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Casas de Sylvio de Podestá : 1979-1989

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo

MARCOS DE OLIVEIRA PRADO

CASAS DE SYLVIO DE PODESTÁ: 1979-1989

CAMPINAS 2019

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MARCOS DE OLIVEIRA PRADO

CASAS DE SYLVIO DE PODESTÁ: 1979-1989

Dissertação de Mestrado apresentada a Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, para obtenção do título de Mestre em Arquitetura, Tecnologia e Cidade, na área de Arquitetura, Tecnologia e Cidade.

Orientadora: Prof. Dra. Ana Maria Tagliari Florio

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO MARCOS DE OLIVEIRA PRADO E ORIENTADA PELA PROF. DRA. ANA MARIA TAGLIARI FLORIO.

ASSINATURA DA ORIENTADORA

CAMPINAS 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E

URBANISMO

CASAS DE SYLVIO DE PODESTÁ: 1979-1989

Marcos de Oliveira Prado

Dissertação de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:

Profa. Dra. Ana Maria Tagliari Florio

Presidente e Orientadora/Universidade Estadual de Campinas

Profa. Dra. Regina Coeli Ruschel Universidade Estadual de Campinas

Profa. Dra. Eunice Helena Sguizzardi Abascal Universidade Presbiteriana Mackenzie

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da

Unidade.

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AGRADECIMENTOS

Ao arquiteto Sylvio de Podestá, pelo carinho ao me receber em seu escritório, compartilhar com generosidade e simplicidade inspiradora sua arquitetura, incentivando-me a desenvolver esta pesquisa sobre seu trabalho.

À Profa. Dra. Ana Tagliari, por ter me conduzido nos rumos desta pesquisa, dedicando-se na orientação deste trabalho, sempre com apreço e incentivo.

À minha família, em especial minha mãe Aneide e minha irmã Bárbara, por estarem presentes nos momentos importantes de minha vida.

Aos funcionários da secretaria de Pós-graduação, especialmente ao Eduardo e à Rosana, pelo auxílio e disposição em sanar minhas dúvidas.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de Mestrado, sem a qual este trabalho não seria possível.

Aos amigos Caroline, Daniel, Ludmila, Isis, Andressa, Eliane e Mariana por estarem sempre ao meu lado, apoiando e incentivando, do começo ao fim, meus sinceros agradecimentos.

O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001

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A Realidade Transfigurada Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada. O que te direi? te direi os instantes. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios. Transfiguro a realidade e então outra realidade, sonhadora e sonâmbula, me cria.

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RESUMO

Esta pesquisa teve como tema a investigação da arquitetura de Sylvio de Podestá, a partir das análises de seus projetos, sob o enfoque das soluções e estratégias projetuais e compositivas. O objeto foi o conjunto de seis projetos residenciais realizados pelo arquiteto, entre 1979 e 1989. O objetivo foi investigar esses projetos a partir do pressuposto de que o arquiteto apropriou-se de determinadas estratégias que caracterizariam este conjunto dentro da linguagem pós-moderna da arquitetura. A investigação dos projetos foi desenvolvida pelo método gráfico de análise. A metodologia da pesquisa foi organizada em etapas para atingir os objetivos: pesquisa bibliográfica, pesquisa iconográfica, pesquisa documental, redesenhos, elaboração de modelos digitais, análises dos projetos. A justificativa e a relevância desta pesquisa residem no fato de se estudar um objeto ainda não explorado, com esta abordagem, em pesquisas acadêmicas, contribuindo para o avanço do conhecimento e discussões a respeito tanto da arquitetura brasileira na década de 1980, em especial a arquitetura pós-moderna mineira, quanto da análise do projeto de arquitetura. A partir do desenvolvimento deste trabalho, pode-se verificar que, no conjunto analisado, existe o predomínio da adoção das formas puras como o círculo, o quadrado e o triangulo, assim como o prisma, a pirâmide, o cilindro, e suas variações. A análise dos projetos também revelou a importância atribuída pelo arquiteto Sylvio de Podestá à elevação frontal, com viés comunicativo, além do esquema de percurso “quadro a quadro” e subversão dos princípios compositivos da arquitetura clássica, alinhando-se, portanto, com as estratégias observadas na linguagem pós-moderna da arquitetura internacional. Ao final, este trabalho preencheu uma lacuna verificada com relação ao estudo e análise do trabalho de Sylvio de Podestá, contribuindo para a compreensão da arquitetura brasileira desenvolvida na década de 1980.

PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura brasileira. Sylvio Emrich de Podestá. Análise de projeto. Arquitetura Pós-moderna.

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ABSTRACT

This study investigated Sylvio de Podestá's architecture from the analysis of his projects under the focus of solutions and project and compositional strategies. A set of six residential projects undertaken by the architect between 1979 and 1989 was analyzed. The objective was to investigate these projects from the assumption that the architect appropriated certain strategies that would characterize this set within the postmodern language of architecture. The projects were investigated using the graphical method of analysis. The research methodology was organized in stages to achieve the objectives: bibliographic research, iconographic research, documentary research, redesign, development of digital models, and project analysis. The justification and relevance of this study lies in the fact that it is the first time that this subject is explored using this approach in academic research, contributing to the advancement of knowledge and discussions about Brazilian architecture in the 1980s, especially postmodern architecture in Minas Gerais, and the analysis of the architecture project. While developing this study, we noticed that the most used forms in the set analyzed are pure forms such as circles, squares and triangles, as well as prisms, pyramids, cylinders, and their variations. Project analysis also revealed the importance attributed by the architect Sylvio de Podestá to the frontal elevation, with communicative bias, the "frame by frame" route scheme, and subversion of the compositional principles of classical architecture, which connects him with the strategies observed in the postmodern language of international architecture. Therefore, this work filled a gap in the study and analysis of Sylvio de Podestá's work, contributing to the understanding of the Brazilian architecture developed in the 1980s.

KEYWORDS: Brazilian architecture. Sylvio Emrich de Podestá. Project analysis. Postmodern architecture.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Escritório do arquiteto Sylvio de Podestá, Belo Horizonte-MG ... 16

Figura 2 – Três Arquitetos (da esquerda para a direita: Éolo Maia, Josefina Vasconcellos, Sylvio de Podestá) ... 27

Figura 3 – Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves (1985-1986) ... 28

Figura 4 – Capa da primeira edição das revistas Pampulha e Vão Livre ... 29

Figura 5 – Entrevista ao arquiteto Mario Botta publicada na revista Pampulha, em 1983 ... 30

Figura 6 – Livros publicados pelo escritório Três Arquitetos ... 31

Figura 7 – Livros autorais publicados por Sylvio de Podestá ... 31

Figura 8 – Projetos das décadas de 1970, 1980, 1990, 2000: Residências (01) Luluca e Heloisa (1978), (02) Sidney e Karla (1981), (03) Paulo e Tânia (1997), (04) Gráfica Rona (2006) .... 32

Figura 9 – Croquis elaborados por Sylvio de Podestá ... 33

Figura 10 – Les Espaces d’Abraxas, 1982, Taller de Architectura ... 38

Figura 11 – Banco do Estado de Mario Botta, construído em Friburgo em 1977 ... 39

Figura 12 – As ordens da Arquitetura Clássica de Sebastiano Serlio proposta em 1540 ... 41

Figura 13 – Conjunto habitacional Pruitt-Igoe, 1952-1955 ... 43

Figura 14 – Levantamento Revista Casabella-Continuità ... 48

Figura 15 –Piazza d’Italia de Charles Moore em New Orleans, projetado entre 1975 e 1978 49 Figura 16 – Residência Vanna Venturi de 1961 ... 51

Figura 17 – Guild House projetada entre 1960 e 1963 ... 52

Figura 18 – Teatro do Mundo projetado por Aldo Rossi para a Bienal de Veneza em 1979 ... 53

Figura 19 – Prosposta de Hans Hollein para Strada Nouvissima em Veneza em 1980 ... 54

Figura 20 – Estudos realizados por J. N. L. Durand no século XIX ... 56

Figura 21 – Desenho Aldo Rossi, 1975 ... 58

Figura 22 – Capa Revista Casabella-Continuità, edição especial sobre Tipologia ... 58

