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Índice. Resumo...3. Abstract...4

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Índice

Resumo ...3

Abstract...4

Capítulo 1 – Introdução...5

1.1. Objectivos do projecto ...7

1.2. Distribuição do indicativo e do conjuntivo em completivas verbais do português ...7

1.2.1. Breve descrição das estruturas na gramática-alvo ...7

1.2.2. Revisão bibliográfica ...13

1.2.2.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo...14

1.2.2.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada...26

1.2.2.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais...32

1.3. Hipóteses de trabalho ...41 1.4. Estrutura da dissertação...42 Capítulo 2 – Metodologia...44 2.1. Caracterização do estímulo ...44 2.1.1. O Pré-teste...45 2.1.2. Os Testes...48 2.1.2.1. Teste I – Produção ...48 2.1.2.2. Teste II – Avaliação...53 2.2. Sujeitos...58 2.2.1.Grupo I...59 2.2.2. Grupo II...59

2.3.Condições de recolha dos dados...60

Capítulo 3 – Descrição dos Dados...61

3.1. Teste I – Produção...61

3.1.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas ...62

3.1.1.1. Grupo de Sujeitos I (10º Ano) ...64

3.1.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)...74

3.1.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada...82

3.1.2.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano)...85

3.1.2.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)...96

(2)

3.2. Teste II – Avaliação ...111

3.2.1.Relações de (in)dependência temporal ...111

3.2.1.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano)...115

3.2.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)...121

3.2.2. Síntese comparada ...128

Capítulo 4 – Análise dos dados...132

4.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas ...132

4.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada ...139

4.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais ...146

Capítulo 5 – Conclusões...154

Bibliografia...158

(3)

Resumo

Esta dissertação pretende ser um contributo para o estudo da distribuição dos modos indicativo e conjuntivo em orações subordinadas completivas verbais com a função sintáctica de objecto directo do português, tendo em conta o desempenho de sujeitos que frequentam anos de escolaridade distintos em tarefas de produção e de avaliação. Neste âmbito, são tidos em conta: (i) as propriedades do verbo matriz e a selecção do modo, (ii) os efeitos da negação frásica superior no modo da encaixada e (iii) as relações temporais entre a oração matriz e a oração encaixada.

De forma a testar estes três aspectos, adoptou-se como metodologia a aplicação de um estímulo, composto por dois testes (um de produção provocada e um de avaliação), a 10 sujeitos do 10º ano (grupo I) e a 10 sujeitos do 12º ano (grupo II).

A descrição e a análise comparada dos dados obtidos nos grupos I e II de sujeitos, permitiu-nos chegar a algumas conclusões, de que se salientam as seguintes: (i) as orações completivas dependentes de verbos que seleccionam o modo indicativo não são problemáticas para os sujeitos, contrariamente ao que se verifica quando a completiva é seleccionada por um verbo que induz conjuntivo, contexto em que alguns sujeitos optam pela substituição por indicativo; (ii) a preferência por indicativo é também visível nas construções que envolvem verbos de selecção modal dupla, ou seja, que admitem, na encaixada, o indicativo ou o conjuntivo; (iii) nas construções em que a presença do operador de negação na oração matriz induz alterações no modo da encaixada, sendo possível a selecção dos dois modos na encaixada, verifica-se igualmente uma preferência pelo indicativo; (iv) os sujeitos estabelecem frequentemente uma relação de concordância temporal entre o verbo da oração encaixada e o da matriz, mas revelam dificuldades na identificação de relações de dependência ou de independência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz; (v) as dificuldades na selecção e no reconhecimento do modo da encaixada, em contextos de produção e de avaliação, não tendem a diminuir com a progressão escolar, ou seja, os sujeitos do grupo II não apresentam, na maioria dos contextos, um melhor desempenho na manipulação destas estruturas relativamente aos sujeitos do grupo I.

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Abstract

This dissertation aims at contributing to the study of mood distribution in Portuguese (direct object) complement clauses by analysing the performance of students from different school levels in production and evaluation tasks. To achieve this main goal, the properties of the matrix verb and the mood selection, the effects of the matrix negation operator upon the embedded mood and the temporal relations between the matrix and the embedded clauses are taken into consideration.

With the aim of testing these three aspects, the methodology chosen was to apply a stimulus, composed by two tasks (ellicited production and evaluation), to ten 10th grade’s students (group I) and ten 12th grade’s students (group II).

The description and the comparative analysis of the results obtained in groups I and II, allowed us to conclude that: (i) complement clauses depending on verbs which select the indicative mood are not problematic to the subjects, unlike to what happens when the verb induces the subjunctive in the embedded clause, a context in which some subjects replace this mood with indicative; (ii) the preference for the indicative is also observed with verbs which involve a double modal selection, that is, which admit the indicative or the subjunctive in the embedded clause; (iii) in sentences where the matrix negation operator may change the embedded mood, enabling the selection of both moods in this clause, the preference for the indicative over the subjunctive is also observed; (iv) the subjects often establish tense agreement between the embedded verb and the matrix one, but they reveal difficulties in identifying the temporal dependance or independance relations between the embedded and the matrix clauses; (iv) the difficulties in selecting and recognising the embedded mood, in production and evaluation tasks, may not decrease with schoolar progression, that is, the second group of subjects does not have, in most contexts, a better performance in manipulating these structures than the subjects from the first group.

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Capítulo 1 – Introdução

A presente tese tem como objecto de estudo a distribuição dos modos indicativo e conjuntivo em orações subordinadas completivas verbais com a função sintáctica de objecto directo do português. No âmbito deste estudo, serão tidos em consideração três aspectos: a selecção do modo em função do verbo matriz, a influência da negação frásica matriz no modo da oração encaixada e as relações temporais entre a oração matriz e a oração encaixada.

A escolha deste tema decorre das dificuldades que detectei nos alunos, enquanto docente, no que diz respeito à produção e à avaliação destas estruturas. Em contexto escolar, verifica-se que o conjuntivo é um modo problemático, gerador de dúvidas e de dificuldades de uso, sendo mesmo preterido pelo indicativo, em construções que permitem a selecção dos dois modos. Este desempenho deficitário poderá resultar, entre outros factores, do tipo de abordagem escolar, dos conteúdos programáticos, do trabalho pouco reflexivo sobre a estrutura e o funcionamento da língua e da ausência de hábitos de escrita e de leitura dos alunos. Pela análise do programa de Língua Portuguesa do 3º ciclo, observa-se que é feita, nos três anos escolares, a distinção entre coordenação e subordinação, sendo a subordinação abordada de maneira gradual, com a seguinte sequência: no 7º ano, orações subordinadas temporais e causais; no 8º ano, orações subordinadas condicionais, finais e completivas; no 9º ano, orações subordinadas consecutivas, concessivas e relativas restritivas com antecedente. No programa de Língua Portuguesa do ensino secundário, a competência de funcionamento da língua visa desenvolver e consolidar os mesmos conteúdos, aprofundando-se a área da pragmática. Relativamente à subordinação, pressupõe-se a identificação das várias orações subordinadas, não se especificando, no âmbito das completivas, os factores de selecção do modo, nem as relações temporais entre as orações encaixada e superior.

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veiculada pela gramática da frase. No entanto, a língua deve ser entendida como um todo, e não como um bloco intocável e imutável, pois é formada de partes que estabelecem entre si relações. Deste modo, deve existir uma complementaridade entre a Gramática do Texto e a Gramática da Frase, e não uma exclusão mútua, pois só dessa forma se torna possível ter uma visão globalizante da língua.

