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CAPÍTULO I UM PANORAMA DA HISTÓRIA DO PARTIDO DOS

1. Os discursos fundadores do PT

1.1. Análise dos primeiros documentos do PT

Os documentos de antes e do momento da fundação do PT, e que marcaram a sua origem, revelam as matrizes discursivas que embasaram a formação do Partido, mais especificamente dos grupos revolucionários e o movimento operário. Alguns documentos são mais ou menos explícitos quanto à adesão ao socialismo, às bandeiras de esquerda. Mas, a opção pela classe proletária, pelos trabalhadores, está sempre muito clara. É enfática a concepção de um partido de e para trabalhadores. Há, por outro lado, críticas ao capitalismo, às elites, aos empresários, aos poderosos. Ou seja, é um partido que iria nascer com uma opção de classe. Um partido que iria combater as elites e pela supremacia dos trabalhadores.

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Rachel Meneguello deixa claro que sua teoria se baseia no modelo adotado por Maurice Duverger, no livro Os Partidos Políticos (Cf. DUVERGER, Maurice. Os Partidos Políticos, Rio de Janeiro/Brasília: Zahar/Ed. UNB, 1980). Especialmente nesta parte citada, Duverger estabelece uma correlação entre a esquerda e os partidos de massa.

Enfim, os documentos trazem um discurso que situa o PT a uma legenda popular, de massa, a um paradigma de esquerda, embora sem uma explicitação de uma base teórica marxista definida. São expressões que revelam significados importantes da formação do PT. “É portanto claro que a palavra será sempre o indicador mais sensível de todas as transformações sociais, mesmo daquelas que apenas despontam, que ainda não tomaram forma, que ainda não abriram caminho para sistemas ideológicos estruturados e bem formados.”(BAKHTIN, 2004, p. 41, grifo do autor)

No entanto, numa análise atenta da materialidade discursiva, pode-se detectar evidências de um discurso que bebe na fonte, sim, das teorias marxistas. Expressões dos documentos de fundação do PT remetem ao discurso do Manifesto do Partido Comunista, assinado por Karl Marx e Friedrich Engels, em 1848, como “proletariado”, “elites”, “dominação”, “classe operária”, entre outras. Talvez, por esse texto dos autores alemães não adotarem um rigor científico, mas trazerem um tom até certo ponto panfletário – até por ser um manifesto – vê-se que foi um discurso que permeou o discurso dos militantes que trabalhavam para a fundação de um partido de trabalhadores.

Para acompanhar os discursos fundadores do PT, materializados nos documentos, foram selecionados trechos que revelam pontos importantes da formação da legenda. O primeiro deles é a Tese de Santo André-Lins, aprovada em 24 de janeiro de 1979, durante o IX Congresso dos Trabalhadores Metalúrgicos, Mecânicos e de Material Elétrico do Estado de São Paulo, realizado na cidade de Lins. O documento tem pouco mais de uma página, trazendo um tom forte de denúncia contra a situação dos operários. Já fala de um nome para a futura legenda: o Partido dos Trabalhadores, que congregue o “proletariado”20.

Enquanto vivermos sob o capitalismo, este sistema terá como fim último o lucro, e para atingi-lo utiliza todos os meios: da exploração desumana de homens, mulheres e crianças até a implantação de ditaduras sangrentas para manter a exploração.[...] A história nos mostra que o melhor instrumento com o qual o trabalhador pode travar esta luta é o seu partido político. Por isso, os trabalhadores têm que organizar os seus partidos que, englobando todo o proletariado, lutem por efetiva libertação da exploração.[...] O MDB, hoje o único partido legal da oposição no Brasil, pela sua composição heterogênea, não pode cumprir este papel. Combinam-se, portanto, a necessidade da construção de independência política dos trabalhadores com a necessidade de um instrumento de luta pela conquista do poder político. E

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Esclarece-se Marx e Engels entendem “por proletariado, a classe dos trabalhadores assalariados modernos, que, não tendo meios de produção próprios, são obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviver.” (MARX & ENGELS, 2004, p. 45, em Nota de Engels à edição inglesa de 1888.) E “por burguesia entende-se a classe dos capitalistas modernos, que são proprietários dos meios de produção social e empregam trabalho assalariado.” (MARX & ENGELS, 2004, p. 45, em Nota de Engels à edição inglesa de 1888.)

