Desde o final da década de 1960, estudos relativos à análise de projetos intensificaram- se nas pesquisas a respeito do projeto de arquitetura. Tanto no Europa, particularmente na Itália, quanto nos Estados Unidos, esses estudos têm explorado a potencialidade do desenho como uma ferramenta de análise projetual, assim como aperfeiçoando os procedimentos referentes aos estudos de estratégias projetuais como um campo profícuo de ensino e aprendizagem.
A pesquisa realizada por Haraguchi (1988), em sua obra A Comparative Analysis of 20th Century Houses, realiza uma análise comparativa de composições espaciais, utilizando desenhos axonométricos e projeções ortogonais, de diversas residências do século XX. O autor defende a tese de que a arquitetura não pode existir sem composição, mesmo que os aspectos simbólicos dos edifícios possuam maior importância, ou que o arquiteto alegue que utiliza ou não procedimentos compositivos. O autor também trata da importância dos métodos analíticos como uma ferramenta de aprender e avaliar as intenções projetuais subjacentes à teoria e crítica da arquitetura.
Em La costruzione del volume aparente, o autor italiano Moore (1994) analisa alguns edifícios dos arquitetos Josef Hoffmann, Le Corbusier, Richard Meyer e Mario Botta. A pesquisa dividiu-se em duas partes. Inicialmente o autor apresenta os arquitetos e as edificações que foram analisadas. Na segunda parte, são apresentados diversos diagramas sintéticos e esquemas gráficos bidimensionais, elaborados a partir dos aspectos funcionais-distributivos, técnicos-estruturais e os aspectos formais.
Os autores Clark e Pause (1997) em Arquitectura: temas de composición, analisam a forma e o espaço na arquitetura de diversos edifícios. Para a realização das análises, os autores adotaram como meio de representação diagramas sintéticos, a partir de itens que avaliam questões formais e compositivas (massa; relação entre planta, corte e elevação; unidade em relação ao todo; elementos repetidos em relação aos singulares; simetria e equilíbrio; geometria; adição e a subtração) e funcionais (estrutura; iluminação natural; circulação e uso do espaço; hierarquia). Ao final, os autores apresentam um diagrama de partido arquitetônico, um esquema básico que resume o produto das análises a partir dos parâmetros verificados em cada projeto. O livro Design and Analysis trata da história e da prática da arquitetura, urbanismo e projeto. Leupen et al. (1997) examinam a evolução da prática projetual a partir de aspectos que
influenciam nas decisões do arquiteto. A investigação analítica amparada por desenhos trata de temas referentes ao campo da arquitetura, tais como: ordem, composição, usos, estrutura, tipologias, contexto e tecnologia, em diversos exemplares da História da Arquitetura.
A pesquisa realizada por Altarelli et al. (1997), trata dos princípios de composição aplicados na arquitetura. O livro Forme della composizione, traz diversos esquemas bi e tridimensionais a respeito da composição no plano e no espaço. Ilustrado através de desenhos, os autores analisam a correspondência de tais conceitos em obras de diversos arquitetos. Os autores também tratam das relações da estrutura na composição, a escala como um elemento de distribuição no espaço, e, por fim, apresentam conceitos importantes relativos à fachada enquanto invólucro espacial.
Baker (1998) em Análises de la forma: Urbanismo y Arquitetura, organiza seu trabalho em duas partes. Na primeira, apresenta os princípios analíticos, a partir da relação da arquitetura com o contexto e seu conteúdo prático e simbólico, e o conceito de genius loci, estudado por Christian Norberg Schulz. Na segunda parte, realiza estudos analíticos nas obras dos arquitetos Alvar Aalto, Richard Meier, James Stirling e Le Corbusier, utilizando de diagramas bi e tridimensionais, que investigaram a relação entre o conjunto edificado e o contexto.
Em Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem, Ching (2002) realiza uma investigação a partir de três eixos principais. Primeiramente, examina os elementos essenciais da forma, como o ponto, a reta, o plano e o volume, até as possibilidades de investigação, no campo visual, da percepção dos espaços. Logo após, examina a relação existente destes espaços com relação à hierarquia, às vias de circulação e à proximidade. Por fim, discute os elementos primordiais e princípios ordenadores para a criação da ordem na composição arquitetônica.
Unwin (2013), em seu livro A análise da arquitetura, tem o objetivo de compreender o funcionamento da linguagem comum da arquitetura e discutir o modo pelo qual o estudo de diferentes edifícios influencia o desenvolvimento das capacidades do raciocínio projetual. O livro também oferece subsídios que permitem analisar as obras de arquitetura. A tese defendida por Simon Unwin (2013) é a de que a análise das obras de outros arquitetos é um modo fundamental para se desenvolver as habilidades da prática projetual. “Tudo exige análise – entender e avaliar o que aconteceu antes – como base para a ação criativa” (UNWIN, 2013, p. 12).
No Brasil, o livro de Reis (2002), Repertório, análise e síntese: uma introdução ao projeto arquitetônico, apresenta diversos conceitos que contribuem para o desenvolvimento das capacidades referentes à elaboração e análise do projeto arquitetônico. A tese defendida pelo autor é de que o ato de projetar é o exercício de composição e organização espacial das atividades às quais o edifício se destina, inserido em determinado contexto.
A análise de diversos exemplares da arquitetura nacional e internacional foi realizada na pesquisa desenvolvida por Florio et al. (2002) em Projeto Residencial Moderno e Contemporâneo: análise gráfica dos princípios da forma, ordem e espaço de exemplares da produção arquitetônica residencial. O trabalho elaborou desenhos bi e tridimensionais, com o objetivo de revelar as estratégias presentes neste diversos projetos, a partir de itens de análise.
A análise de exemplares da arquitetura também é um tema tratado extensamente por Tagliari (2008, 2012) em suas pesquisas sobre as residências do arquiteto Frank Lloyd Wright e os projetos residenciais não construídos de Vilanova Artigas. As pesquisas utilizaram ferramentas gráficas e maquetes para verificar os aspectos referentes à forma, ao espaço e à ordem nos projetos selecionados.
Como podemos observar, os trabalhos encontrados revelaram que a análise projetual tem se tornado objeto de pesquisa e investigação, particularmente nas últimas décadas. Em comum, os trabalhos revelam que o pensamento visual e o surgimento das tecnologias digitais contribuíram para o desenvolvimento de estudos a partir de instrumentos gráficos.
Figura 29 – Exemplos de análises projetuais
Fonte: [1] Haraguchi (2008, p. 12-13); [2] Moore (1994, p. 73); [3] Altarelli (1997, p. 58-59); [4] Baker (1998, p. 177).
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Neste capítulo, apresentamos os materiais e os métodos que foram utilizados nesta pesquisa. Assim, serão apresentados o levantamento e os critérios utilizados na seleção dos projetos e os procedimentos que foram adotados nas análises.