• Nenhum resultado encontrado

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Estudos Linguísticos (páginas 73-78)

Na análise dos dados, apresentamos, de modo bem resumido, nossa avaliação a respeito dos matchings e dos mismatchings no domínio de experiência cultural desenvolvidos neste artigo – sexualidade. Levamos em consideração a percepção/conceptualização de dois grupos de eleitores (específicos e pretendidos), os

74

quais possuem ideias e conceitos bastante distintos a respeitos desse domínio, grupos esses com que o candidato teve de lidar e negociar concomitantemente para construir seus textos de campanha política eleitoral.

Convém ressaltar que escolhemos esse domínio de experiência com base nas próprias respostas dos eleitores pretendidos e dos específicos, que divergiram exatamente nesse domínio. Em um primeiro momento, nossa análise esteve relacionada ao domínio de experiência cultural e procurou verificar, principalmente, como os eleitores específicos e os pretendidos enquadravam esse domínio, a partir da análise de suas escolhas lexicais nas respostas dos questionários, e, ainda, de que forma essa opção evidenciou suas hipóteses e seus objetivos, que são prévios à leitura dos textos de Marcelo Crivella, demonstrando, até mesmo, sua representação a respeito desse candidato.

Uma segunda etapa esteve mais inserida no campo dos estudos em metacognição, e sua finalidade foi averiguar como o candidato construiu seus textos a partir da percepção/conceptualização dos grupos de eleitores, tendo em vista sua árdua tarefa e as estratégias que empregou para tentar cumpri-la da melhor maneira: incluir, em seu discurso, o eleitorado específico e o pretendido ao mesmo tempo.

Em uma terceira etapa, verificamos como o candidato monitorou sua imagem como evangélico e político e como organizou as informações veiculadas em seus textos, adequando-os a seus objetivos e controlando seu discurso. Analisamos a equivalência das condições de validação entre as hipóteses e os objetivos dos grupos de eleitores e as hipóteses e os objetivos do candidato ao construir seus textos, a partir das compatibilidades e das incompatibilidades entre os diferentes enquadramentos do léxico em relação ao domínio sexualidade, enquadramentos esses realizados pelo candidato, pelos eleitores específicos e pelos eleitores pretendidos.

A análise desenvolvida nesta dissertação denotou a importância dos processos metacognitivos de monitoramento e controle para o estudo da construção dos textos de Marcelo Crivella, uma vez que são construções altamente planejadas e controladas, principalmente no caso desse candidato, que teve de lidar com grupos de eleitores antagônicos e que se rejeitam mutuamente, baseando-se em como esses grupos o percebem/conceptualizam. Com base no que já foi posto acerca dos dados na seção anterior, é possível destacar a correspondência entre os processos metacognitivos de monitoramento e controle, que auxiliaram na composição do protocolo de análise baseado no quadro exposto por Overschelde (2008), a partir de Nelson e Narens (1995), e as hipóteses e os objetivos dos grupos de eleitores, bem como suas diferentes

75

percepções/conceptualizações a respeito do candidato no que se refere ao domínio de experiência cultural que analisamos aqui. Fazendo a devida avaliação comparativa entre o léxico utilizado pelos grupos de eleitores e pelo candidato, a equivalência (matching) ou não (mismatching) das hipóteses dos grupos e do candidato pode ser demonstrada no seguinte quadro:

Quadro 1: A equivalência (matching) ou não (mismatching) das hipóteses dos grupos e

do candidato

Grupos de eleitores / Domínios de experiência cultural

Eleitores Específicos Eleitores Pretendidos

Matchings Mismatchings Matchings Mismatchings

Sexualidade Ø Opção pessoal e

liberdade sexual. (EE: sexualidade de acordo com tradição cristã atração sexual entre indivíduos de sexo diferente para manifestações afetivas/procriação. Fora isso: transtornos sexuais, comportamentos inaceitáveis perante a sociedade, pecado.) Opção pessoal e liberdade sexual. Ø

