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ANÁLISE DEFORMACIONAL RÚPTIL NA REGIÃO DO PONTAL DO ATALAIA, ARRAIAL DO CABO, RJ

BURINI, A.*; MIRANDA, A. W. A.

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. *arthurburini@hotmail.com.

1. INTRODUÇÃO

O estudo dos processos deformacionais é funda- mental para a compreensão e aperfeiçoamento de modelos geodinâmicos. A análise do comporta- mento dúctil ou rútpil das rochas em relação à deformação deve ser considerada na evolução es- trutural de uma determinada região. Em especial, a formação de estruturas rúpteis influencia direta- mente nos mais variados aspectos geológicos desenvolvidos nas porções mais rasas da crosta, como no caso de mecanismos de subsidência me- cânica necessários para o desenvolvimento de bacias sedimentares. O estudo dos parâmetros ge- ométricos, cinemáticos e dinâmicos de falhas e juntas é fundamental para o entendimento do ar- cabouço estrutural de áreas marginais a essas bacias. A área de estudo compreende a porção les- te da região do Pontal do Atalaia, na cidade de Arraial do Cabo. Essa região representa o seg- mento continental do Alto de Cabo Frio, uma mega estrutura que divide as Bacias de Campos e Santos Mohriak, W. U.; Barros A. Z. N (1990), lo- calizadas na porção offshore.

Nesse sentido, o presente trabalho aborda uma análise das estruturas rúpteis na região supracita- da, buscando o melhor entendimento sobre suas características geométricas e cinemáticas, junta- mente com uma estimativa para os possíveis eventos tectônicos atuantes na área, bem como propor um modelo evolutivo.

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Os materiais e métodos utilizados no presente tra- balho seguiram as seguintes etapas, quais sejam: Revisão Bibliográfica: Nesse estágio foram cole- tados bases topográficas, mapas geológicos e imagens de satélite disponíveis para a região. Di- versos trabalhos referentes ao estudo e análise de deformação rúptil foram adquiridos para enrique- cer o conhecimento sobre o tema da monografia, assim como, relatórios de iniciação científica, mo- nografias e cadernetas de campo foram incorporados ao acervo bibliográfico utilizado du-

rante a execução do trabalho.

Etapa de campo: Essa etapa do trabalho foi dividi- da em dois estágios, assim exemplificados: inicialmente foi realizado um reconhecimento da área, das características dos afloramentos e do acesso até o local de estudo; a segunda parte con- sistiu no mapeamento das estruturas rúpteis existentes na borda leste do Pontal do Atalaia, vi- sando a caracterização das falhas e juntas que ocorrem no local. Na última etapa organizou–se todos os dados.

Tratamento dos Dados: Os dados estruturais fo- ram adquiridos através de medidas em estruturas planares (falhas e juntas) e lineares (estrias) e, posteriormente, organizados em planilhas ele- trônicas, utilizando o software Excel. Todos os dados obtidos foram plotados em projeções este- reográficas do tipo Schimdt-Lambert (hemisfério inferior), bem como diagramas de rosetas, utili- zando softwares específicos, tais como: Win- Tensor, OpenStereo e Stereonet. Para a determina- ção dos paleotensores foi utilizado o método de Angelie (1957) e o software Win-Tensor. As jun- tas obtidas foram organizadas em famílias, utilizando um intervalo de 30° na variação de di- reção do plano de junta para cada família.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Relações temporais entre o Nefelina Sienito e o desenvolvimento das falhas

