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Análise do Discurso

No documento Estudos Linguísticos (páginas 137-143)

LOVING THE DISCURSE OF THE CENTURY XXI: ROMANTIC LOVE OF ECHOES

3. Análise do Discurso

O objeto da Análise do Discurso é o “discurso”. O vocábulo discurso etimologicamente dá idéia de curso, percurso, de correr por, de movimento. Como se fosse um rio, o discurso, dessa forma, remete à circulação de enunciações na sociedade.

Os termos discurso e análise do discurso são tomados em diferentes acepções nas diversas teorias.

Nas expressões como: discurso oral e discurso escrito, discurso jornalístico, processos de coesão e coerência do discurso, discurso estético, identifica-se uma acepção de discurso significando texto. Tais expressões equivalem ao que denomina-se de texto oral, de texto escrito, de texto jornalístico.

Em expressões como discurso autoritário, discurso proferido, discurso pronunciado, identifica-se o campo da oratória, da retórica. Nesse sentido, o termo discurso refere-se à elocução que tem o objetivo de comover, persuadir etc. Mas se, por outro lado, são encontradas as expressões discurso progressista, discurso religioso, discurso político, discurso neoliberal, discurso machista, discurso feminista etc., o discurso não tem significado de texto ou elocução, mas algo que vai além do texto, material empírico em que se materializa o discurso.

O Discurso pode ser entendido como a prática social de produção de textos, de acordo com a teoria mais aceita atualmente. Isto significa que todo discurso é uma construção social, não individual, e que só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social; significa ainda que o discurso reflete uma visão de mundo determinada, necessariamente, vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m).

Análise do Discurso constitui uma prática e um campo da linguística e da comunicação especializada em analisar construções ideológicas presentes num texto. É

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muito utilizada, por exemplo, para analisar textos da mídia e as ideologias que trazem em si.

De acordo com Orlandi (2003, p. 15):

A Análise do Discurso concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social. Essa mediação, que é discurso, torna possível tanto a permanência e a continuidade do homem e da realidade em que ele vive. O trabalho simbólico do discurso está na base da produção da existência humana.

Portanto, a noção elementar que se tem de discurso como sinônimo de mensagem, informação, pronunciação de meras palavras combinadas em frases, não corresponde ao interesse básico da Análise do Discurso. Podendo estar relacionada tanto à História quanta à Sociologia, a Análise do Discurso vai buscar, na verdade, o sentido ou sentidos produzidos pelo sujeito ao elaborar um discurso, as suas intenções e a forma como é recebido por quem ouve ou lê suas palavras. Por isso Pêcheux (1997) define discurso como “efeito de sentidos entre interlocutores”.

A peça chave para a Análise do Discurso (AD) é o sujeito, pois é a partir dele que surgem os discursos, embora ele não seja o centro do seu discurso e não tenha poder de decisão, escolha e estratégias de produção discursiva, na concepção da AD. Ele atua como alguém que pensa ter o domínio sobre o que diz, mas na verdade, é o inconsciente e as ideologias de cada um que determinam os discursos. O sujeito não tem condições de despojar-se de desses elementos de sua formação idiossincrásica no momento de emitir opiniões ou fazer colocações, por mais neutras que possam parecer. Assim, ele “é determinado, sem se dar conta, a dizer o que o seu lugar de formação social impõe que seja dito.” (INDURSKY, 1998).

No discurso se inter-relacionam língua e história, onde participam elementos externos. E são nesses elementos que se baseia a Análise do Discurso, buscando no contexto em que é construído o discurso, os seus possíveis sentidos. Assim sendo, a AD não pode ser confundida com uma simples análise de texto, visto que esta se detém nas relações internas analisando apenas o aspecto linguístico do discurso. Para a AD a situação histórico-social na qual se organiza um discurso é de essencial relevância na extração dos sentidos, ou melhor dizendo, na constatação dos “efeitos de sentido”, provocados pelo sujeito discursante e nos sujeitos ouvintes ou leitores do discurso.