A Gramática tem sido, assim, desvalorizada e subalternizada em grande parte das aulas de Português. Para que a prática lectiva seja bem sucedida, é fundamental que o professor de Língua Portuguesa tenha uma sólida formação linguística que lhe permita reflectir sobre os programas, os manuais e as gramáticas, e adaptar os procedimentos pedagógicos às necessidades específicas dos alunos, promovendo o seu desenvolvimento linguístico. É igualmente importante que os docentes se preocupem em reciclar e actualizar constantemente os seus conhecimentos científicos e didácticos, não se limitando à sua formação inicial. Partindo do conhecimento implícito dos alunos, o docente deve aplicar estratégias pedagógico-didácticas que os levem a reflectir sobre a estrutura e o funcionamento da língua, ou seja, deve tentar construir a gramática explícita a partir da e com a gramática implícita. Como afirma Duarte (2000b) “Só a convivialidade com a língua nos seus usos multifacetados, alicerçada na competência metalinguística, permitirá ao professor de Português cumprir o seu papel fundamental: contribuir para o desenvolvimento linguístico harmonioso dos seus alunos, proporcionando-lhes o prazer de brincar com a linguagem, guiando-os na descoberta que é conhecer a língua e levando-os a explorar os múltiplos aspectos de que se reveste o uso criativo que dela fazemos.” (op. cit.: 121).

Defendo, assim, que o desenvolvimento de uma consciência crítica e reflexiva sobre a língua e o seu funcionamento deverá decorrer de um trabalho laboratorial, em que a sala de aula é transformada numa oficina gramatical, baseada no método da descoberta e da reflexão (cf. Duarte 1992). Este tipo de trabalho permitirá promover o desenvolvimento de competências linguísticas e aperfeiçoar as práticas de uso da língua em situações concretas do dia-a-dia.

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1.1. Objectivos do projecto

Este trabalho tem como objectivo principal contribuir para o estudo dos modos indicativo e conjuntivo em subordinadas completivas do português, no que diz respeito aos factores que determinam a selecção do modo na encaixada (propriedades do verbo matriz e/ou negação frásica superior) e às relações temporais estabelecidas entre os dois domínios oracionais (frase matriz e frase encaixada). Visando a prossecução deste objectivo, a investigação apresentada consiste na aplicação de testes sobre as estruturas-alvo, de modo a verificar o desempenho dos sujeitos ao nível da produção e da avaliação dessas estruturas. Assim, este projecto de investigação visa igualmente descrever e analisar comparativamente o desempenho de dois grupos de sujeitos, pertencentes a níveis de escolaridade distintos (10º e 12º anos), numa perspectiva de abordagem da influência da progressão escolar no desempenho linguístico dos sujeitos.

1.2. Distribuição do indicativo e do conjuntivo em completivas verbais do português

Esta secção destina-se a descrever e a enquadrar na bibliografia disponível o tema do presente projecto de investigação: os modos indicativo e conjuntivo em completivas verbais objecto do português. Assim, apresenta-se, em primeiro lugar, uma breve descrição das estruturas na gramática do adulto (secção 1.2.1.), seguida de uma revisão bibliográfica das principais propostas que versam sobre algumas questões relacionadas com o tópico em análise (secção 1.2.2.).

1.2.1. Breve descrição das estruturas na gramática-alvo

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unidades complexas, nomeadamente a coordenação e a subordinação, sendo este último alvo de uma descrição detalhada no que diz respeito às orações subordinadas completivas verbais. No âmbito destas orações, é abordada a selecção do modo na encaixada, descrevendo-se, a este propósito, dois dos factores determinantes: (i) as propriedades do verbo matriz e (ii) a ocorrência de um marcador de negação frásica na frase superior. Por último, é apresentado outro aspecto relevante das orações completivas: as relações temporais estabelecidas entre a oração matriz e a encaixada.

O modo indicativo é tradicionalmente associado à certeza, aos factos reais e às verdades intemporais. Considerado também um modo autónomo, ocorre sobretudo em frases simples (cf. (1)) e na oração matriz de frases complexas (cf. (2)).

(1) Eles foram visitar os avós.

(2) O João disse que o irmão está na escola.

Descrito geralmente em oposição ao indicativo, o modo conjuntivo exprime tradicionalmente eventualidade, hipótese, irrealidade, possibilidade, dúvida, vontade e ordem. Embora possa surgir em frases simples, nomeadamente em frases optativas e em imperativas negativas, como se verifica em (3), o conjuntivo é o modo por excelência da subordinação, como se observa em (4).

(3) a. Oxalá a operação corra bem. b. Não faças nenhuma asneira!

(4) a. Lamento que não tenhas dito a verdade. b. Quero que digas a verdade.

A subordinação é um mecanismo de formação de frases em que uma frase é dependente sintáctica e semanticamente de um constituinte da frase matriz. As frases subordinadas são, assim, frases encaixadas em frases superiores (cf. (5)). Por oposição, a coordenação frásica é um processo de formação de frases, em que duas frases são autónomas, dado que nenhuma desempenha qualquer função sintáctica relativamente à outra (cf. (6)).

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No caso da subordinação completiva, objecto de estudo desta dissertação, a oração encaixada é seleccionada como argumento por um núcleo lexical (verbo, adjectivo ou nome) que ocorre na frase matriz. Por conseguinte, existem três tipos de completivas: verbais (cf. (7)), adjectivais (cf. (8)) e nominais (cf. (9)).

(7) A Rita disse que gostava de música clássica. (8) É possível que o Pedro chegue hoje.

(9) É uma certeza que o desemprego aumentará.

Quando os verbos da completiva ocorrem no indicativo ou no conjuntivo, são frases completivas finitas; quando os mesmos ocorrem no infinitivo, flexionado ou não flexionado, são completivas não finitas. Os exemplos que se seguem ilustram estes dois tipos de completivas:

(10) Eles querem que os amigos venham à festa. (11) Os pacientes desejam ser atendidos rapidamente.

Considerando-se para este estudo apenas as completivas finitas verbais, importa salientar a importância do complementador que, na medida em que introduz a maioria das orações subordinadas. As completivas verbais podem manter com o núcleo que as selecciona a relação gramatical de objecto directo e, neste caso, são seleccionadas como argumento interno, podendo ser substituídas pelos pronomes demonstrativos invariáveis isto, isso e -o, em posição pós-verbal, como se exemplifica em (12) e (13):

(12) a. A Andreia sabe que o resultado do exame já saiu. b. A Andreia sabe isto. / A Andreia sabe-o.

(13) a. Lamento que o carro esteja avariado. b. Lamento isso. / Lamento-o.

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pensar), declarativos, que exprimem declarações e afirmações (afirmar, concluir, declarar, dizer, prometer) e perceptivos, que exprimem sensações (ouvir, sentir, ver). Estes predicados admitem coordenações adversativas ou rectificativas que afectem as completivas que deles dependem (cf. (15)) e permitem ainda réplicas elípticas correspondentes à polaridade da frase superior ou à polaridade da completiva (cf. (16)) – cf. Duarte (2003).

(14) O treinador afirmou que gostou do desempenho da equipa. (15) Sei que o Rui pratica ténis, mas (pratica) poucas vezes. (16) a. Reparei que a Helena não se inscreveu no curso.

b. Eu também (= reparei que a Helena não se inscreveu no curso). c. Eu também não (= me inscrevi no curso).

O conjuntivo, por seu turno, é seleccionado por predicados não assertivos que, ao invés dos referidos anteriormente, não introduzem asserções, mas exprimem avaliações ou acrescentam informações independentes da própria asserção. São exemplo destes predicados verbos declarativos de ordem, que expressam ordens e pedidos (ordenar, pedir), factivos, que pressupõem a verdade da oração complemento (lamentar, gostar), volitivos e optativos, que expressam vontade e desejo (desejar, querer, detestar), e causativos, que expressam permissão e obrigação (deixar, fazer). A este propósito, vejam-se as frases (17) e (18):

(17) Lamento que o António tenha caído de mota.

(18) Os professores desejam que os alunos tenham bons resultados. (19) *Lamento que a Inês visite os avós, mas (visite) poucas vezes. (20) a. Espero que o João não tenha enviado o trabalho.

b. Eu também (= espero que o João não tenha enviado o trabalho). c. *Eu também não (= enviei o trabalho).

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Existem ainda verbos matriz de selecção modal dupla, ou seja, verbos que seleccionam na encaixada ou o indicativo ou o conjuntivo (cf. (21) e (22)), como é o caso dos verbos imaginar, acreditar e supor (entre outros), considerados como verbos que criam mundos alternativos. A opção de um ou de outro modo decorre de diferentes intenções do enunciador e acarreta interpretações semânticas distintas, no que diz respeito ao grau de crença e à atribuição do valor de verdade à proposição encaixada.