Figura 23 – Residência em “Estilo Zanine”, projeto de José Zanine Caldas ... 59

Figura 24 - Residência Furlan de 1980 e Residência Huk de 1983) ... 61

Figura 25 – Casa-Bola de Eduardo Longo construída São Paulo em 1974 ... 61

Figura 26 - Casa Geodésica de Vitor Lotufo construída em Botucatu em 1978 ... 62

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Figura 28 – Grupo Escolar Vale Verde de Timóteo projetado entre 1983 e 1985 ... 64

Figura 29 – Exemplos de análises projetuais... 68

Figura 30 – Perspectivas axonométricas da Residência Rosinha ... 77

Figura 31 – Plantas Térreo, 1º Pavimento e 2º Pavimento da Residência Rosinha ... 78

Figura 32 – Cortes e elevações - Residência Rosinha ... 79

Figura 33 – Tipologia de planta quadrada ... 82

Figura 34 – Perspectivas axonométricas da Residência Karla e Sidney ... 84

Figura 35 – Plantas térreo e 1º pavimento da Residência Karla e Sidney ... 85

Figura 36 – Plantas mezanino e cobertura da Residência Karla e Sidney ... 86

Figura 37 – Cortes e elevações da Residência Karla e Sidney ... 87

Figura 38 – Perspectivas axonométricas da Residência Rubens ... 92

Figura 39 – Implantação da Residência Rubens ... 93

Figura 40 – Plantas térreo, 1º pavimento e mezanino da Residência Rubens ... 94

Figura 41 – Cortes e elevações - Residência Rubens ... 95

Figura 42 – Perspectiva axonométrica da Residência Hélio e Joana ... 99

Figura 43 – Planta da Residência Hélio e Joana ... 100

Figura 44 – Cortes e elevações da Residência Hélio e Joana ... 101

Figura 45 – Perspectivas axonométricas da Residência Lauro e Gisela... 106

Figura 46 – Plantas térreo, 1º pavimento e cobertura da Residência Lauro e Gisela ... 107

Figura 47 – Cortes e elevações da Residência Lauro e Gisela ... 108

Figura 48 – Perspectiva axonométrica da Residência Ateliê Fátima Penna... 112

Figura 49 – Planta cobertura da Residência Ateliê Fátima Penna ... 113

Figura 50 – Plantas térreo, 1º pavimento, 2º pavimento da Residência Ateliê Fátima Penna 114 Figura 51 – Cortes da Residência Ateliê Fátima Penna ... 115

Figura 52 – Elevação frontal da Residência Ateliê Fátima Penna ... 116

Figura 53 – Residência Rosinha, Nova Lima - MG, 1980 ... 136

Figura 54 – Residência Hélio e Joana, Ipatinga - MG, 1981/1982 ... 137

Figura 55 – Residência Karla e Sidney, Brasília - DF, 1981... 138

Figura 56 – Residência Rubens, Brumadinho - MG, 1982 ... 139

Figura 57 – Residência Lauro e Gisela, Rio Verde - GO, 1985 ... 140

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Edifícios que sintetizam os conceitos elaborados por ... 44

Quadro 2 – Relações conceituais entre Modernidade e Pós-modernidade, segundo Venturi (1991) ... 46

Quadro 3 - Projetos residenciais elaborados por Sylvio de Podestá, na década de 1980, publicados no livro “Casas, 2000” ... 69

Quadro 4 – Obras selecionados para análise ... 71

Quadro 5 – Legendas gráficas ... 74

Quadro 6 – Itens de análise dos projetos ... 75

Quadro 7 – Diagramas analíticos da Residência Rosinha ... 80

Quadro 8 – Diagramas analíticos da Residência Karla e Sidney ... 88

Quadro 9 – Diagramas analíticos - Residência Rubens ... 96

Quadro 10 – Diagramas analíticos da Residência Hélio e Joana ... 102

Quadro 11 – Diagramas analíticos da Residência Lauro e Gisela ... 109

Quadro 12 – Diagramas analíticos da Residência Ateliê Fátima Penna... 117

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

1.1 Apresentação da pesquisa ... 16

1.2 Objetivo da pesquisa ... 19

1.3 Pesquisas acadêmicas correlacionadas à obra do arquiteto Sylvio de Podestá, justificativa e identificação de lacunas ... 19

1.4 Materiais e métodos ... 22

1.5 Estrutura da dissertação ... 23

2 REVISÃO DA LITERATURA ... 25

2.1 Apresentação do arquiteto Sylvio Emrich de Podestá ... 25

2.2 Considerações sobre o Pós-modernismo ... 34

2.3 As linguagens clássica, moderna e pós-moderna da arquitetura ... 40

2.4 Publicações importantes do período ... 45

2.5 Vertentes da arquitetura pós-moderna ... 48

2.6 Considerações sobre o tipo ... 54

2.7 Pós-modernismo à brasileira ... 59

2.8 Análise dos projetos do arquiteto Sylvio de Podestá ... 66

3 MATERIAIS E MÉTODOS ... 69

3.1 Levantamento e critérios de seleção do material de análise ... 69

3.2 Procedimentos de análise dos projetos ... 72

3.2.1 Redesenho dos projetos ... 72

3.2.2 Produção dos modelos digitais ... 73

3.2.3 Produção e análise por diagramas ... 73

3.3 Itens de análise dos projetos ... 74

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4.1 Residência Rosinha (1980) ... 77

4.2 Residência Karla e Sidney (1981) ... 84

4.3 Residência Rubens (1982) ... 92

4.4 Residência Hélio e Joana (1982) ... 99

4.5 Residência Lauro e Gisela (1985) ... 106

4.6 Residência Ateliê Fátima Penna (1989) ... 112

5 DISCUSSÃO ... 120

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 128

REFERÊNCIAS ... 130

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1 INTRODUÇÃO

O primeiro contato com a arquitetura de Sylvio de Podestá1 ocorreu na Semana de Estudos durante a graduação na Universidade Federal de Ouro Preto em 2010. A convite da organização do evento, e por sugestão de professores do curso, Sylvio de Podestá foi convidado a proferir palestra, apresentar o seu trabalho e falar sobre arquitetura aos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da instituição. O arquiteto aceitou o convite, e seu único pedido foi hospedar-se no Grande Hotel de Ouro Preto, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer.

Sylvio de Podestá conduziu a palestra com irreverência, apresentando diversos trabalhos, suas experiências profissionais, discutiu sobre o papel do arquiteto na sociedade, assim como as conquistas e dificuldades do exercício da profissão. Não poupou críticas ao trabalho de Oscar Niemeyer, em especial a Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, recém-inaugurada na cidade de Belo Horizonte - MG.

Posteriormente, nas disciplinas de História de Arquitetura Brasileira, a arquitetura de Sylvio de Podestá viria a ser discutida em maior profundidade. O edifício Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves, popularmente conhecido como “Rainha da Sucata”, projetado por Sylvio de Podestá e por Éolo Maia, em terreno situado na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, tornou-se uma referência das experiências pós-modernas na arquitetura brasileira na década de 1980.

Dessa maneira, surgiu o interesse de se investigar a obra desse importante arquiteto brasileiro, com o objetivo de se compreender mais profundamente a arquitetura que ele desenvolveu nesse período de grande importância de sua carreira.

1 O nome completo do arquiteto é Sylvio Emrich de Podestá. Porém, para esta pesquisa adotaremos Sylvio de

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Figura 1 Escritório do arquiteto Sylvio de Podestá, Belo Horizonte-MG

Fonte: Arquivo pessoal.

1.1 Apresentação da pesquisa

Esta pesquisa tem como recorte temporal a década de 1980. Nesse período, novos paradigmas projetuais adentraram o campo do debate e da produção arquitetônica. Influenciados pelas teorias e obras da crítica pós-moderna europeia e norte-americana, essas manifestações convergiram para questões ligadas a uma maior contextualização dos projetos, as pré-existências urbanas, sociais e ambientais, assim como a revalorização da história e práticas construtivas vernaculares (MENDES; VERÍSSIMO; BITTAR, 2015; BASTOS; ZEIN, 2011; COLIN, 2004; SEGRE, 2002; MARQUES, 2002; SEGAWA, 1999).

Segundo os pesquisadores Cremasco (2011), Braga (2004) e Santa Cecília (2004), nesse contexto o arquiteto Sylvio de Podestá projetou-se em Minas Gerais ao compor o grupo mineiro Três Arquitetos, ao lado de Éolo Maia e Josefina Vasconcellos, ficando reconhecidos por experimentarem a linguagem pós-moderna.

