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CAPÍTULO II – HISTÓRIA E TRAJETÓRIA POLÍTICA DE JOÃO PAULO

1. Os discursos de João Paulo

1.1. João Paulo, por ele mesmo

Bem antes de João Paulo chegar a ser o primeiro prefeito operário da história do Recife, em 2000, com 382 mil 988 votos, e de ser o primeiro prefeito reeleito do Recife, em

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2004, com 56,11% dos votos válidos, vitorioso em todas as zonas eleitorais da cidade e em primeiro turno, ele trilhou caminhos que revelam muito da trajetória do seu discurso. Um dos líderes da Oposição Metalúrgica (desde 1974) e da retomada do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco (1981), do qual foi secretário geral (1981) e presidente (1984), um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores no Estado (1981), membro-fundador nacional da Central Única dos Trabalhadores (1983) e o primeiro presidente da CUT no Estado (1984), sendo reeleito para o segundo mandato, João Paulo inscreveu seu nome na organização dos trabalhadores pela redemocratização do País.

Paralelamente, em 1986 o atual prefeito do Recife começava a traçar um percurso na vida parlamentar. Foi nesse ano que João Paulo se candidatou pela primeira vez a um cargo eletivo, disputando uma vaga para deputado estadual pelo PT, sem obter êxito. Já em 1988, ele foi o primeiro vereador eleito pelo Partido dos Trabalhadores no Recife, com 2.723 votos. Com apenas dois anos de mandato na Câmara Municipal do Recife, candidatou-se a deputado estadual, saindo vitorioso do pleito, com 11 mil votos e o mérito de ter sido o primeiro deputado estadual do PT em Pernambuco. Em 1992, João Paulo se candidata a prefeito de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, mas não ganha. É reeleito deputado estadual em 1994 com outra conquista: é o mais votado da história de Pernambuco, com cerca de cinqüenta mil votos. No ano de 1996, foi candidato a prefeito do Recife, ficando em terceiro lugar na disputa. Dois anos depois, concorre ao terceiro mandato de deputado estadual e mais uma vez é o candidato mais votado, ultrapassando sua marca anterior de cinqüenta mil votos.

Mas, quem era João Paulo Lima e Silva? O que o motivou a entrar na vida pública? Que princípios, ideologias e filosofias de vida nortearam os caminhos daquele menino pobre, nascido em Olinda, cidade da Região Metropolitana do Recife? Hoje, aos 53 anos, o filho do cobrador de ônibus Manoel Messias Lima e Silva e da dona-de-casa Maria de Lourdes Lima e Silva, já falecidos, sabe bem discernir de onde veio o impulso para abraçar caminhos tão inquietantes e pouco previsíveis. “Se existe relação tão estreita entre ação e discurso é que o ato primordial e especificamente humano deve, ao mesmo tempo, conter resposta à pergunta que se faz a todo recém-chegado: ‘Quem és?’”(ARENDT, 2005, p. 191). Eis o que diz João Paulo:

Na verdade eu nunca pensei em ser político. Eu acho que foram duas forças que atuaram sempre dentro de mim. A primeira um espírito de solidariedade muito grande e de inconformidade com os sofrimentos de meu pai e de minha mãe, principalmente com o desemprego. Minha mãe sofria muito com o desemprego de papai. Era épocas que ele tava trabalhando, épocas

que ele passava desempregado. E na época que ele passava desempregado, então desestruturava muito a família. Então muitas vezes nós tivemos até que morar na casa de uma tia, de um tio, por falta de condição até de pagar um próprio aluguel.”(JOÃO PAULO)(informação verbal)60

A outra “força” que, de acordo com João Paulo, o movia quando criança era a busca de um ele entre o humano e o divino, surgida da influência religiosa da família de sua mãe. “Minha madrinha era Carmelita. Meu nome surgiu até de um entendimento político. Porque meu pai queria colocar meu nome de Paulo e minha madrinha de João ai ficou João Paulo por conta disso”(JOÃO PAULO). O pai dele era católico e sempre levava os filhos à missa no domingo. “Papai era mais católico de final de semana, mas minha madrinha e a família de minha mãe era muito religiosa. Então eu já aspirava o sonho de ser padre”(JOÃO PAULO). Mas uma coisa inconformava João Paulo: “Como os padres, os apóstolos faziam milagres e eu não fazia?”(JOÃO PAULO). “Então eu queria buscar esse elo também entre o homem e o divino, né? Então esse sofrimento teve um rebatimento muito grande dentro de mim. Eu caminhava sempre nessas duas linhas, em busca desse elo.”(JOÃO PAULO)

Outros sofrimentos na infância podem ter pesado na balança por essa busca de explicações sobre as questões divinas e humanas, como por exemplo, a morte de um dos seus quatro irmãos, atropelado por um caminhão, na sua frente.