(21) Nós acreditamos que a situação vai/ vá melhorar. (22) Imagino que és/ sejas a minha nova colega.

No âmbito da selecção de modo do verbo encaixado, há a considerar, além das propriedades dos verbos da oração superior, outro factor determinante – a presença de um operador de negação frásica na oração superior. O elemento de negação frásica superior pode, assim, induzir alterações no modo da encaixada, como acontece com verbos epistémicos (como dizer, saber, achar) e verbos prospectivos (como prometer, ameaçar), que na afirmativa seleccionam indicativo e que, sob o escopo da negação superior, passam a seleccionar também o conjuntivo na completiva, como se exemplifica em (23) e (24), respectivamente:

(23) a. Acho que o médico dá consulta amanhã.

b. Ele não acha que os filhos estão/ estejam no parque. (24) a. A Alice promete que entrega a carta.

b. Não prometo que te vou / vá visitar.

Embora menos frequente, regista-se também no português o caso oposto, ou seja, verbos que na afirmativa seleccionam conjuntivo e que, na presença do operador de negação frásica superior, passam a seleccionar o indicativo. São disso exemplo os verbos duvidar e negar (cf. (25)).

(25) a. A Teresa duvida que a polícia descubra a verdade. b. O José não duvida que a Ana vem/ venha hoje.

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Quando ocorre o indicativo na encaixada, não se verificam restrições sobre o tempo verbal da encaixada, pois o tempo verbal da oração completiva é, geralmente, independente do da matriz, sendo possível o uso do presente, do passado ou do futuro, como se verifica em (26):

(26) a. O Miguel diz que a Catarina {vai/ foi/ irá} às compras.

b. O Miguel disse que a Catarina {vai/ foi/tinha ido/ irá} às compras.

Esta situação de independência temporal é também possível com alguns verbos que seleccionam o conjuntivo na encaixada, como acontece com o verbo lamentar:

(27) a. O João lamenta que o Sérgio {esteja/ ?estivesse/ tenha estado/ tivesse estado} doente.

b. O João lamentou que o Sérgio {esteja/ estivesse/ tenha estado/ tivesse estado} doente.

Com uma grande parte dos verbos que seleccionam o conjuntivo na encaixada, há restrições temporais, na medida em que o tempo verbal da encaixada depende do da oração superior. Assim, o tempo do verbo da oração matriz condiciona o tempo verbal da completiva, admitindo-se apenas as combinações [pres/pres], como em (28a), e [pas/pas], como em (28b).

(28) a. Ela quer que o Ricardo traga/ *trouxesse/ *trouxer uma encomenda. b. Ela quis que o Ricardo trouxesse/ *traga/ *trouxer uma encomenda.

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(29) A Ana afirmou que a Rita vai ao cinema amanhã. (30) Ele sugeriu-me que vá ao médico amanhã.

(31) O Pedro lamentou que o Pedro vá amanhã para o estrangeiro.

Por sua vez, quando a encaixada é temporalmente dependente da matriz, não podem ocorrer expressões temporais que localizem o estado de coisas expresso na referida encaixada relativamente ao tempo da enunciação:

(32) *O João quis ir ao cinema amanhã.

Estas expressões temporais são, contudo, admitidas se o tempo da enunciação e o tempo do evento coincidirem:

(33) O João quer ir ao cinema amanhã.

As frases com conjuntivo distinguem-se, ainda, das que integram o indicativo no que diz respeito às propriedades do sujeito encaixado. Assim, em frases com o Indicativo, o sujeito é obrigatoriamente disjunto quando está realizado lexicalmente (cf. (34)) e, quando não se verifica a sua realização lexical (sujeito nulo), o sujeito é interpretado como co-referente (cf. (35)); já o Conjuntivo, está associado preferencialmente a um sujeito realizado lexicalmente e disjunto do sujeito matriz (cf. (36)). O fenómeno da referência de sujeitos não será, no entanto, alvo de estudo nesta dissertação.

(34) [A Raquel]i acha que [ela]j/*i é uma boa amiga.

(35) [O Joaquim]i disse que [-]i/*j ia viajar.

(36) [A Maria]i quer que [ela]j/*i vá ao baile.

1.2.2. Revisão bibliográfica

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(ii) os efeitos da negação matriz na selecção do modo da oração encaixada e (iii) as relações temporais entre os dois domínios oracionais (matriz e encaixada).1

A apresentação das propostas disponíveis na literatura, que servirá de base para a construção do estímulo (cf. Capítulo 2), é feita segundo uma ordem diacrónica, sendo que, no ponto 1.2.2.1., são primeiramente apresentadas as propostas ou descrições presentes nas gramáticas, seguindo-se as análises presentes noutros trabalhos. Na descrição das diversas posições são sublinhados os pontos em comum, bem como as diferenças que as separam, no intuito de estabelecer uma análise comparada das várias propostas. No final de cada secção, é feita uma síntese das principais ideias defendidas.

1.2.2.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo

Em Soares Barbosa (1822), o conjuntivo é apresentado em clara oposição ao indicativo, associando-se o primeiro à dependência temporal e o segundo à independência. A caracterização semântica e sintáctica do indicativo aponta-o como um modo autónomo, absoluto e subordinante. A esta caracterização opõe-se a descrição do conjuntivo, que exprime a incerteza e a indecisão, sendo um modo subordinado ao verbo da oração superior e, consequentemente, fortemente determinado pelo mesmo. Daí que se afirme que “O seu carácter próprio é não poder figurar só no discurso sem dependência de outra oração clara ou occulta, a que fique subordinada sempre, e ligada ordinariamente pelo conjuntivo «que».” (op. cit.: 139).

A natureza subordinada do conjuntivo é também reforçada por Epiphanio da Silva Dias (1917), embora na sua gramática este autor distinga o emprego independente do conjuntivo em orações principais e o seu emprego dependente em orações subordinadas. Procede-se, assim, à distinção entre estes dois tipos de orações e, no que diz respeito às orações principais, o autor afirma que, nestas construções, o conjuntivo se emprega de modo independente, exprimindo noções imperativas e de ordem. O autor acrescenta que este modo pode também exprimir um desejo, através das expressões oxalá, quem dera ou tomara, designando-o, por isso, de conjuntivo optativo; pode ainda traduzir uma

1

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hipótese ou uma possibilidade, na presença de talvez ou quiçá, considerando-o neste caso como um conjuntivo potencial. Por último, segundo o autor, o conjuntivo figura igualmente nas disjunções formadas por expressões correlativas como quer-quer e ou-ou. Em (37) encontra-se exemplificado o conjuntivo optativo:

(37) Oxalá nunca saibas quão intenso e atroz é o meu tormento.

(Herc., Eur., 48, apud op. cit.: 203)

No que concerne às orações subordinadas, são abordadas as orações substantivas, relativamente às quais se expressam as noções semânticas veiculadas pelos verbos da oração matriz e pelas locuções que seleccionam a presença do conjuntivo. Assim, incluem-se no grupo de verbos que seleccionam o conjuntivo os que exprimem a ideia de fazer ou impedir (verbos fazer, conseguir, pedir, exigir, aconselhar, votar, ordenar, proibir, conceder, consentir, desejar), de admiração, contentamento ou descontentamento (verbo admirar-se), de dúvida (verbo duvidar) e de temer ou esperar (verbos temer, esperar), como se ilustra em (38):

(38) [Abrahão] temeo que como mulher, e mãe, [Sara] não tivesse valor para consentir no sacrifício.

(Vieira, I: 603, apud id.: 206)

À semelhança do autor anterior, Epiphanio da Silva Dias (1917) também faz alusão à importância da conjunção que como um elemento introdutor do modo conjuntivo, embora refira que, por vezes, esta se encontra ausente.

