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As linguagens clássica, moderna e pós-moderna da arquitetura

No documento Casas de Sylvio de Podestá : 1979-1989 (páginas 40-45)

A publicação do livro A linguagem pós-moderna da arquitetura8, escrito pelo renomado historiador e crítico Charles Jencks, teve um grande impacto na crítica de arquitetura na segunda metade do século XX. Por levar o termo “linguagem” em seu título, e portanto entender a arquitetura como gramática, ou mais precisamente, gramática da forma, é possível relacioná-lo com outras duas importantes obras desse século, são elas: A linguagem clássica da arquitetura, do inglês Sir John Summerson, e A linguagem moderna da arquitetura, escrito pelo arquiteto italiano Bruno Zevi.

O obra de Summerson (2009) trata da natureza da linguagem da arquitetura clássica, cujas raízes remontam à Antiguidade, mais precisamente a Grécia e Roma, com seus templos, sua arquitetura militar e religiosa, que permaneceu em quase todo o mundo durante os cinco séculos em que transcorreu o Renascimento. Segundo o autor, o termo “clássico” aplica-se, principalmente, a duas diferentes situações na arquitetura. Primeiramente, é utilizado pela definir edifícios cujos elementos decorativos advêm do mundo “clássico”, reconhecíveis, por exemplo, através de elementos como os cinco tipos de colunas (Toscana, Dórica, Jônica, Coríntia e Compósita) (Figura 12) apresentadas por Sebastiano Serlio, no Renascimento, além de frontões e ornamentos da arquitetura greco-romana.

Figura 12 – As ordens da Arquitetura Clássica de Sebastiano Serlio proposta em 1540

Fonte: (SUMMERSON, 2009, p. 01).

Porém, de acordo com Summerson (2009), essa definição é superficial pois não informa sobre a essência da arquitetura clássica. Assim, a arquitetura clássica é aquela que busca atingir a harmonia por meio da proporção. Dessa forma, o autor ressalta:

O fato é que a essência da arquitetura – tal como foi exposta pelos teóricos renascentistas – está expressa, consciente ou inconscientemente, em todas as arquiteturas do mundo. E se por um lado é necessário incorporar essência à nossa ideia do que é clássico, por outro, precisamos aceitar também o fato de que a arquitetura clássica é reconhecível como tal apenas quando contém alguma alusão, ainda que vaga, ainda que residual, às “ordens” da Antiguidade (SUMMERSON, 2009, p. 05).

Após dez anos da publicação de A linguagem clássica da arquitetura, Zevi (1984), arquiteto e historiador da arquitetura moderna, lançou a obra A linguagem moderna da arquitetura. Segundo o autor, demonstrou-se pertinente e necessária a categorização de determinadas invariáveis que compõem a gramática da arquitetura moderna, já que, até aquele momento, para o autor só havia uma única linguagem: a linguagem clássica. Para Zevi (1984), o reconhecimento dos instrumentos e conceitos que estruturam um movimento arquitetônico enquanto linguagem, transmissível através da elaboração de pensamentos e teorias, é fundamental para sua renovação constante, de modo a impedir de desgaste.

Em sua obra, o autor estabelece sete invariáveis9 que permitem estruturar o Movimento Moderno através de uma linguagem. Porém, cabe ressaltar que os conceitos elaborados por Zevi (1984) não são aplicados de maneira equânime pelos arquitetos considerados modernos. Da mesma maneira, nem todas as obras utilizam desses preceitos de modo unívoco. Segundo o autor: “Contam-se aos milhares os arquitetos e os estudantes de arquitetura que projetam, mas que desconhecem o léxico, a gramática e a sintaxe da linguagem moderna que, em relação ao classicismo, são o antiléxico, a antigramática e a anti-sintaxe” (ZEVI, 1984, p.12-13).

As sete invariáveis propostas por Zevi (1984), que permitem estruturar a gramática da linguagem moderna são:

 A função como gênese da arquitetura (metodologia do catálogo);

 Assimetria em detrimento da simetria clássica;

 Preferência da tridimensionalidade do volume (antiperspectiva) à fachada bidimensional (perspectiva renascentista);

 Decomposição da caixa hermética classicista, ou seja, do espaço estático para o espaço dinâmico;

 A independência da estrutura;

 A importância do percurso do espaço no tempo (o espaço temporalizado);

 Reintegração do edifício na cidade e na paisagem.