é levando estas discussões para as bases que devemos nos lançar no trabalho da construção desse partido. (Tese de Santo André-Lins, 1979, grifo nosso)

No trecho acima, o “lucro” tem um significado que pode ser traduzido no Manifesto do Partido Comunista, no trecho que diz: “Na mesma proporção em que se desenvolve a burguesia, [...]o capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que vivem apenas na medida em que encontram trabalho e que só encontram trabalho na medida em que o seu trabalho aumente o capital.”(MARX & ENGELS, 2004, p.51). E continua: “Mas toda luta de classes é uma luta política.”(MARX & ENGELS, 2004, p.54). Ou seja, como diz a Tese de Santo André-Lins, os trabalhadores têm que organizar os seus partidos que, englobando todo o proletariado, lutem por efetiva libertação da exploração.

A Tese segue com algumas propostas dos militantes, a fim de que os trabalhadores possam mudar “as regras do jogo”. E revela uma forte vinculação do novo partido ao movimento sindical, como ponto de partida para as suas propostas de atuação. Também comunga da busca da democracia, como uma das prerrogativas do futuro partido, tal qual o Manifesto do Partido Comunista, quando escreve que “[...] o primeiro passo na revolução operária é a elevação do proletariado à classe dominante, a conquista da democracia.[...]” (MARX & ENGELS, 2004, p. 66). E ainda:

1)total desvinculação dos órgãos sindicais do aparelho estatal, ponto fundamental para o desenvolvimento da vida sindical; 2)democratização dos sindicatos; que os órgãos sindicais se pautem, em seu funcionamento, pela democracia operária que a todos assegura o direito de, em igualdade, participar das lutas e das decisões; 3)que se lance um manifesto, por este congresso, chamando todos os trabalhadores brasileiros a se unificarem na construção do seu partido, o Partido dos Trabalhadores; 4)que este partido seja de todos os trabalhadores da cidade e do campo, sem patrões.[...]. (Tese de Santo André-Lins, 1979, grifo nosso)

Uma outra amostra dessa vinculação às teses marxistas é a Carta de Princípios, lançada durante as comemorações do dia 1º de maio de 1979. O documento foi elaborado por um comitê, intitulado Comissão Nacional Provisória, responsável por formular a proposta de um partido de trabalhadores. Apenas quase um ano depois o PT seria fundado oficialmente. Eis alguns trechos da Carta de Princípios, um dos documentos mais longos dessa fase pré- fundação do PT, com quase seis páginas:

A idéia da formação de um partido só de trabalhadores é tão antiga quanto a própria classe trabalhadora. Numa sociedade como a nossa, baseada na exploração e na desigualdade entre as classes, os explorados e oprimidos

têm permanente necessidade de se manterem organizados à parte, para que lhes seja possível oferecer resistência séria à desenfreada sede de opressão e de privilégios das classes dominantes.[...] Começando a sacudir o pesado jugo a que sempre estiveram submetidos, os trabalhadores de nosso país deram início, em 12 de maio do ano passado (greve da Scania), à sua luta emancipadora. Desde então, o operariado e os setores proletarizados de nossa população vêm desenvolvendo uma verdadeira avalanche pela melhoria de suas condições de vida e de trabalho. A experiência dessas lutas tem como resultado um visível amadurecimento político da população trabalhadora e o crescimento, em quantidade e qualidade, de suas lideranças.[...]. (Carta de Princípios, 1979)(grifo nosso)

Esse primeiro trecho do documento mostra uma postura considerada radical, pela sua posição forte de contraponto entre dominantes e dominados, sem contar que coloca a necessidade de um partido “só de trabalhadores”, excluindo outros setores que poderiam se agregar. Comunga também da idéia colocada no Manifesto do Partido Comunista, que ressalta que “[...] a história de toda sociedade até nossos dias movimentou-se através de antagonismos de classe, que assumiram formas diferentes nas diferentes épocas.” (MARX & ENGELS, 2004, p. 66) E, ainda, “[...]qualquer que tenha sido a forma assumida por esses antagonismos, a exploração de uma parte da sociedade por outra é um fato comum a todos os séculos passados.” (MARX & ENGELS, 2004, p.66). Ou seja, como diz a Carta de Princípios, “a idéia da formação de um partido só de trabalhadores é tão antiga quanto a própria classe trabalhadora”, porque, deixa claro, a exploração sempre existiu.