Tal como em Soares Barbosa (1822), o modo conjuntivo em Cunha e Cintra (1984) surge em contraste com o indicativo. Os autores defendem que, enquanto o indicativo exprime a certeza e a realidade, o conjuntivo toma os factos como incertos, duvidosos, eventuais ou irreais. Estabelecem dois princípios gerais que apresentam os contextos de uso do indicativo e do conjuntivo nas orações subordinadas substantivas:

(16)

2º O CONJUNTIVO é o modo exigido nas orações que dependem de verbos cujo sentido está ligado à ideia de ordem, de proibição, de desejo, de vontade, de súplica, de condição e outras correlatas. É o caso, por exemplo, dos verbos desejar, duvidar, implorar, lamentar, negar, ordenar, pedir, proibir, querer, rogar e suplicar. ” (op. cit.: 464).

Também como Epiphanio da Silva Dias (1917), Cunha e Cintra (1984) estabelecem uma distinção na utilização do conjuntivo em orações principais e em subordinadas, da qual deriva a noção de conjuntivo independente e de conjuntivo subordinado, respectivamente. O conjuntivo independente está associado à expressão de desejo, de concessão, de dúvida, de ordem e de indignação do enunciador, enquanto o conjuntivo subordinado ocorre em orações substantivas que dependem de verbos da oração matriz que exprimem vontade, sentimento, dúvida e receio, respectivamente exemplificados em (39) e (40):

(39) Chovam hinos de glória na tua alma!

(Quental 1890: 35, apud id.: 465) (40) Em todo o caso, gostava que me considerasse um amigo.

(Carvalho 1978: 119, apud id.: 466)

Bechara (1999) sistematiza os principais casos de ocorrência do conjuntivo nas orações subordinadas substantivas em termos de denotação semântica. Ordem, vontade, consentimento, aprovação, proibição, receio, desejo, probabilidade, necessidade, utilidade, dúvida, suspeita, desconfiança são os valores expressos nas frases em que se utiliza este modo. Além desta situação, afirma-se que o conjuntivo surge depois dos verbos duvidar, suspeitar e desconfiar em frases afirmativas. No seu conjunto, Bechara (1999) considera as orações subordinadas com conjuntivo como aquelas em que “o facto é considerado como incerto, duvidoso ou impossível de se realizar” (op. cit.: 280).

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alternância. No primeiro caso, não atribui a ocorrência obrigatória do modo apenas ao verbo da oração principal, mas reconhece o papel determinante de outros elementos lexicais do predicado superior e de indutores negativos.

No plano semântico, e de acordo com Ridruejo (1999), produz-se asserção sobre a verdade da oração subordinada quando o modo indicativo é obrigatório; quando os verbos matriz são não assertivos, o modo conjuntivo é obrigatório e não se assume a verdade da oração complemento, sendo esta apresentada apenas como provável ou possível, como acontece com os predicados volitivos (como os verbos desear e querer). No entanto, ao contrário do que supostamente era esperado, existem contextos de conjuntivo que pressupõem a verdade da proposição encaixada, como acontece com predicados causativos (como o verbo conseguir) ou com alguns verbos factivos (como o verbo lamentar). No que diz respeito à alternância de modos na oração subordinada completiva, o autor salienta os verbos criadores de mundos, como os verbos imaginar e suponer, que expressam circunstâncias diferentes da realidade de enunciação, e os verbos de expectativa, como o verbo esperar, que significa não só vontade, mas também expectativa ou previsão sobre a proposição complemento. Nestas situações em que, com o mesmo predicado, é possível a selecção dos dois modos, Ridruejo (1999) assinala a asserção como função do indicativo e a não asserção como o significado do conjuntivo. Contudo, ressalva que “ En algunas construcciones hay que entender la ausência de aserción no de manera absoluta, en el sentido de que no queda aseverada la verdad de la proposición subordinada, sino solo como ausência de aserción independiente, por la cual la idea verbal no está actualizada o concretada al margen de lo indicado en el predicado superior.” (op. cit.: 3249).

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subordinada. Não descurando esta caracterização, que vai, em parte, ao encontro da tese asserção vs não asserção, Ridruejo (1999) tenta mostrar, agrupando predicados segundo o modo da encaixada, que existem mais factores envolvidos na selecção de modo além do significado do verbo subordinante, como a presença de certos elementos lexicais integrados na oração superior e elementos de negação.

Em Oliveira (2003) esta questão é abordada como um assunto complexo e problemático. Ainda que identifique grupos de verbos que seleccionam o modo indicativo e grupos que exigem o modo conjuntivo, a autora não encontra nestes verbos traços semânticos comuns que permitam justificar a ocorrência de um dos modos com base exclusivamente em distinções modais. Como afirma a mesma (op. cit.: 257 e 258), “Não existe correspondência unívoca entre os dois modos e distinções modais, pois a cada modo pode associar-se mais do que uma modalidade.”. Para comprovar este facto, a autora assinala o uso do conjuntivo com o verbo factivo lamentar e o uso do indicativo com o verbo de crença crer através dos exemplos (41) e (42), respectivamente:

(41) A Ana lamenta que estejas doente.

(id.: 258; (30)) (42) O Rui crê que a Rita está em casa.

(id.: 258; (31))

No exemplo (41) é afirmada a verdade da proposição e no exemplo (42) a situação é inversa. Deste modo, na encaixada da primeira frase esperar-se-ia a ocorrência do indicativo e na encaixada da segunda esperar-se-ia a presença do conjuntivo. Oliveira (2003) afirma, pois, que estas ocorrências vão de encontro às associações tradicionais do conjuntivo à incerteza e irrealidade e do indicativo à certeza e à realidade.

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(43) Imagino que gostas/gostes de ir ao cinema.

(id.: 260; (45))

Como resposta ao problema de não existir uma relação directa entre a selecção do modo e diferentes tipos de modalidade, Duarte (2003), na sequência de Hooper (1975) e de Bosque (1990b), distingue entre predicados assertivos e predicados pseudo-assertivos, aos quais estão associados o indicativo e o conjuntivo, respectivamente. Os primeiros, como o próprio nome indica, introduzem uma asserção, permitindo, como exemplificado em (44), coordenações de tipo adversativo ou rectificativo que afectem as completivas que deles dependem:

(44) Sei que ele vem visitar-nos, mas (vem) sozinho.

(op.cit.: 604; (28a))

Os predicados assertivos admitem, ainda, réplicas elípticas correspondentes à polaridade da frase superior ou à polaridade da completiva, como se verifica em (45):

(45) a. Sei/ reparei/ creio que a Maria ainda não concluiu o relatório.

b. Eu também (= sei/ reparei/ creio que a Maria ainda não concluiu o relatório). c. Eu também não (= concluí o relatório).

(id.: 604; (30))

Os predicados pseudo-assertivos utilizam-se para “exprimir avaliações ou para acrescentar conteúdos independentes da própria asserção, uma vez que os mesmos se encontram já pressupostos nesta” (id.:603) e, ao contrário dos assertivos, não admitem coordenações de tipo adversativo ou rectificativo (cf. (46)), permitindo apenas respostas fragmentárias correspondentes à polaridade da frase matriz (cf. (47)).

(46) *Lamento que ele venha visitar-nos, mas (venha) sozinho.

(20)

(47) a. Lamento/ espero que a Maria ainda não tenha concluído o relatório. b. Eu também (= lamento/ espero que a Maria ainda não tenha concluído o relatório).

c. *Eu também não (= não concluí ainda o relatório).

(id.: 604; (31))

No caso da presença opcional de indicativo ou de conjuntivo na encaixada, Duarte (2003) afirma que “ (…) a selecção do conjuntivo exprime maior distância do locutor relativamente à verdade do conteúdo proposicional da frase completiva.” (id.:605).

Esta questão da selecção do modo em orações completivas é igualmente explorada em outros estudos linguísticos, elaborados em diversos quadros teóricos.

Faria (1974) mostra que o conjuntivo, enquanto elemento de uma estrutura de complementação, resulta de restrições impostas pelos verbos mais altos, que estabelecem vários graus de asserção mental (verbos de asserção mental fortes e médios e verbos declarativos de ordem médios e fracos), correspondendo, assim, a diferentes tipos de verbos com características semânticas específicas. Esta graduação semântica dos verbos superiores é derivada do facto de estes imporem aos verbos da oração subordinada dois tipos de restrições: qualificadoras (selecção de um único modo como complementador) e quantificadoras (selecção de dois modos, sendo que a ocorrência de um ou de outro origina interpretações semânticas distintas). Relativamente a estas últimas, são identificados os verbos de asserção mental fracos (acreditar, assumir, crer, ignorar, imaginar, julgar, prever, supor, etc.) como aqueles que seleccionam os dois modos, embora a interpretação semântica não seja idêntica quando ocorre um e quando ocorre outro. Assim, a autora considera que, quando o enunciador pressupõe a verdade da frase complemento, ocorre indicativo; quando pressupõe um potencial de verdade da frase complemento, surge o conjuntivo.

