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Parâmetros atuais do ensino da língua portuguesa em Timor-Leste

“A educação e a formação são as chaves para melhorar as oportunidades de vida do nosso povo para o ajudar a concretizar todo o seu potencial. São também vitais para o crescimento e desenvolvimento económico de Timor-Leste. A nossa visão é de que todas as crianças timorenses devem ir à escola e receber uma educação de qualidade que lhes dê os conhecimentos e as qualificações que lhes permitam virem a ter vidas saudáveis e produtivas, contribuindo de forma ativa para o desenvolvimento da Nação”21.

Depois de restaurar a sua independência no dia 20 de Maio de 2002, Timor-Leste escolheu a língua portuguesa como língua co-oficial do país (a par do tétum), o que está consagrado na Constituição da República Democrática de Timor-Leste. Os objetivos educativos definidos no Plano Estratégico de Desenvolvimento de 2011-2030 para Timor-Leste são considerados ambiciosos, porém requerem políticas adequadas que visem apoiar o sistema de ensino a curto, médio e longo prazo de forma sustentável. É evidente que hoje a educação é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento de um país.

Neste contexto, é de salientar que por ser vítima duma longa ocupação pela Indonésia, inicialmente, o governo está consciente que deverá enfrentar uma série de dificuldades na implementação da reintrodução da língua portuguesa nas escolas nacionais, tanto em termos de professores especializados na literatura de língua portuguesa, de materiais didáticos e da mudança do próprio sistema de ensino deixado pela Indonésia.

Contudo, o governo de Timor-Leste deverá manter a consistência e persistir na sua decisão política de optar pela língua portuguesa como um elemento-chave que, para além de representar a sua identidade, procura por outro lado desenvolvê-la através da ciência e do conhecimento, por forma a garantir para os seus cidadãos um futuro melhor. De facto, neste primeiros 10 anos de independência, a reintrodução da língua portuguesa tem enfrentado bastantes obstáculos de vários níveis no âmbito do processo de aprendizagem,

mas, com o desenrolar do tempo, e com a convicção firme por parte do governo timorense na fórmula «a língua portuguesa veio para ficar», têm-se vindo a verificar avanços significativos no sistema de ensino, especialmente na implementação da língua portuguesa nas escolas nacionais.

Esta convicção do governo justifica-se através das palavras do Presidente em exercício do Parlamento Nacional de Timor-Leste na sua intervenção no Colóquio de Díli sobre o tema «CPLP – Uma Língua, várias identidades»:

a expansão da língua portuguesa na nação timorense tem que sair do discurso. É altura de se pensar num programa de alfabetização, não só para os jovens, mas para os adultos”, afirmou Adérito Hugo da Costa, vincando que “as medidas que façam parte de uma política da língua têm de incluir a alfabetização em larga escala, a melhoria do ensino no nível do básico, com a qualificação dos professores em língua portuguesa e o incentivo a publicações didáticas adequadas.22

Este desejo de preservar a sua identidade através da língua de Camões tem vindo a ser uma das prioridades nacionais. Tanto os governantes como a própria sociedade timorense tomam a uma voz o lema: «Para ser diferente na região, a única solução para um Timor seguro e próspero é promover e desenvolver a língua portuguesa como parte integrante da sua identidade e da sua soberania.»23 Esta convicção traduz-se

em esforços por parte de todos os intervenientes, diretos e indiretos, notando-se hoje já um progresso significativo nas escolas, quer nas Escolas de Referência da Língua Portuguesa, quer nas nacionais.

Anualmente, a percentagem de crianças e jovens timorenses que querem ingressar nas Escolas de Referência da Língua Portuguesa tem ultrapassado as expetativas, pelo que existe agora uma maior atenção dada a esta questão por parte do governo português. Na prática, isto refletiu-se nas lamentações por parte dos pais dos alunos aquando da visita do primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, à Escola de Referência da Língua Portuguesa de Balide, em Díli, na altura da participação deste na Conferência dos Chefes de Estado e Governo na X Cimeira da CPLP, que se realizou em Díli, em Julho de 2014. Segundo o primeiro-ministro português, Portugal pretende participar de forma ativa nesta “nova fase de desenvolvimento”24 de Timor-Leste, assumindo ainda o “compromisso de não falhar na altura que é mais

decisiva para a construção deste Estado democrático”25.

As Escolas de Referência da Língua Portuguesa, pelas quais o governo português é responsável, eram

22 Costa, H. Adérito, “Entrevista pela Lusa, na intervenção do Colóquio de Díli sobre Tema: CPLP-Uma Língua, Várias Identidades”, Disponível em: www.lusa.ptsaponoticiastimor-lesteonline, 6 de Maio de 2015.

23 Matan Ruak, T. (2001),”A importância da língua portuguesa na resistência contra a ocupação indonésia”, Camões, Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 14 jul/set, 41-42.

24 Revista Presidente, (2014), “Povo Livre”, p. 6. Disponível em:http://www.psd.ficheiros/povo livre/ficheiro.1406796896.pdf. Acesso em 15 -01-2015. 25 Ibdem, p. 7.

até 2013 apenas três em todo o território, mas em 2014 o número subiu para treze, o que significa que a nível nacional os treze distritos estão todos contemplados. Esta resposta por parte do governo português traduz-se, no fundo, como um apoio ao governo de Timor-Leste, que surge com o intuito de garantir a qualidade de ensino da língua portuguesa e de absorver mais crianças e jovens timorenses em todas as escolas já estabelecidas.

Por sua vez, o governo de Timor-Leste, através do Ministério da Educação26, tem, de 2013 para cá,

vindo a melhorar o sistema de ensino a nível nacional. O governo, em parceria com Portugal e Brasil, intensificou a formação de língua portuguesa para professores, do ensino básico até ao nível universitário. Fez também mudanças nos currículos nacionais, colocando a língua portuguesa como disciplina obrigatória. Em relação ao apoio em termos de material didático da língua portuguesa, as escolas nacionais do Ministério da Educação de Timor-Leste têm vindo a fazer grandes investimentos para suportar os manuais em todas as escolas a nível nacional.

Partindo deste princípio, pode-se garantir que nos próximos vinte e cinco anos os resultados do desenvolvimento da língua portuguesa serão visíveis e que as gerações futuras assegurarão a continuidade da língua portuguesa na região. O facto de Timor-Leste ser um pequeno país situado na região entre Ásia e Pacífico, com a utilização da língua portuguesa, e contando com os restantes estados-membros da CPLP, dará a Timor-Leste outra postura e dimensão em termos regionais, tanto política, como económica ou sociocultural.