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CAPÍTULO I – METODOLOGIA E RESULTADO DOS INQUÉRITOS

1.5. Análise dos resultados

Finalizando a investigação, é importante interpretar e refletir acerca dos resultados obtidos no decorrer do estudo. Um dos objetivos desta conclusão é também responder às perguntas levantadas no início da investigação. A grande motivação para abordar este tema foram, sem dúvida, analisar e perceber de perto as opiniões, atitudes e comportamentos dos inquiridos face ao potencial da língua portuguesa para Timor- Leste.

Os objetivos definidos foram atingidos, visto que o instrumento de recolha de dados foi elaborado com afirmações/questões que vão ao encontro dos aspetos fundamentais a investigar (perceções sobre potencialidades, constrangimentos, principais contributos e satisfação do potencial geopolítico da língua portuguesa para Timor-Leste).

E todas as respostas obtidas estão em consonância com a bibliografia apresentada ao longo do trabalho de investigação. A língua portuguesa é uma língua de saber; vai permitir aplicar e consolidar os conhecimentos de ciência e tecnologia dos jovens e, em simultâneo, representa a identidade nacional dos timorenses, marcando a diferença com os países vizinhos da região.

Dos resultados anteriormente apresentados, podemos concluir em termos gerais que a população timorense está muito satisfeita com a utilização da língua portuguesa como língua oficial de Timor-Leste. Prova disso é o facto dos resultados obtidos apresentarem, nas quatro dimensões, uma média de satisfação de 74,35%.

Há ainda muitos aspetos que poderão ser melhorados no desenvolvimento da língua portuguesa e nas condições do sistema educativo. O programa do governo nos últimos dez anos tem contribuído para responder a estes interesses concretos dos cidadãos. Entretanto, os resultados expostos nos gráficos, em relação à modernização do sistema de ensino, sugerem que esta deve ser mais orientada para as pessoas, tal como está definido no Plano Estratégico de Desenvolvimento Nacional.89

Outra questão focada neste estudo é a fortificação da cooperação bilateral que Timor-Leste deve continuar a desenvolver com Portugal e Brasil, nomeadamente, na implementação da língua portuguesa. Atendendo às dificuldades do país, desde 2011 que têm vindo a ser colocados professores portugueses nas escolas, não só no ensino pré-escolar e no 1º e 2º ciclo do ensino básico, como também para dar formação a professores timorenses.

Em 2015, o reforço no apoio vai permitir uma melhoria na formação de professores, bem como na formação do pessoal administrativo das escolas e dos gestores escolares. Os planos para este ano também incluem a criação de Escolas de Referência em Viqueque e Ainaro. Este reforço elevará para 13 o número total de Escolas de Referência, funcionando uma escola em cada um dos Municípios de Timor-Leste. Os cerca de 30 professores timorenses, que concluíram a sua formação nas Escolas de Referência, serão agora integrados nos Centros de Aprendizagem e Formação de Professores para partilhar as suas competências com alunos e professores.

O Ministro da Educação e Ciência português, Nuno Crato, afirmou que a cooperação entre Portugal e Timor-Leste na área da educação foi "exemplar".90 E isto vai ao encontro das respostas expressadas no

segundo quadro, relacionado com os constrangimentos com que ainda se depara o país, tendo a maioria dos inquiridos respondido que o governo de Timor-Leste deve fortificar a cooperação com Portugal e Brasil, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento da língua portuguesa no país.

Em suma, o gesto de generosidade e solidariedade que o governo português teve para com Timor- Leste surge com o intuito de criar todas as condições necessárias para facilitar o processo de aprendizagem da língua portuguesa aos cidadãos timorenses, esperando-se que nos próximos 10 anos os resultados sejam visíveis. Todo este esforço coletivo dos governos português e brasileiro, em parceria com Timor-Leste, reivindica a confiança do povo timorense e vai, de resto, ao encontro das opiniões e apreciações dos inquiridos.

89 Governo, “Plano Estratégico do Desenvolvimento Nacional” (2011-2030), Disponível em: http://www.laohamutuk.org/econ/1oTLDPM/RDTLStratDevPlanSumm7Apr2010En.pdf.