Éramos cinco... Quando eu tinha 7 anos, meu irmão que tinha 6 morreu atropelado, em Prazeres... Nessa noite eu lembro, é lógico que isso ficou uma marca muito grande na minha vida, foi quando numa noite saíram os três irmãos mais velhos, que mamãe veio vigiar papai ali em Prazeres... Terminou papai nos vendo e nos chamou para o bar que ele tomava conta, que ele tomava conta de uma padaria e de um bar, e quando meu irmão atravessou para dar a Pepsi-Cola à minha mãe, ele foi atropelado por um caminhão e morreu. Eu só vi quando o povo começou a correr para fazer o socorro e eu vim dentro do Jipe que veio trazê-lo até a Restauração. E depois no necrotério. Então essa coisa marcou muito minha vida.(JOÃO PAULO)

A procura por explicações existenciais fez de João Paulo, ainda na adolescência, um desbravador de seitas e doutrinas religiosas ou espiritualistas. Ele revela que passou por algumas escolas iniciáticas do conhecimento. “Passei pela Escola de Iniciação dos Magos61,

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Depoimentos de João Paulo foram coletados, em entrevistas exclusivas, em Recife, nos dias 07/01/2007 e 12/02/2007.

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No site de busca Google, não foi encontrada nenhuma citação sobre Escola de Iniciação dos Magos, em acesso no dia 22 de janeiro de 2007, às 12h30. João Paulo diz que esse grupo funciona do Recife, de forma mais “preservada”, “fechada”. “Muitos vêm da Sociedade Teosófica. Eu não participo mais, mas tenho contato com as pessoas. É um grupo de estudos que discute a questão da fraternidade e os conhecimentos ilimitados, a partir da própria natureza.”(JOÃO PAULO).

Sociedade Teosófica62 e Ordem Rosa-Cruz63 e me encontrei na Meditação Transcendental64, no início da década de 70.”(JOÃO PAULO). O petista conta que a partir daí deixou de lado o sonho de ser padre. “Como padre não podia casar e eu queria ter filhos e tal, então eu achava que não tinha nada a ver comigo e também para minha mãe... Ela não suportaria eu ser protestante, ela tinha uma rixa que caracterizou um tempo a disputa entre protestantes e católicos.”(JOÃO PAULO). Longe do sonho de ser padre, João Paulo casou com Luzia Jeanne, com quem tem três filhos: João Paulo Filho, Hélder e Pedro.

Mas João Paulo nunca iria se desvincular totalmente da Igreja Católica, pelo menos naquela época. Fez primeira comunhão, foi crismado, era da Legião de Maria e sempre participava de grupos de jovens. Essa “militância” religiosa foi vivenciada nas Igrejas do bairro do Cordeiro e, depois, do Ibura, até hoje considerado um bairro pobre. E foi no Ibura, com cerca de 17, 18 anos que ele começou a fazer uma ponte entre religião e política. “Me identifiquei mais politicamente entrando na JOC, Juventude Operária Católica, que era uma organização nacional... a sede funcionava em São Paulo”(JOÃO PAULO). A JOC era um movimento de jovens, que, apesar do nome, não eram operários. Ele ficou na JOC até o início dos anos 70. João Paulo conta que mesmo antes da JOC já tinha uma preocupação com a pobreza e o analfabetismo na vila onde morava, a UR665, perto do Ibura. “Teve uma família que morava lá na UR5, perto da UR6, que eu me sensibilizei muito, porque eram todos analfabetos, então eu fiz um trabalho de alfabetização na família, sem estar ligado à Igreja, movimento nenhum[...].”(JOÃO PAULO)

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Na enciclopédia virtual Wikipédia, acessada no dia 22 de janeiro de 2007, às 12h40, “a Sociedade Teosófica foi fundada para promover os ensinamentos antigos de teosofia, ou sabedoria relacionada ao divino que era a base de outros movimentos do passado, como o neoplatonismo, o gnosticismo e as Escolas de Mistérios do mundo clássico.” “Ela surgiu a partir de uma primeira reunião em 7 de setembro de 1875, na cidade de Nova Iorque[..]”.