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Apesar de não se autointitularem “arquitetos pós-modernos”, o trio desenvolveu uma série de projetos assumindo uma atitude crítica com relação à arquitetura praticada em Belo Horizonte, na época, influenciada pelas obras de Oscar Niemeyer.

Os projetos desses arquitetos, destacavam-se pela forma como articulavam questionamentos às práticas arquitetônicas vigentes mesclando influências marcantes do pós-modernismo internacional, com elementos da tradição mineira (SANTA CECÍLIA, 2004). Para tanto, recorreram ao uso corrente de perspectivas axonométricas2, o que lhes permitiram compreender e experimentar a forma no espaço. Esse meio de representação havia sido bastante explorado por arquitetos nesse período, como James Stirling e Mario Botta.

Na década de 1980, Sylvio de Podestá escreveu sobre arquitetura, editou a revista Pampulha, associou-se a Éolo Maia e Josefina Vasconcellos, formando o grupo Três Arquitetos, desenvolvendo diversos projetos com uma linguagem ao mesmo tempo irreverente e crítica, obtendo projeção no cenário da arquitetura nacional.

Em seu texto Casas-Passado e Presente, Sylvio de Podestá apresenta uma análise das transformações que ocorreram na arquitetura residencial ao longo do tempo. Para tanto, o arquiteto compara a casa tradicional, produzida nos primórdios da colonização brasileira, com a residência contemporânea, refletindo sobre as mudanças, permanências e alterações programáticas nos modos de viver e organizar o espaço doméstico (PODESTÁ, 2000, p.11-13). De acordo com o arquiteto, além da incorporação das novas tecnologias decorrentes do processo de industrialização, os ambientes sofreram modificações com relação ao seus usos tradicionais. A cozinha perdeu importância e a antiga senzala transformou-se em DCE (Dormitório Completo de Empregados). Já o antigo quintal, onde antes produziam-se alimentos e criavam-se animais para o sustento da família, transformou-se em jardim contemplativo e área de lazer. O estar virou sala de televisão, e o quarto de hóspedes, home office. Já os banheiros cresceram em número e se individualizaram (PODESTÁ, 2000).

2 Segundo Ching (2011, p.41): “Uma projeção axonométrica é uma projeção ortogonal de uma forma

tridimensional que é inclinada em relação ao plano de desenho de modo que os seus três eixos principais são escorçados. Em sentido estrito, a projeção axonométrica é uma forma de projeção ortogonal na qual as linhas projetadas são paralelas umas às outras e perpendiculares ao plano do desenho.”

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Em termos formais, a arquitetura residencial unifamiliar também sofreu transformações. Segundo Podestá (2000, p.13), a ideia do arquiteto possuidor de uma “linguagem” que vai se repetindo até transformar-se em “estilo”, é substituída pela ideia do arquiteto “tradutor”, cuja função é compreender os aspectos culturais, técnicos e ambientais, e incorporá-los ao projeto arquitetônico.

Em seu livro Casas, Podestá (2000) compilou as diversas obras e projetos de residências que elaborou nos anos 1970, 1980 e 1990. Esse livro também conta com textos que tratam sobre questões a respeito de arquitetura, dos elementos e de fatores condicionantes do projeto, da relação do edifício com a cidade, e do exercício profissional.

A observação de seus projetos levantou questionamentos pelas características formais e espaciais presentes nesses trabalhos. Com isso, indagou-se: Quais foram as estratégias3

projetuais e compositivas empregadas pelo arquiteto Sylvio de Podestá na realização dos projetos na década de 1980?

Assim, para investigar essa questão, partimos do seguinte pressuposto: a obra arquitetônica de Sylvio de Podestá, especialmente na década de 1980, pode ser considerada uma arquitetura com características pós-modernas que se apropria de figuras geométricas como o quadrado, círculo e o triângulo, que se relacionam com os elementos do repertório da arquitetura clássica.

A partir do desenvolvimento desta pesquisa, que envolveu a organização cronológica dos projetos residenciais, além das análises dos projetos selecionados, que Sylvio de Podestá utilizou o quadrado, o círculo e o triângulo, assim como o prisma, o cilindro e a pirâmide, suas derivações tridimensionais, para se relacionar ao repertório da linguagem clássica da arquitetura, através da citação tipicamente pós-moderna, em que esses elementos ou são plugados4 no edifício, ou constituem o próprio volume da edificação.

3 O arquiteto Rafael Moneo utiliza o termo estratégia para definir a recorrência de determinados procedimentos,

mecanismos, artefatos formais e paradigmas (MONEO, 2008, p. 09-10).

4 O termo plugado foi utilizado pelo arquiteto Sylvio de Podestá em conversa com o autor desta pesquisa, em seu

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1.2 Objetivo da pesquisa

Diante do desafio de compreender a arquitetura de Sylvio de Podestá, o objetivo principal desta pesquisa compreender as estratégias projetuais e compositivas adotadas pelo arquiteto, e assim estabelecer reflexões sobre sua arquitetura.

Assim, com esta pesquisa, pretende-se: contribuir para o aprofundamento dos estudos sobre arquitetura brasileira, em especial a arquitetura mineira da década de 1980; relacionar teoria e projeto, a partir da leitura dos textos do arquiteto e a análise de sua obra; contribuir para a compreensão e divulgação da arquitetura de Sylvio de Podestá.

1.3 Pesquisas acadêmicas correlacionadas à obra do arquiteto Sylvio de Podestá, justificativa e identificação de lacunas

O levantamento cuidadoso realizado da bibliografia não apontou pesquisas envolvendo a análise específica das obras do arquiteto Sylvio de Podestá. No entanto, foram identificadas pesquisas que investigam os impactos das manifestações pós-modernas na arquitetura brasileira nas décadas de 1970 e 1980, assim como pesquisas que analisam obras de outros arquitetos mineiros contemporâneos de Sylvio de Podestá.

A seguir, listamos algumas pesquisas encontradas, para identificação de lacunas que se pretende preencher com este trabalho.

Santa Cecília (2004) apresenta um estudo sobre os procedimentos criativos na obra do arquiteto mineiro Éolo Maia. O trabalho investigou a trajetória profissional do arquiteto e analisou os seguintes edifícios: Hotel Verdes Mares, Capela de Santana do Pé do Morro, Condomínio Barca do Sol e o Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves.

O objetivo da pesquisa foi verificar as permanências e continuidades na obra de Éolo Maia ao longo dos anos de atuação, ampliando e divulgando o conhecimento de sua produção arquitetônica. A metodologia de análise das edificações foi pautada em operadores projetuais pragmáticos, que correspondem aos seguintes tópicos: sua relação com o lugar; seu conteúdo técnico-construtivo; o equacionamento das demandas de uso; o tratamento plástico do edifício. Santa Cecília (2004) concluiu que a fase em que o arquiteto Éolo Maia experimentou a linguagem pós-moderna, juntamente com Sylvio de Podestá e Josefina Vasconcellos, pode ser

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considerada a mais produtiva e ousada de sua carreira. Nessa fase, o arquiteto operou a partir da importação de elementos de outras arquiteturas mesclando com elementos da cultura mineira, em uma atitude de ressignificação tipicamente utilizada pelos arquitetos pós-modernos do contexto internacional.

A tese de Braga (2004) 5 propõe uma reflexão a respeito da produção arquitetônica contemporânea brasileira a partir da seleção de um grupo de arquitetos mineiros, representativos por assimilarem os ideais da modernidade e da pós-modernidade. Os arquitetos selecionados foram: Flávio Almada, Éolo Maia, Maria Josefina de Vasconcellos, Sylvio de Podestá, Gustavo Penna e João Diniz. O objetivo dessa pesquisa foi verificar as tendências e debates a respeito da produção arquitetônica contemporânea, através da hipótese de permanecer no universo da estética moderna.

Já Cremasco (2011) estrutura sua pesquisa de Mestrado em duas partes. Inicialmente, o trabalho apresenta questionamentos sobre o conceito de obra de arte na pós-modernidade, a partir de teóricos pós-modernos e contemporâneos. Em seguida, a pesquisa levanta as causas do surgimento do movimento pós-moderno em Minas Gerais, destacando o contexto político e cultural do período. A pesquisa possui dois objetivos: primeiramente, reflete sobre o conceito de Pós-modernismo que adentrou o campo da arte e da arquitetura após a Segunda Guerra Mundial. Em seguida, por meio de um levantamento documental, identifica as causas do surgimento do debate pós-moderno na arquitetura em Minas Gerais.

