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CAPÍTULO 3 ESTADO DA ARTE UMA VISÃO POR ATRIBUTOS DE BASE

4.4. Após a contribuição de (Albert e Whetten, 1985)

A IO remete ainda para a essência da existência humana, que compele os investigadores, principalmente, das correntes de gestão e organização, referindo comummente que “A ideia de IO, simplesmente, ecoa. Faz eco nas pessoas e nas organizações, e também junto dos que estudam as organizações” (Gioia, 2008, p. 63), sendo fulcral para os membros na noção de significado ou sentido (Mats Alvesson & Robertsone, 2016).

Por isso, diversas perguntas ecoam também nas organizações, já que, “a IO se refere ao modo como um coletivo se define a si mesmo” (Pratt et al., 2016., p. 3), e uma vez que a resposta a esta questão é de autodefinição, e nos remete para uma dimensão humana, logo, o normal é que a identidade exerça fascínio e poder de atração sobre investigadores de múltiplas disciplinas e orientações intelectuais.

Como temos vindo a constatar, o tópico da IO tem avolumado a produção científica, ainda crescente nestes últimos anos, tomando os dados reportados por Pratt, Shultz, Ashforth e Ravasi (2016) que nos reportam um número elevado de estudos e artigos, sempre crescendo, com especial incidência, de 1996 a 2015, o que revela continuo interesse sobre este tópico fundamental da gestão.

No plano da gestão, os contextos atuais não deixam de nos surpreender, com novos e potenciais riscos de falência e contrastante evolução, o que hoje é, amanhã já não se verifica, requerendo incisiva análise das decisões e opções estratégicas que as organizações têm de tomar.

Se, por um lado existem determinadas opções estratégicas, que exigem das organizações novas opções para enfrentar as crises sucessivas que as têm vindo a assolar, noutro, as organizações devem continuar a equacionar as questões da sua existência, logo da sua centralidade, que importa cada vez mais conhecer.

Em consonância com Albert e Whetten (1985), consideramos a IO como um constructo autorreferencial, no sentido em que se reporta aos aspetos de uma organização,

como percecionados pelos seus membros, vitais para definir o caráter ou a autoimagem da organização. Na formulação original dos autores fundacionais da IO, Albert e Whetten (1985), encontram elementos organizacionais como a cultura, a filosofia, a posição no mercado ou as categorias a que pertencem, como aspetos constituintes passíveis de nos dar respostas para definir a IO, através destes três critérios fundamentais (C, D, C).

A controvérsia começa acerca de um destes três critérios da IO, a continuidade, que é o critério mais discutido e o que gera mais investigação por parte de alguns autores, como Gioia et al. (2013), como já mencionado.

Este pilar da IO, cujo contexto é caracterizado por elevados níveis de mudança, não compatíveis com uma autoconceção organizacional completamente congelada, tem sido o alvo preferencial de debate, mas apesar desta controvérsia, esta definição de IO é a mais aceite na literatura e os três critérios, em si-mesmos, continuam ainda a ser largamente inquestionados (Gioia, Patvardhan, Hamilton & Corley, 2013).

A noção de que nem todos os elementos organizacionais são candidatos com idêntico potencial para serem definidores da identidade de uma organização, está na base desta definição. A sua seleção para serem usados pelos membros organizacionais como elementos de identidade, infere-se a partir do grau em que estes membros conseguem satisfazer os seus critérios de (C, D, C). Contudo, a razão pela qual estes critérios são os relevantes para definir a IO fica por justificar, bem como os mecanismos explicativos que os tornaram pertinentes.

Assim, não só esta questão, do aspeto central está longe de ser esclarecida por Albert e Whetten (1985) como também a literatura adicional não se tem ocupado suficientemente da análise do significado e de qual é a função destes critérios.

E de regresso ao trabalho fundacional, não obstante o facto de Albert e Whetten (1985) avançarem argumentos que procuram justificar o caráter central de um atributo ser importante para a IO, a explicação avançada pelos autores é de facto largamente tautológica e imprecisa, pois apenas está justificado o seu carácter essencial, fazendo da centralidade um alvo para nós preferencial e a explorar.

A confirmar, que o que está aceite como definido, definido está, temos a teoria da metáfora conceptual que bem tem demonstrado que tudo o que é importante é central (Lakoff & Johnson, 1980), o que reforça ainda mais, que este critério seja e esteja definido por si mesmo e em si mesmo.

Para além da questão deste aspeto tautológico da noção de centralidade e da ambiguidade face à distintividade, persiste uma questão fundamental a necessitar de ser clarificada, a que se interroga sobre a natureza dos três critérios em uso, e qual a sua função

no processo de construção da IO. Mais exatamente, sugerimos que responder à questão de saber por que razões as organizações desenvolvem identidade, permitirá contribuir para esta clarificação.

