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Residência Rosinha (1980)

No documento Casas de Sylvio de Podestá : 1979-1989 (páginas 77-84)

Figura 30 – Perspectivas axonométricas da Residência Rosinha

Figura 31 – Plantas Térreo, 1º Pavimento e 2º Pavimento da Residência Rosinha

Figura 32 – Cortes e elevações - Residência Rosinha

Quadro 7 – Diagramas analíticos da Residência Rosinha

Itens de análise Residência Rosinha (1980)

Implantação Perímetro Acessos Circulação Setorização Composição formal

Apresentação, análise e interpretação

Projetada em 1980 e construída em 1982, em terreno com declive, situado em lote urbano retangular com dimensões de doze metros de frente por trinta metros de comprimento, trezentos e sessenta metros quadrados de área útil. O terreno possui vista para a Reserva da Mata do Jambeiro na Nova Lima-MG. De acordo com Podestá (2000):

Este projeto tem uma grande importância na minha vida profissional e particular. Percebi o quanto é importante para as pessoas a conquista do seu espaço, do seu canto. O que sempre procuro fazer é que elas se expressem além da questão física da casa que pretendem construir; ir mais longe do sala/copa cozinha/banheiros, pois, como já disse, programas mudam pouco de uma situação para outra: o que muda é o que cada um quer desse espaço, desse lugar (PODESTÁ, 2000, p. 52).

Os setores social, íntimo e serviços da Residência Rosinha foram organizados em três pavimentos intercalados por meio-níveis, dentro de uma geometria compacta, basicamente um monobloco quadrado, com poucos recortes. A exceção consiste nos volumes do banheiro, área de serviços e varanda social que sobressaem do volume da edificação.

Hierarquicamente, os espaços sociais foram privilegiados pelo arquiteto. Sala de estar, estar íntimo e jantar ocupam, em proporção, dimensões relativamente maiores que os demais ambientes. Além disso, pés-direitos amplos e variados, com vistas para o exterior, convidam o usuário à permanência nesse ambiente.

O programa foi distribuído nos três pavimentos da seguinte forma: no térreo, um pouco abaixo do nível da rua e próximo ao acesso principal, encontra-se o setor de serviços (garagem, lavanderia, dormitório de serviço, depósito, banheiro). Na parte posterior da residência, próximo ao acesso à área de lazer, o setor social com a sala de estar e estar íntimo com lareira. No segundo pavimento localizam-se uma cozinha, despensa, sala de jantar, além dos dormitórios e sala de televisão. Na Residência Rosinha, os elementos de circulação vertical e horizontal, como escadas e passarela, ajudam a demarcar os setores da residência, organizados em meio níveis, desde o acesso pelo setor serviços até o sótão, localizado no terceiro pavimento.

O arquiteto implanta seu edifício no terreno de modo a estabelecer uma relação com o espaço público da seguinte forma: se por um lado a residência ocupa toda a extensão transversal do terreno, criando uma espécie de “muralha” que resguarda o interior, por outro, adota um recuo frontal gerando um espaço semipúblico, permeável, respeitando o contexto urbano e o pedestre.

Sylvio de Podestá adota elementos com influências tipicamente pós-modernas, como reinterpretações e usos de elementos e princípios compositivos clássicos. O arquiteto parte de uma forma genérica, basicamente um monobloco de base quadrada, sobre o qual fragmentos formais são acoplados ou plugados, como no caso do volume do banheiro, bem à maneira de Robert Venturi.

A pesquisa documental revelou a existência de um estudo feito por Sylvio de Podestá (Figura 33), em que plantas de diversos arquitetos, dentre eles os Mario Botta, Charles Moore, Andrea Palladio e o próprio arquiteto, apresentando as diversas possibilidades de organização espacial, a partir de uma tipologia de planta quadrada. Esse estudo revela o conhecimento, por parte do arquiteto, do debate a respeito de variações tipológicas.

Figura 33 – Tipologia de planta quadrada

Fonte: (MAIA; VASCONCELLOS; PODESTÁ, 1982, p. 155).

Outra característica que permite classificá-la como um edifícios com características pós- modernas é a importância das elevações tanto frontal quanto posterior, e seu aspecto de “muralha”. Na Residência Rosinha, a elevação voltada para a rua estrutura-se sobre a axialidade de um eixo que transpassa o volume do banheiro, e culmina na janela-frontão do sótão.

Já a elevação posterior possui grandes aberturas com caixilharia metálica e desenhos próprios, que permitem uma grande entrada de luz no interior da edificação. Aqui, o arquiteto repete a ideia do frontão no arremate da cobertura, realizado através de um losango de metal e vidro.

Porém, se esse eixo denota a uma possível simetria, o arquiteto contradiz, à maneira de Venturi, propositalmente esse princípio compositivo, seja na forma como organiza os ambientes, seja no modo como dispõem as aberturas, deliberadamente assimétricas. Assim, as diferentes localizações, tamanhos e formatos das janelas, assim como a organização espacial, contradizem a simetria da forma exterior.

A referência ao arquiteto italiano Aldo Rossi está presente na multiplicidade de experiências que o arquiteto promove ao percorrer o interior do edifício. Em seus projetos, como já apresentado, Aldo Rossi rememora eventos e arquiteturas do passado, apropriando-se de um repertório de formas que ele extrai da cidade. Como afirma Podestá (2000): “No mais, este produto chamado, na época, de aldorossiano, faz parte da minha procura em desenhar casas para seus proprietários, mas sempre incorporando, aos seus sonhos, outros caminhos.” (PODESTÁ, 2000, p. 52).

Na Residência Rosinha, a analogia ao trabalho do arquiteto italiano ocorre através da utilização de elementos formais provenientes da repertório da linguagem clássica. Além do mais, o percurso projetado por Sylvio de Podestá reproduz a própria dinâmica da cidade, ao propiciar diversas experiências. Espaços que se alargam e se comprimem, e ambientes de uso comum integrados visualmente, como sala de estar, estar íntimo, jantar e sala de TV, representam as praças e espaços de convívio, reforçado pela utilização da lareira como um elemento simbólico, assim como o faz o arquiteto italiano com suas fontes triangulares.

Por fim, a Residência Rosinha, projetada pelo arquiteto Sylvio de Podestá no começo da década de 1980, insere-se nas experimentações pós-modernas como uma experiência marcante, utilizando-se de princípios e elementos formais, como a citação ao frontão clássico e a axialidade, a ideia das elevações como “mulharas” ou “máscaras” que resguardam o interior, e dos espaços sociais representando os espaços públicos de convívio social.

No documento Casas de Sylvio de Podestá : 1979-1989 (páginas 77-84)