Aponta ainda para a intenção de colocar a fundação do PT como uma continuidade da organização e luta dos trabalhadores, que começaram pelas fábricas. Os termos “operariado”, “explorados”, “oprimidos”, “desigualdade entre as classes”, “proletarizados”, apontam para um caminho marxista, dando um tom de partido de esquerda, socialista. Afinal, o Manifesto do Partido Comunista, assinado por Karl Marx e Friedrich Engels, em 1848, diz, textualmente, que “O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários: constituição do proletariado em classe, derrubada da dominação da burguesia, conquista do poder político do proletariado.”(MARX & ENGELS, 2004, p. 59). Esse tema é reforçado em outra parte da Carta de Princípios, que coloca os trabalhadores como os maiores soberanos do futuro partido:

[...]Agora, chegou a vez do trabalhador formular e construir ele próprio seu país e seu futuro. Nós, dirigentes sindicais, não pretendemos ser donos do PT, mesmo porque acreditamos sinceramente existir, entre os trabalhadores, militantes de base mais capacitados e devotados, a quem caberá a tarefa de construir e liderar nosso partido. Estamos apenas procurando usar nossa autoridade moral e política para tentar abrir um caminho próprio para o

conjunto dos trabalhadores. Temos a consciência de que, nesse papel, neste momento, somos insubstituíveis, e somente em vista disso é que nós reivindicamos o papel de lançadores do PT.[...]. (Carta de Princípios, 1979, grifo nosso)

Vê-se, no discurso acima, um empoderamento dos trabalhadores que condiz também com o momento de tentativa de superação da repressão imposta pela Ditadura Militar. Um momento de supremacia pelas greves, de sair da situação de relativa submissão em relação aos governos e empresários (patrões). Isso fica explícito quando assumem que têm uma “autoridade moral e política”. Também dividem com as bases de trabalhadores a responsabilidade de construção do novo partido, reafirmando a origem de partido de base.

[...]O PT não pretende criar um organismo político qualquer. O Partido dos Trabalhadores define-se, programaticamente, como um partido que tem como objetivo acabar com a relação de exploração do homem pelo homem. O PT define-se também como um partido das massas populares, unindo-se ao lado dos operários, vanguarda de toda a população explorada, todos os outros trabalhadores – bancários, professores, funcionários públicos, comerciários, bóia-frias(sic), profissionais liberais, estudantes, etc. – que lutam por melhores condições de vida, por efetivas liberdades democráticas e por participação política. O PT afirma seu compromisso com a democracia plena, exercida diretamente pelas massas, pois não há socialismo sem democracia e nem democracia sem socialismo.[...] Respeitará o direito à fração e às tendências, ressalvando apenas que as inscrições serão individuais. (Carta de Princípios, 1979, grifo nosso)

Acabar com a exploração do homem pelo homem recai novamente nas teorias marxistas. O discurso acima também assegura que o PT será um partido das massas populares e coloca, mais uma vez, os operários como vanguardistas da “população explorada”, o que não deixa de ser verdade, pela importância dos metalúrgicos do ABC Paulista como precursores das ondas de paralisações e greves gerais. Ser um partido “de massa e popular” deriva mais para as matrizes discursivas vindas dos movimentos sociais e da Igreja Católica. O documento inclui as demais categorias profissionais como bem-vindas ao novo partido - o que não é uma proposição explícita do Manifesto do Partido Comunista, que elabora uma crítica às “camadas médias”21:

As camadas médias, o pequeno industrial, o pequeno comerciante, o artesão, o camponês, combatem a burguesia para salvar da ruína a sua própria existência como camadas médias. Não são portanto revolucionárias, mas conservadoras. Mais ainda, são reacionárias, pois procuram fazer retroceder a roda da história. Quando se tornam revolucionárias, é em

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Guarde-se, aqui, as particularidades do que Marx de Engels consideram “camadas médias”, no século XIX, e o que eram camadas médias para o século XX, no Brasil.

conseqüência de sua iminente passagem para o proletariado; defendem então seus interesses futuros, não seus interesses presentes, abandonando seu próprio ponto de vista pelo do proletariado. (MARX & ENGELS, 2004, p. 55).