(21)

No âmbito do estudo do conjuntivo em espanhol, Bosque (1990b) tem como objectivos centrais a alternância indicativo-conjuntivo e os factores que determinam a sua ocorrência. Sem descurar as noções semânticas normalmente associadas ao conjuntivo (incerteza, hipótese, eventualidade, prospecção), o autor sublinha a importância dos aspectos sintácticos na selecção do modo. Para o autor, semântica e sintaxe devem, portanto, estar interligadas. Assim, Bosque (1990b) estabelece a distinção entre predicados assertivos e predicados factivos, afirmando que se trata de diferentes tipos de subordinação. Os predicados assertivos exprimem afirmações e declarações e, segundo o autor, são relativamente independentes da própria asserção. Dado que a oração subordinada é o âmbito da asserção, estes predicados permitem coordenações adversativas ou rectificativas que afectem as completivas que deles dependem. Assim, em (48), verifica-se que a oração adversativa ou rectificativa tem como ponto de referência ou de contraste a própria oração subordinada:

(48) Creo que vendrá a verte, pero solo.

(op.cit.: 30; (21a))

Sintacticamente diferentes, os predicados factivos não têm um âmbito assertivo e avaliam conteúdos que são independentes da própria asserção, pois esta já está pressuposta. A este propósito, veja-se o exemplo presente em (49), cujo verbo matriz é o verbo factivo lamentar:

(49) Lamento que Pepe no hubiera redactado el informe.

(id.: 31; (25))

Como já referido anteriormente, estes conceitos são retomados por Ridruejo (1999) e por Oliveira (2003), integrados em gramáticas do Espanhol e do Português, respectivamente.

(22)

seleccionam ou o indicativo ou o conjuntivo na encaixada, consoante o grau de asserção que veiculam:

(50) Dile que tiene/tenga valor.

(id.: 45; (46a)) (51) Insisto en que lo hace/haga mejor.

(id.: 45; (46b))

Conclui-se que a selecção dupla está relacionada com o conceito de asserção e que determinadas partículas lexicais, como o advérbio ya, dada a sua natureza discursiva, introduzem enunciados de tipo confirmativo e admitem uma interpretação semântica compatível apenas com o indicativo. Veja-se o exemplo (52a), em que ambos os modos podem ser seleccionados na encaixada; contudo, em (52b) verifica-se que da presença do conjuntivo na encaixada decorre a agramaticalidade da frase, pois o advérbio ya pressupõe a apresentação ou o conhecimento de alguma situação anterior.

(52) a. Compreendo que necesitas/ necesites tiempo.

(id.: 47; (49a)) b. Ya compreendo que necesitas/ *necesites tiempo.

(id.: 47; (49b))

Bybee & Terrell (1990) analisam o modo em Espanhol sob uma perspectiva semântica. Começam por demarcar as diferenças que separam a análise sintáctica da análise semântica: numa perspectiva sintáctica, a escolha do modo é determinada por um sintagma da frase superior; numa perspectiva semântica, a escolha do modo do verbo subordinado está relacionada com a atitude do falante. Na esteira de Bosque (1990b), estes autores associam o conceito de asserção ao indicativo e, concretamente, às orações substantivas. Por conseguinte, associam o conjuntivo à não-asserção, nomeadamente a três tipos de não-asserção: dúvida, comentário ou ordem. Assim, as orações que expressam dúvida sobre a validade de uma proposição constroem-se com verbos como duvidar e negar, como se apresenta em (53):

(53) Dudo que hayan terminado ya.

(23)

No caso das orações que expressam comentário, o falante pressupõe que a proposição é verdadeira, logo, não afirma, apenas opina sobre a proposição. É o que acontece nos contextos de verbos como alegrarse, em que se expressa um estado de felicidade (cf. (54)).

(54) Me alegro de que Maria haya podido acabar a tiempo.

(id..: 152; (28))

Por último, nas orações subordinadas de ordem, que expressam valores de vontade, persuasão ou influência, ocorrem verbos como querer, preferir, aconsejar, permitir. Em termos sintácticos, as orações que expressam ordem diferenciam-se das restantes pelo facto de o seu complemento oracional se localizar num intervalo de tempo posterior ao do momento da fala, como ilustrado em (55):

(55) Quiero que nos quedemos un rato más.

(id..: 151; (22))

Bybee & Terrell (1990) concluem que as características sintácticas das orações são uma consequência directa das propriedades semânticas das mesmas, no sentido em que “las propriedades semânticas preceden a las sintácticas.” (op. cit.: 154).

(24)

lado, nas orações completivas com os verbos ameaçar e prometer, uma vez que a proposição da oração encaixada não é tida como verídica, justificar-se-ia a presença do conjuntivo, o que não acontece.

Com o intuito de encontrar uma solução plausível para estas duas situações problemáticas, Marques (1995) apresenta uma hipótese alternativa, defendendo que o indicativo é o modo marcado porque se associa a atitudes epistémicas de conhecimento ou de crença; identificam-se, deste modo, traços semânticos comuns no tipo de atitude expressa pelo verbo da frase matriz. O conjuntivo, por seu turno, não está associado a valores específicos, assumindo-se como o modo não marcado, que ocorre nos contextos de que está excluído o indicativo.

Contrariando a perspectiva anterior e as tradicionais dicotomias sintácticas (independente/ dependente) e semânticas (real/irreal; assertivo/ não assertivo; marcado/ não marcado) que distinguem os modos indicativo e conjuntivo, Oliveira (2000) adopta uma perspectiva enunciativa, apoiando-se no Quadro da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas de Culioli. A Situação de Enunciação (Sit) – coordenadas enunciativas que localizam a referência de um enunciado – e a relação predicativa (relação binária entre o operador de predicação e os argumentos do conteúdo preposicional) são os dois conceitos fundamentais desta análise, uma vez que, da sua relação, resulta o valor modal de um enunciado. Nesta perspectiva, acrescenta-se ainda que “Enquanto marcador de valores modais, o conjuntivo está relacionado com o parâmetro subjectivo da enunciação e marca a forma como o sujeito enunciador assume a validação da relação predicativa.” (op. cit.:109).

A autora expõe três tipos de Modalidade: a Modalidade Epistémica, a Modalidade Apreciativa e a Modalidade Intersujeitos e, para cada um destes casos, especifica-se a ocorrência do indicativo e do conjuntivo.

(25)

Sit0 é entendida como a situação de enunciação de origem que localiza a construção do enunciado. Os exemplos que se seguem ilustram esta situação:

(56) Acho/ Penso/ Suspeito/ Desconfio que o Rui chumbou.

(id.: 109; (14)) (57) É possível/ É provável que o Rui tenha chumbado.

(id.: 110; (16))

Com o segundo tipo de Modalidade apresentado, a Modalidade Apreciativa, emite-se um juízo de valor ou um comentário apreciativo a uma relação predicativa validada. Neste caso, o indicativo assume um valor assertivo na mesma enunciação (cf. (58)) e o conjuntivo ocorre quando a relação predicativa é apresentada como validada ou não-validada numa situação distinta de Sit0 (cf. (59)) ou em Sit0 (cf. (60)):

(58) Ainda bem que o Rui passou.

(id.: 110; (25)) (59) Lamento que o Rui tenha chumbado.

(id.: 110; (20)) (60) Gostava muito que o Rui passasse de ano.

(id.: 110; (23))

Por último, a relação de acção e de influência do sujeito enunciador sobre o comportamento do sujeito do enunciado é expressa pela Modalidade Intersujeitos, característica do conjuntivo por se construir uma relação predicativa como validável ou não-validável em Sit0, traduzindo ordens, pedidos, desejos, permissões. Exemplificam esta modalidade as frases (61) e (62):

(61) Acho bem que arrumes o quarto.

