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Análise dos dados

No documento Índice. Resumo...3. Abstract...4 (páginas 132-154)

Neste capítulo analisam-se os dados descritos no capítulo anterior relativos (i) ao teste de produção provocada, no que diz respeito às propriedades do verbo matriz e selecção do modo e do tempo verbal em frases afirmativas, aos efeitos da negação frásica no modo e no tempo verbal da encaixada (cf. pontos 4.1. e 4.2.), e (ii) ao teste de avaliação, nomeadamente às relações de (in)dependência temporal estabelecidas entre a oração encaixada e a oração matriz (cf. ponto 4.3.). Esta análise é elaborada numa perspectiva de comparação do desempenho linguístico dos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), de forma a tentar encontrar razões para os dados obtidos e a levantar questões pertinentes sobre a dicotomia indicativo/conjuntivo. Todas as hipóteses formuladas no ponto 1.3. são retomadas e discutidas ao longo do presente capítulo.

4.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas

Neste ponto procede-se à análise dos dados recolhidos no teste de produção, relativos à selecção do modo e do tempo verbal na encaixada. Recorde-se que, em todas as frases deste teste o verbo superior se encontra no presente do indicativo.

Comecemos por analisar os dados relativos aos grupos de verbos matriz que seleccionam na encaixada o modo indicativo, nomeadamente os grupos de verbos I e III.

O grupo de verbos I (afirmar e saber), que selecciona na encaixada o modo indicativo, não suscita problemas aos sujeitos, pois quer o grupo de sujeitos I (10º ano), quer o grupo de sujeitos II (12º ano) produz, conforme o alvo, o indicativo. O modo indicativo apresenta, pois, 100% do total de ocorrências.

Os dados revelam, assim, que as propriedades semânticas destes verbos não geram dúvidas aos sujeitos quanto ao modo que seleccionam na encaixada: o verbo afirmar, um verbo epistémico que expressa uma declaração, e o verbo saber, um verbo igualmente epistémico que expressa conhecimento, são predicados assertivos (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003), uma vez que introduzem afirmações e

declarações. Esta propriedade contribui para a caracterização do indicativo como um modo que expressa asserções e está, portanto, associado a atitudes epistémicas de conhecimento e de crença.

O facto de o presente do indicativo ser o tempo mais produzido pelos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), representando 70% das ocorrências, no grupo de sujeitos I, e 65% de ocorrências, no grupo II, indica que os sujeitos estabelecem nas suas produções relações de concordância temporal relativamente ao verbo matriz, o qual se encontra no presente do indicativo. Com 25% do total das produções, surgem, nos dois grupos de sujeitos, as formas perifrásticas, com o verbo auxiliar (na maioria dos casos, o verbo ir) predominantemente no presente do indicativo ou no futuro do indicativo, o que, por um lado, confirma o que referimos anteriormente e, por outro, mostra também como os falantes nativos estão a substituir o uso do futuro do indicativo pela forma perifrástica com o auxiliar no futuro.

Em suma, os dois grupos de sujeitos, apesar de pertencentes a dois níveis de escolaridade diferentes, 10º e 12º anos, apresentam o mesmo comportamento, desempenhando com total sucesso a tarefa proposta.

Relativamente ao grupo de verbos III, que selecciona igualmente o indicativo na encaixada, verifica-se que todos os sujeitos produzem este modo. Com base nestes dados, podemos afirmar que os verbos sentir, achar, prometer e dizer não são problemáticos nem para o grupo de sujeitos I (10º ano), nem para o grupo de sujeitos II (12º ano).

O verbo perceptivo sentir, o verbo epistémico de crença achar, o verbo prospectivo prometer e o verbo declarativo dizer exprimem asserções, isto é, são predicados assertivos, logo, seleccionam o modo indicativo (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003).

Com os dois grupos de sujeitos o presente é o tempo mais produzido, registando o valor de 47.5%, no grupo I, e um valor superior de 65%, no grupo II. Em segundo lugar, surgem as formas perifrásticas com o auxiliar (na maioria dos casos, o verbo ir) predominantemente no presente do indicativo, com 37.5%, no grupo de sujeitos I, e 17.5%, no grupo de sujeitos II. Estes dados revelam novamente que há por parte dos

sujeitos uma preocupação em estabelecer entre a oração matriz e a encaixada uma relação de concordância temporal [pres/pres].