A pesquisadora Carranza (2012) analisa a arquitetura paulista no período de 1956-1979, tomando como objeto a obra dos arquitetos Lina Bo Bardi, Sério Ferro, Rodrigo Lefèvre, Flávio Império, Eduardo Longo, Vitor Lotufo e Pitanga do Amparo. Segundo a autora, os arquitetos estudados fizeram parte de um grupo que questionou o status quo vigente na produção arquitetônica paulista, caracterizada pelo uso extensivo do concreto aparente como linguagem arquitetônica. Por sua vez, esses arquitetos produziram uma arquitetura à margem desta

5 A pesquisa desenvolvida por BRAGA (2004) apresenta uma reflexão crítica e investigativa acerca da produção

arquitetônica desenvolvido por um grupo de arquitetos mineiros, dentre os quais se insere Sylvio de Podestá. O objetivo da pesquisa foi levantar questões sobre a contribuição deste grupo na caracterização da arquitetura mineira contemporânea.

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hegemonia, utilizando novos materiais e técnicas construtivas, assim como de novas soluções plásticas. A pesquisa envolveu redesenho dos projetos e levantamentos das obras selecionadas.

A dissertação de Grossi (2013) identificou e qualificou a obra realizada pelo arquiteto mineiro Humberto Serpa, entre os anos de 1960 e 1990. O objetivo da pesquisa foi apresentar o conjunto de trabalhos desse arquiteto, e, com isto, documentar sua obra. Para tanto, a autora recorreu aos projetos originais desenvolvidos pelo arquiteto, e realizou entrevistas, traçando um panorama da atuação de Humberto Serpa nesses anos de atuação.

Caetano (2014) analisa, em sua pesquisa de mestrado, o processo criativo do arquiteto mineiro Gustavo Penna, partindo do pressuposto de que sua obra possui uma relação com a do artista Amílcar de Castro. Para tanto, a pesquisadora realizou uma análise de dez projetos realizados entre 1989 e 2011, investigando os procedimentos projetuais e traçando paralelos entre a obra do arquiteto com a do artista mineiro.

Vemos em Costa (2012) que, em sua pesquisa documental, a autora estudou as obras arquitetônicas publicadas nas revistas AU-Arquitetura e Urbanismo e Projeto, entre 1985 e 2000, que se aproximaram da linguagem pós-moderna da arquitetura internacional, no contexto nordestino. A pesquisa realizada foi um levantamento que catalogou 205 projetos publicados nesse período. A pesquisadora constatou que, apesar do expressivo número de projetos e edifícios com características pós-modernas, o conteúdo teórico elaborado no contexto internacional, esteve presente em raras exceções.

A tese de Spadoni (2004) foi um investigação a respeito da arquitetura brasileira produzida nos anos 1970. O objetivo da pesquisa foi levantar as principais realizações e vertentes da arquitetura produzida nessa década, com a intenção de desmitificar a ideia de que essa produção estaria atrelada a formas modernas já consolidadas e portanto pouco criativas. Por outro lado, o autor argumenta que essa produção sedimentou a tradição modernista brasileira, apontando para novas experimentações. Foram tratados os seguintes temas: a herança cultural moderna herdada dos grandes mestres; as revisões e críticas ao Movimento Moderno; a condição política do período.

A pesquisa de Araújo (2010) discute o conceito de lugar que, na década de 1960, adquiriu importância frente ao internacionalismo do Movimento Moderno. O trabalho analisou os reflexos na América Latina e apresentou a obra de seis arquitetos que realizaram seus

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trabalhos sob influência desse conceito. São eles: Rafael Moneo, Vittorio Gregotti, Giancarlo de Carlo, Álvaro Siza, Eduardo Souto de Moura e Ricardo Boffil. Ao final, o autor verificou a influência desse conceito nos edifícios Palácio Capanema e o Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves.

Podemos observar, a partir do levantamento realizado, a existência de poucas pesquisas diretamente associadas a Sylvio de Podestá e sua arquitetura. Assim, o trabalho aqui proposto justifica-se por:

 Ampliar o conhecimento científico sobre a arquitetura pós-moderna no Brasil.

 Contribuir para a compreensão e discussão da arquitetura de Sylvio de Podestá no âmbito científico e acadêmico, a partir da análise pormenorizada de seus projetos.

 Preencher uma lacuna verificada no que diz respeito ao estudo e análise de seus projetos, inserindo esse novo conhecimento no debate sobre arquitetura no Brasil.

 Desenvolver pesquisa na área de projeto de arquitetura, utilizando métodos de análise e contribuindo para discussão e avanço do conhecimento nesta área.

1.4 Materiais e métodos

Para alcançar o objetivo proposto, esta pesquisa enfatizou o exercício da análise projetual, investigando as principais estratégias nos projetos selecionados, através de itens de análise.

Portanto, este trabalho insere-se no grupo de Pesquisas Exploratórias. Segundo Gil (2002, p. 41), as pesquisas exploratórias têm como principal objetivo tornar explícito ou desenvolver hipóteses acerca de um determinado problema, esclarecendo e modificando conceitos, com a intenção de proporcionar maior familiaridade com o problema proposto.

Para tanto, foram adotados os seguintes procedimentos: pesquisa documental, que envolveu o levantamento dos textos e projetos realizados pelo arquiteto Sylvio de Podestá, e análise de exemplares, realizada pelos métodos e técnicas do redesenho, modelagem virtual e análise por meio de diagramas. A escolha de diagramas como mecanismo de análise e representação justifica-se pelos atributos inerentes a esse tipo de representação: abstração formal e clareza no tratamento da informação.

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Como produto desta Dissertação de Mestrado, além das discussões e análises dos projetos, serão disponibilizados: redesenho de plantas, cortes, elevações e perspectivas dos projetos selecionadas; modelo digital; diagramas resultantes das análises gráficas interpretativas; comparações qualitativas por discurso gráfico e textual entre diagramas, resultantes das análises gráficas; textos elaborados para a fundamentação teórica das análises. Todos esses produtos serão disponibilizados no acervo da Biblioteca digital da Unicamp. 1.5 Estrutura da dissertação

Quanto à estrutura, esta dissertação está dividida em seis partes.

O primeiro capítulo introduz o trabalho, apresentando as motivações que levaram o autor a desenvolver pesquisa sobre a arquitetura de Sylvio de Podestá, realizada na década de 1980. Foram apresentados a questão central da pesquisa, o pressuposto, os objetivos, a justificativa e os procedimentos metodológicos adotados.

No segundo capítulo, apresentamos a revisão da literatura. Os temas tratados nesta pesquisa envolvem a trajetória profissional do arquiteto Sylvio de Podestá, assim como temas referentes ao movimento pós-moderno. Essa revisão busca compreender sua manifestação na arquitetura, a partir dos questionamentos que se instauraram na teoria e prática profissional, tanto no contexto europeu e norte-americano, como no Brasil. Também tratamos da análise e da investigação de estratégias projetuais e compositivas em arquitetura.

No terceiro capítulo, apresentamos os procedimentos metodológicos utilizados no desenvolvimento desta pesquisa. Foram detalhados os critérios de seleção do material de análise e explicitados os procedimentos adotados, que envolveram redesenho, modelagem e análise gráfica por diagramas tridimensionais.

No quarto capítulo, são apresentadas as análises e resultados parciais obtidos após aplicação do método de análise de projeto. Esse capítulo apresenta os produtos parciais desta pesquisa, assim como análises textuais decorrentes da observação atenta dos redesenhos e diagramas elaborados.

No quinto capítulo, elaboramos um quadro que permite visualizar cada item analisado em todos os projetos selecionados. Apresentamos a discussão da pesquisa, envolvendo as

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relações entre os resultados parciais verificados, os resultados finais a partir dos pressupostos iniciais e os produtos provenientes do desenvolvimento deste trabalho.

No sexto e último capítulo, são apresentadas as considerações finais. Pretende-se com esta pesquisa preencher uma lacuna verificada nas pesquisas acadêmicas a respeito do estudo da obra arquitetônica de Sylvio de Podestá, cuja análise e documentação são de grande importância no ensino e prática da arquitetura no Brasil, oferecendo categorias de leitura, análise e interpretação de sua arquitetura.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

Como o objetivo deste estudo é analisar os projetos de arquitetura elaborados pelo arquiteto Sylvio de Podestá na década de 1980, época em que esteve associado a Éolo Maia e Josefina Vasconcellos, experimentando a linguagem pós-moderna, selecionamos três temáticas de fundamentação:

 Textos sobre arquitetura pós-moderna, incluindo livros, artigos científicos e revistas nacionais e internacionais de arquitetura.

