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Enquadramento histórico de Timor-Leste na CPLP

CAPÍTULO III. TIMOR-LESTE E A CPLP

3.3. Enquadramento histórico de Timor-Leste na CPLP

A República Democrática de Timor-Leste (RDTL) tornou-se no oitavo Estado-membro de pleno direito da CPLP, a 1 de Agosto do ano de 2002, aquando da aprovação da “Declaração sobre a Aceitação do Pedido de Adesão da RDTL à CPLP”, na IV Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP realizada em Brasília, no Brasil, seis anos após a criação da CPLP”123.

Como é evidente, o objetivo de Timor-Leste aderir à CPLP foi algo que foi sendo planeado desde a criação desta comunidade, nos tempos da resistência, através dos seus líderes. Por outro lado, é de destacar o papel fundamental da concertação político-diplomática da CPLP, particularmente de Portugal, que levou a cabo a defesa do direito de autodeterminação de Timor-Leste junto das Nações Unidas, sonho este, o da restauração da independência, que se tornou realidade em 1999, através do referendo organizado sob os auspícios da ONU.

A crise aguda de Timor, que mobilizou a solidariedade dos portugueses dentro e fora das fronteiras, também parece ter sido o facto pela primeira vez determinante de uma manifestação de unidade da Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa124

Ao olhar para os laços históricos e culturais, a língua portuguesa sempre se assumiu como fundamental para a união entre as nações e povos que são falantes deste idioma. É bom recordar que, se a CPLP foi e é crucial para Timor-Leste, Timor-Leste tem a mesma importância estratégica para a CPLP, pois ao situar-se na região da Ásia-Pacífico, este jovem país também representa uma janela de oportunidade para os outros Estados-membros.

O desejo de levar Timor-Leste a integrar a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa teve a sua

123 CPLP, “Conferência dos Chefes de Estado e de Governo”, 2002. Disponível (em http://www.cplp.org/estrutura_org_conferencia_IV.asp) 124 Moreira, Adriano, (1999),”Estudos da Conjuntura Internacional: Timor e a CPLP”, Publicações Dom Quixote, Lda. Lisboa, p.530.

origem em 1996, quando a Comissão Coordenadora da Frente Diplomática da Resistência do povo maubere teve direito de intervenção na I Conferência dos Chefes de Estado e de governo da CPLP, em Lisboa, expondo as dificuldades sobre a situação real em que se encontrava Timor-Leste, e ao mesmo tempo apresentado a sua firmeza na luta para a liberdade e dignidade do seu povo, de retomar o seu exercício de direito indiscutível à autodeterminação.

Este acontecimento marca os princípios fundamentais de um povo indefeso, e de facto foi bem recebido. A reação dos então Chefes de Estado e de Governo da CPLP foi no sentido de afirmar a sua firmeza em promover ações concertadas com o intuito de garantir o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais no território, com o objetivo de obter uma solução justa, global e internacionalmente aceite para a questão de Timor-Leste, no pleno respeito pelos legítimos direitos e aspirações do seu povo, e em conformidade com o Direito Internacional.

Dois anos volvidos, em 1998, durante a reunião do Conselho de Ministros da CPLP, na cidade da Praia, em Cabo Verde, Timor-Leste foi formalmente aceite na CPLP com o estatuto de observador convidado. O ano seguinte, 1999, foi um ano crucial e marcante para as negociações entre Portugal e a Indonésia, sob mediação da ONU, com o intuito de realizar um referendo sobre a questão de Timor-Leste. Antes do resultado do referendo e da decisão do povo timorense a favor da independência, os governos dos Estados-membros da CPLP já tinham expressado o seu total apoio ao processo, mobilizando uma missão de observação eleitoral e quadros para a Missão das Nações Unidas em Timor-Leste (UNAMET), por forma a garantir o êxito da consulta popular.

Por outro lado, as preocupações de segurança no território eram considerados de maior risco pela falta de boa vontade do regime Indonésio em garantir uma política de neutralidade, e daí os governos dos Estados-membros da CPLP apelarem às autoridades indonésias, e em particular às suas forças armadas, para respeitarem o acordo de 5 de Maio, realizado em Nova Iorque, pondo termo à condenação da violência e intimidação, a fim de estabelecer condições para uma consulta aceitável, livre e democrática.

Depois de ter ganho o referendo para a independência, a 1 de Outubro de 1999, o Presidente do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT), Comandante Kay Rala Xanana Gusmão, fez a sua primeira visita ao Secretariado Executivo da CPLP, Marcelino Moco na altura. Na entrada do novo milénio, estava já previsto que Timor-Leste viria a ser o oitavo Estado-membro da CPLP, logo que a sua independência fosse restaurada, senda garantida a adoção da língua portuguesa a par do tétum como idiomas oficiais.

manifestada. Durante a III Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em que estava presente pela primeira vez o Presidente do CNRT, Kay Rala Xanana Gusmão, os Estados-membros da CPLP, de forma unânime, assumiram o compromisso de apoiar o desenvolvimento institucional, político, cultural e social de Timor-Leste, com o forte desejo de ver fixadas datas para a realização de eleições gerais e formalização da restauração da sua independência.

Finalmente, na IV Conferência de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Brasília, em 2002, deu-se a conclusão do processo de integração da República Democrática de Timor-Leste na CPLP, tornando- se assim Timor-Leste um Estado-membro de pleno direito, cumprindo-se, por outro lado, a vontade expressada pelos Estados-membros da comunidade de apoiar a libertação do país com quem partilham uma história e língua comuns.