Com 12.5% do total das ocorrências, o pretérito perfeito (grupo de sujeitos I) e o futuro (grupo de sujeitos II) são, em cada um dos grupos de sujeitos, o terceiro tempo mais seleccionado, o que demonstra o reconhecimento, por parte de alguns sujeitos, de independência temporal em completivas em que é seleccionado o indicativo, tendo em conta que o verbo superior se encontra no presente do indicativo.

Sintetizando, os grupos de sujeitos I e II seleccionam na encaixada o modo conforme o alvo, ou seja, o indicativo. O modo indicativo regista, deste modo, 100% do total dos dados produzidos.

Pela análise anteriormente apresentada, podemos verificar que o indicativo é o único modo seleccionado pelos sujeitos nas frases que envolvem os grupos de verbos I e III, o que corresponde à alternativa correcta. Estes resultados revelam que os verbos superiores destes grupos não suscitam dúvidas aos sujeitos, apresentando o indicativo 100% do total de ocorrências. Assim, podemos confirmar a hipótese 1, que agora se recupera:

HIPÓTESE 1 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo indicativo na encaixada não são problemáticas para os sujeitos.

Passemos, de seguida, à análise dos resultados obtidos para os grupos de verbos II e IV, cujos verbos da matriz seleccionam na encaixada o modo conjuntivo.

Relativamente aos verbos lamentar, querer e esperar, que constituem o grupo II, os dados recolhidos no grupo de sujeitos I (10º ano) mostram que a maioria dos sujeitos produziu na encaixada o modo conjuntivo (96.7%), registando-se apenas uma ocorrência no modo indicativo (3.3%). No grupo de sujeitos II (12º ano), todos os sujeitos seleccionam na encaixada o modo conjuntivo, apresentando 100% de produções correctas. Estes resultados demonstram, então, que este grupo de verbos, assim como os anteriormente referidos, não gera dificuldades relevantes na selecção do modo, apresentando uma elevada taxa de sucesso.

Como anteriormente referimos, este grupo é composto pelos verbos volitivos querer e esperar e pelo verbo factivo lamentar. Este último verbo, sendo um verbo factivo, pressupõe a verdade da proposição da frase encaixada, logo, tendo em conta algumas das análises clássicas, esperar-se-ia a presença do indicativo na mesma oração, motivo pelo qual este verbo tem sido considerado um caso problemático no âmbito da selecção modal, reforçando a ideia da ausência de uma relação directa entre as propriedades do verbo superior e a selecção do modo na encaixada. No entanto, podemos justificar a selecção do conjuntivo na completiva se adoptarmos a ideia de que todos estes predicados são não assertivos (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003), ou seja, predicados que, ao invés dos assertivos, não expressam asserções, mas introduzem avaliações ou acrescentam conteúdos independentes da própria asserção.

O tempo mais produzido pelos dois grupos de sujeitos é o presente do conjuntivo, com 93.3% em cada grupo. Como já foi acima referido, a selecção deste tempo verbal parece decorrer da prática de uma concordância temporal entre o verbo da encaixada, que se encontra no presente do indicativo, e o verbo superior [pres/pres]. Com uma representação pouco relevante, o pretérito perfeito é também produzido pelos sujeitos com o verbo lamentar (3.3% no grupo I e 6.7% no grupo II).

Assim, o comportamento dos sujeitos nas estruturas analisadas é idêntico, na medida em que ambos os grupos demonstram um número elevado de produções correctas no conjuntivo, registando-se, apenas no grupo de sujeitos I, um valor muito baixo de produções incorrectas no indicativo (3.3%).

O verbo duvidar (grupo IV), que veicula as noções de dúvida e de descrença, é um predicado não assertivo que, tal comos os verbos constituintes do grupo II, selecciona o modo conjuntivo na encaixada.

Face aos resultados obtidos no grupo de verbos IV, podemos observar que os sujeitos têm um comportamento bastante distinto: enquanto o grupo de sujeitos I (10º ano) regista 60% de ocorrências no conjuntivo, o grupo de sujeitos II (12ºano) apresenta 100% de ocorrências neste modo. Por conseguinte, poder-se-á explicar o desempenho dos sujeitos pelos níveis de escolaridade a que pertencem: o grupo de sujeitos II, por frequentar um nível de escolaridade superior (12º ano), revela um melhor desempenho

na selecção do modo (taxa de sucesso total); o grupo de sujeitos I, por frequentar um nível de escolaridade inferior (10º ano), demonstra não ter estabilizado completamente estas construções, manifestando dificuldade em seleccionar o modo correcto (40% de produções incorrectas no indicativo). Depreende-se, portanto, que no início do 2º período do 12º ano, os sujeitos revelam um melhor domínio sobre a selecção modal em completivas do que no início do ensino secundário (especificamente, no início do 2º período do 10º ano).