A área mapeada é constituída predominantemente de Nefelina Sienito. A trama dessa rocha é modifi- cada parcialmente pelo desenvolvimento de falhas e juntas na região. As relações cronológicas entre o nefelina sienito e a formação de falhas pode ser exemplificada na área de acordo com os tipos de indicadores cinemáticos identificados e sua res- pectiva influência no aspecto textural da rocha. Segundo os dados coletados em campo, as falhas normais sinistrais (NNW-SSE) reorientam a trama da rocha, formando em algumas porções estrutu- ras similares a indicadores cinemáticos do tipo S- C, frequentemente encontrados em zonas de cisa-

lhamento dúcteis. Nesse sentido, tramas do tipo S- C são incompatíveis com estruturas formadas por deformação rúptil (Lister & Snoke, 1984). Caso as estruturas S-C tenham sido formadas efetiva- mente pela atividade tectônica associada à falha, a temperatura atuante no processo deformacional deve ter sido superior aquele esperado para ativi- dade tectônica de caráter rúptil. Nessa situação, o Nefelina Sienito não estaria totalmente cristaliza- do no momento de desenvolvimento da falha, permitindo condições de temperatura e viscosida- de favoráveis para orientar os minerais. Haja vista a ocorrência de pórfiros de feldspato potássico orientados na direção das falhas normais sinis- trais. A temperatura esperada para a cristalização de nefelina sienitos varia entre 1000° a 500°, de- pendendo das porções de SiO2 presente na composição da nefelina (Hamilton, 1961). Adicio- nalmente, as temperaturas de cristalização podem variar com base no sistema anidro (1250° a 1050°) ou para sistemas hidratados (840° a 800°) (Heier, 1965). Em todos os casos, as temperaturas esperadas para a cristalização de nefelina sienitos são superiores àquelas obtidas em deformação rúptil. No entanto, o tempo de coexistência entre fases minerais cristalizadas e o líquido é próximo do eutético para sistemas magmáticos compatíveis com a formação de Nefelina Sienitos. Em uma si- tuação hipotética, no qual o nefelina sienito estivesse sob a influência do campo de tensão ne- cessário para a formação das falhas normais sinistrais, a viscosidade seria elevada com o au- mento da pressão dirigida e diminuição da temperatura, permitindo a orientação de parte dos pórfiros nas proximidades das falhas, bem como uma reorganização da textura da rocha como figu- ras do tipo S-C, evoluindo para a formação incipiente de brechas, após a rápida cristalização do nefelina sienito.

Em várias porções da área mapeada, as falhas mo- dificam a trama do nefelina sienito em condições de deformação eminentemente rúpteis. Os felds- patos são frequentemente identificados sem nenhuma similaridade na orientação com as fa- lhas, sendo inclusive deslocados ou fragmentados em diversas situações. Nesse caso, os parâmetros de temperatura atingidos para o desenvolvimento das demais falhas que ocorrem na área devem ter sido diferentes daquelas estimadas para as falhas normais sinistrais. Isso implica em estágios distin- tos para a formação de falhas no sistema rúptil na região. Caso essa hipótese seja verdadeira, o está- gio inicial para a geração das falhas normais

sinistrais (NNW-SSE) ocorreu em momentos que precederam à cristalização total do nefelina sieni- to.

Após a análise dos estereogramas, observou-se que as falhas possuem três direções preferenciais, assim identificadas: NNW-SSE, NE-SW e ENE- WSW (figura 2). As juntas foram divididas em fa- mílias com padrões de orientação distintos. As falhas e juntas possuem direções semelhantes em alguns casos. As falhas normais sinistrais (NNW- SSE) coincidem com a família 3, enquanto as fa- lhas destrais oblíquas (NE-SW) coincidem com a família 1. As falhas de direção ENE-WSW têm orientação condizente com as juntas da família 4 (figura 1).

Fig. 1: Estereograma com os planos das falhas

NNW-SSE e NW-SE.

As falhas de direção NNW-SSE são classificadas quase que em sua totalidade como normais sinis- trais, entretanto foi constatada movimentação destral oblíqua em uma delas, de acordo com a geometria dos ressaltos no plano de falha. Segun- do Petit (1987), o deslocamento atribuído a uma falha devido à rugosidade em seu plano pode não ser sempre aquela convencionalmente adotada, isto é, cujo sentido de movimento é atribuído com base somente no contato das mãos com a super- fície que contém os ressaltos.