(id.:111; (28)) (62) Não compres esse livro.

(id.: 111; (29))

(26)

“Todas as formas são marcadores de operações abstractas subjacentes.” (id.: 107), pois, com este modo, o falante, depois de encarar todos os valores possíveis, selecciona apenas um deles.

Sintetizando, em todas as gramáticas há uma nítida oposição entre os modos indicativo e conjuntivo, uma dicotomia marcadamente semântica que separa a realidade e a certeza da irrealidade e da dúvida. Outra das noções que lhes é transversal é o facto de o conjuntivo ser considerado por excelência o modo da subordinação e, consequentemente, um modo dependente e determinado. Todavia, continuam a existir casos problemáticos a que a tese certeza/ incerteza não consegue dar resposta, como a presença do conjuntivo com o verbo factivo lamentar, um verbo que, por afirmar a verdade da proposição da encaixada, deveria seleccionar indicativo, bem como a selecção do indicativo com verbos matriz como crer e prometer, que, ao assumirem a verdade da oração complemento, deveriam admitir, nesta oração, o conjuntivo. Por sua vez, a selecção modal dupla na encaixada é outra questão pouco explorada na literatura que versa sobre este assunto, sobretudo no que diz respeito aos critérios que estão na base da selecção de cada um dos modos.

A necessidade de responder a estas questões encontra-se subjacente a diferentes estudos linguísticos, em que se procede, em geral, a uma análise mais fundamentada que procura definir os critérios que estão na base da selecção modal em completivas e identificar as propriedades semânticas e/ou sintácticas destas construções e/ou dos verbos envolvidos. As principais propostas distinguem o comportamento dos dois modos através de aspectos como asserção/não asserção, marcado/ não marcado, veridicalidade, entre outros.

1.2.2.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada

(27)

De entre os gramáticos consultados que seguem a tradição greco-latina, apenas Epiphanio da Silva Dias (1917) reconheceu a importância da negação na oração matriz como elemento indutor do modo conjuntivo. O autor assume que o verbo duvidar, sob o efeito da negação, pode seleccionar o modo indicativo na completiva; por outro lado, indica que os verbos que exprimem a ideia de pensar, saber ou perceber, o verbo parecer e os verbos que expressam a ideia de provar ou declarar, sempre que sejam introduzidos por um elemento negativo, exigem na subordinada o modo conjuntivo. Como atesta o exemplo (63a), o verbo superior dizer selecciona em frases afirmativas o indicativo, mas na presença da negação frásica, como em (63b), passa a seleccionar conjuntivo:

(63) a. Quer dizer o Apostolo que não é/ era verdadeira história. b. Não quer dizer o Apostolo que não fosse verdadeira história.

(Vieira, I, 598, apud op. cit. 1917: 209)

Numa exposição mais fundamentada, Faria (1974) associa a negação a verbos de asserção mental (como é o caso dos verbos imaginar, acreditar, pensar e supor) por admitirem ambos os modos na completiva. Comparando a sua posição com a defendida por Rivero (1970) e por Raposo (1973), toma como exemplo as frases:

(64) Ela não imagina que as pastilhas elásticas fazem mal aos dentes.

(Faria 1974: 43; (1)) (65) Ela não imagina que as pastilhas elásticas façam mal aos dentes.

(op. cit.: 43; (2))

(28)

A estes casos, acrescentam-se os verbos de asserção mental muito fracos (achar, descobrir, fingir, saber, concluir) que, segundo a mesma autora, são os que evidenciam mais explicitamente o Transporte da Negativa (processo em que o elemento de negação, embora esteja na frase superior, afecta a frase encaixada, funcionando como qualificador ou quantificador), dado que também seleccionam conjuntivo ao ocorrerem sob o escopo da negação. Assim, de acordo com Faria (1974), a restrição sintáctica de origem posicional que é instanciada pela introdução da negação na oração subordinada sobrepõe-se à restrição semântica imposta pelo verbo mais alto.

No âmbito da selecção modal em orações completivas, Marques (1995) realça igualmente a importância do operador de negação na frase superior, reconhecendo que a sua presença pode alterar o modo na oração encaixada. Como o autor mostra, com verbos de conhecimento – saber, descobrir, ignorar –, não se assiste a uma variação de modo, estando o indicativo presente quer as frases sejam afirmativas, quer sofram a influência da negação, uma vez que o enunciador conhece a verdade da proposição complemento. Esta situação encontra-se abaixo exemplificada em (66), (67) e (68):

(66) Ela não sabe que ele fugiu para o estrangeiro.

(op. cit.: 125; (170a) (67) Ela não descobriu que ele fugiu para o estrangeiro.

(id.: 125; (170b) (68) Ela não ignora que ele fugiu para o estrangeiro.

(id.: 125; (170c)

O mesmo acontece com os verbos que na afirmativa seleccionam o conjuntivo, pois mantêm esta propriedade de selecção na negativa, verificando-se esta situação em (69) e (70):

(69) Ela não lamenta que o Paulo se tenha demitido.

(id.: 131; (182a)) (70) Ela não quer que o Paulo se demita.

(29)

No entanto, segundo Marques (1995), os verbos duvidar e negar constituem uma excepção e admitem na frase negativa o indicativo, na medida em que o sujeito passa a crer na verdade da oração complemento, como o comprova o exemplo (71):

(71) O Paulo não duvida/ nega que a Ana está em Paris.

(id.: 131; (183))

Marques (1995) faz, ainda, notar que os verbos de selecção modal dupla que expressam crença, como o verbo acreditar, exibem o mesmo comportamento quando há interferência do elemento de negação, ou seja, mantêm a possibilidade de ocorrência dos dois modos. Todavia, o autor coloca aqui uma ressalva – no caso de o sujeito da frase matriz coincidir com o enunciador, o tempo do verbo da oração superior determina o modo da completiva: quando aquele verbo surge no pretérito perfeito ou no pretérito imperfeito do indicativo, selecciona-se o indicativo para a completiva, correspondendo o primeiro ao intervalo de tempo em que se localiza a frase matriz e o segundo ao intervalo de tempo em que se localiza a enunciação; quando o referido verbo ocorre no presente do indicativo, admite-se apenas o conjuntivo na encaixada, por não haver um estado de crença. Para comprovar estas afirmações, recorre aos seguintes exemplos que ilustram estas duas situações:

(72) Eu não acreditei/acreditava que ele tinha/tivesse fugido para o estrangeiro.

(id.: 127; (172)) (73) Eu não acredito que ele fugisse/ ? fugiu para o estrangeiro.

(id.: 127; (171)).

Ainda de entre os verbos que exprimem uma atitude de crença, Marques (1995) considera três outros grupos: (i) verbos pensar e achar, (ii) verbos declarativos, como dizer, e (iii) verbos prospectivos, como prometer ou ameaçar. Todos eles seleccionam o indicativo em frases afirmativas e, quando precedidos pela negação, passam a admitir também o conjuntivo, acarretando uma alteração do grau de crença por eles veiculado.

(30)

(74) O inspector não acha que ele tenha fugido para o estrangeiro.

(id.: 128; (175))

Relativamente aos verbos do segundo grupo (dizer, entre outros), sublinha-se novamente a influência do factor “tempo verbal” na selecção do modo, sendo o passado o responsável pela presença do indicativo (cf. (75)) e o presente pela ocorrência do conjuntivo (cf. (76)).

(75) (Eu) não disse/ não dizia que era urgente …

(id.: 129; (178)) (76) (Eu) não digo que seja urgente…

(id.: 129; (177)

Por último, os verbos do terceiro grupo (verbos prospectivos, como prometer ou ameaçar) admitem o conjuntivo, pois, como se observa em (77), não se estabelece uma relação de compromisso entre o sujeito e a verdade da proposição complemento.

(77) Não prometo que os livros cheguem a tempo.

(id.: 130; (180)).

Marques (1995) assere, assim, que a negação frásica altera o grau de crença dos verbos epistémicos, alteração esta que, em determinados casos, é influenciada também pelos valores temporais presentes no verbo da frase matriz.