É de salientar que a opção pela língua portuguesa representa o interesse nacional, pelo facto de representar a identidade timorense como nação, privilegiando o seu posicionamento geopolítico e geoeconómico na sua política externa, nos fóruns internacionais e, particularmente, na região. Esta língua de Camões que une Timor-Leste com os seus irmãos da CPLP nos quatro continentes é considerada como uma peça fundamental para a afirmação do seu poder político e económico. Torna-se prioritário este relacionamento estratégico com os Estados-membros da CPLP, designadamente com a cooperação portuguesa, brasileira, angolana e cabo-verdiana. Nota-se que atualmente o Brasil e Angola constituem Estados potencialmente emergentes, o primeiro a nível mundial e o segundo a nível regional.

É na cooperação que se tornam reais as vantagens privilegiadas que Timor-Leste usufrui com Portugal e Brasil em áreas diversas, desde a construção de infraestruturas básicas, para o povo e para a construção do aparelho do Estado, o desenvolvimento rural, a agricultura, as pequenas e médias tecnologias, os setores da saúde, ensino e educação, os setores da justiça, segurança e defesa. Pode-se beneficiar ainda da União Europeia através de Portugal, como membro de pleno direito. Existe algum pessimismo na nossa população, particularmente os que residem nas zonas mais remotas do território, sobre o potencial da CPLP, tal como é confirmado nas opiniões expressadas no segundo quadro, que aborda os constrangimentos.

Mas a adesão de Timor-Leste à CPLP em 200291, e a presidência timorense da CPLP em 2014,

corresponderam às expetativas da sociedade timorense, pelo facto de esta comunidade ser muito dinâmica em aspetos culturais e na concertação-político-diplomático e económica. Timor-Leste deve agradecer o papel ativo da CPLP junto da ONU e de outras Organizações Internacionais pelo seu papel na libertação do povo timorense e na sua autodeterminação.

Todos os timorenses estão conscientes sobre este incansável trabalho que a CPLP, e particularmente Portugal, desenvolveram na luta pelos direitos de um povo que deseja ser livre e independente. Sem a CPLP, a resistência do povo timorense não teria sentido e seria considerada como uma causa perdida na cena política internacional. Mas, em suma, esta luta produziu resultados com a restauração da independência de Timor-Leste no dia 20 de Maio de 2002. Esta perspetiva está de acordo com as respostas dadas pelos inquiridos no tocante à importância da adesão do país à CPLP.

Por seu turno, Timor-Leste, ao liderar a presidência rotativa da CPLP nestes dois anos, deve mobilizar todos os esforços para defender os interesses comuns da CPLP, nomeadamente na área económica, com os países vizinhos da região, particularmente com a ASEAN e o Fórum da Ásia-Pacífico. Assim, as oportunidades

económicas deverão beneficiar todos os países da CPLP, e poder-se-á contribuir para minimizar a dependência do apoio externo.

Com a dimensão desta organização nos fóruns internacionais, Timor-Leste pode diminuir a sua dependência externa, facto que trará alívio ao povo timorense, tal como trouxe o facto de os dois países vizinhos, Austrália e Indonésia, terem solicitado negociações para a adesão à CPLP, que deverá diminuir a influência política nociva dos dois em Timor-Leste, particularmente a da Austrália, que é considerada como uma ameaça política, económica e, em particular, nas questões ligadas à segurança e defesa da soberania nacional, algo que se deve aos recursos que a nação tem em termos de gás e petróleo. Isto está, mais uma vez, em sintonia com as opiniões dos inquiridos. O potencial geopolítico da língua portuguesa para Timor- Leste surge não só na cena mundial, mas também a nível regional.

O projeto de investigação foi para nós de extrema importância, pois com a problemática identificada surgiu a necessidade de aprofundar conhecimentos, com vista a atingir os objetivos de estudo e ir ao encontro de preocupações pessoais. As grandes dificuldades encontradas ao longo da realização deste trabalho foram sem dúvida a gestão do tempo e das condições geográficas do país.

Este trabalho foi difícil, mas valeu a pena para ter um contacto mais próximo com os sujeitos selecionados na concretização desta investigação, pois sem colaboração dos mesmos este trabalho não faria sentido, nem poderia atingir os objetivos traçados. Os resultados obtidos nas quatro dimensões foram excelentes, e estão de acordo com as necessidades do país e em sintonia com a política do governo. Estamos conscientes de que temos desafios pela frente, mas interessa-nos cultivar o otimismo, para garantir a sustentabilidade do desenvolvimento da língua portuguesa, de acordo com o Plano Estratégico de Desenvolvimento Nacional (PEDN-2011-2030).

Capítulo II. Potencial geopolítico da língua portuguesa para Timor-Leste.