Quanto às produções incorrectas, verifica-se que o pretérito perfeito e as formas perifrásticas com o auxiliar ou no presente ou no futuro são os tempos verbais utilizados no indicativo pelos sujeitos do grupo I.

Relativamente às produções correctas no conjuntivo, regista-se que o presente é o tempo verbal mais seleccionado pelos sujeitos, apresentando 40% no grupo I e 80% no grupo II, o que concorre mais uma vez para a concordância temporal [pres/pres] entre a oração encaixada e a oração superior. Com 20% em cada grupo de sujeitos, o pretérito perfeito composto é o segundo tempo mais produzido pelos sujeitos, o que revela o estabelecimento de algumas relações de independência temporal entre as orações.

Conclui-se, desta forma, que enquanto no grupo de sujeitos I há uma taxa de insucesso relevante de 40%, no grupo II, verifica-se 100% de produções correctas conforme o alvo.

Os dados permitem confirmar as hipóteses 2 e 7, que abaixo se transcrevem:

HIPÓTESE 2 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo conjuntivo colocam problemas aos sujeitos, prevendo-se que estes optem, por vezes, pela substituição pelo indicativo.

HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na aquisição de competências linguísticas.

Por último, considerem-se os dados referentes aos grupos de verbos que admitem selecção modal dupla na encaixada: grupos V e VI.

Os verbos constituintes do grupo V, acreditar, imaginar, suspeitar e prever, seleccionam na encaixada ou o indicativo ou o conjuntivo e são verbos denominados “criadores de mundos”, pois permitem a criação de realidades alternativas (cf. Ridruejo 1999; Oliveira 2003). Como já referimos anteriormente, a escolha do modo indicativo ou conjuntivo decorre do valor de verdade atribuído à proposição encaixada, ou seja, quando é seleccionado o indicativo pressupõe-se a verdade da frase complemento, o que não acontece quando é seleccionado o conjuntivo.

Os dados recolhidos no grupo de verbos V permitem verificar que há uma clara preferência pelo modo indicativo, apresentando este modo, nos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), um valor percentual de 82.5% do total das ocorrências.

Relativamente aos tempos verbais seleccionados, os sujeitos do grupo I (10º ano) registam um maior número de produções nas formas perifrásticas, com o auxiliar (na maioria das produções, o verbo ir) predominantemente ou no presente ou no futuro (40%), seguindo-se o uso do presente (27.5%). Os sujeitos do grupo II (12º ano), por seu turno, apresentam, em primeiro lugar, mais ocorrências no presente (35%); em segundo lugar, produzem as formas perifrásticas, todas com o verbo auxiliar ir, também ou no presente ou no futuro (20%) e, em terceiro lugar, o futuro (15%). Tendo em conta que o verbo matriz se encontra no presente do indicativo em todas as frases, mais uma vez, a selecção das formas perifrásticas com o auxiliar no presente e a selecção do presente do indicativo, parecem denotar uma preocupação dos sujeitos em estabelecer uma relação de concordância entre o tempo do verbo da encaixada e o tempo do verbo da matriz [pres/pres].

No que concerne às produções com o conjuntivo, estas envolvem sobretudo os verbos suspeitar e prever e representam um valor aproximado nos dois grupos de sujeitos: 15%, no grupo de sujeitos I, e 17.5%, no grupo de sujeitos II. Estabelece-se concordância temporal entre os dois domínios oracionais, visto que predomina o uso do presente nos dois grupos de sujeitos (12.5% e 15%, respectivamente), seguindo-se a selecção do pretérito perfeito composto, embora com um valor percentual inferior de 2.5%, em cada grupo.