(31)

Adoptando a perspectiva assumida por Zanuttini (1994), Mendes (1996) defende que o português é uma língua com traços de negação fortes, pelo que a negação, enquanto categoria funcional, possui traços-V fortes e traços-N que estão ligados a uma projecção de Tempo na posição de Comp. Consequentemente, o traço [T] da posição de Comp é eliminado e “a referência temporal da oração subordinada fica dependente do Tempo da oração superior.” (id.: 163), fazendo com que o verbo na encaixada ocorra no conjuntivo.

Tal como Marques (1995) e Mendes (1996), Duarte (2003) destaca os verbos declarativos e os verbos epistémicos como os mais sensíveis à negação da frase superior, exemplificando com o verbo dizer, que admite o indicativo e o conjuntivo, e o verbo pensar, que selecciona apenas o conjuntivo. Os exemplos relevantes apresentados pela autora encontram-se, respectivamente, em (78) e (79):

(78) Não digo que ele saiba/sabe muito sobre fractais.

(op. cit.: 605; (36a) (79) Não penso que ele que ele ainda chegue/* chega a tempo do jantar.

(id.: 605; (36b)

Quanto aos verbos que apresentam a possibilidade de selecção modal dupla na encaixada quer em frases afirmativas quer em frases negativas, Duarte (2003) classifica a escolha do conjuntivo como opcional, sendo essa escolha legitimada pela existência de uma maior distância entre o locutor e a verdade da proposição da completiva.

Em síntese, a maioria dos gramáticos tradicionais não aflorou a questão da negação em estruturas completivas e, apesar de Epiphanio da Silva Dias (1917) a ter referenciado, limita-se a enumerar os verbos que seleccionam cada um dos modos, não descrevendo as implicações semânticas que daí advêm. Estudos elaborados no âmbito de diferentes quadros teóricos têm, no entanto, salientado os efeitos semânticos e sintácticos da negação.

(32)

determinados casos (como na presença do verbo acreditar e dos verbos declarativos, como dizer), o tempo do verbo da oração matriz influencia igualmente o modo na encaixada.

Por outro lado, numa análise puramente sintáctica, Mendes (1996) mostra como nas estruturas de complementação de verbos epistémicos e declarativos em que está presente a negação, ocorre uma estratégia sintáctica que elimina o traço de tempo da posição de Comp e conduz à presença do conjuntivo na encaixada.

Duarte (2003) aborda igualmente a influência da negação frásica superior na presença obrigatória ou opcional do conjuntivo em orações completivas, referindo que, com os verbos declarativos e epistémicos, a presença do conjuntivo reflecte um maior afastamento do enunciador relativamente à verdade da proposição da completiva.

1.2.2.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais

A questão das relações temporais em orações completivas com conjuntivo divide opiniões. Por um lado, encontramos defensores da dependência temporal da encaixada em relação ao tempo da oração matriz; por outro, alguns autores postulam que o conjuntivo possui tempo próprio.

(33)

(80) a. Eu digo/ disse que a Maria ganhou a corrida. b. Eu digo/ disse que a Maria ganha a corrida.

(op. cit.: 78; (7) e (8))

Os W-verbs, por seu turno, são verbos não-factivos (como temer e recear), volitivos (como querer e desejar) e verbos de influência e de permissão (como recomendar e exigir), que seleccionam na encaixada o modo conjuntivo. Nestes contextos, o tempo da encaixada é dependente do tempo da oração matriz, na medida em que é determinado pelas propriedades semânticas e morfológicas do verbo superior, estabelecendo-se entre os dois verbos uma relação de concordância temporal. Ao contrário do que acontecia com os verbos anteriores, Raposo (1985) mostra que os W-verbs possuem o operador [-Tempo] em Comp, daí resultando as restrições temporais impostas pelo verbo matriz ao verbo da encaixada, como se verifica em (81):

(81) a. Eu desejo que a Maria ganhe/ *ganhasse o prémio.

b. Eu desejava/desejei que a Maria ganhasse/ *ganhe a corrida.

(id.: 79; (9) e (11))

Do contraste entre (80) e (81) conclui-se que, com os E-verbs (cf. (80)), a escolha do tempo verbal na encaixada é livre, sendo possível diversas combinações, como [pas/pas], [pres/pres], [pas/pres] e [pres/pas]; com os W-verbs (cf. (81)), pelo contrário, o verbo da encaixada concorda temporalmente com o verbo da oração matriz, estabelecendo uma ligação anafórica com o operador [+Tempo] da oração superior, o que faz com que se permitam apenas combinações como [pres/pres] e [pas/pas]. Assim, Raposo (1985) defende que “(…) subcategorized complement clauses to E-predicates (…) are characterized by a [+TENSE] in their Comp position (…). Subcategorized complement clauses to W-predicates are characterized by the feature [-TENSE] in their Comp position.” (id.: 80).

(34)

oração completiva seja livre, ou seja, independente da referência temporal da oração matriz. Deste modo, é atribuído o traço [+Tempo] às orações completivas com indicativo, e o traço [-Tempo] às encaixadas com conjuntivo, o que explica o contraste entre (82) e (83):

(82) O Manel disse/diz/dirá que a Maria chegou/ chega/ chegará tarde.

(op. cit.: 73; (13)) (83) *O Manel deseja que o filho fosse o melhor aluno.

(id.: 74; (16))

Assume-se portanto que “ In clauses selected by volitional predicates (with subjunctive mood in their verb), however, tense in INFL will have to be linked to the TENSE operator of the matrix clause, since the subjunctive clause will lack its own TENSE operator.”(id.: 75).

No seguimento da mesma ideia, Ambar (1992a) atribui ao Indicativo os traços [+T] e [+forte] e ao conjuntivo [+T] e [-forte]. Como corolário, o indicativo, sendo um modo temporalmente marcado, pode reger, e o conjuntivo, ao invés deste, tem de ser regido e só dessa forma pode reger.

Para reforçar esta tese, Ambar (1992b) estabelece a distinção entre duas categorias de tempo: o tempo morfológico (Tm) e o tempo semântico (Ts). No caso dos verbos epistémicos e declarativos, que regem indicativo, Ts é atribuído ao C encaixado e identifica Tm. Daqui resulta que o valor temporal da oração encaixada seja independente do valor temporal da oração matriz, podendo ocorrer qualquer tempo verbal nesta última:

(84) Eles pensam/disseram que os soldados abandonam/abandonavam/abandonaram/ abandonarão/terão abandonado os seus postos.

(op. cit.: 35; (14))

(35)

(85), em que o tempo verbal da encaixada (presente do conjuntivo) concorda com o do verbo matriz (presente do indicativo):

(85) Eles querem que a guerra acabe/*acabasse.

(id.: 37; (19))

Assim, segundo Ambar (1992b), “La présence du trait Ts dans Comp enchâssé dépend des propriétés de sélection du verbe principal.” (id.: 33).

Na esteira desta autora, e através de um estudo igualmente sintáctico, Mendes (1996) defende a ideia de que o conjuntivo é sempre lexicalmente seleccionado e sempre sujeito a restrições de ordem temporal. Segundo Mendes (1996), ao contrário dos verbos epistémicos e declarativos, os verbos volitivos e factivos não atribuem ao núcleo Comp da oração completiva o traço [+Tempo], existindo, por isso, uma relação de dependência marcadamente morfológica entre a flexão da frase matriz e a flexão da frase encaixada. O tempo da frase matriz c-comanda, assim, o traço de tempo do conjuntivo, pelo que se verifica uma dependência temporal do primeiro relativamente ao segundo, como visível no exemplo (86):

(86) O Pedro quer que o João diga/*dissesse a verdade.

(op. cit.: 141 (93))

Deste modo, a autora defende que, enquanto nas construções com verbos epistémicos e declarativos existem dois tempos no discurso (o tempo do verbo da oração superior e o tempo independente da encaixada), nas estruturas em que estão presentes verbos volitivos ou factivos, existe um só tempo no discurso, o tempo da oração superior, pois deste depende o tempo o verbo da encaixada. Mendes (1996) conclui que “De facto, o conjuntivo por si só não é capaz de estabelecer um domínio temporal. O tempo da oração matriz é tido como responsável pela atribuição de um ponto de referência temporal ao conjuntivo.” (id.: 186).

