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MARGEANDO RIO ADENTRO OS CONTEXTOS VIVIDOS POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO

TRINDADE, G. V.1; SANTOS, R. A.2 1Ufes – Universidade Federal do Espírito Santo; 2

Ifes – Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Ibatiba. gabriel.trindadeviana@gmail.com

1. INTRODUÇÃO

Propõe-se neste trabalho uma reflexão acerca das atividades realizadas na sala de aula, pela professora Renata Aparecida dos Santos, do Ifes – Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Ibatiba, na disciplina de Língua Portuguesa, dan- do ênfase à aplicação da Literatura Brasileira e da Sociolinguística.

As aulas ocorreram nas duas turmas do 4° ano do curso Técnico em Meio Ambiente integrado ao Ensino Médio, no Ifes – Campus Ibatiba, du- rante todo o ano de 2015, e foram trabalhados textos e realizadas atividades voltadas à literatu- ra e ao aprimoramento do senso crítico dos estudantes.

As aulas, que foram realizadas na disciplina de Língua Portuguesa e planejadas pela professora Renata, conseguiram causar um impacto positi- vo nos estudantes devido às suas abordagens de ensino. Eu, que fui um dos alunos do Curso Téc- nico em Meio Ambiente do Ifes Ibatiba e hoje sou graduando em Letras-Inglês pela Ufes, reali- zo agora esta análise sobre a abordagem da professora em sala de aula. Sua linha de raciocí- nio seguiu alinhada ao pensamento que o educador Paulo Freire relatou em suas obras. Se- gundo FREIRE (1996)

“[…] Conteúdos cuja compreensão, tão clara e tão lúcida quanto possível, deve ser elaborada na prática formadora. É preciso, sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que o formando, desde o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se com sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.”

Foi um diferencial para os alunos transcender o ensino bancário (que consiste apenas numa

transferência de conhecimentos) e estabelecer uma conversa além da leitura e da interpretação de textos, como por exemplo: “A Terceira Mar- gem do Rio”, de Guimarães Rosa e “Missa do Galo”, de Machado de Assis. Essas obras foram expostas e contextualizadas na realidade dos alu- nos. As aulas tornaram-se uma troca de saberes entre a professora e os discentes.

Vale salientar que um profissional na área da lin- guagem, tanto da primeira língua quanto de uma língua estrangeira, deve compartilhar com os alunos a ideia de que a língua é formada a partir da expressão social, identidade e cultura de cada país. Esse tipo de abordagem utilizada pela pro- fessora Renata nos aproximou do uso real da língua e da literatura, de forma prazerosa. Se- gundo MARCUSCHI (2000)

“essa abordagem trata-se de valorizar a língua em contextos de uso naturais e reais, privilegiando a atividade linguística autêntica com textos produzidos em situações cotidianas orais e escritas.”

2. MATERIAL E MÉTODOS

Durante as aulas, a professora Renata apresentou várias obras para serem estudadas, como: “Missa do Galo”, de Machado de Assis, “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo, “A Terceira Margem do Rio”, do Guimarães Rosa, entre outras. O objeti- vo das aulas era aumentar o senso crítico e o conhecimento de mundo, bem como conseguir aliar a realidade dos discentes com o que os au- tores dos textos contextualizaram em suas obras. Neste trabalho, vamos nos ater às atividades rea- lizadas com o texto “A Terceira Margem do Rio”, de João Guimarães Rosa. Após a professo- ra apresentar alguns dados biográficos do autor e ter feito a leitura do texto na sala, questionou aos alunos: O que eles tinham compreendido do tex- to? Quais foram os pontos que chamaram a sua atenção? O que prendeu a atenção no texto? O

que entenderam por “terceira margem”? Ela não deu uma fórmula pronta para interpretar o texto, pelo contrário, conversou sobre as diversas pos- sibilidades de leitura que ele poderia ter.

“A terceira margem do rio” já chama atenção pelo título: Como pode haver uma terceira mar- gem?

Dessa forma, essa discussão abriu espaço para os leitores (alunos) saírem da zona de conforto e partirem para o desejo de indagar, interpelar o que estaria por trás dessa terceira margem. Além disso, depois de todo esse percurso, a pro- fessora pediu para os estudantes escreverem um texto sobre o que viria a ser a terceira margem de seus próprios rios (suas próprias vidas), tra- zendo um sentimento de maior proximidade com a obra literária.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os alunos demonstraram uma mudança de pen- samento e de discurso durante o ano. Aos poucos, eles passaram a fazer questionamentos mais profundos nos textos como, por exemplo, identificar vários problemas sociais (machismo, desigualdade social, racismo, homofobia e entre outros). Tudo isso passou a fluir de forma natu- ral, antes mesmo de as perguntas sobre os textos lidos serem feitas pela professora. Ela instigou nos alunos o pensamento livre e sem julgamen- tos, guiando-os sem podar-lhes a individuali- dade. Isso demonstra que as ideias do educador Paulo Freire estão muito atuais e que de fato funcionam na prática.

O contato com a literatura, contextualizado com o que a sociolinguística diz, criou pontes para o cotidiano. Dessa forma, houve maior possibili- dade de contemplar tanto a língua nativa, quanto a língua estrangeira como formas de expressão e características sociais, o que levou os alunos a valorizar as diferenças existentes e a encará-las como um ponto positivo, com maior profundida- de e proximidade da realidade.

4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

Por fim, tendo sido aluno do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Ibatiba, tive a oportuni- dade de cursar a disciplina de Língua Portuguesa com a professora Renata. Dessa forma, tenho a chance de analisar a abordagem de ensino crítico

que tive em sala de aula, já que sou aluno de Le- tras-Inglês da UFES e posso fazer um contraponto entre o ensino da Literatura e da So- ciolinguística no ensino médio com as teorias que tenho estudado na faculdade. Observando as teorias de Paulo Freire e Marcuschi, e perceben- do que elas realmente surtem o efeito que propõem, posso afirmar que se hoje tenho um olhar mais atento para a forma como me comu- nico e para a importância da linguagem como um fator social, grande parte disso tudo devo à abordagem dessas teorias em sala de aula duran- te o ensino médio, surtindo reais efeitos no meu rendimento no nível superior.

A partir das discussões levantadas neste trabalho sobre o tipo de abordagem da literatura em sala de aula, que segue a linha de raciocínio de Frei- re, é evidente que a aplicação dessas teorias é um caminho a ser trilhado (não somente nas dis- ciplinas que envolvem linguagem) e que pode levar à realização de mais pesquisas e aprimorar a relação entre aluno e professor e entre ensino e aprendizagem.

5. BIBLIOGRAFIA

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia –

saberes necessários à prática educativa. 25.

ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MARCUSCHI, Luiz A. O papel da Linguística

no ensino de Línguas. Universidade Federal de

Per Pernambuco, 2000.

ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha eterna professora e amiga Renata. Aos meus amigos e familiares.

PORTFÓLIO DE ENSINO, APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO PARA

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