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Conclusões

No documento Índice. Resumo...3. Abstract...4 (páginas 154-164)

Considera-se que os objectivos formulados no início desta investigação (cf. secção 1.1.) foram atingidos, contribuindo-se para o estudo dos modos indicativo e conjuntivo em completivas objecto directo em português e para a comparação do desempenho linguístico dos sujeitos alvo. O trabalho apresentado nesta dissertação permitiu, assim, tecer ilações sobre (i) a selecção do modo e do tempo do verbo da encaixada, (ii) a interferência do operador de negação frásica na selecção do modo e do tempo da encaixada e (iii) as relações temporais entre a oração encaixada e a matriz.

Procede-se agora à apresentação das principais conclusões decorrentes da descrição e análise dos dados dos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos):

(i) As orações completivas que integram verbos que seleccionam o indicativo na encaixada, em frases afirmativas, não colocam problemas aos sujeitos, pois os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) produzem na encaixada o modo indicativo, conforme o alvo. Pelos dados obtidos nestas construções, podemos constatar que se verifica nos dois grupos de sujeitos um bom domínio linguístico destas construções.

(ii) As orações completivas que envolvem verbos que seleccionam o conjuntivo na encaixada, em frases afirmativas, suscitam algumas dúvidas aos sujeitos do grupo I (10º ano), tendo-se verificado uma margem de erro relevante com o verbo duvidar. O grupo II de sujeitos (12º ano) não apresenta produções incorrectas, revelando um melhor domínio sobre estas construções. Por conseguinte, os resultados demonstram que a progressão escolar condiciona o desempenho desta tarefa, em particular, apresentando o grupo II de sujeitos uma maior estabilização na aquisição destas estruturas.

(iii) Nas orações completivas seleccionadas por verbos de selecção modal dupla, em frases afirmativas, todos os sujeitos, embora optem em alguns casos pelo conjuntivo, revelam uma preferência clara pelo indicativo, apresentando este modo um valor percentual acima dos 80%, nos dois grupos de sujeitos. No entanto, neste contexto, destacam-se as construções com o verbo matriz pensar, na medida em que os dados demonstram que os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) seleccionam exclusivamente o indicativo, não se registando produções no conjuntivo. Esta situação permite

corroborar a hipótese previamente formulada de que as construções que envolvem o verbo pensar que seleccionam o conjuntivo podem ser assumidas por alguns sujeitos como marginais.

(iv) Com as orações que envolvem verbos que seleccionam o indicativo, em frases negativas, verifica-se que os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) seleccionam correctamente este modo, segundo a gramática-alvo, revelando um bom desempenho na manipulação destas estruturas.

(v) As construções que integram verbos que seleccionam o conjuntivo na presença do operador de negação frásica superior colocam alguns problemas ao grupo I de sujeitos (10º ano); o grupo II de sujeitos (12º ano) apresenta todas as produções no conjuntivo, conforme o alvo. Os sujeitos de nível de escolaridade superior (grupo II) apresentam, assim, um melhor desempenho na selecção do modo na encaixada.

(vi) Com os verbos que sofrem a interferência do operador de negação frásica superior, passando a seleccionar indicativo ou conjuntivo na encaixada, o desempenho dos dois grupos de sujeitos não é idêntico. Verifica-se, no grupo I de sujeitos (10º ano), uma preferência evidente pelo modo indicativo, em detrimento do modo conjuntivo, em todos os grupos de verbos. No entanto, no grupo II de sujeitos (12º ano) esta preferência pelo indicativo não é tão visível quando ocorrem os verbos acreditar, imaginar, suspeitar e, quando ocorre o verbo pensar, o indicativo apresenta 100% do total das cocorrências.

(vii) Os tempos verbais mais produzidos na encaixada pelos sujeitos – presente e formas perifrásticas com auxiliar no presente – revelam que estes estabelecem constantemente com o verbo da oração superior uma relação de concordância temporal.

(viii) Na capacidade de avaliação de frases gramaticais e de sequências agramaticais, verifica-se que os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) identificam facilmente entre os dois verbos relações de concordância temporal, mas apresentam dificuldades em reconhecer os contextos de independência temporal entre a encaixada e a matriz. Os dados do grupo II de sujeitos (12º ano) na tarefa solicitada no teste de avaliação, correspondem, na maioria dos contextos, a um resultado ligeiramente inferior de

avaliações correctas, relativamente ao obtido pelo grupo I de sujeitos (10º ano), o que revela que as dificuldades atrás enunciadas não tendem a diminuir com a progressão escolar. Isto mostra que concordância temporal e independência temporal são dois fenómenos que, embora relacionados, são independentes, tendendo os sujeitos a atribuir mais peso ao primeiro do que ao segundo. Os valores elevados para o indicativo em contextos de selecção modal dupla ou em contextos em o conjuntivo deveria ser o modo seleccionado, podem resultar do facto de os sujeitos estarem a considerar o indicativo como o modo por defeito, tendendo, por isso, a generalizá-lo a todos os contextos. Adicionalmente, note-se que, quando ocorre este modo na encaixada, são admitidos sujeitos disjuntos e sujeitos correferentes, com o mesmo verbo, o que não acontece com o conjuntivo. Efectivamente, quando é seleccionado o conjuntivo na encaixada os sujeitos são interpretados obrigatoriamente como disjuntos.

Estes resultados evidenciam dois aspectos importantes em termos didácticos. Por um lado, mostram que as orações completivas devem ser objecto de um estudo mais aprofundado no ensino básico e secundário, que implique não apenas uma mera classificação mas também uma reflexão crítica sobre os vários aspectos que lhe estão associados; por outro, e resultante do primeiro, que este domínio específico apresenta problemas sobretudo ao nível da selecção do conjuntivo e da identificação de relações de (in)dependência temporal entre a encaixada e a matriz.

Uma outra constatação, decorrente dos resultados apurados, prende-se com o facto de o indicativo ser o modo preferido e mais facilmente usado pelos sujeitos, o que revela que o conjuntivo é, sem dúvida, um modo que coloca problemas e gera dúvidas, não só nas orações completivas, como também noutras orações subordinadas. Perante isto, compete à escola e ao professor de Português proporcionar aos alunos oportunidades que lhes permitam descobrir e compreender o funcionamento da língua.

Como investigação futura, será interessante explorar a relação entre os modos indicativo e conjuntivo e questões de referência dos sujeitos, aspecto igualmente a considerar nas orações completivas, uma vez que se verificam diferenças neste domínio: o indicativo associa-se à referência disjunta e à correferência; e o conjuntivo apenas à referência disjunta. A construção de um estímulo com este objectivo permitirá testar a

compreensão e interpretação destas orações pelos sujeitos e, dessa forma, funcionar como um contributo para o assunto central desta investigação.

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