 Textos escritos de Sylvio de Podestá.

 Textos a respeito de métodos de análise projetual e compositiva.

Os temas selecionados para esta pesquisa tratam de teoria, história e crítica da arquitetura, no contexto nacional e internacional a partir da segunda metade do século XX. Também coube a esta revisão compreender o trabalho do arquiteto Sylvio de Podestá, assim como obter subsídios para a realização da análises de seus projetos.

Cabe ressaltar que os aspectos referentes à Pós-modernidade foram abordados dentro do contexto da arquitetura. Porém, é importante salientar que houveram mudanças significativas em todos os âmbitos da sociedade após a Segunda Guerra Mundial.

2.1 Apresentação do arquiteto Sylvio Emrich de Podestá

Neste capítulo introduzimos o arquiteto Sylvio de Podestá, cuja obra decidimos analisar neste trabalho e discutir sua arquitetura, especialmente a produzida na década de 1980.

Sylvio de Podestá nasceu na cidade de Rio Verde, Goiás, em janeiro de 1952. Filho de bancário, morou em diversos lugares até fixar residência, aos 10 anos, na cidade de Anápolis, perto da recém-inaugurada capital Goiânia, projetada aos moldes do planejamento realizado em Belo Horizonte.

Na década de 1970, iniciou seus estudos em engenharia, na cidade de Brasília-DF. Porém, com as restrições impostas pelo governo militar de Médici, mudou-se para Belo Horizonte para dar prosseguimento ao curso. Após três anos cursando engenharia, Sylvio de Podestá transferiu seus estudos para a Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e formou-se engenheiro arquiteto em 1982.

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Ainda estudante, montou um escritório de apresentação, desenho e aprovação de projetos de arquitetura para outros profissionais. A partir desse momento, diversas parcerias foram se estabelecendo em sua trajetória profissional, tornando-se uma característica marcante no exercício de sua arquitetura. Sobre elas, o arquiteto afirma:

...eu já tinha um escritório onde também trabalhava um designer e essa troca era muito boa, então montamos o primeiro escritório que eu tive notícia na época onde o cliente podia participar da produção. Era um grande salão, sem nenhuma divisória, com todas as pranchetas ali, estagiários junto com todos os profissionais, e o cliente podia chegar lá, olhar todo o processo. Ele entrava no escritório e já estava vendo o detalhamento, os materiais a serem utilizados, vendo quem estava fazendo o desenho x, y... Ele acompanhava, entrava e saía com a maior cara de pau (PODESTÁ, 2001, p. 17) .

Dessas parcerias, a que estabeleceu com os arquitetos Éolo Maia e Maria Josefina Vasconcellos, no começo da década de 1980 até 1988, foi bastante profícua, alcançando grande projeção no cenário da arquitetura brasileira. O trio desenvolveu diversos projetos em que buscavam apresentar a complexidade da prática arquitetônica através de uma atitude questionadora e irreverente, ficaram reconhecidos por inaugurarem o Pós-Modernismo em Minas Gerais.

De acordo com Santa Cecília (2004), quando o arquiteto Éolo Maia associou-se a Sylvio de Podestá e Josefina Vasconcellos, formando o grupo mineiro Três Arquitetos (Figura 2), houve uma importante mudança em sua trajetória profissional. Nesse período, Éolo Maia assimilou a crítica pós-moderna em sua obra, partindo para experimentações plásticas cada vez mais ousadas. O abandono às referências dos grandes mestres modernos como Louis Kahn e Vilanova Artigas tornou-se cada vez mais evidente, diante de uma liberdade formal marcada por fortes traços das experimentações pós-modernas que vinham ocorrendo no contexto internacional (SANTA CECÍLIA, 2004).

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Figura 2 – Três Arquitetos (da esquerda para a direita: Éolo Maia, Josefina Vasconcellos, Sylvio de Podestá)

Fonte: (JORNAL 03 ARQUITETOS, n. 0, mai./jun. 1988, p.02).

Questionadores e irreverentes, os diversos projetos desenvolvidos pelo trio na década de 1980 tinham como características o uso de formas livres e ousadas, com influências das práticas arquitetônicas que vinham ocorrendo no exterior, porém atentos aos elementos da cultura mineira, e pouco compromissados com a tradição moderna local (SEGAWA, 1999).

Sylvio de Podestá atribui à sua própria geração de arquitetos essa atitude descompromissada, que assistiu à perpetuação de uma linguagem arquitetônica caracterizada pelo uso extensivo do concreto armado aparente e o vidro que, de acordo Bruand (2008), desenvolveu-se na cidade de São Paulo, e aos poucos foi sendo praticada, mesmo que pontualmente, em outras regiões do Brasil. Conforme aponta autor:

Trata-se, ao mesmo tempo, de uma volta aos princípios de um funcionalismo estrito, de essência decididamente técnica e aspirando a uma industrialização da construção, mesmo quando se expressa pelo caminho artesanal, e de uma estética que valoriza a força, a massa e o peso, armando os contrastes violentos e a psicologia de choque. [...] São Paulo, cidade fria, hostil, desumana e implacável, encontrou uma arquitetura que pode muito bem ser sua imagem e chegar a se impor inapelavelmente na desordem e na confusão urbanística que reinam (BRUAND, 2008, p. 319).

Já para Colin (2004), o trio apresentou nos anos 1980 “uma obra consequente, homogênea e pioneira do Pós-Modernismo no Brasil” (COLIN, 2004, p.137). Seus projetos são inclusivos, por vezes apropriando-se de referências do modernismo brasileiro, como planos de vidro e formas geométricas abstratas, outras recorrendo a elementos da tradição arquitetônica mineira. Porém, com uma identificável constante, como a utilização da planta clássica, simetrias e espaços determinados pela forma.

De acordo com o crítico e historiador Segre (2002), os projetos desenvolvidos por Éolo Maia, Jô Vasconcellos e Sylvio de Podestá, buscavam superar o que se convencionou

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denominar de “arquitetura brasileira” inspirada nas célebres obras dos grandes mestres da arquitetura nacional como Oscar Niemeyer e Vilanova Artigas. Para tanto, o trio valorizou os elementos tradicionais do barroco mineiro, influenciados pelas vanguardas internacionais pós-modernas.

Dessa parceria, surgiram projetos de diversos tipos e escalas, do âmbito público ao privado. Cabe destacar o Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves (1985-1986) (Figura 3), conhecido popularmente como “Rainha da Sucata”. Este edifício está localizado na Praça da Liberdade e foi construído para a Secretaria de Esportes e Lazer do Estado de Minas Gerais. Com um programa inicialmente modesto, apenas alguns sanitários para a população local, os arquitetos propuseram construir um anfiteatro, um hall de informações turísticas e exposições artísticas e administração.

Figura 3 – Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves (1985-1986)

Fonte: (PODESTÁ, 2001, p. 35).

A análise de Santa Cecília (2004) revelou que os arquitetos realizaram uma releitura dos elementos arquitetônicos provenientes dos edifícios públicos em estilo eclético e neoclássico presentes no entorno. Assim, adotaram uma linguagem arquitetônica particular para os padrões da época, valorizando o entorno da Praça da Liberdade, e estabelecendo uma relação de escala com os demais edifícios. Além do mais, o uso de materiais pouco convencionais para a época, como o revestimento externo de chapa metálica na cor prata e acabamento fosco, permitiu ainda que as construções vizinhas fossem refletidas. Também utilizaram materiais locais como a pedra Ouro Preto, ardósia Sete Lagoas, “pedra-sabão” de Santa Rita e o aço patinável, revelando uma valorização dos materiais regionais (MAIA; VASCONCELLOS; PODESTÁ, 1985).

Outro aspecto importante na carreira do Sylvio de Podestá é o empenho em divulgar a arquitetura e o urbanismo de boa qualidade. No final da década de 1970 e início da década de

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1980, ajudou a fundar e a editar duas importante revistas: a revista Vão Livre e a revista Pampulha (Figura 4).