Em nosso entender, segundo a pesquisa efetuada, a literatura inspirada na tradição

eriksoniana, em especial a teoria motivacional da identidade (Vignoles, 2011) aponta que

existe um número limitado, mas universal de motivos para que uma entidade crie identidade, e centrais para a identidade individual, sendo esses motivos – a autoestima, continuidade, distintividade, significado, eficácia e pertença – motivos estes que se associam a outros motivos, os motivos ancestrais de auto-expansão (Aron & Nardone, 2012) e da necessidade de lidar com o medo da morte (Greenberg, Solomon & Arndt, 2008), motivos estes que constituem uma base adequada para aprofundar a reflexão sobre a natureza destes critérios.

Uma vez estabelecida, pelo menos provisoriamente, a razão pela qual as organizações desenvolvem identidade, importa esclarecer também, que função desempenha.

Em nosso entender, duas funções fundamentais são cumpridas pela IO, e seguindo os desenvolvimentos teóricos e empíricos de inspiração eriksoniana, em linha com teoria das funções da identidade (Adams & Marshall, 1996; Crocetti et al., 2013), sugerimos que a identidade tem um papel fundamentalmente autorregulatório, o que lhe confere poder de determinar a desempenho organizacional. Complementarmente, com base na teoria do capital identitário (Côté, 1996; Côté & Levine, 2002) propomos que os motivos da IO se constituem como ativos intangíveis, mobilizáveis pela organização para maximizar as probabilidades de aceder a recursos fundamentais para a sua viabilidade, deste modo contribuindo também, para a desempenho organizacional, e ainda, ratificar o seu estudo.

Os quadros conceptuais que mobilizámos são de nível individual e serão usados para teorizar a IO, num procedimento designado por empréstimo paradigmático (Whetten, Fellin & King, 2009).

Este procedimento pode ser descrito como o recurso a teorias criadas para explicar um determinado fenómeno, e usá-las para explicar um fenómeno distinto. O caso da IO reporta-se a um empréstimo de tipo vertical, no sentido em que o conceito é oriundo de um nível de análise diferente, o individual, no caso vertente. E o recurso ao nível individual como fonte teórica para a conceptualização da IO está no âmago desta corrente, tal como formulado por Albert e Whetten (1985). Esta estratégia de teorizar fenómenos de nível organizacional com base em análogos individuais continua a ser amplamente utilizada. Por exemplo, Pratt e Foreman (2000) seguiram-na para teorizar formas de gerir identidades organizacionais múltiplas, tal como o fez Brickson (2007; 2013) ao propor um modelo sobre as orientações

dominantes da identidade (individual, relacional e coletiva). Mais recorrentemente, fazer migrar conceitos do nível individual para outros níveis diferentes é uma prática cada vez mais frequente, na medida em que se é defensável que a estrutura dos constructos organizacionais possa variar entre níveis de análise, pois a sua função é no essencial a mesma (Morgeson & Hofmann, 1999). No caso da identidade tanto a estrutura como as funções são relativamente isomórficas entre níveis de análise (Ashforth et al., 2011), o que continua a legitimar o recurso ao nível individual para teorizar outros níveis.

Sendo o mecanismo que legitima esta migração, o mapeamento estrutural, tal como formulado por Gentner (1988), segundo o qual uma analogia consiste no mapeamento do conhecimento de um domínio ou base (o indivíduo, no caso vertente) sobre outro domínio, ou alvo (a organização, neste caso). No essencial, uma analogia é uma forma de notar padrões de relações comuns, independentemente dos objetos aos quais estas relações se aplicam.

Assim, no presente trabalho, seguimos um trilho semelhante ao percorrido por Albert e Whetten (1985), de inspiração eriksoniana, para responder às duas questões fundamentais: a) por que razão as organizações desenvolvem identidade? b) uma vez estabelecida, quer dizer, em construção permanente, que funções desempenha? Partindo deste propósito, evidenciar a influência que a obra eriksoniana teve sobre o trabalho fundador de Albert e Whetten (1985), para destacar que foram deixados de lado alguns elementos, cuja inclusão poderia ter feito progredir a teoria sobre IO de forma mais consistente. Pois ao revisitarmos os três critérios fundamentais definidores da IO – centralidade, distintividade e continuidade – questionámos o seu significado, em especial o da centralidade, até agora também como o menos controverso. Buscando as razões pelas quais as organizações desenvolvem a sua identidade, anteriormente enunciadas, alargamos o número e conferimos precisão aos critérios fundamentais da identidade. À resposta sobre a questão de saber para que serve a IO, avançamos um modelo de síntese que inclui o desempenho organizacional, uma das dimensões que também relacionamos na AMIO.