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Estudo A4 A relação entre a identidade e o desempenho organizacional

CAPÍTULO 9 – PRIMEIRO ESTUDO EMPIRICO – ESTUDO A

9.5. Estudo A4 A relação entre a identidade e o desempenho organizacional

Uma das propostas da AMIO consiste em preconizar a existência de uma relação entre a saliência dos motivos da identidade e o desempenho organizacional, seja de forma direta, seja através da ativação quer do capital identitário quer de processos de autorregulação. Dada a novidade desta formulação teórica, levamos a cabo um primeiro teste desta proposição, nomeadamente a que sugere uma relação direta entre a saliência dos motivos da identidade e o desempenho organizacional. Apesar da já reconhecida abundância de literatura sobre a IO, estudos que relacionem este conceito com o desempenho organizacional são escassos. Constituem exceções o estudo de Voss et al. (2006) que mostrou a existência de um efeito negativo do desacordo entre os dirigentes de teatros norte-americanos sobre quem somos nós enquanto organização e o desempenho organizacional e o estudo de Nunes e Martins (2017),

que encontrou uma relação entre a perceção da orientação utilitária ou normativa da IO e o desempenho percebido de farmácias e comunidade portuguesa.

9.5.2. Método

A amostra deste estudo são 35 das 37 escolas nas quais se procedeu à recolha de dados. Esta diferença resulta do facto de em duas escolas apenas se terem obtidos duas respostas válidas, o que nos levou a eliminar estas escolas das análises, mantendo-se as escolas nas quais há 3 ou mais respondentes. Se atendermos a que tanto o desempenho como a identidade são variáveis de nível organizacional, esta amostra de escolas é usada para explorar as relações entre estas variáveis, agregando os resultados individuais ao nível da escola. Do total de escolas, 10 pertencem ao sector público, 13 ao privado e 12 ao social. A média de casos por escola é de (M=6,54) e (DP=3,22).

As medidas dos seis motivos da identidade – autoestima, continuidade, distintividade, significado, eficácia e pertença – são as descritas no estudo um. Dado que no estudo dois se verifica que os seis motivos constituem uma variável latente com níveis de ajustamento adequados, as medidas destes motivos foram combinadas numa só variável de identidade. Assim, os valores mais elevados desta variável indicam que os atributos ou características selecionadas pelos respondentes para indicar quem é a sua organização satisfazem mais intensamente os motivos de autoestima, continuidade, distintividade, significado, eficácia e pertença da organização. Ao nível individual, a consistência interna desta medida é elevada (α=0,92), confirmando as fortes correlações entre os seis motivos da identidade já reportadas nos estudos dois e três.

Com vista a criar uma escala de desempenho percebido ajustável a organizações prestadoras de serviços de educação pré-escolar pertencentes aos sectores público, privado e social, o desempenho organizacional foi medido através de seis itens oriundos de medidas diversas. Deste conjunto, dois itens foram adaptados da escala de desempenho organizacional usada por Delaney e Huselid (1996), três foram adaptados da escala de desempenho global usada por Wood, Bhuian, e Kiecker (2000) e um foi adicionado pelos autores (“o grau em que esta organização consegue concretizar a sua missão/razão de ser”). Exemplos de itens são “a capacidade de satisfazer as necessidades dos utentes/clientes”, “a capacidade de desenvolver novos serviços, projetos ou programas”. Pedia-se aos respondentes que, numa escala de 7 pontos (1=muito abaixo e 7= muito acima), situassem o desempenho da respetiva escola face

a outras escolas comparáveis. Avaliada ao nível individual, a consistência interna desta escala é elevada (α=0,90).

Como o estudo é realizado ao nível organizacional, testámos a possibilidade de criar medidas ao nível organizacional com base nas medidas de nível individual. Os testes de ICC1 e ICC2 revelam valores de 0,24 (F=3,09, p< 0,01) e 0,68 para a IO geral e 0,17 (F=2,32, p< 0,01) e 0,56 para o desempenho organizacional, respetivamente. O ICC2 do desempenho organizacional encontra-se distante do comum 0,70. Contudo, é importante salientar que, em algumas escolas, o número de casos é de apenas 3, o que torna quase impossível atingir aquele limiar. Neste sentido, optámos por agregar os mesmos ao nível organizacional.

9.5.3. Resultados e discussão

A Tabela 10contém as medidas de tendência central, de variabilidade e as correlações entre as variáveis em estudo, ao nível organizacional.

Como se verifica, o número médio de trabalhadores e de crianças são quase perfeitamente correlacionados e não se relacionam nem com a identidade nem com o desempenho organizacionais.

A relação entre a IO e o desempenho é de 0,57 (p< 0,01), o que revela que as organizações descritas pelos seus membros como tendo um conjunto de motivos da identidade organizacionais mais salientes, aqui sumarizados numa variável única, são também descritas como tendo um desempenho superior.

Tabela 10 - Médias, desvios-padrão e relações entre as variáveis em estudo

Média DP 1 2 3 1. Número de trabalhadores 23,09 34,08 - 2. Número de crianças 131,77 230,99 0,93** - 3. Identidade organizacional 5,97 0,59 0,12 0,08 - 4. Desempenho organizacional 5,66 0,53 -0,04 0,09 0,57** N= 35 escolas; *p< 0,05; ** p < 0,01.

Uma vez que o sector, ou seja, a natureza pública, privada e social das escolas, pode influenciar a intensidade desta relação, procedemos ao cálculo de uma correlação entre a identidade e o desempenho organizacionais dentro de cada subgrupo de escolas, usando para tal o coeficiente de correlação de Spearman.

A Figura 10 reporta estas médias, apresentadas a título ilustrativo, uma vez que o seu exame não estava previsto nos objetivos do estudo.

Figura 10 - Comparação entre a identidade e o desempenho em organizações públicas, privadas e sociais.

Os resultados revelam que a correlação entre o desempenho e a identidade é significativo, para as amostras de que dispomos, nas escolas privadas (ρ= 0,68, p< 0,01), mas não nas escolas públicas (ρ= 0,47, p< 0,01) ou nas sociais (ρ= 0,48, p< 0,01), o que é indicador do efeito de moderação da relação entre a identidade e o desempenho organizacional por parte do sector.

Ademais, tanto a identidade (Média= 6,14; DP=0,42) como o desempenho (Média= 5,83; DP=0,35) são mais elevadas no subgrupo das escolas privadas.

Em síntese, este estudo mostra que ao nível organizacional, as entidades que se caracterizam por possuírem motivos da identidade mais salientes são percebidas como tendo níveis de desempenho mais elevado e que, eventualmente, este efeito é moderado pelo sector de pertença das organizações. Este resultado traduz uma importante contribuição empírica sobre uma das proposições centrais da AMIO, ou seja, a de que organizações com identidades mais salientes terão um desempenho organizacional acrescido. Contudo, tal como já reportado noutros estudos, a medida usada não permite discriminar entre os seis motivos da identidade e o papel de mediador da relação entre os motivos da identidade e o desempenho organizacional a ser desempenhado pelo capital identitário e pela autorregulação não foram testados. Medidas mais complexas e diversificadas de desempenho organizacional deveriam ainda ser usadas. Futura investigação poderia ocupar-se deste teste ao nível organizacional, bem assim como analisar o efeito moderador do sector a que as organizações pertencem.