Figura 4 – Capa da primeira edição das revistas Pampulha e Vão Livre

Fonte: http://www.podesta.arq.br/

Vão Livre surgiu a partir da revista Informador da Construção. Seus volumes apresentavam a arquitetura produzida no contexto mineiro, informando a respeito do desenho do espaço, seus assentamentos e instituições não somente ao público dos arquitetos, mas também a todos aqueles preocupados com estas questões.

De acordo com Segawa (1999), a revista Pampulha publicou artigos sobre arquitetura, artes e temas afins, em plena ditadura militar, sempre com uma linguagem bem-humorada e otimista. Em sua primeira edição, contou com um depoimento do arquiteto Oscar Niemeyer e uma entrevista com Lúcio Costa, tratando sobre Brasília.

Apesar da admiração e homenagem aos antigos mestres, a vontade de superação ficou evidente com a publicação de diversos projetos desenvolvidos por jovens arquitetos mineiros como: Cid Horta; Álvaro Hardy (Veveco), Flávio Almada, Joel Campolina, Gustavo Araújo Penna, Sylvio de Podestá e Éolo Maia, dentre outros (PAMPULHA, 1979).

Em sua edição número 08 de 1983 (Figura 5), a revista publicou uma entrevista com o arquiteto suíço Mario Botta, em decorrência de sua visita à Belo Horizonte e Ouro Preto. Com texto elaborado por Éolo Maia, é possível observar diversos elementos que permitem compreender as questões que estavam em pauta naquele momento, tais como: o impasse em que se encontrava a arquitetura na década de 1980, as práticas arquitetônicas europeia e norte-americanas contemporâneas, a tendência pós-moderna, a historiografia, o legado moderno, o ensino de projeto.

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Figura 5 – Entrevista ao arquiteto Mario Botta publicada na revista Pampulha, em 1983

Fonte: (PAMPULHA, n. 08, 1983, p. 09).

De acordo com Mendes, Veríssimo e Bittar (2015), a revista Pampulha teve grande importância, como produto editorial de divulgação da arquitetura, no contexto mineiro. Segundo os autores: “Com esta publicação, seus editores procuravam devolver a Minas Gerais uma posição inovadora, como já havia ocorrido durante o Ciclo de Ouro, com seus poetas, pintores, escultores e arquitetos.” (MENDES; VERÍSSIMO; BITTAR, 2015, p. 319).

Além dessas experiências editoriais, Sylvio de Podestá publicou em parceria com Éolo Maia e Josefina Vasconcellos os livros 3 Arquitetos e 3 Arquitetos 1980-1985 (Figura 6). Nessas obras, o trio apresentou diversos trabalhos individuais e em equipe, desenvolvidos em sua maioria nas décadas de 1970 e 1980. Além do mais, publicaram o jornal informativo 3 Arquitetos sobre as atividades do escritório.

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Figura 6 – Livros publicados pelo escritório Três Arquitetos

Fonte: (MAIA; VASCONCELLOS; PODESTÁ, [1982, 1985]).

Em 1991, Sylvio de Podestá criou, com Gaby de Aragão, a editora AP Cultural. Com esta editora publicou a importante Revista AP, que mesclava assuntos variados dentro da temática da arquitetura, design e meio ambiente. Além do periódico, a editora publicou importantes livros de teoria de arquitetura como o Ensaio sobre a razão compositiva do arquiteto e professor Mahfuz (1995).

Além dos livros citados, Sylvio de Podestá publicou três livros autorais, em que divulga seus projetos, textos e entrevistas por ele concedidas, são eles: Casas, Projetos Institucionais, Projetos Recentes (Figura 7).

Figura 7 – Livros autorais publicados por Sylvio de Podestá

Fonte: (PODESTÁ, [2000, 2001, 2008]).

De acordo com Segre (2002), a obra de Sylvio de Podestá pode ser dividida em três períodos com influências distintas, sempre acompanhando as rápidas transformações pelas quais a arquitetura foi passando nas últimas décadas. Na década de 1970, início de sua atuação profissional, prevaleceram as formas cobursianas com influências locais em projetos de pequenas residências unifamiliares. Já na década de 1980, em parceria com Éolo Maia e Josefina Vasconcellos, indo desde a experimentação da linguagem pós-moderna às

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composições volumétricas rigorosas de Louis Kahn, Aldo Rossi e Mario Botta. Na década de 1990, os projetos se destacam por possuírem uma linguagem construtivista, marcada pelas geometrias dinâmicas, com formas articuláveis, e utilizando-se de curvas e tangentes, apresentando, ao mesmo tempo, uma grande liberdade e domínio do processo criativo.

Atualmente, o arquiteto mantém seu escritório em funcionamento, localizado na cidade de Belo Horizonte, na rua Santo Antônio do Monte, no bairro Santo Antônio. Em seus trabalhos recentes, prevalecem projetos de grandes portes com sistemas construtivos racionais, fazendo uso de pré-fabricados em estruturas metálicas (Figura 8).

Figura 8 – Projetos das décadas de 1970, 1980, 1990, 2000: Residências (01) Luluca e Heloisa (1978), (02) Sidney e Karla (1981), (03) Paulo e Tânia (1997), (04) Gráfica Rona (2006)

Fonte: Adaptado de (PODESTÁ, [2000, 2008]).

01 02 03

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Figura 9 – Croquis elaborados por Sylvio de Podestá

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2.2 Considerações sobre o Pós-modernismo

Em meados da década de 1960, questionamentos ao Movimento Moderno na arquitetura trouxeram, à teoria e prática arquitetônica um novo rumo de debates, constituindo a crítica Pós-moderna. Esse movimento que eclodiu na década de 1970, através da materialização de diversas obras de arquitetos como Aldo Rossi e Robert Venturi, tinha como objetivo a superação das propostas elaboradas pela vanguarda moderna no início desse século.

O termo pós-moderno engloba uma série de transformações culturais, econômicas e sociais que ocorrem na segunda metade do século XX. Na arquitetura, reúne diversas tendências muitas das quais antagônicas entre si, como nas manifestações ligadas à pop-art e ao vernáculo comercial, até os movimentos de caráter historicistas, revivalistas e descontrutivistas.

Ghirardo (2002), em seu livro Arquitetura Contemporânea: uma história concisa, aponta que a partir das décadas de 1950 e 1960, a utilização da estética moderna foi apropriada pelos arquitetos, porém isenta do ideal reformista propostos por arquitetos como Le Corbusier, Mies van der Rohe e Gropius. De acordo com a autora:

O modernismo adquiriu vida nova depois da Segunda Guerra Mundial, principalmente nos Estados Unidos, onde a estética do movimento moderno, polida e sem ornamentos, voltou-se para tecnologias como as estruturas de aço e as paredes de vidro para produzir arranha-céus, prédios de escritório e centros comerciais a um custo viável. Ao mesmo tempo, a noção do arquiteto como grandioso criador de formas começou a dominar as escolas e, depois, a profissão (GHIRARDO, 2002, p. 05).

Para a autora, a crítica ao Movimento Moderno começou a surgir a partir da publicação de quatro livros, que assinalavam uma mudança que estava por vir: Morte e vida das grandes cidades, de Jane Jacobs, lançado em 1961, questionando o planejamento urbano moderno; Construindo com o povo: arquitetura para os pobres, escrito pelo arquiteto Hassan Fathy em 1969, tratando sobre a incorporação de tecnologias estrangeiras em contraposição às práticas vernaculares presentes no Egito; Complexidade e Contradição em Arquitetura de Robert Venturi, e A arquitetura da cidade de Aldo Rossi, ambos publicados em 1966, tratando da importância das cidades e edifícios históricos6.

6 Os livros, assim como as obras dos arquitetos Robert Venturi e Aldo Rossi, serão tratados mais detalhadamente

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De acordo com Marques (2002), a partir das décadas de 1950 e 1960, intensificam-se os debates em torno dos questionamentos a respeito do Movimento Moderno. Além das publicações citadas por Ghirardo (2002), o autor menciona que revistas internacionais como a AD – Architectural Design e Casabella-Continuitá, e eventos como a exposição New York Five, catalisaram as novas vertentes que estavam emergindo naquele momento. Segundo o autor, o debate em torno do referencial à tomada de decisões projetuais voltou-se a questões ligadas ao uso da história e do passado, assim como da convenção como elemento de projeto. Assim, os paradigmas e valores essenciais do Movimento Moderno, como a cresça na técnica, da razão estética e do funcionalismo, foram, paulatinamente, sendo questionados.

