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Análise e Contribuição da Teoria da Construção Motivada da Identidade

CAPÍTULO 6 – PORQUÊ PROPOR UMA NOVA ABORDAGEM À IDENTIDADE

6.2. Análise e Contribuição da Teoria da Construção Motivada da Identidade

A teoria da construção motivada da identidade, de Vignoles, (2011) procura constituir- se como um modelo integrador das razões pelas quais as pessoas constroem as suas identidades. A identidade definida por Vignoles (2011), como “Todos os aspetos da imagem

de si próprio – como representados na cognição, emoção e discurso” (p. 404) e em linha com os fundadores da noção de identidade Erikson (1968); James, (1890); Mead (1934), Vignoles (2011) vê o processo de construção da identidade como sendo, ao mesmo tempo, individual e social, ou seja, as pessoas definem as suas identidades a um nível cognitivo, privado, mas também as enact para audiências reais e imaginárias, face às quais fazem afirmações de uma identidade. Ter as expressões de identidade reconhecidas ou não faz parte do processo de construção da identidade. Estes processos não ocorrem no vácuo e as formas prevalecentes de pensar e de falar próprias de cada contexto, fazem com que certas categorias da identidade sejam mais aceitáveis ou desejáveis do que outras. As pessoas podem mesmo desafiar as categorias existentes ou questionar o significado dominante que lhes é atribuído. Se é certo que os conteúdos da identidade provêm, largamente, do ambiente social, de acordo com a teoria da construção motivada da identidade, qualquer forma de identidade deve satisfazer certos requisitos, de modo a ser adaptativa. Estes requisitos assumem um carácter motivacional na medida em que guiam o processo de construção da identidade de modo a manter e ou vir a atingir um estado saudável.

Com base numa extensa revisão de literatura Vignoles, Chryssochoou e Breakwell, (2002); Vignoles, Regalia, Manzi, Golledge, e Scabini, (2006), sugerem que seis motivos fundamentais determinam a dinâmica da construção da identidade: autoestima, ou necessidade de uma pessoa se ver a si mesma de forma favorável; continuidade, ou acreditar que a identidade é contínua, apesar de existirem mudanças significativas; distintividade, ou crença que cada um é distinto de outros; significado, ou acreditar que a vida é provida de propósito; eficácia, ou crença de que uma pessoa se sente competente e capaz para influenciar as suas envolventes; pertença, ou acreditar que uma pessoa é incluída e aceite por outros.

Os motivos são importantíssimos, segundo Vignoles, Chryssochoou, e Breakwell (2002); Vignoles, Regalia, Manzi, Golledge, e Scabini (2006), porque cada um contém objetivos contributivos muito definidos, senão vejamos o que dizem estes autores acerca de cada um dos motivos: (autoestima), é alvo de estratégias diferenciadas consoante a cultura e pode aumentar ou diminuir, procura o auto aprimoramento, aperfeiçoamento e verificação e quando ameaçada pode levar a situações de descriminação, nomeadamente intergrupais; (continuidade), nem sempre implica mudança, e isto acontece tanto a nível individual como em identidades de grupo, em que este motivo é testemunhado através de histórias, progressões e viragens, pois visa um sentido de continuidade que se estende temporalmente, e com uma consistência observável a que se pode aplicar a distinção de confiável, é também auto- verificável, nomeadamente através de histórias de vida. E quando não há noção ou perda de

continuidade associadas a situações ou fatores negativos, pode haver uma diminuição da identificação grupal e até mesmo suicídios; (distintividade), é importante para manter uma diferenciação dos demais, está muito associada ao significado e senso de identidade e a várias formas de diferenciação entre os grupos e dentro dos grupos, as ameaças à distintividade individual podem inclusive levar a um aumento da identificação. Este motivo pressupõe estabelecer e manter uma noção de diferenciação dos outros e ajuda ao sentido do que a identidade representa, é essencial para a categorização, várias formas de atração interpessoal e intergrupal, bem-estar subjetivo e outras, o seu défice ajuda a criar uma linha de associação e diferenciação que ajuda à identificação; (pertença), deve-se manter ou aumentar em relações em que é necessário transmitir conhecimentos e experiência, como nos grupos, considerada uma das mais importantes motivações para qualquer ser humano, este motivo destaca-se bem mais para além daquilo que é considerado humano. Implica, lidar com situações de aceitação e rejeição e estratégias de enfrentamento, a lidar com a identificação, com estereótipos, ou seja, com a noção da identidade a muitos níveis. Quando a pertença é ameaçada há tendência à depressão, delinquência, uso de substâncias ilícitas, transtornos de rejeição. Alguns autores defendem que a necessidade de pertença se pode sobrepor à de autoestima; (eficácia), tem a ver com uma propensão e necessidade humana de competência e controlo, cuja experiência define também a identidade, a eficácia prediz o bem-estar subjetivo e de segurança, é um dos motivos mais relevantes para o ser humano, quando em deficit pode dar origem à depressão e à morte. Quando ocorrem ilusões de eficácia é porque as pessoas superestimaram seu controlo sobre as situações ou mal interpretaram situações de oportunidade como se de situações de habilidade se tratassem; (significado), é orientado para encontrar uma tradução do que se faz, qual a razão de existir.