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Indursky (1998) é bastante perspicaz ao perceber e apontar que existe uma diferença entre sentido e “efeito de sentido”:

Há aí, um deslocamento, a partir do qual não é mais possível pensar na transmissão de informação entre interlocutores. Pensar nesses termos conduz a uma concepção de sentido prévio estabilizado, verdadeiro, único, sem lugar para a ambiguidade, para o desvio e o mal-entendido. Isso é recusado pela Análise do Discurso. Nesse quadro teórico, postula-se que o sentido sempre pode ser outro, e isto está na dependência do lugar em que os interlocutores se inscrevem. Ou seja, nada garante que um discurso produza o mesmo sentido tanto para quem o formulou como para quem o interpretou. Entre os interlocutores há um intervalo que vai muito além do espaço físico que o separa. Há que considerar também por posições ideológicas diversas, inscritas em formações discursivas igualmente diferentes, as quais são responsáveis pela produção não-coincidentes, atribuídos a um mesmo dizer.

A celeridade das informações e avanços tecnológicos da atualidade vem se refletindo nas relações interpessoais. Toda a cultura contemporânea baseia-se na voracidade da aquisição de bens, na ideia de troca mutuamente favorável. A felicidade do homem moderno consiste na sensação de poder com a compra de tudo o que deseja. E sempre está em busca de novas conquistas.

O significado do amor transformou-se ao longo do tempo e pode-se classificá-lo da seguinte forma:

Eros - um amor apaixonado fundamentado e baseado na aparência física. Psiquê - um amor "espiritual", baseado na mente e nos sentimentos eternos. Ludus - o amor que é jogado como um jogo; amor brincalhão.

Storge - um amor afetuoso que se desenvolve lentamente, com base em

similaridade

Pragma - amor pragmático, que visualiza apenas o momento e a necessidade

temporária, do agora

Mania - amor altamente emocional, instável; o estereótipo de amor romântico Agape - amor altruísta; espiritual

140 4. O amor na modernidade

A celeridade das informações e avanços tecnológicos da atualidade vem se refletindo nas relações interpessoais. Toda a cultura contemporânea baseia-se na voracidade da aquisição de bens, na ideia de troca mutuamente favorável. A felicidade do homem moderno consiste na sensação de poder com a compra de tudo o que deseja. E sempre está em busca de novas conquistas. ( FROM, 2000).

Bauman (2004) considera a era da modernidade em que vivemos – um mundo repleto de sinais confusos, propenso a - com rapidez e de forma imprevisível é fatal para nossa capacidade de amar, seja esse amor direcionado ao próximo ou a nós mesmos.

Um tipo de envolvimento atual é denominado “ficar” - tipo de envolvimento que não chega a ser um envolvimento amoroso pleno, mas quase. Está mais para um ensaio do que para as vias de fato.

De maneira geral, os próprios jovens definem que o ficar vai até o ponto em que começaria uma relação sexual. Para eles, abraçar, beijar, acariciar, tocar as partes íntimas e até praticar sexo oral são indicadores que graduam desde as ficadas mais tranquilas até as mais calientes. Pesquisas feitas nos EUA e na Europa mostram que, para os jovens, sexo oral não é sexo. É preliminar, é aquecimento, é ficar. Mas transar não está incluído no rol do ficar! Pelo menos, não de forma geral! (BOUER, 2001). Esse tipo de envolvimento pode ser considerado como “amor líquido” de que fala Bauman.

Em consonância com a AD, parte-se do pressuposto de que sujeito e sentido se constroem junto com o texto, em determinado contexto sócio-histórico. Por contexto sócio-histórico entendemos o contexto em sentido amplo, isto é, as relações ideológicas, as oposições, as lutas de classe que perpassam a construção do discurso e fazem com que o sujeito ocupe determinadas posições para produzir seu discurso, criando, assim, os efeitos de sentido.

O discurso do ficar reflete as relações estabelecidas na sociedade atual que “coisifica” o ser, que determina relações fugazes com pouca ou nenhuma vinculação.

No entanto, outros discursos que circulam socialmente refletem uma perspectiva romântica do amor, como pode ser desatacado no caso do suícidio da atriz e modelo Cibelle Dorsa.