Apesar da grande variedade de temas, os debates tinham em comum a ideia de superação da teoria moderna, e alguns dos seguintes princípios: a relação entre forma e função; a ruptura com a história da arquitetura; a expressão honesta da estrutura e do material; a fé depositada no racionalismo; a arquitetura como promotora de mudanças sociais (NESBITT, 2008).

De acordo com Coelho (2011), a produção arquitetônica pós-moderna surgiu no século XX, sustentando-se em dois pilares fundamentais: recusa-se a ideia/obsessão pelo novo, aceitando o recurso da história e de seu amplo estoque cultural; recusa-se a ideia do funcionalista, pautada na ciência e tecnologia.

Já para Ficher (1984), dentre as causas que levaram os próprios arquitetos e teóricos da arquitetura, a partir da década de 1960, a se posicionaram diante da hegemonia da linguagem moderna, destaca-se a adoção de formas geométricas arbitrárias, derivadas de uma linguagem supostamente racionalista, pilar central do Movimento Moderno na arquitetura. Segundo a autora, essas formas abstratas despertaram questionamentos quanto a sua real pertinência em termos de uso, construção e significado.

Portoghesi (1985) também reflete sobre esse fato. A arquitetura moderna, ao recorrer ao abstracionismo formal, perdeu o papel comunicativo, e, portanto, a capacidade de se comunicar com um público que não compreende os códigos formais estabelecidos pelos arquitetos modernos. De acordo com o autor: “Acho que os arquitetos deste século se basearam demasiado no fascínio da surpresa e da estranheza, não cuidando, de modo suficiente, o efeito tranquilizador do que é familiar” (PORTOGHESI, 1985, p. 99).

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Por outro lado, os códigos escolhidos pelos arquitetos pós-modernos baseavam-se em elementos presentes na arquitetura, assim como também da arquitetura não-erudita, como elementos do kitsch, pop e vernacular, realizados com materiais e técnicas correntes na construção. Nesse sentido, a crítica repousou inicialmente nos aspectos formais e no seu processo de significação, que posteriormente será objeto de teorização por diversos autores. De acordo com Abascal (2005), na década de 1980, através da utilização de frontões clássicos, ornamentos justapostos, tripartições e de paródias de colunas gregas, os arquitetos exaltaram a “desreferenciação”, por meio da prática de citação e colagens, de elementos que, historicamente e culturalmente, não pertencem a determinado contexto. No entanto, a autora ressalta que essa arquitetura demonstrou-se mais como uma possibilidade de experimentação e especulação projetual, do que, de fato, uma nova prática hegemônica nesse período.

Vemos em Tagliari (2018), quatro modelos conceituais de análise de projetos com foco nos sistema de circulação e percursos. São eles: O Modelo Estático; O Modelo da continuidade espacial e visual; O Modelo quadro a quadro, das sequencias e das surpresas; O Modelo heterogêneo. De acordo com a autora, o modelo referente ao período da Pós-modernidade, os espaços são percebidos paulatinamente, ou como denomina a autora, “quadro a quadro”, em contraposição ao espaço Moderno, onde predomina-se a fluidez, continuidade e desobstrução visual. Nesse modelo de percurso, procura-se uma integração entre o edifício e o contexto, tanto internamente quanto externamente, buscando-se revelações graduais de parte de edifício, assim como de visuais e surpresas.

A pluralidade que caracteriza a arquitetura pós-moderna também foi observada pelo importante historiador inglês Frampton (1997). Ao contrário de outros autores, o historiador inglês mostra-se cético ao tentar compreender as origens e anseios desse movimento. O autor entende sua origem como uma tentativa, ou tendência, à fuga da vida contemporânea dominada pelos valores pautados pelo complexo industrial-científico.

O que fica evidente na leitura de Frampton (1997) é que o autor discorda com os argumentos defendidos por outros autores, especialmente sobre a desintegração e, portanto o esgotamento dos preceitos modernos. Segundo o autor, as “citações históricas” presentes em obras de diversos arquitetos, especialmente os norte-americanos nesse período, são uma afronta aos valores tradicionais da arquitetura. De acordo com o autor:

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Na arquitetura pós-moderna, as “citações” clássicas ou vernaculares tendem a interpenetrar-se de modo desconcertante. Invariavelmente apresentadas como imagens desfocadas, elas se desintegram com muita facilidade e misturam-se com outras formas mais abstratas, em geral cubistas, pelo quais o arquiteto não tem mais respeito do que aquele que atribui a suas alusões históricas extremamente arbitrárias (FRAMPTON, 1996, p. 372-373).

Já para Montaner (2014), a década de 1960 foi um momento crucial de questionamentos e revisões. Inicialmente, foi nesse período que morreram os grandes mestres modernistas Le Corbusier, Mies van der Rohe, Gropius e Ernest Rogers. Simultaneamente, emergiram arquitetos que realizaram projetos com uma linguagem que mostrava uma verdadeira vontade de superação dos princípios estabelecidos pelos antigos mestres, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.

No contexto norte-americano cabe ressaltar a importância do arquiteto Louis Kahn, projetando a partir de um método de composição geométrica. O arquiteto utilizava figuras elementares em que a forma possui a capacidade de evocar a função. Seus trabalhos tiveram um grande impacto nos jovens arquitetos nos anos 1950 e 1960.

Outros importantes trabalhos foram desenvolvidos nos Estados Unidos. As obras realizadas pelos arquitetos Peter Eisenman, Michael Graves7, John Hejduk, Charles Gwathmey e Richard Meier, conhecidos como New York Five, resgatavam o racionalismo dos primeiros trabalhos de Le Corbusier e Giuseppe Terragni, porém partindo para novas experimentações formais. Os trabalhos desses arquitetos não tinham como pretensão um retorno ao Movimento Moderno, mas o uso de suas formas de modo neutro e isento das ambições de transformações sociais através da arquitetura.

Por outro lado, os arquitetos Robert Venturi e Robert Stern constituem uma vertente oposta ao trabalho dos New York Five. Venturi e Stern ficaram reconhecidos por produzirem uma arquitetura com forte viés comunicativo, recorrendo ao vernáculo comercial e elementos históricos.

7 Posteriormente, Michael Graves abandona o recurso as experimentações junto aos demais arquitetos do New

York Five, desenvolvendo trabalhos com grande apelo comunicativo e figurativo, como pode ser observado no

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Já na Europa, particularmente os arquitetos italianos, tiveram uma grande importância ao proporem uma reconexão com a História da Arquitetura, as preexistências ambientais, a importância dos monumentos, e o papel do artista e intelectual dentro da sociedade. Dentro desse contexto, cabe mencionar os arquitetos Aldo Rossi, Carlo Aymonino, Mandredo Tafuri, Giorgio Grasse, Giancarlo De Carlo.

Na Espanha, o trabalho do grupo Taller de Arquitectura, composto por Ricardo e Ana Boffil, destacou-se por meio de seus grandes projetos de conjuntos habitacionais com grande apelo figurativo e cenográfico, como pode ser observado em seu projeto Les Espaces d’Abraxas de 1982, construído em Noisy-le-Grand, região de Paris (Figura 10). Também outros arquitetos experimentaram uma ligação com a história no continente europeu como: Ungers e Gottfried Böhm, na Alemanha, Hans Hollein, na Áustria, James Stirling e Leon Krier, na Inglaterra, Mario Botta, na Suíça.

Figura 10 – Les Espaces d’Abraxas, 1982, Taller de Architectura

Fonte: http://www.ricardobofill.com/projects/les-espaces-dabraxas/

No caso de Mario Botta, Pizzi (1994) reconhece uma oposição deliberada entre o edifício e a natureza. Sua arquitetura possui como principal característica a não integração com a paisagem, possibilitada pela “aceitação resignada de regras possessivas correntes, evidenciado ainda mais pelo uso de formas primárias: o cubo, o cilindro e o prisma triangular” (PIZZI, 1994, p. 13).

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Para lidar com a complexidade projetual na pós-modernidade, arquitetos desse período recorreram ao uso de desenhos perspectivados, que melhor representavam a forma e o espaço. Goldschmidt e Klevitsky (2004) apontam que a utilização da axonometria já era conhecida desde a Renascença. Porém, foi com os arquitetos modernos no início do século XX que adentraram as convenções de representação na arquitetura.