Para que essa interpretação seja feita é necessário à identificação de fraturas que interceptem o pla- no de falha, entretanto essas estruturas, em alguns casos, somente podem ser reconhecidas em escala microscópica. Caso elas sejam identificadas nos afloramentos, torna-se indispensável a observação tridimensional do plano de falha para a caracteri- zação do movimento. Adicionalmente, a

determinação de paleotensores e feições compatí- veis com o sistema de cisalhamento proposto por Riedel (1929) apud Petit (1987) são fundamentais para viabilizar o modelo de critérios cinemáticos para a análise de ressaltos (Petit, 1987).

Os movimentos distintos entrem essas falhas de mesma direção poderia ser explicado por uma rea- tivação das estruturas. Um evento neotectônico de cinemática diferenciada das falhas pretéritas.

Análise Dinâmica

A orientação dos paleotensores foi estimada com base nas falhas que possuíam indicadores cinemáti- cos conclusivos. A determinação dos eixos P, B e T ao analisar as falhas normais sinistrais, destrais oblíquas e destrais em um mesmo estereograma permitiu a proposição dos seguintes paleotensores: σ1= 113/26, σ2= 290/64 e σ3= 023/01 (figura 3). O posicionamento do σ1 obtido é condizente com a formação das falhas normais destrais (NW-SE) que constituem um sistema conjugado com as falhas NNW-SSE de cinemática normal sinistral (figura 4). Deve ser ressaltado que as falhas normais des- trais são aproximadamente ortogonais à direção de extensão (σ3) encontrada na determinação dos pale- otensores.

Fig. 2: Diagrama PBT indicando os paleotensores.

A orientação de σ1 para a formação do sistema conjugado deve ser utilizada com parcimônia, considerando-se a ausência de indicadores cine- máticos conclusivos para as falhas NW-SE com mergulho para NE, classificadas como normais destrais. Esse sistema deformacional estaria con- dicionado à geração das falhas normais sinistrais

no estágio inicial do modelo tectônico proposto para a área, devido aos parâmetros de temperatura discutidos no item 5.1.1. Dessa forma, as demais falhas associadas ao modelo seriam formadas após a cristalização do nefelina sienito.

Fig. 3: Modelo esquemático sobre o

desenvolvimento do sistema de falhas conjugadas e o nefelina sienito.

As falhas normais sinistrais de direção NE-SW possuem paleotensores com posicionamento dife- rente das demais estruturas, quais sejam: σ1= 360/49, σ2= 239/24 e σ3= 134/31. Provavelmente, a formação dessas estruturas não está relacionada ao sistema discutido anteriormente. Nesse caso, um outro evento de deformação rútpil, mais jo- vem, deve ter sido o responsável pela formação dessas estruturas.

Fig. 4: Diagrama PBT para falhas normais

sinistrais NE-SW.

4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

As estruturas descritas em campo apresentam di- reções preferenciais NNW-SSE, NE-SW, ENE- WSW e NW-SE e não possuem nenhuma caracte- rística que as correlacionariam com as feições mais antigas. As atividades deformacionais anali- sadas nesse trabalho sugerem que as falhas normais sinistrais (NNW-SSE) foram formadas no estágio tardio de cristalização do nefelina sienito, enquanto as mais jovens, posteriormente a sua cristalização. Nesse período o processo de riftea- mento já havia terminado e o mar estava estabelecido, indicando que as falhas mapeadas foram geradas por uma tectônica mais jovem que a fase rifte nas bacias sedimentares marginais do sudeste.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro pela oportunidade de realização do trabalho, assim como meu Orientador, Professor Doutor Alan Wanderley Albuquerque Miranda, pela dedicação e comprometimento em me auxiliar na realização desse trabalho.

ANÁLISE DOS PROCESSOS FÍSICOS NA OBTENÇÃO DE ENERGIA

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