Pelo que atrás foi dito, podemos concluir que a tarefa que envolve o grupo de verbos V é desempenhada de forma idêntica pelos dois grupos de sujeitos, registando-se um valor elevado de produções no indicativo, relativamente a um valor pouco significativo de produções no conjuntivo.7

Por último, considere-se o verbo pensar (grupo VI), que, tal como os verbos do grupo anterior, selecciona os dois modos na encaixada, permitindo também a criação de mundos alternativos (cf. Ridruejo 1999; Oliveira 2003). Contudo, como referido anteriormente (cf. secção 2.1.2.1.), assume-se que a selecção do conjuntivo possa ser considerada como marginal para alguns sujeitos.

Os resultados registados no teste de produção mostram que os dois grupos de sujeitos produzem exclusivamente o indicativo. O grupo de sujeitos I e o grupo de sujeitos II apresentam, assim, o mesmo desempenho, registando o indicativo 100% das ocorrências. Estes resultados podem revelar que, para estes sujeitos, a selecção do conjuntivo em frases afirmativas com o verbo pensar não é reconhecida como gramatical, o que vai ao encontro das intuições de alguns falantes adultos. Esta situação pode dever-se ao facto de o verbo pensar assumir diferentes significados conforme o modo da encaixada: quando ocorre com conjuntivo assume um valor dubitativo, ausente quando co-ocorre com indicativo. A ocorrência exclusiva do indicativo nas produções dos sujeitos revela a sua preferência por uma das interpretações. Adicionalmente, a exclusividade do indicativo, no contexto deste verbo, vem ao encontro da tendência generalizada verificada em outros contextos, como anteriormente se referiu.

Quanto aos tempos verbais utilizados, nas produções dos sujeitos do grupo I predomina claramente o uso do presente, com 80%; nas produções dos sujeitos do grupo II este tempo regista um valor percentual inferior, 40%, na medida em se verificam produções significativas no futuro, apresentando este tempo verbal 30%. Saliente-se que, como já referido, o verbo superior se encontra no presente do indicativo. Constata-se, assim,

7

Na análise de Marques (1995), o indicativo é considerado um modo marcado porque está associado a atitudes epistémicas de conhecimento ou de crença. Por conseguinte, e, de acordo com o mesmo autor, o conjuntivo associa-se a uma variedade de valores modais, pelo que pode ser considerado um modo não marcado.

que, enquanto no grupo de sujeitos I (10º ano) há um maior número de relações de concordância temporal, no grupo de sujeitos II (12º ano) assumem-se também relações de independência temporal, o que poderá derivar de uma aquisição mais sólida destas estruturas por parte destes sujeitos, visto que frequentam um nível de escolaridade superior.

Face aos resultados obtidos com os grupos de verbos V e VI, relativos ao modo seleccionado na encaixada, podemos confirmar a hipótese 3:

HIPÓTESE 3 – Nas construções que integram verbos que podem seleccionar ou o indicativo ou o conjuntivo (verbos de selecção modal dupla) tendo em conta condições sintáctico-semânticas distintas, os sujeitos optam maioritariamente pelo indicativo.

Por último, os dados analisados com todos os grupos de verbos nesta secção levam à confirmação da hipótese 5, que se recupera de seguida:

HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos verbos dessas orações.

4.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada

Ainda no âmbito do teste de produção, procede-se neste ponto à análise dos dados obtidos nos vários grupos de verbos, tendo em conta a presença da negação frásica superior e a possibilidade de esta alterar a selecção modal na encaixada. Nesta análise são tidos em conta os mesmos pressupostos teóricos apresentados no ponto anterior relativos a cada grupo de verbos, uma vez que os grupos se mantêm, à excepção dos grupos II e V, dado que o verbo prever, como referido anteriormente (cf. secção 2.1.2.1.), se encontra, neste contexto, inserido no grupo II.

Considerem-se primeiramente os dados relativos aos grupos de verbos I e II, que seleccionam na encaixada o indicativo e o conjuntivo, respectivamente, não sendo estes modos condicionados pelo operador de negação frásica superior.

Os verbos afirmar e saber, que pertencem ao grupo I, são, como referido no ponto anterior, verbos assertivos, associados a atitudes epistémicas de conhecimento e de crença e, portanto, seleccionam indicativo (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003).

Os resultados obtidos com este grupo de verbos demonstram que as estruturas com estes verbos matriz estão estabilizadas nos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), pelo que o indicativo regista em ambos 100% de ocorrências, conforme o alvo.