Ela se atirou do sétimo andar do prédio onde morava, em São Paulo após a morte do seu noivo, que dois meses entes havia se jogado do mesmo apartamento. Ele tinha problemas com drogas.

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No dia em que o noivo se matou, Cibele postou no tweeter “Meu noivo se suicidou essa noite, com ele morto eu me sinto morta. Prefiro ir com ele, minha força não faz mais sentido. Quero ir encontrá-lo.”, "Uma parte da minha vida se foi, talvez a maior, ele era muito grande para ser apenas uma pequena parte", "Te amo meu amor, você que me deu tanta vontade de viver..." "Estou confusa, não sei se sou covarde pq não me mato ou se sou covarde pq quero viver".

Antes de se matar Cibele também tuitou: “Lamento, eu não consegui suportar a morte nos meus braços, mas lutei, até onde eu pude.”

Verifica-se que o Amor Mania suplantou o Amor Ágape, uma vez que a atriz era mãe de duas crianças e o amor de mãe é considerado incondicional, altruísta e ela colocou o amor romântico acima de tudo.

Percebe-se também presente no discurso finais proferidos pela atriz o estereótipo do Amor Romântico de Romeu e Julieta que leva o sentimento às últimas conseqüências, a morte.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do objeto discursivo tomado para análise, é necessário sair da materialidade linguística para compreendê-la em sua exterioridade, no social, espaço em que o linguístico, o histórico e o ideológico coexistem em uma relação de implicância. O Discurso tem existência na exterioridade do linguístico, no social, é marcado sócio- histórico-ideologicamente .

O sujeito constituído por diferentes vozes sociais, é marcado por intensa heterogeneidade e conflitos, espaços em que o desejo se inter-relaciona constitutivamente com o social e manifesta-se por meio da linguagem (FERNADES, 2008).

Percebe-se que as relações amorosas da modernidade, mesmo com a atitude de não vinculação, encontra-se nos discursos que circulam socialmente, ecos do amor romântico, a busca desenfreada por parceiros reflete o sujeito fragmentado, que ao falar e/ou enunciar seu discurso, ele sempre está se remetendo ao já-dito, a outros discursos, no caso, o discurso da pós-modernidade que prega as relações superficiais, mas que na verdade deixa nas entrelinhas a busca pelo par ideal, um companheiro (a) fiel e duradouro (a), construído pelo ideal romântico. Prova disso são os inúmeros livros publicados com o tema, os filmes românticos que tanto fazem sucesso bem como palavras e juras de amor eterno que circulam mesmo entre a geração jovem.

142 REFERÊNCIAS

BAUMAN, Z. Amor Líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

BOUER ,J. Será que "ficar" é mesmo novidade? Veja Especial Jovens: Setembro de 2001. Disponível em: http://veja.abril.com.br/especiais/jovens/p_033.html.

Acesso em:10.05.2011.

CARVALHO, Castelar. Para compreender Saussure. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

FERNADES, C. Análise do Discurso: Reflexões Introdutórias. São Carlos: Clara Luz, 2008.

FROM, E. A arte de amar. (tradução MiltonAmado). Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.

INDURSKY, Freda. O sujeito e as feridas narcísicas dos linguistas. In: Gragoatá, n. 5. Niterói, RJ: EdUFF, 2º sem. 1998.

ORLANDI, E. P. Discurso e Texto. 2 ed. São Paulo: Pontes, 2005.

PÊCHAUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio.; Campinas: EDUNICAMP, 1997.

SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. 20 ed. São Paulo: Cultrix, 1997. Site: http://margaridasempapel.wordpress.com/2011/03/28/antes-de-se-matar- cibele-dorsa-enviou-carta-de-suicidio-para-a-revista-caras/Acesso:10.05.2011. http://veja.abril.com.br/especiais/jovens/p_033.html. Acesso em:10.05.2011.

143 ENTRE O DISCURSO RELIGIOSO E O DISCURSO SOBRE O FEMININO: ASPECTOS

DO FUNCIONAMENTO DE UMA SEMÂNTICA GLOBAL NOS TEXTOS DE VISÃO

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