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Residência Hélio e Joana (1982)

No documento Casas de Sylvio de Podestá : 1979-1989 (páginas 99-106)

Figura 42 – Perspectiva axonométrica da Residência Hélio e Joana

Figura 43 – Planta da Residência Hélio e Joana

Figura 44 – Cortes e elevações da Residência Hélio e Joana

Quadro 10 – Diagramas analíticos da Residência Hélio e Joana

Itens de Análise Residência Hélio e Joana (1981/1982)

Implantação Perímetro Acessos Circulação Setorização Composição formal

Apresentação, interpretação e análise

A residência Hélio e Joana foi implantada no lote plano com dimensões de vinte e quatro metros de frente por trinta metros de comprimento. Esse projeto foi desenvolvido em parceria com o arquiteto Éolo Maia para um jovem casal e seus dois filhos, em terreno situado na região do Vale do Aço na cidade de Ipatinga-MG.

O programa é composto por: suíte, dois dormitórios, escritório, sala de jantar, sala de estar, cozinha, área de serviços, dormitório de empregadas com banheiro, e um lavabo social. Os setores social, íntimo e de serviços foram organizados no edifício de acordo com o grau de proximidade em relação à rua. As funções reservadas aos serviços localizam-se na parte frontal do terreno, enquanto o setor íntimo, composto pela suíte e os demais dormitórios, localizam-se na parte posteriordo lote. Diferentemente das residências Rosinha, Karla e Sydney e Rubens, o perímetro da edificação apresenta-se recortado.

Deve-se destacar que o lavabo assume uma posição particular dentro do partido arquitetônico. Um volume cilíndrico localizado no eixo de entrada cria uma “barreira” visual que resguarda a intimidade no interior da edificação.

É interessante notar que apesar do programa se desenvolver em um único pavimento, os arquitetos criam diferentes níveis como forma de organizar os ambientes, configurando uma rica experiência na leitura e compreensão do espaço. Para tanto, recorreram à variação de níveis e pés-direitos, dilatando e contraindo os ambientes, gerando diferentes sensações e percepções.

Nesse projeto, nota-se a utilização de uma estratégia que já havia sido empregada por Sylvio de Podestá na Residência Rosinha. O edifício ocupa toda a extensão transversal do terreno criando uma “muralha” que delimita o interior do exterior. Essa “muralha”, recuada propositalmente em relação à rua, permite ao usuário uma apreensão mais acurada de suas formas e de sua composição. Porém, ao adentrar o edifício, a “muralha” liberta-se completamente das divisas, estruturando-se sobre a axialidade do eixo de entrada.

Além do acesso principal, localizado na parte frontal, a residência possui outros três acessos: garagem, escritório e área de serviços. Estes dois últimos localizam-se próximos às divisas do lote, em níveis inferiores ao nível da entrada principal.

No projeto da Residência Hélio e Joana, similar ao que ocorre na Residência Karla e Sydney, os arquitetos demarcam propositalmente a entrada de pedestres. Nela, um grande arco de alvenaria projeta-se do plano da elevação frontal, conduzindo o usuário ao interior da edificação.

A distribuição acontece em um único pavimento, sobre um eixo axial que se inicia na entrada e termina no setor íntimo da edificação. É sobre esse eixo que o programa estrutura-se, formando duas áreas externas independentes; uma dedicada ao lazer, com piscina e churrasqueira e outra ao pomar e jardim. Sobre a axialidade deste eixo de circulação Podestá (2000) aponta:

A razão de uma circulação tão extensa dizia respeito a uma contrapartida do discurso modernista, da época do projeto, quando existia um esforço enorme em eliminar ou reduzir ao máximo o corredor dos quartos (na verdade, o mercado imobiliário já chegava ao ponto de ligar a qualidade de um projeto à pequena circulação dos quartos) (PODESTÁ, 2000, p. 60).

Nesse projeto, os arquitetos criaram duas paredes paralelas para abrigar parte do programa, e nelas apoiam a cobertura. Com isto, a platibanda acompanha a inclinação do telhado, transformando-se em um grande frontão, interrompido propositalmente pelos arquitetos, recurso que já havia sido utilizado por Sylvio de Podestá na residência Karla e Sidney.

A composição formal resulta de uma articulação de formas volumétricas que se sobrepõem, como triângulos e quadrados, interligados por um grande arco que sobressai de toda a composição e conecta esses volumes.

Porém, se na Residência Rubens a chaminé foi um elemento enfatizado, nesse projeto o reservatório assume essa função. Os arquitetos utilizam um cilindro arrematando o encontro das águas da cobertura, no eixo do frontão interrompido. Ao se apropriarem do reservatório como um elemento compositivo na elevação frontal, os arquitetos alinham-se às premissas de Venturi (1992) a respeito da utilização de elementos convencionais fora de seu contexto, gerando riqueza de significados através da ambiguidade e complexidade.

Com relação às técnicas construtivas, não foi possível realizar análises em maior profundidade devido ao fato de serem poucas as informações presentes no desenhos divulgados

pelo arquiteto. Porém, de acordo com Podestá (2000), foram utilizados de métodos próprios do local da construção: no setor íntimo, cúpulas de tijolos cerâmicos, material com alta inércia térmica, garante o conforto necessário devido às altas temperaturas da região. No setor social, estruturas de madeira com altos pés-direitos garantem a ventilação necessária a esses ambientes. Como afirma Podestá (2000):

Com esta casa a quatro mãos, refizemos nossa leitura sobre casa, reestudamos a questão das platibandas, rediscutimos a circulação como elemento importante na arquitetura, incorporamos antigas tecnologias de construções de tijolo trabalhando somente a compressão; trouxemos de volta o uso das cores fortes em contrapartida às cores pastéis do modernismo e redesenhamos a caixa d´água, que agora não necessariamente era um volume compondo com o grande corpo horizontal, mas um aplique formal no caso sobre o pórtico/arco principal, como um brasão (PODESTÁ, 2000, p. 60).

Na Residência Hélio e Joana, os arquitetos utilizaram elementos pós-modernos da arquitetura de Robert Venturi que Sylvio de Podestá já havia experimentado nas residências Rosinha, Karla e Sidney e Rubens. Estão presentes nesse projeto os elementos arquitetônicos clássicos, tais como as formas arquetípicas do frontão triangular, janelas quadradas, cúpulas e arcos. A frontalidade, a simetria e a centralidade palladiana19, são utilizadas pelos arquitetos apenas de modo aparente, assim como o fez Robert Venturi na Residência Vanna Venturi.

No documento Casas de Sylvio de Podestá : 1979-1989 (páginas 99-106)