(36)

consecutio temporum tenta conciliar aspectos semânticos e morfológicos e segue a proposta de Reinchenbach (1947), no que diz respeito à dimensão anafórica e à importância do ponto de referência. Apoiando-se nestes dois conceitos, a autora adopta também a perspectiva de Kamp & Reyle (1993), no quadro da Teoria das Representações do Discurso (DRT), e tem em consideração dois parâmetros: (i) o Ponto de Perspectiva Temporal (PPT), que estabelece a relação entre o ponto de referência e o tempo da enunciação, T0, que, segundo Peres (1993), tem em português três valores: passado, presente e futuro, e (ii) a Localização Relativa (LR) que, através dos valores de anterioridade, sobreposição e posterioridade, indica a relação entre a situação descrita e o PPT.

Após uma análise dos contextos do conjuntivo, Chitas (1998) conclui que nas completivas em que ocorre este modo “As formas verbais cuja localização temporal serve de PPT à forma verbal com que co-ocorre surgem a operar localizações em {PRES, sobr}, em {FUT, sobr} e em {PRES,ant} e {PASS,sobr} e a fornecer um PPT {PRES}, {FUT} e {PASS}. As formas verbais temporalmente dependentes localizam as situações relativamente ao PPT que lhes é fornecido.” (op. cit.: 193). Chitas (1998) partilha, deste modo, das propostas referidas anteriormente, uma vez que defende que é a frase superior que localiza temporalmente o estado de coisas expresso na completiva com conjuntivo, ao fornecer-lhe o PPT.

(37)

(87) a. O João afirmou que a Maria tinha ido/ vai/ irá a cinema. b. O João afirma que a Maria foi/ vai/ irá a cinema.

(id.: 626; (21))

Por seu turno, nas completivas com tempo dependente as “especificações temporais são dependentes das da frase superior, pelo que não formam um domínio semanticamente temporalizado” (id.: 626), daí que o tempo do verbo da oração superior condicione o tempo do verbo da encaixada. Deste modo, quando o verbo da oração matriz se encontra no pretérito perfeito do indicativo, o verbo da encaixada tem de estar localizado temporalmente no passado, não se aceitando, por isso, estruturas com o presente do conjuntivo ou com o futuro do conjuntivo (cf. (88a)); quando o verbo da oração matriz se encontra no presente do indicativo, apenas admite na completiva o verbo no presente do conjuntivo, logo, não são possíveis formas do conjuntivo no passado (cf. (88b)). A autora ilustra estas duas situações com os seguintes exemplos:

(88) a. O João quis que a Maria fosse/ *vá/ * for ao cinema. b. O João quer que a Maria *fosse/ vá/ *for ao cinema.

(id.: 626; (22))

Oliveira (2003) coloca também a tónica na questão da autonomia vs dependência do conjuntivo. A autora afirma que, por um lado, o conjuntivo pode estabelecer uma relação de anáfora temporal com o tempo da oração a que está subordinado (o tempo da oração matriz é o ponto de perspectiva temporal do conjuntivo), como acontece em (89), em que os verbos dos dois domínios oracionais (oração matriz e oração encaixada) se encontram localizados temporalmente no passado (pretérito perfeito do indicativo e imperfeito do conjuntivo, respectivamente), sendo o segundo dependente do primeiro:

(89) O Rui pediu-me que fosse falar com ele.

(op. cit.: 267; (107))

(38)

(90) O Rui pediu-me que vá falar com ele.

(id.: 267; (106))

No entanto, Oliveira (2003) sublinha que em ambos os exemplos ((89) e (90)) a oração encaixada tem sempre interpretações de futuro, alterando-se apenas o ponto de perspectiva temporal: tempo da oração matriz ou tempo da enunciação.

No que concerne à concordância temporal entre a oração superior e a encaixada, a autora alerta ainda para o facto de as construções com conjuntivo não admitirem todas as mesmas combinações temporais: os verbos declarativos de ordem, como exigir e ordenar, e os verbos volitivos, como desejar e querer, “requerem uma informação de posterioridade, não aceitando a combinação de presente na oração principal e passado na subordinada.” (op. cit.: 270; cf. (91)); ao invés destes, os verbos factivos, como lamentar, “admitem os diferentes tempos, com as óbvias diferenças de leitura” (op. cit.: 270; cf. (92)).

(91) Ele exige que os concorrentes leiam/ *lessem/ tenham lido/ *tivessem lido as instruções.

(id.: 270; (126)) (92) Ele lamenta/ lamentou que a Maria perca/ perdesse/ tenha perdido/ tivesse perdido o emprego.

(id.: 270; (125))

Estudos sobre outras línguas, como o Espanhol, vêm ao encontro da necessidade de estabelecer uma dicotomia entre tempo dependente e tempo independente, não associando sempre tempo dependente ao conjuntivo, tal como também é defendido em Duarte (2003) e Oliveira (2003), para o Português..

(39)

epistémicos ou emotivo-factivos fazem com que as orações de conjuntivo sejam interpretadas como simultâneas da matriz. A sustentar a sua posição estão contra-exemplos que evidenciam que a referência temporal do conjuntivo pode ser independente, na medida em que o verbo da frase matriz se encontra no passado e o verbo da oração encaixada no presente do conjuntivo, com interpretação de futuro. Assim, nas frases que se seguem, o verbo da oração matriz encontra-se no passado, tempo que, em (93a), é reforçado pela expressão temporal “la semana pasada”; o verbo da oração completiva encontra-se nos dois exemplos no presente do conjuntivo, sendo a noção de posterioridade também conferida pelo advérbio de tempo “manãna”, na frase (93a), e pelo nome “vacaciones”, na frase (93b), que tem igualmente a interpretação de futuro.

(93) a. Cuando le hablé la semana pasada, insistí en que se presente mañana a la una en punto.

b. Cármen les recomendó que pasen las vacaciones com ella.

(op. cit.: 238; (12))

A autora acrescenta ainda que, embora o verbo da completiva possa ocorrer, nos mesmos contextos, no imperfeito do conjuntivo, a interpretação seria necessariamente distinta da que se obtém em (93), o que decorre do ponto de referência da oração subordinada: o imperfeito do conjuntivo tem como ponto de referência o tempo do verbo da oração principal e o presente do conjuntivo tem como ponto de referência o momento da fala. A possibilidade desta última ocorrência vem pôr em causa a regra tradicional da concordantia temporum, concluindo Kempchinsky (1990) que “parece difícil mantener la opinión de que las cláusulas de subjuntivo carecen de tiempo.” (id.: 239).

(40)

constituem aqueles em que as relações temporais são muito estreitas, o que se verifica em (94) e (95), respectivamente:

(94) Quería que telefonearas/*telefonees.

(op. cit.: 190; (10a)) (95) Ignoraba que *esté/ estuviera en la lista.

(id.: 190; (11a))

Num pólo oposto, os verbos de negação (como negar) e os verbos emotivo-factivos (como lamentar) são os que menos restringem essa relação de concordância, como acontece em (96) e (97), respectivamente:

(96) Niego/ negué rotundamente que sostenga/ haya sostenido/ sostuviera/ hubiera sostenido vínculos com el Partido Nazi.

(id.: 188; (4a)) (97) Lamento que Bolívia no esté incorporada …

(id.: 188; (4c))

Finalmente, numa posição intermédia relativamente aos dois grupos anteriores, os verbos dubitativos (como dudar) permitem todas as combinações de tempos, à excepção da combinação [+pas /- pas] e os verbos de influência (como ordenar, exhortar e exigir) impõem como requisito que o domínio encaixado seja interpretado como futuro relativamente à matriz, interpretação esta que deriva dos traços lexicais destes verbos e não dos traços temporais da oração matriz. Os autores apresentam estas situações em (98) e (99), respectivamente:

(98) Dudo que reciba/ recibiera/ haya recibido/ hubiera recibido un premio por una actuación tan medíocre.

(id.: 188; (5a)) (99) El Presidente ordenó también al Departamento de la Defensa que incremente en todo el país el adiestramiento.

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