Elementos pessoais ou contextuais podem ser trabalhados pelos indivíduos como centrais para a definição e para o enactment da identidade, que é definido segundo Vignoles et al. (2006) “como a medida em que os indivíduos se esforçam para comunicar cada um de seus elementos identitários aos outros” (p. 320), uma autorrepresentação, que na construção da identidade contribui para a manutenção de várias identidades. Desde que satisfaçam as condições impostas por estes seis motivos. A centralidade refere-se ao grau em que um elemento é essencial para a definição da identidade, enquanto que o enactment descreve em que medida os elementos da identidade são utilizados para comunicar a identidade aos outros. A Figura 6, representa este modelo, o qual foi submetido a teste empírico por Vignoles et al. (2006).

Motivos da Identidade Critérios de Validação

Figura 6 - O modelo da construção motivada da identidade

Simples, se considerarmos que o processo de construção da identidade se fundamenta em seis motivos e envolve a afirmação destes elementos no contexto social dos indivíduos. Então elementos que satisfaçam aqueles motivos tenderão a ser favorecidos pelo processo de construção da identidade de tal forma que, ao longo do tempo, se tornarão mais centrais para a definição e para o enactment da identidade.

Uma das propostas desta teoria consiste em afirmar que estes motivos são universais (Vignoles, 2011, p. 412), se bem que as formas de os satisfazer sejam diferentes de cultura para cultura, mas mais importante ainda, estes motivos são passíveis se rerem aplicados a todos os domínios e níveis da identidade:

“Assim, não há necessidade de criar teorias de identidade separadas, ou postular conjuntos diferentes de motivos de identidade, a fim de teorizar sobre processos de identidade individuais, relacionais ou grupais, para entender a identificação das pessoas com propriedades ou lugares, ou para estudar o papel da identidade em domínios tão diversos como educação, processos familiares, comportamento do consumidor, coesão social ou relações internacionais.” (Vignoles, 2011, p. 412).

De salientar que estes motivos podem ser vistos como universais porque são independentes do conteúdo e estão biologicamente marcados ou, tal como sugerido, por serem o produto da construção social e terem vindo a tornar-se representantes reificados daquilo que a sociedade vê como produtos finais aceitáveis para a identidade (Breakwell, 1987), amplamente partilhados pela humanidade. Em linha com a tradição da teoria da IO de usar o

Autoestima Continuidade Distintividade Pertença Eficácia Significado Centralidade Enactment

nível individual como fonte conceptual para o nível organizacional, e à natureza universal e multinível da teoria da construção motivada da identidade (Vignoles, 2011), sugerimos que as organizações são ativas na construção, manutenção e defesa de um significado satisfatório da sua identidade e que este processo está baseado num número limitado de princípios gerais que levam à definição e ao enactment da identidade, designadamente: autoestima, continuidade, distintividade, significado, eficácia e pertença. Sendo estes princípios universais e independentes do seu conteúdo podem ser utilizados para formular a existência de seis dimensões universais da IO que, num dado momento da evolução de uma organização, operam como um mecanismo autorregulatório da identidade. Por outro lado, se atentarmos ao conteúdo, verificamos que a centralidade, a par do enactment, é consequência do trabalho de procura de satisfação dos motivos de autoestima, continuidade, distintividade, significado, eficácia e pertença, e não mais um motivo. Esta formulação contribui para esclarecer a razão pela qual, no enunciado de Albert e Whetten (1985), a noção de centralidade tem uma natureza tautológica. Deste modo, questionamos e fazemos avançar a conceção destes autores segundo a qual o caráter central, a continuidade temporal e a distintividade são suficientes para definir os elementos integrantes da identidade.

6.3. E uma vez existente, para que serve ter identidade? Garantir a autorregulação e