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Segundo a Wikipédia, acessada no dia 22 de janeiro de 2007, às 12h44, “A Ordem Rosa-Cruz é uma ordem que foi pela primeira vez conhecida no século XVII [...] como parte, ou inclusive a fonte, da corrente de pensamento hermético-cristã(...)”. Já no site do Centro Apologético Cristão de Pesquisas (CACP), Rosa-Cruz estuda “origem remota, rituais ocultos, superdesenvolvimento mental.[...]No século 18, deu-se o título de Rosa- Cruz a todas as entidades que afirmam ter relações secretas com o mundo invisível. Da mesma forma como a maçonaria, nega sua condição de entidade religiosa[...]. ”

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João Paulo contou na entrevista que pratica Meditação Transcendental a partir da tese de Maharishi Mahesh Yogi. Essa tese “parte da premissa de que o homem e a imagem e semelhança de Deus ou o homem e o próprio universo e como nos somos uma partícula desse universo nos temos todo esse conhecimento estruturado dentro de nos e esse conhecimento ta em toda nossa ideologia, mas ele ta estruturado na parte mais profunda da mente. A meditação transcendental e uma técnica simples para você ter um contato com essas áreas mais refinadas da inteligência todo dia, e a partir daí você agir de forma espontânea com as leis da natureza com essa consciência cósmica que ta dentro de você e que governa o universo”.

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UR6 é uma vila popular construída pela antiga Companhia de Habitação de Pernambuco (Cohab). Os nomes das vilas chamaram-se Unidades Residenciais, abreviadas para URs. A UR 6 fica no município de Jaboatão dos Gurararapes, já na divisa com o Recife, muito perto do bairro do Ibura. Foi na UR6 que João Paulo morou ainda na adolescência até o segundo mandato de deputado estadual.

Depois eu descobri na JOC, o período da Ditadura Militar, foi quando eu comecei a descobrir a consciência de classe. Era um período também que eu lia muito, eu sempre li muito, agora estou lendo menos por conta dessa vida de louco de prefeito, mas eu sempre li muito, então li muito Hesse66, li muito livro de Psicologia, li Piaget67, eu li assim avulso, lia muitos livros de conhecimentos secretos, foi quando eu li Zanoni68, Adonai69, etc... Então eu tinha uma sede muito grande para encontrar esse elo entre o homem e o divino. Aí depois, quando eu entrei na JOC, eu comecei a assimilar uma consciência política, de que o sofrimento do homem não era porque Deus queria, existia uma realidade política e social que levava ao sofrimento do homem. Então foi quando eu descobri que através da política eu podia reduzir o sofrimento das pessoas. Aí, então, desde esse dia que eu descobri isso, eu fiz uma opção política de me dedicar a essa causa.(JOÃO PAULO) E a partir daí, esse grupo da Juventude Operária Católica começou a realizar reuniões com cerca de 150 a 200 jovens das comunidades, para conversar e refletir sobre seus problemas, “sobre namoro, casamento, desemprego, independência, fazendo uma reflexão sobre 7 de Setembro, se nós éramos independentes ou não. Isso articulado com a JOC e com a Ação Católica Operária, que era um movimento de adultos”(JOÃO PAULO). Os relatos de João Paulo dão conta de que a Polícia Federal ficava de olho nos encontros. “O padre fechou a Igreja para nós, nós arrombamos a Igreja pra fazer a reunião, era a Igreja que quando estava começando a Vila era ainda de madeira, mas nós arrombamos o cadeado e entramos.”(JOÃO PAULO)

Nessa época, João Paulo estava fazendo curso técnico de Edificações na Escola Técnica Estadual Professor Agamenon Magalhães (Etepam). Também estava concluindo os testes para estagiar na Telpe, antiga empresa de Telecomunicações de Pernambuco, como técnico de edificações. Seu objetivo era fazer o curso de Arquitetura, futuramente. Mas ele optou por mudar o seu caminho, que já parecia traçado: aproveitou que havia feito o ginásio industrial em Mecânica e decidiu estagiar numa fábrica para “organizar os trabalhadores lá”, a serviço da Juventude Operária Católica. Então, por volta de 1974, entrou na Socic Industrial, uma metalúrgica na área de refrigeração, que ficava na Rua Lourenço de Sá, 140, bairro de Afogados, como estagiário de serralheiro. E foi nesta fábrica que João Paulo viria a organizar a primeira greve da sua história, junto com outros metalúrgicos, como Marcos Pereira, que anos mais tarde passou a ser o primeiro presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de

