princípio de categorização); a exaustividade (a grelha deve ser construída e reformulada de modo a que todas as unidades de registo nela possam ser inseridas); a pertinência (o sistema de categorias criado deve responder aos objetivos do estudo); e a objetividade (as mesmas unidades de registo, codificadas por outro analista, são inseridas na mesma categoria).

Realizámos a análise de conteúdo através de um procedimento aberto. Assim, procedeu-se ao recorte de cada uma das entrevistas em unidades de registo, a partir das quais, e sintetizando a sua ideia-base, foram definidos indicadores. Considerou-se unidade de registo o segmento mínimo do discurso com sentido completo, independentemente de constituir uma frase, parte de frase ou mais do que uma frase (Estrela, 1994), como se pode ver nos anexos 7, 8 e 9.

Esses indicadores foram, depois, agrupados em subcategorias e estas em categorias, as quais se integraram nos temas previamente definidos no guião da entrevista. Aplicou-se este processo, inicialmente, à primeira entrevista e, posteriormente, categorias e subcategorias foram sendo reformuladas a partir de indicadores surgidos nas restantes entrevistas. Este processo foi permitindo reformulações sucessivas, até à obtenção de um quadro de classificação de acordo com os objetivos do estudo (Anexo 10). Como unidade de contexto, considerámos o total de cada entrevista e como unidade de enumeração a própria unidade de registo. Assim, um mesmo indicador pode surgir mais do que uma vez no discurso de um mesmo entrevistado, uma vez que este pode enunciar a mesma ideia, de diferentes formas, em diferentes momentos da entrevista.

Para a análise dos dados das observações elaborou-se um quadro de registo que contempla a determinação das diferentes fases da aula, uma descrição das interações e comportamentos dos alunos e professora, relacionando-os com os objetivos da aula, assim como com as estratégias utilizadas pela mesma (Anexos 11, 12, 13). Seguidamente elaborou-se grelha conjunta das três turmas com as fases de aula, uma outra, também conjunta com os objetivos inferidos e por fim grelhas individuais, por turma, organizadas em dimensões de análise e estratégias de ensino do professor. Finalmente cruzaram-se as três últimas grelhas numa grelha conjunta (Anexos 14, 15, 16, 17,18, 19, 20).

A Expressão Dramática/Teatro no 1º Ciclo do Ensino Básico – Conceções e práticas de Professores 33

III - Apresentação e discussão dos resultados