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Resolução sobre Tendências: uma tentativa de regulamentação da convivência

CAPÍTULO I UM PANORAMA DA HISTÓRIA DO PARTIDO DOS

2.1. Resolução sobre Tendências: uma tentativa de regulamentação da convivência

Nos contatos com representantes de tendências e dirigentes partidários pernambucanos, para esta pesquisa, soube-se que não existe registro, pelo menos no PT estadual, sobre o ingresso ou saída de tendências dos quadros do PT. Tampouco há documentos com a relação dos integrantes das tendências. Muito menos o arquivo das teses ou teorias que cada corrente defende na sua formação original. É estranho, uma vez que as tendências são o próprio Partido dos Trabalhadores. As resoluções dos congressos, convenções e encontros - municipais, estaduais e nacionais – dependem de quais tendências são majoritárias, a correlação de forças entre as alas da direita e esquerda, a quantidade de delegados participantes de cada agrupamento, as composições, entre outras. E essas resoluções dos eventos petistas é que decidem sobre eleições, coligações, programa de governo, enfim, encaminhamentos cruciais sobre a condução do partido.

O único documento encontrado sobre a regulamentação das correntes dentro do PT foi a Resolução sobre Tendências, elaborado no Encontro Nacional de 1987, numa clara tentativa de colocar parâmetros para a atuação das correntes e delimitar suas posturas em relação às decisões do Partido, evitando que esses grupos formassem “partidos dentro do Partido”. Um dado importante é que o documento define o que é, finalmente, uma tendência: “Uma tendência do PT é um grupo de petistas que se agrupa, ou se organiza, para defender posições no interior do partido, a partir de uma base política (podendo adotar o nome de tendência, corrente, agrupamento...)”(Resolução sobre Tendências, 1987). Era um recado direto às facções mais radicais de esquerda. No início do documento, o PT reafirma seu compromisso com a classe trabalhadora e agrega, explicitamente, a vinculação com os princípios socialistas (Resolução sobre Tendências, 1987). Num segundo momento, o texto deixa claro o propósito de situar seu perfil de legenda unificada e não fragmentada:

2. Em nenhum momento de sua construção o PT assumiu a condição de frente – de qualquer tipo – ou mesmo reduziu o alcance de sua intervenção a tarefas meramente conjunturais. Pelo contrário, os seus documentos básicos afirmam de maneira definitiva o seu caráter estratégico e sua feição de partido de massas, democrático e socialista, consciente de seu papel fundamental no processo de construção do socialismo no Brasil.[....] 3. Ao afirmar seu caráter estratégico, o PT afirma-se, pois, como partido e não como frente de partidos ou organizações. Contrapõe-se, portanto, à prática

da dupla militância e da dupla fidelidade. [...] 4. Sendo democrático, o PT admite em seu interior a disputa ampla entre diferentes opiniões.[...] Entretanto, da mesma forma que defende e garante a pluralidade de pensamento sobre as mais variadas questões, exige a mais forte unidade de ação, pois é na base desse elemento que reside a eficácia do partido como instrumento de intervenção na luta de classes, no rumo do socialismo. O PT, portanto, defende a democracia interna como princípio partidário, aos mesmo tempo que reitera a necessidade de acatamento obrigatório das deliberações das instâncias partidárias como expressões desse mesmo princípio. (Resolução sobre Tendências, 1987, grifo nosso)

No trecho acima, o Partido dos Trabalhadores reforça o seu caráter partidário e não de frente que congrega outros pequenos partidos, rechaçando a dupla militância; exige a unidade interna - embora deixando claro que defende a democracia e o direito de expressão das diferentes opiniões; mas, sobretudo, determina o “acatamento obrigatório das deliberações das instâncias partidárias”. A seguir, nos demais itens da Resolução das Tendências, o texto explicita as condições de aceitação de grupos dentro do partido.

5.(...)O PT considera fundamental a veiculação das políticas dos agrupamentos no interior do partido.[...] Deve-se dedicar esforços para que o partido se responsabilize por sua divulgação e publicidade. Da mesma forma, o partido deve esforçar-se para o fortalecimento de sua infra- estrutura material, de forma a permitir que as reuniões dos agrupamentos se dêem no interior do próprio partido.[...] 6. É rigorosamente incompatível com o caráter do PT a existência, velada ou ostensiva, de partidos no seu interior, concorrentes do próprio PT. [...] O reconhecimento de agrupamentos desse tipo – partidos dentro do PT – seria a aceitação do partido enquanto frente política, vale dizer, a própria negação do projeto histórico do PT. [...] Entretanto, levando em consideração que existem no PT agrupamentos com estrutura de partido, o PT travará com eles debate político visando a sua dissolução e a completa integração de seus militantes na vida orgânica petista, podendo vir a se transformar em legítimas tendências do partido. (Resolução sobre Tendências, 1987, grifo nosso) A decisão de responsabilizar o PT pela divulgação e publicidade das “políticas dos agrupamentos no interior do Partido” se dá pelo fato de o PT ser uma das legendas do País que mais expõe na mídia suas diferenças. Isso passou a ser um incômodo para o Partido, levando a expulsões de grupos e até de integrantes partidários históricos, a exemplo da desfiliação da senadora Heloísa Helena em 2005. Na verdade, o PT tenta coibir a imagem de partido com diversos discursos, fragmentado, sem unidade de decisões. Isto é, estava na hora de amenizar o peso das vozes das “matrizes discursivas” que convergiram para o PT na sua fundação. Isso fica claro no texto final do documento:

7.c)As tendências do PT deverão respeitar escrupulosamente seu caráter de agrupamento de militantes para defender posições no interior do partido. Submetido à disciplina partidária como militante, nenhum agrupamento interno ou tendência poderá expressar-se nessa condição diretamente à sociedade, seja através de manifestações públicas, seja através da imprensa ou por qualquer outro meio. Por conseguinte, os instrumentos de veiculação de suas políticas devem dirigir-se exclusivamente aos membros do partido.” (Resolução sobre Tendências, 1987, grifo nosso)