Por sua vez, a obra de Jencks (1981) - A linguagem pós-moderna da arquitetura - estabelece um marco para o nascimento do movimento pós-moderno na arquitetura, e consequentemente o fim da arquitetura moderna. De acordo com o autor: “A arquitetura moderna morreu em St. Louis, Missouri, em 15 de julho de 1972, às 3:32 da tarde (mais ou menos), quando vários blocos do projeto Pruitt-Igoe foram implodidos com dinamite” (JENCKS, 1981, p. 09, tradução nossa).10

9 Termo “invariáveis” foi utilizado por Zevi (1984), para definir as características presentes na arquitetura

moderna. Cabe ressaltar que o autor selecionou sete características, porém admite que outras mais podem ser estipuladas para configurar o léxico da gramática arquitetônica moderna.

10 La Arquitectura Moderna murió em ST Louis, Missouri, el 15 de julio de 1972 a las 3:32 de la tarde (más o

O conjunto habitacional Pruitt-Igoe (Figura 13) foi projetado pelo arquiteto Minoru Yamasaki, entre 1952 e 1955, sob influência do zoneamento funcional e do urbanismo racionalista. Formado por uma série de blocos de tipologia laminares, e sob os princípios estabelecidos pelo CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna), foi destruído em 1972 pelo vandalismo e pela alta criminalidade que tomou conta do conjunto. Para Jencks (1981), esse acontecimento marcou o fim da arquitetura e do urbanismo modernos, já que o conjunto Pruitt-Igoe sintetizava os princípios desse movimento.

Figura 13 – Conjunto habitacional Pruitt-Igoe, 1952-1955

Fonte: (JENCKS, 1981, p. 09).

Jencks (1981) esboçou em seu livro a definição da arquitetura pós-moderna. O autor trata de uma mudança que partiu da própria arquitetura moderna e se converteu em um novo estilo, denominado de arquitetura pós-moderna. Código, metáfora e imagem, são termos escolhidos pelo autor para definir essa nova arquitetura. Sua preocupação com ornamentos e símbolos denotam um interesse na superfície e na expressão externa da forma.

De acordo com Jencks (1981), o edifício pós-moderno seria aquele que estabelece dois níveis de comunicação simultâneos. Entende a arquitetura como linguagem, comunicando com os arquitetos e os interessados em arquitetura, capazes de compreender seus códigos arquitetônicos específicos, e também com o público em geral, interessados em questões como a comodidade, a tradição e o estilo de vida.

A partir de uma linguagem inclusiva, o pós-moderno arquitetural, apesar de recorrer a códigos passados, utilizou-se de novos materiais e novas formas de combinação. De acordo com Coelho (2011, p. 87): “Não é, na verdade, um simples retorno ao antigo, não se trata de mais um caso do ‘eterno retorno’. A linguagem agora é a da decomposição (onde antes valera

a composição modernista, tão cara aos mestres modernos), linguagem da visão contemporânea sobre o passado”. No Quadro 1, são apresentados três importantes edifícios que ilustram os conceitos elaborados por Summerson (2009), Zevi (1984) e Jencks (1981).

Quadro 1 – Edifícios que sintetizam os conceitos elaborados por Summerson (2009), Zevi (1984) e Jencks (1981)

Linguagem Edifício Imagem

Clássica Igreja Chiesa di Ognissanti, séc. XIII,

Florença, Itália.

Fonte: Arquivo pessoal

Moderna Pavilhão de Barcelona, Mies van der

Rohe, 1928, Barcelona, Espanha.

Fonte: Arquivo pessoal

Pós-moderna Edifício Portland, Michael Graves,

1982 Seattle , EUA.

Fonte: Merin, 2013 Fonte: O autor.

Deste modo, a gramática arquitetônica foi sofrendo modificações no decorrer dos séculos. Se até o final o século XIX prevaleceu o ideal da arquitetura clássica, com os princípios de proporção e harmonia oriundos da arquitetura romana e grega, a utilização das ordens como controle do edifício e a excessiva ornamentação, no século XX houve uma mudança com o movimento moderno privilegiando formas abstratas. Já a partir de meados deste século, houve

um esgotamento da linguagem preconizada pelos arquitetos modernos, contribuindo para o surgimento, ou retorno, da gramática clássica, porém agora focalizando em seu aspecto comunicativo.

No documento Casas de Sylvio de Podestá : 1979-1989 (páginas 40-45)