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Hermann Hesse é um cronista, poeta, ensaísta e obras da literatura alemã. Nasceu em 1887, na Alemanha. É um pacifista e lutou contra “a loucura sangrenta da guerra”. Encontrado em www.rubedo.psc.br, no dia 27 de janeiro de 2007, às 21h17.

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Jean Piaget foi um suíço que estudou biologia, zoologia, filosofia, psicologia e epistemologia. Mas deu grande contribuição à área da Psicologia.

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Zanoni é um romance ocultista de E. Bulwer Lytton, um novelista inglês (1803-1873). 69

Adonai é o “significado hebraico para ‘Senhor’, ou melhor ‘Soberano Senhor’(...). É um título utilizado par a Deus no Velho Testamento.”. Encontrado na www.wikipédia.org.br, no dia 27 de janeiro de 2007, às 21h21.

Pernambuco, depois da retomada do Sindicato pela Oposição Sindical. Isso numa época em que o Movimento de Oposição Metalúrgica não estava ainda organizado. Aliás, foi como um pontapé inicial para o movimento.

Quando eu entrei lá, a fábrica tinha em torno de trezentos trabalhadores... Então comecei a observar que os trabalhadores se tratavam muito mal entre eles. Era ‘cara de cavalo’, era ‘dente de cão’, ‘ferrugem’.. E meu primeiro trabalho, logo quando eu entrei, eu seguia aquelas pessoas que tinham principalmente os apelidos mais fortes, aí quando ele batia o ponto eu via o nome dele. Aí comecei a chamar ele pelo nome. Então isso foi uma verdadeira revolução na fábrica. Eles se sentiam valorizados. Depois nós começamos a fazer as nossas primeiras reuniões dentro da fábrica. (JOÃO PAULO)

João Paulo explica que no curso ginasial de mecânica industrial havia aprendido sobre o funcionamento das diversas áreas de uma fábrica, o que facilitou a articulação com os operários. Criaram uma ‘caixinha de ajuda mútua’ para os momentos de necessidade financeira. “Dávamos... acho que era dez cruzeiros por semana, para quando um tinha um problema ele retirava o dinheiro dele mesmo. E caso fosse uma precisão maior era analisado pela comissão se ele precisava do dinheiro dos outros.”(JOÃO PAULO). No primeiro domingo de cada mês, os trabalhadores da Socic se reuniam para uma espécie de capacitação, na qual se discutiam “sobre a realidade da fábrica, sobre a política, sobre as estratégias, etc, junto com outros companheiros, como Jorge César e Henrique Cossart, que tiveram um papel muito grande nessa luta toda, embora não fossem da Socic.”(JOÃO PAULO). Logo em seguida, fizeram uma paralisação de um dia, em protesto contra as condições de trabalho e o arrocho salarial. A participação do Sindicato dos Metalúrgicos no episódio decepcionou os líderes do movimento paredista. As reuniões se intensificaram e foram a célula do que seria o futuro Movimento de Oposição Metalúrgica em Pernambuco, com a participação de trabalhadores de outras fábricas.

Nessa época, os sindicatos estavam sob o controle do governo militar, a exemplo do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco. “Nenhum sindicato operário escapou da intervenção(...).”(Josué de Castro, p. 36). O interventor do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco foi Pedro Newton Carneiro da Cunha Melo, que ficou à frente da entidade até 1965. A primeira diretoria, depois do interventor, foi empossada ainda em 1965, tendo José Calixto na presidência. Entre os anos de 1964 e 1965, o governo colocou interventores em 383 sindicatos, 45 federações e quatro confederações do Brasil. E, entre 1966 e 1970, outros cem sindicatos sofreram intervenção. (Josué de Castro, p. 36). Os operários da Socic despertaram, então, para a importância de se organizar um movimento de oposição ao

Sindicato dos Metalúrgicos. Depois da Socic, João Paulo ainda trabalhou de frezador, durante três meses na Imeca Hidromecânica, que ficava no bairro da Imbiribeira, no Recife.