O final, quando diz “O PT manifesta[...]sua intensa solidariedade com todas as massas oprimidas do mundo”, reporta-se a uma certa assinatura de Marx nos documentos mais

panfletários que produziu - até no próprio Manifesto do Partido Comunista -, quando encerra

seus escritos com a frase “Proletários de todos os países, uni-vos!22” (MARX & ENGELS, 2004, p. 105). Ou seja, os trabalhadores devem ter a perspectiva de união planetária.

O PT declara-se comprometido e empenhado com a tarefa de colocar os interesses populares na cena política e de superar a atomização e dispersão das correntes classistas e dos movimentos sociais. Para esse fim, o Partido dos Trabalhadores pretende implantar seus núcleos de militantes em todos os locais de trabalho, em sindicatos, bairros, municípios e regiões. O PT manifesta alto e bom som sua intensa solidariedade com todas as massas oprimidas do mundo. (Carta de Princípios, 1979)

E um dos mais significativos e simbólicos documentos do PT, na fase de sua criação, é o Manifesto do Partido dos Trabalhadores, lançado em 22 de março de 1980, dia da fundação oficial do partido e publicado no Diário Oficial da União de 21 de outubro de 1980. O documento diz que:

O Partido dos Trabalhadores surge da necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do País para transformá-la. A mais importante lição que o trabalhador brasileiro aprendeu em suas lutas é de que a democracia é uma conquista que, finalmente, ou se constrói pelas suas mãos ou não virá. “A grande maioria de nossa população trabalhadora, das cidades e dos campos, tem sido sempre relegada à condição de brasileiros de segunda classe. Agora, as vozes do povo começaram a se fazer ouvir através de suas lutas. As grandes maiorias que constroem a riqueza da Nação querem falar por si próprias. Não esperem mais que a conquista de seus interesses econômicos sociais e políticos venha das elites dominantes. Organizam-se elas mesmas, para que a situação social e política seja a ferramenta da construção de uma sociedade que responda aos interesses dos trabalhadores e dos demais setores explorados pelo capitalismo. (Manifesto do Partido dos Trabalhadores, 1980, grifo nosso) Como se vê acima, mais do que uma menção a uma opção pelos trabalhadores e contra as elites, há uma demarcação de campo como partido de massa, que “surge da necessidade

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A frase também encerra outros documentos, como o Manifesto de Lançamento da Associação Internacional dos Trabalhadores, de 1864, escrito por Karl Marx.

sentida por milhões de brasileiros”. Numa referência ao movimento sindical, o Manifesto do Partido dos Trabalhadores revela que o “trabalhador brasileiro” aprendeu com as lutas e com as próprias mãos que a “democracia é uma conquista”. Mostra que os trabalhadores não querem mais ser de “segunda classe”, querem ter voz e vez. Isso é dito, de forma semelhante, ao Manifesto do Partido Comunista: “[...]O proletariado, estrato inferior da atual sociedade, não pode erguer-se, pôr-se de pé, sem que salte pelos ares toda a superestrutura dos estratos que constituem a sociedade oficial.” (MARX & ENGELS, 2004, p. 56) (grifo nosso). Quando diz que as elites dominantes “organizam-se elas mesmas, para que a situação social e política seja a ferramenta da construção de uma sociedade que responda aos interesses dos trabalhadores e dos demais setores explorados pelo capitalismo”(Manifesto do Partido dos Trabalhadores), subliminarmente toca na teoria marxista, que preconiza: “[...]Para que uma classe possa ser oprimida, é preciso que lhe sejam asseguradas condições nas quais possa ao menos dar continuidade à sua existência servil.[...]” (MARX & ENGELS, 2004, p.56)

Depois desse texto de abertura, o Manifesto contém três subtítulos: “Nascendo das lutas sociais”, “Por um partido de massas” e “Pela participação política dos trabalhadores”. No subtítulo “Nascendo das lutas sociais”, o texto reafirma a concepção de partido prioritariamente de trabalhadores, mas ampliando para setores considerados socialmente explorados, como mulheres, negros, índios, funcionários públicos, entre outros. Certamente, essa abertura para setores tradicionalmente não chamados de proletarizados cede às “matrizes discursivas” dos demais grupos que compuseram a formação inicial do Partido dos Trabalhadores: sobretudo a Igreja Católica e os movimentos sociais. Afinal, agora fala-se em nome de uma partido que está sendo fundado, não é mais um projeto de partido. Nesse sentido, revela características de partido popular:

Após prolongada e dura resistência democrática, a grande novidade conhecida pela sociedade brasileira é a mobilização dos trabalhadores para lutar por melhores condições de vida para a população das cidades e dos campos. O avanço das lutas populares permitiu que os operários industriais, assalariados do comércio e dos serviços, funcionários públicos, moradores da periferia, trabalhadores autônomos, camponeses, trabalhadores rurais, mulheres, negros, estudantes, índios e outros setores explorados pudessem se organizar para defender seus interesses, para exigir melhores salários, melhores condições de trabalho, para reclamar o atendimento dos serviços nos bairros e para comprovar a união de que são capazes. (Manifesto do Partido dos Trabalhadores, 1980, grifo nosso)

O tema trabalhista volta à tona no trecho seguinte do Manifesto do Partido dos Trabalhadores. Prega a sua autonomia, escreve sobre o enfrentamento à repressão, o direito de

greve, arrocho salarial: “Estas lutas levaram ao enfrentamento dos mecanismos de repressão impostos aos trabalhadores, em particular o arrocho salarial e a proibição do direito de greve.(...)”(Manifesto do Partido dos Trabalhadores). Ou quando se refere ao sistema político e econômico, contrapondo os explorados e os privilegiados. “(...) O PT nasce da decisão dos explorados de lutar contra um sistema econômico e político que não pode resolver os seus problemas, pois só existe para beneficiar uma minoria de privilegiados.”(Manifesto do Partido dos Trabalhadores, 1980) (grifo nosso)

No item, “Por um partido de massas”, o Manifesto explicita a importância da independência política, da não existência de partidos vinculados à ordem econômica, social e política, e, subliminarmente, que o PT vai suprir essa demanda. Fala também na “emancipação das massas populares” e em coletividade, fruto da experiência da organização dos trabalhadores. Diz que o PT não será um partido eleitoreiro. Enfim, traz um discurso esquerdista de contrapor explorados (pelo sistema capitalista) e exploradores (os capitalistas ou burgueses):

O Partido dos Trabalhadores nasce da vontade de independência política dos trabalhadores, já cansados de servir de massa de manobra para os políticos e os partidos comprometidos com a manutenção da atual ordem econômica, social e política. Nasce, portanto, da vontade de emancipação das massas populares. Os trabalhadores já sabem que a liberdade nunca foi nem será dada de presente, mas será obra de seu próprio esforço coletivo. Por isso protestam quando, uma vez mais na História brasileira, vêem os partidos sendo formados de cima para baixo, do Estado para a sociedade, dos exploradores para os explorados.[...]O PT pretende ser uma real expressão política de todos os explorados pelo sistema capitalista. Somos um Partido dos Trabalhadores, não um Partido para iludir os trabalhadores. [...]O PT quer atuar não apenas nos momentos das eleições, mas, principalmente, no dia-a-dia de todos os trabalhadores, pois só assim será possível construir uma nova forma de democracia, cujas raízes estejam nas organizações de base da sociedade e cujas decisões sejam tomadas pelas maiorias. (Manifesto do Partido dos Trabalhadores, 1980, grifo nosso) Na parte “Pela participação política dos trabalhadores”, o Manifesto do Partido dos Trabalhadores reforça que o PT se colocaria contra o regime militar, ditatorial, e com compromisso com as liberdades civis e a democracia plena, exercida pelas “massas”. E a ação de parlamentares do PT será com o objetivo de organizar as massas. Sem contar que fala no compromisso com as “liberdades civis, pelas franquias que garantem, efetivamente, os direitos dos cidadãos”. Nisso, há claramente a intenção de se colocar como partido que pretende ocupar espaços institucionais de poder e, para tanto, é mais sensato utilizar um discurso para todos os “cidadãos”. E, numa manifestação visionária e ousada, o texto diz que

o PT “pretende chegar ao governo e à direção do Estado para realizar uma política democrática, do ponto de vista dos trabalhadores, tanto no plano econômico quanto no plano social.” Vinte e dois anos depois, Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro presidente nacional do