Segundo as autoras, no período pós-moderno, os meios de representação não sofreram grandes transformações quanto as arquiteturas que eles representam. Porém, pequenas variações foram incorporadas aos modos tradicionais de representação, como no caso das “worm’s-eye” views, realizadas pelos arquitetos James Stirling e Mario Botta (Fugira 11), cuja principal característica é a possibilidade de representação da planta, elevações, volumetria e espacialidade em um único desenho.

Figura 11 – Banco do Estado de Mario Botta, construído em Friburgo em 1977

Fonte: (CROSET, 1982, p.52).

De acordo com Haraguchi (1988), ao contrário dos desenhos perspectivos mais subjetivos, muito utilizados desde o Renascimento, a axonométrica tem uma característica de objetividade da era moderna. Acima de tudo, tem a vantagem de apresentar a composição espacial, de maneira visual e clara.

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Por fim, cabe ressaltar que a crítica aos preceitos do Movimento Moderno na arquitetura, a partir da década de 1960, foi-se estabelecendo por parte de determinados grupos de teóricos e arquitetos. Os fatores que desencadearam e contribuíram para o surgimento do Movimento Pós-moderno, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, possuem em comum a vontade de superação de determinadas práticas modernas consolidadas. Seja através de projetos ou textos, uma mudança na própria linguagem da arquitetura demonstrou-se necessária.

2.3 As linguagens clássica, moderna e pós-moderna da arquitetura

A publicação do livro A linguagem pós-moderna da arquitetura8, escrito pelo renomado historiador e crítico Charles Jencks, teve um grande impacto na crítica de arquitetura na segunda metade do século XX. Por levar o termo “linguagem” em seu título, e portanto entender a arquitetura como gramática, ou mais precisamente, gramática da forma, é possível relacioná-lo com outras duas importantes obras desse século, são elas: A linguagem clássica da arquitetura, do inglês Sir John Summerson, e A linguagem moderna da arquitetura, escrito pelo arquiteto italiano Bruno Zevi.

O obra de Summerson (2009) trata da natureza da linguagem da arquitetura clássica, cujas raízes remontam à Antiguidade, mais precisamente a Grécia e Roma, com seus templos, sua arquitetura militar e religiosa, que permaneceu em quase todo o mundo durante os cinco séculos em que transcorreu o Renascimento. Segundo o autor, o termo “clássico” aplica-se, principalmente, a duas diferentes situações na arquitetura. Primeiramente, é utilizado pela definir edifícios cujos elementos decorativos advêm do mundo “clássico”, reconhecíveis, por exemplo, através de elementos como os cinco tipos de colunas (Toscana, Dórica, Jônica, Coríntia e Compósita) (Figura 12) apresentadas por Sebastiano Serlio, no Renascimento, além de frontões e ornamentos da arquitetura greco-romana.

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Figura 12 – As ordens da Arquitetura Clássica de Sebastiano Serlio proposta em 1540

Fonte: (SUMMERSON, 2009, p. 01).

Porém, de acordo com Summerson (2009), essa definição é superficial pois não informa sobre a essência da arquitetura clássica. Assim, a arquitetura clássica é aquela que busca atingir a harmonia por meio da proporção. Dessa forma, o autor ressalta:

O fato é que a essência da arquitetura – tal como foi exposta pelos teóricos renascentistas – está expressa, consciente ou inconscientemente, em todas as arquiteturas do mundo. E se por um lado é necessário incorporar essência à nossa ideia do que é clássico, por outro, precisamos aceitar também o fato de que a arquitetura clássica é reconhecível como tal apenas quando contém alguma alusão, ainda que vaga, ainda que residual, às “ordens” da Antiguidade (SUMMERSON, 2009, p. 05).

Após dez anos da publicação de A linguagem clássica da arquitetura, Zevi (1984), arquiteto e historiador da arquitetura moderna, lançou a obra A linguagem moderna da arquitetura. Segundo o autor, demonstrou-se pertinente e necessária a categorização de determinadas invariáveis que compõem a gramática da arquitetura moderna, já que, até aquele momento, para o autor só havia uma única linguagem: a linguagem clássica. Para Zevi (1984), o reconhecimento dos instrumentos e conceitos que estruturam um movimento arquitetônico enquanto linguagem, transmissível através da elaboração de pensamentos e teorias, é fundamental para sua renovação constante, de modo a impedir de desgaste.

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Em sua obra, o autor estabelece sete invariáveis9 que permitem estruturar o Movimento Moderno através de uma linguagem. Porém, cabe ressaltar que os conceitos elaborados por Zevi (1984) não são aplicados de maneira equânime pelos arquitetos considerados modernos. Da mesma maneira, nem todas as obras utilizam desses preceitos de modo unívoco. Segundo o autor: “Contam-se aos milhares os arquitetos e os estudantes de arquitetura que projetam, mas que desconhecem o léxico, a gramática e a sintaxe da linguagem moderna que, em relação ao classicismo, são o antiléxico, a antigramática e a anti-sintaxe” (ZEVI, 1984, p.12-13).

As sete invariáveis propostas por Zevi (1984), que permitem estruturar a gramática da linguagem moderna são:

 A função como gênese da arquitetura (metodologia do catálogo);

 Assimetria em detrimento da simetria clássica;

 Preferência da tridimensionalidade do volume (antiperspectiva) à fachada bidimensional (perspectiva renascentista);

 Decomposição da caixa hermética classicista, ou seja, do espaço estático para o espaço dinâmico;

 A independência da estrutura;

 A importância do percurso do espaço no tempo (o espaço temporalizado);

 Reintegração do edifício na cidade e na paisagem.

Por sua vez, a obra de Jencks (1981) - A linguagem pós-moderna da arquitetura - estabelece um marco para o nascimento do movimento pós-moderno na arquitetura, e consequentemente o fim da arquitetura moderna. De acordo com o autor: “A arquitetura moderna morreu em St. Louis, Missouri, em 15 de julho de 1972, às 3:32 da tarde (mais ou menos), quando vários blocos do projeto Pruitt-Igoe foram implodidos com dinamite” (JENCKS, 1981, p. 09, tradução nossa).10

9 Termo “invariáveis” foi utilizado por Zevi (1984), para definir as características presentes na arquitetura

moderna. Cabe ressaltar que o autor selecionou sete características, porém admite que outras mais podem ser estipuladas para configurar o léxico da gramática arquitetônica moderna.

10 La Arquitectura Moderna murió em ST Louis, Missouri, el 15 de julio de 1972 a las 3:32 de la tarde (más o

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O conjunto habitacional Pruitt-Igoe (Figura 13) foi projetado pelo arquiteto Minoru Yamasaki, entre 1952 e 1955, sob influência do zoneamento funcional e do urbanismo racionalista. Formado por uma série de blocos de tipologia laminares, e sob os princípios estabelecidos pelo CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna), foi destruído em 1972 pelo vandalismo e pela alta criminalidade que tomou conta do conjunto. Para Jencks (1981), esse acontecimento marcou o fim da arquitetura e do urbanismo modernos, já que o conjunto Pruitt-Igoe sintetizava os princípios desse movimento.

Figura 13 – Conjunto habitacional Pruitt-Igoe, 1952-1955

Fonte: (JENCKS, 1981, p. 09).

Jencks (1981) esboçou em seu livro a definição da arquitetura pós-moderna. O autor trata de uma mudança que partiu da própria arquitetura moderna e se converteu em um novo estilo, denominado de arquitetura pós-moderna. Código, metáfora e imagem, são termos escolhidos pelo autor para definir essa nova arquitetura. Sua preocupação com ornamentos e símbolos denotam um interesse na superfície e na expressão externa da forma.

De acordo com Jencks (1981), o edifício pós-moderno seria aquele que estabelece dois níveis de comunicação simultâneos. Entende a arquitetura como linguagem, comunicando com os arquitetos e os interessados em arquitetura, capazes de compreender seus códigos arquitetônicos específicos, e também com o público em geral, interessados em questões como a comodidade, a tradição e o estilo de vida.

A partir de uma linguagem inclusiva, o pós-moderno arquitetural, apesar de recorrer a códigos passados, utilizou-se de novos materiais e novas formas de combinação. De acordo com Coelho (2011, p. 87): “Não é, na verdade, um simples retorno ao antigo, não se trata de mais um caso do ‘eterno retorno’. A linguagem agora é a da decomposição (onde antes valera

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