Neste quadro, vemos claramente que revelou-se insuficiente sua estratégia de marketing político eleitoral para dissociar sua atividade de sua atuação religiosa. Seus insistentes esforços sucumbiram diante, principalmente, do domínio sexualidade, em que realmente não há como o candidato descolar seus selves (bispo/evangélico e senador/candidato). Não há como descaracterizar-se como membro da igreja, porque não é sua imagem como figura pública que está em questão, mas aquilo em que acredita, aquilo que o constitui. Diante do exposto, não é possível dissociar o senador/político do bispo/evangélico no que diz respeito ao domínio sexualidade, já que suas identidades política e religiosa confluem de imediato nesse domínio, no qual não houve matching com o eleitorado específico, até porque Marcelo Crivella não poderia mostrar totalmente sua opinião, sob pena de afastar totalmente os eleitores pretendidos. Por isso, decidiu ficar em “cima do muro”, apenas alegando que não haveria qualquer demonstração de homofobia em seu governo e evitando entrar em detalhes no assunto ou falar mais sobre isso.

76 REFERÊNCIAS

BOTELHO, P. F. (2010). Textos factuais e problematizantes em livros didáticos de história: leitura e metacognição. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, Mestrado em Letras Vernáculas – Língua Portuguesa.

FLAVELL, J. H. (1976). Metacognitive aspects of problem solving. In: Resnick, L. B. (ed.), The nature of intelligence. Hillsdale, New York: Lawrence Erlbaum Associates, pp. 231- 235.

FLAVELL, J. H. (1979). Metacognition and cognitive monitoring. A new area of cognitive- developmental inquiry. In: American Psychologist, vol. 34(10), pp. 906-911.

FLAVELL, J. H. (1981). Cognitive monitoring. In: Dickson, W. P. (ed.). Children's oral communication skills. New York: Academic Press, pp. 35-60.

FLAVELL, J. H.; WELLMAN, H. M. (1977). Metamemory. In: Kail, R. V. e Hagen, O. W. (eds.). Perspectives on thedevelopment of memory and cognition. Hillsdale, New York: Lawrence Erlbaum Associates, pp. 3-33.

FLAVELL, J. H., MILLER, H. P.; MILLER, S. A. (1999). Desenvolvimento cognitivo (Trad. Claudia Dornelles). Porto Alegre: Artmed.

GERALDO, P. H. B. A construção da identidade: a participação de Crivella nas eleições municipais do Rio de Janeiro.

KORIAT, A. (2000). The Feeling of Knowing: Some metatheoretical implications for consciousness and control. In: Consciousness and Cognition 9, 147–148.

KORIAT, A. (2002). Metacognition research: an interim report. In: T. Perfect & B. Schwartz (Eds.) Applied Metacognition. Cambridge: University Press, p. 287-286.

NELSON, T. O.; NARENS, L. (1990). Metamemory: a theoretical framework and new findings. In: BOWER, G. (ed.). The psychology of learning and motivation: advances in research and theory, Volume 26, pp. 125-173. New York: Academic Press.

KORIAT, T. O.; NARENS, L. (1994). Why investigate metacognition? In: Metcalfe, J. e Shimamura, A. P. (eds.). Metacognition: knowing about knowing, pp. 1-25. Cambridge, MA: MIT Press.

OVERSCHELDE, J. P. V. (2008). Metacognition: knowing about knowing. In: DUNLOSKY, J.; BJORK, R. (Eds.) (2008). Handbook of Metamemory and Memory. New York: Psychology Press, pp. 11-28.

SCHNEIDER, W.; LOCKL, K. (2002). Procedural metacognitive in children: evidence for developmental trends. In: Dunlosky, J. e Bjork, R. (Eds.) (2008). Handbook of Metamemory and Memory. New York: Psychology Press, pp. 391-410.

77

SCHNEIDER, W.; LOCKL, K. (2002). The development of metacognitive knowledge in children and adolescents. In: T. Perfect & B. Schwartz (Eds.) Applied Metacognition. Cambridge: University Press, p. 224-257.

78 SOBRE A FORÇA E ORIENTAÇÃO ARGUMENTATIVA DE “PORÉM”

No documento Estudos Linguísticos (páginas 73-78)