• Nenhum resultado encontrado

7 1.3 Análise do conteúdo das entrevistas

A técnica utilizada no tratamento dos dados foi a análise de conteúdo, tendo por base a utilização de procedimentos metodológicos já descritos acima, que visaram a sua redução através de um processo de categorização, a sua apresentação de uma forma ordenada e a obtenção de sínteses descritivas que suportem a discussão final dos resultados (Miles & Huberman, 1991). Com estes procedimentos, procurou-se interpretar o significado do discurso dos professores intervenientes sobre o perfil de competências essenciais ao professor do 1.º Ciclo.

Assim, na análise dos dados foram consideradas quatro fases distintas: a pré- análise, a redução dos dados, a apresentação dos dados e as inferências e conclusões (Huberman & Miles, 1991). Estas fases foram realizadas de acordo com as recomendações dos autores supracitados, mas também segundo os procedimentos propostos por outros autores, nomeadamente Bogdan & Biklen (1994), Lessard-Hébert et al. (1994) e Gómez et al. (1996).

Na primeira fase, a fase da pré-análise, empreendemos uma série de procedimentos que tinham como fim preparar os dados para serem analisados. Assim, o nosso primeiro passo consistiu na transcrição integral, pelo investigador, de todas as entrevistas, procurando reproduzir fielmente o discurso oral dos entrevistados, tendo tido o cuidado de registar toda a informação (pausas, reticências, exclamações, expressões orais, etc.…), por considerarmos que nos poderia vir a ser útil na fase de interpretação. Omitimos apenas o diálogo que estabelecemos no início como motivação do entrevistado e legitimação da entrevista. Depois destas transcrições, as entrevistas foram dadas a ler aos respectivos protagonistas para eventuais clarificações e/ou rectificações que achassem necessárias no

sentido de as validar, tornando-as representativas do seu pensamento. As alterações feitas pelos entrevistados não alteraram o significado do seu conteúdo, incidindo, apenas, em pequenos pormenores de forma.

Foi também nesta fase que tivemos que tomar decisões em relação ao tipo de codificação a utilizar, em relação às unidades de análise e em relação ao tipo de categorização.

A fim de preservarmos o anonimato dos intervenientes e a confidencialidade dos dados recolhidos, procedemos, em primeiro lugar, à codificação do nome dos entrevistados, utilizando as primeiras letras do alfabeto: (Professores A, B e C – professores especialistas na área da formação de professores; Professores D e E - professores responsáveis pela coordenação da Prática Pedagógica do curso de Professores do Ensino Básico (1.º Ciclo); Professores F, G e H - professores a exercer funções no 1.º Ciclo do Ensino Básico e que recebem estagiários nas suas turmas (professores cooperantes), código este que será mantido ao longo de todo o trabalho.

No que se refere às unidades de análise das entrevistas tivemos que ponderar, em termos de recorte, que tipo de unidade de registo e unidade de contexto iríamos adoptar. A unidade de contexto constitui a unidade de compreensão em função da qual as unidades de registo ganham sentido. Como escreve Bardin (in Estrela, 1994: 455), o “segmento da mensagem cujo tamanho (superior à unidade de registo) é óptimo para apreender a significação exacta da unidade de registo”. Considerámos que a unidade de contexto seria a totalidade das respostas à entrevista.

Quanto à unidade de registo (necessária para a categorização), optámos por recortar núcleos de sentido que se prendiam com os objectivos da análise. Estes núcleos semânticos nem sempre mostram a mesma estrutura. São formados, por vezes, por duas ou três palavras carregadas de sentido, mas apresentam-se, sobretudo, sob a forma de frases e algumas vezes de parágrafos.

