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Publicações importantes do período

No documento Casas de Sylvio de Podestá : 1979-1989 (páginas 45-48)

O embate no campo teórico também marcou o Movimento pós-moderno na arquitetura, com influências de outros ramos do conhecimento. De acordo com Nesbitt (2008), os estudos desenvolvidos no período em fenomenologia, estética, linguística, marxismo e feminismo tiveram grande impacto na teoria da arquitetura. Com isso, uma grande variedade de posturas até mesmo divergentes, marcou esse movimento. Segundo a autora:

De fato, uma das características do período pluralista imprecisamente designado de

pós-moderno é a inexistência de um tópico ou um ponto de vista predominante. Todas

as tendências contraditórias coexistentes no pós-modernismo mostram claramente um desejo de ultrapassar os limites da teoria modernista, inclusive do formalismo e dos princípios do funcionalismo (“a forma segue a função”), a necessidade de uma “ruptura radical” com a história e a expressão “honesta” da estrutura e do material (NESBITT, 2008, p. 15).

Na década de 1960, surgem no campo editorial diversos livros críticos e teóricos, como, por exemplo, os livros Complexidade e contradição em arquitetura, e A arquitetura da cidade, respectivamente escritos por Robert Venturi e Aldo Rossi, e lançados no mesmo ano (1966), e que exerceriam grande influência desde os lançamentos em seus países de origem.

Complexidade e contradição em arquitetura apresenta uma crítica a vários preceitos seguidos pelos arquitetos modernos daquele período. De acordo com Venturi (1992), ao romperem com a História da Arquitetura, os arquitetos modernos idealizaram formas simples que ignoravam a diversidade e a sofisticação, presentes no repertório da linguagem arquitetônica.

Para mostrar a riqueza e importância dos edifícios históricos, Venturi (1992) apresentou diversas obras icônicas da arquitetura renascentista, barroca e maneirista e as comparou com as obras do arquitetos modernos, mostrando que as primeiras foram bem sucedidas gerando riqueza de significados, as obras dos arquitetos modernos não obtiveram êxito. Dessa maneira, seu livro tornou-se uma manifesto através do qual o arquiteto expôs, em texto e projetos, o modo pelo qual acreditava que a arquitetura deveria ser realizada. De acordo com o Venturi (1992):

Os arquitetos não podem permitir que sejam intimados pela linguagem puritanamente moralista da arquitetura moderna. Prefiro os elementos híbridos aos “puros”, os que assumem compromisso aos “limpos”, os distorcidos aos “óbvios”, os ambíguos aos “articulados”, os deturpados que simultaneamente são impessoais, aos tediosos que ao mesmo tempo são “interessantes”, os convencionais aos “projetados”, os que integram aos que “excluem”, os redundantes aos fáceis, os que permanecem aos inovadores, os irregulares e equívocos aos diretos e claros. Defendo a vitalidade confusa aos invés da unidade transparente. Aceito a falta de lógica e proclamo a dualidade (VENTURI, 1992, p. 25-26, tradução nossa).11

Em seus trabalhos, o arquiteto sobrepôs elementos formais, buscando a experiência arquitetônica via exercício da memória. O Quatro 2 sintetiza os principais argumentos defendidos por Venturi (1992) em seu livro, que permitem relacioná-los à Pós-modernidade, em contraposição aos princípios utilizados pelos arquitetos modernos no desenvolvimento de suas obras arquitetônicas.

Quadro 2 – Relações conceituais entre Modernidade e Pós-modernidade, segundo Venturi (1991)

Pós -modernidad e Modernidad e

Complexidade e contradição Simplificação

Ambiguidade e tensão Singularidade e unidade

Inclusividade (“e...e”) e Elementos de dupla função Exclusividade (“ou...ou)

Hibridismo Purismo

Vitalidade emaranhada Unidade óbvia

Fonte: O autor.

Já a obra A arquitetura da cidade, de Rossi (1995), analisa a existência de uma oposição entre particular e universal e entre individual e coletivo dentro do contexto urbano, que se apresenta sob diversos modos como, por exemplo, “nas relações entre esfera pública e privada, na oposição entre projeto racional da arquitetura urbana e os valores do locus, entre edifícios públicos e edifícios privados” (ROSSI, 1995, p. 2).

11 Los arquitectos no pueden permitir que sean intimidados por el linguaje puritano moral de la arquitectura

moderna. Prefiero los elementos híbridos a los “puros”, os comprometidos a los “limpios”, los distorsionados a los “rectos”, los ambíguos a los “articulados”, los tergiversados que a la vez son impersonales, a los aburridos que a la vez son “interessantes”, los convencionales a los “deseñados”, los integradores a los “excluentes”, los redundantes a los secillos, los reminiscentes que a la vez son inovadores, los irregulares y equívocos a los directos y claros. Defiendo la vitalidade confusa frente a la unidade transparente. Acepto la falta de lógica y proclamo la dualidad.

Essa relação de forças presente na cidade é justamente o objeto sobre o qual Rossi (1995) se propõe a investigar. Em seu livro, a cidade é tratada como um artefato construído ao longo do tempo, e composta de fatos urbanos, elementos primários, monumentos, além de um vasto estudo dos tipos urbanos. Esses elementos permanecem mesmo que seus usos tenham sido modificados; com isso, o arquiteto estabelece um crítica ao funcionalismo moderno em favor da cidade como um bem cultural.

O trabalho de foi organizado em quatro partes. Inicialmente, Rossi (1995) discorre sobre a questão da tipologia, tratando dos conceitos de descrição e classificação. Prossegue então com a análise da cidade e suas partes. Logo após, dedica-se à história da cidade. Por fim, trata das questões das dinâmicas urbanas e das escolhas políticas.

A crítica de Rossi (1995) recai sobre um dos principais fundamentos do movimento moderno: o formalismo funcionalista. Como o autor trata de mostrar, em várias cidades da Europa, é possível encontrar palácios cuja função que exercem atualmente dificilmente é a mesma que exerceram no passado. Assim, surpreende a Rossi (1995) a independência da forma com relação à multiplicidade de funções que um edifício pode abrigar. Essas formas adquirem significado dentro de um contexto e de uma cultura, e, portanto, são apropriadas pelo arquiteto, para fins não determinados, indo na contramão do preceito moderno de que a forma surgiria a partir das funções destinadas do edifício.

O levantamento realizado na importante revista Casabella-Continuità (Figura 14), demonstrou que o periódico italiano publicou, nas décadas de 1970 e 1980, diversos números tratando da importância da teoria, da história e das práticas preservacionistas como um aspecto indispensável ao ofício projetual. Textos de importantes arquitetos, teóricos e historiadores do período como Leon Krier, Vittorio Gregotti, Manfredo Tafuri, Aldo Rossi, Alan Colquhoun Giorgio Ciucci, Jean Louis-Cohen tratavam de temas referentes à crise do movimento moderno, tipologia, processo de projeto, pós-modernismo e preservação dos edifícios e cidades históricas.

Figura 14 – Levantamento Revista Casabella-Continuità

Fonte: O autor.

Finalmente, através de textos e obras arquitetônicas foi-se estabelecendo, na década de 1960, a consciência de um novo período. Os livros do arquiteto italiano Aldo Rossi e do americano Robert Venturi, ambos publicados em 1966, tiveram grande importância enquanto manifestos críticos, em favor do reconhecimento da valor histórico tanto dos edifícios clássicos quanto das cidades históricas.

No documento Casas de Sylvio de Podestá : 1979-1989 (páginas 45-48)