Em 1978, João Paulo foi convidado pelo pedagogo e escritor Paulo Freire para estudar durante seis meses na Europa, por meio de uma bolsa do Centro de Estudos para o Desenvolvimento da América Latina (Cedal). Do Brasil, foram quatro pessoas, sendo somente João Paulo de Pernambuco. Ele participou de cursos de capacitação em política sindical na França, Itália, Espanha e Portugal. “Eu estudei desde o surgimento do homem até os países em transição para o socialismo. Os professores eram os exilados - na Europa - do Chile, do Brasil e da Argentina.” (JOÃO PAULO). Durante a viagem, teve contato com os movimentos sindical e comunitário (mais na Espanha e Europa), com a Central Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), em Portugal, e com o movimento de domésticas. “Foi uma descoberta.”(JOÃO PAULO)

E aí João Paulo voltou para o Brasil, em 1979, mais decidido do que nunca sobre a causa que queria abraçar: ajudar a organizar o Movimento de Oposição Metalúrgica. “Tinha a preocupação de alguns padres que achavam que pelo fato de eu estudar na Europa não voltaria mais para as fábricas, mas eu voltei para a fábrica...”(JOÃO PAULO). O objetivo de João Paulo estava claro. “O objetivo de continuar a luta, né?”(JOÃO PAULO). Nesse retorno ao País, o militante operário também se filiou ao Partido Revolucionário Comunista (PRC), que atuava na clandestinidade. Era uma fase de efervescência política, já pontuada pelas mobilizações no ABC Paulista. Na volta da Europa, ele começou a trabalhar na Produza Produtos Siderúrgicos LTDA, localizada, na época, na BR-101, no município de Jaboatão dos Guararapes. Na Produza ele trabalhou como caldeireiro, montando grandes estruturas metálicas.

A passagem de João Paulo pelo Partido Revolucionário Comunista foi marcante. Ele afirma que foi a vivência no partido que o incentivou a ler o Manifesto Comunista pela primeira vez. “Lá a gente discutia as estratégias mais revolucionárias para dentro da fábrica(...)”(JOÃO PAULO). Ou seja, além da influência da Igreja Católica, ele estava engajado nas articulações do PCR. “Nessa época, o PCR era um partido nacional que tinha alguns quadros aqui...Cajá, Medina...”(JOÃO PAULO). Ainda em 1979 o grupo de Oposição Sindical se fortaleceu, depois se transformou no Movimento de Oposição Metalúrgica Zé Ferrugem, que conseguiu, em 1981, retomar o sindicato das mãos do que eles chamavam “pelegos”, por eleição direta.

Depois de ter sido secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco na primeira gestão do Zé Ferrugem, em 1981, João Paulo assumiu a presidência da entidade em

1984, para um mandato de três anos. João Paulo ficou no sindicato, em outras funções, até 1990. Foram anos marcantes, segundo ele narra, que exigiram muito “espírito de luta” de todos que estavam no movimento. “Eu adoro trabalhar, me acordar cedo, ir pra porta de fábrica, de conduzir luta, de falar para massa, eu sou muito apaixonado por isso. Então foram anos, assim, de muita atividade, muita coisa bonita, muita luta bonita e muita ousadia, acima de tudo.”(JOÃO PAULO). Ele diz também que não tem condições de calcular quantas greves já liderou. “Muitas, mesmo, históricas...” (JOÃO PAULO). João Paulo chegou a ser preso algumas vezes pelo Departamento de Operações Especiais da polícia, por liderar greves e mobilizações dos trabalhadores.

E a trajetória de João Paulo foi sendo delineada no campo da esquerda, liderando greves, organizando campanhas salariais e apoiando outras categorias a se organizarem, a montarem chapas para retomar os sindicatos dos dirigentes que eram considerados não representantes das categorias ou teriam vinculações com o governo militar. Foi, então, nesse fim dos anos 70 e início dos anos 80 que João Paulo participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Sempre abracei uma linha mais à esquerda sem ser uma linha sectária. Eu acho que minha passagem pela Europa foi muito boa, eu acho que eu mudei algumas concepções, porque antes eu tinha uma visão talvez muito utópica, achando que a coisa ia se resolver a partir da tomada do sindicato dos metalúrgicos aqui. Eu acho que minha visão ficou mais