No processo de categorização, o primeiro passo foi efectuar a leitura flutuante das entrevistas (Bardin, 2000), não só para a apreensão dos aspectos gerais do conteúdo do discurso dos entrevistados, mas também para detectar os dados que, não sendo adequados às questões levantadas, se apresentavam pouco interessantes ou irrelevantes. Em seguida, procedemos a várias outras leituras mais atentas com vista a verificar se existiam núcleos

temáticos que apresentassem alguma correspondência com os núcleos temáticos do nosso guião da entrevista, e/ou se emergiam novos temas. Assim, destacaram-se seis temas, a que atribuímos cores distintas para que se pudessem diferenciar no conjunto global do discurso dos entrevistados. Os temas foram os seguintes:

- Caracterização do entrevistado - Mudanças na profissão de professor - Competências dos professores e legislação - Formação Inicial

- Supervisão

- Desenvolvimento das competências ao longo da carreira

Esta primeira análise foi estruturada em tabelas, a que chamámos ‘Grelha de Análise I’ (Anexos 3; 4; 5; 6; 7; 8; 9; 10), correspondendo ao seguinte modelo:

Transcrição completa da entrevista

Temas

Quadro 2 – Modelo da ‘Grelha de Análise I’

Apreendidos os temas, começámos a tentar construir um sistema coerente de categorização que desse sentido aos dados descritivos que se recolheram anteriormente. Para a construção das categorias, que, segundo Vala (1990: 111), são compostas “por um termo-chave que indica o significado central do conceito que se quer apreender”, elegemos um procedimento de tipo indutivo, deixando que estas emergissem a partir da leitura comparativa dos discursos.

Assim, as oito entrevistas foram lidas de maneira mais exaustiva para servir de base à nossa primeira tentativa de criação de um sistema de categorias. Foi um dos momentos difíceis do nosso estudo, de poucos avanços e muitos recuos, em que passámos vezes sem conta da aplicação e rejeição de uma grelha, à leitura sobre processos de pensamento dos professores, metodologias de análise qualitativa, análise de conteúdo, etc. Reformulada uma categorização e iniciada a sua aplicação, éramos revisitadas pelas dúvidas, tentadas por novas pistas que se abriam através das leituras que continuávamos a efectuar.

Chegámos, por fim, a um sistema de categorias que aplicámos às entrevistas, utilizando a abordagem de “cortar e colocar em pastas separas” (Bogdan & Biklen, 1994: 235). Foi a partir da reformulação desse sistema que construímos o sistema de categorização definitivo em grelha, ‘Grelha de Análise II’ (Anexos 11; 12; 13; 14; 15; 16; 17; 18) que aplicámos tendo o cuidado de obedecer a critérios de coerência, homogeneidade, exclusividade recíproca e exaustividade (Estrela, 1994).

Após a estruturação destas grelhas com as categorias, procurámos especificar cada uma delas, surgindo assim, progressivamente, as sub-categorias de análise (Anexos 19; 20; 21; 22; 23; 24; 25; 26). Estas categorias e sub-categorias estão expressas no seguinte modelo da ‘Grelha de Análise III’:

Temas

Categorias

Sub-categorias

Unidades de registo

Tempo de serviço Formação

Cargos / funções desempenhadas Caracterização

do entrevistado Percurso e situação profissional

Actual situação profissional No passado Ser professor No presente Contextos/Pessoas Mudanças na profissão de professor Mudanças e razões das mudanças Pessoais Conceito Competências

Desejáveis para os professores do 1.º Ciclo Parecer

Competências dos professores

e legislação Legislação

Influência nas práticas Competências A desenvolver na F.I.

Avaliação Da formação face às necessidades da prática docente

Formação Inicial

Medidas para uma melhor articulação Formação/ Prática docente

Formas de actuação

Papel da supervisão no desenvolvimento de competências

Orientação do processo supervisivo e da avaliação dos estagiários através das competências a desenvolver Processo Supervisivo Sugestões de melhoria Supervisão Supervisor Competências Pessoais De outras pessoas De situações de trabalho

De situações de aprendizagem formal Desenvolvimento das competências ao longo da carreira Marcas que contribuíram para a melhoria das competências

Finalmente, realizámos o estudo comparativo dos temas, de modo a podermos detectar as semelhanças/diferenças entre as respostas dos diferentes sujeitos entrevistados, que organizámos também em grelhas-síntese (uma para cada um dos seis temas – Anexo 27; 28; 29; 30; 31; 32).

No momento seguinte, procedemos ao cruzamento dos dados, a fim de podermos fazer inferências sobre os resultados obtidos. A ilustração desses dados e a reflexão sobre os resultados encontra-se exposta no ponto seguinte.

7.1.4. - Apresentação e reflexão em torno dos resultados