O presente do indicativo é o tempo verbal mais produzido pelos sujeitos, embora o grupo II (12º ano) apresente um valor percentual superior, de 70%, face ao registado no grupo I (10º ano), de 40%. No grupo de sujeitos I, as formas perifrásticas, com o auxiliar (na maioria das produções, verbo ir) predominantemente no presente, e o pretérito perfeito registam o mesmo valor – 30% do total das ocorrências – um valor próximo do obtido no presente e, por conseguinte, igualmente relevante. Os mesmos tempos verbais são seleccionados pelos sujeitos do grupo II, correspondendo as formas perifrásticas, com o auxiliar (verbo ir) também maioritariamente no presente, a 10%, e o pretérito perfeito a 15%.

A utilização do presente e das formas perifrásticas, construídas sobretudo com o auxiliar no presente, revela que os sujeitos estabelecem, na maioria das produções, concordância temporal entre o verbo da oração encaixada e o verbo da matriz, uma vez que o verbo da oração matriz, como já referido, se encontra no presente do indicativo. Os valores também relevantes registados nos restantes tempos verbais mostram, por outro lado, que os sujeitos também admitem nas frases com indicativo na encaixada uma relação de independência temporal entre as duas orações.

Em síntese, os sujeitos dos grupos I e II não demonstram ter dificuldades em seleccionar o modo correcto neste tipo de estruturas, tendo sido o seu desempenho de total sucesso. Estes dados conduzem de novo à confirmação da hipótese 1:

HIPÓTESE 1 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo indicativo na encaixada não são problemáticas para os sujeitos.

Os verbos matriz que compõem o grupo II (lamentar, querer, esperar e prever) seleccionam na oração completiva o modo conjuntivo. Os verbos lamentar, querer e esperar seleccionam este modo, porque, como referido na secção anterior, são predicados não assertivos, que introduzem avaliações ou acrescentam informações independentes da própria asserção (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003). No entanto, o verbo prever, como já se afirmou anteriormente (cf. secção 2.1.2.1.), selecciona em frases afirmativas os dois modos e, quando sob o escopo da negação frásica, selecciona apenas o conjuntivo, passando a ter propriedades não assertivas. Assim, com os verbos lamentar, querer e esperar, o elemento de negação frásica superior não altera a selecção do modo da encaixada; o mesmo não acontece com o verbo prever, pois a negação induz a alterações na selecção modal.

Os resultados obtidos neste grupo de verbos revelam um desempenho dos sujeitos muito positivo, verificando-se um elevado número de produções no conjuntivo, a saber, 97.5%, no grupo de sujeitos I (10º ano), e 100%, no grupo de sujeitos II (12º ano).

Quanto aos tempos verbais seleccionados, os dois grupos de sujeitos produzem maioritariamente o presente, sobretudo com os verbos querer, esperar e prever. Este tempo regista nos dois grupos de sujeitos um valor superior a 70% relativamente ao total das produções (72.5%, no grupo I, e 77.5%, no grupo II). Estes dados mostram também que há por parte dos sujeitos uma tendência para estabelecer entre o tempo do verbo da oração superior e o tempo do verbo da encaixada uma relação de concordância temporal [pres/pres]. Com 22.5%, o pretérito perfeito composto apresenta igualmente um valor elevado de produções, tendo sido seleccionado somente com o verbo lamentar. Estas ocorrências demonstram que o verbo factivo lamentar, ao contrário dos anteriores, admite na encaixada diferentes tempos, o que revela independência temporal entre o verbo da completiva e o verbo da matriz.

Em suma, no grupo de verbos II, o comportamento dos sujeitos dos grupos I e II é idêntico, apresentando uma elevada percentagem de produções correctas no conjuntivo e, embora se registe, no grupo de sujeitos I, uma produção incorrecta no indicativo, é pouco relevante (2.5%). Todas estas observações tornam possível, mais uma vez, a confirmação da hipótese 2:

HIPÓTESE 2 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo conjuntivo colocam problemas aos sujeitos, prevendo-se que estes optem, por vezes, pela substituição pelo indicativo.

Apresenta-se de seguida a análise dos grupos de verbos III e IV, que sofrem os efeitos da negação frásica superior na selecção do modo, passando a admitir os dois modos na oração encaixada.

Em frases superiores afirmativas, o grupo de verbos III (sentir, achar, prometer e dizer) selecciona na encaixada o indicativo, mas, quando introduzido pela negação frásica

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