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Relações com o Pacífico do Sul

CAPÍTULO IV. TIMOR-LESTE E A GEOPOLÍTICA REGIONAL

4.5. Relações com o Pacífico do Sul

A adesão ao Fórum do Pacífico Sul194 não trará qualquer benefício relevante a Timor-Leste, em parte

porque esta instituição não tem poder nem recursos. Os atores mais relevantes que historicamente têm interesse no Pacífico Sul, em particular a Austrália e a Nova Zelândia, dão mais importância ao Sudeste Asiático nas suas políticas externa e de segurança. A maioria dos Estados que compõem o Fórum do Pacífico Sul são Estados pequenos, em que as economias dependem apenas do setor do turismo. É lógico que em termos de defesa e segurança também não haverá disputas significativas entre os Estados considerados potentes como a Austrália e a Nova Zelândia. Da mesma forma, o fraco poder negocial dos Estados do Pacífico Sul não lhes permite pressionar países como o Japão e os Estados Unidos para alcançarem termos de comércio mais vantajosos para países insulares ou para aliviar algumas das mais duras consequências da globalização.

Em Abril de 2014195, Timor-Leste teve a honra de assumir a Presidência da 69ª sessão da Comissão

Económica e Social para a Ásia-Pacífico das Nações Unidas. Aproveitando esta presidência, Timor-Leste tem

194 Relatório, (2002).” A segurança de Timor-Leste no contexto regional-Coordenação: Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais, p. 38. Disponível online em: www.dnet.org.br/..../r_timor_leste_seguranca_tl_contexto_regional.Pdf.

assim o privilégio, para o ano de 2015, de trabalhar com a CESAP e com as nações da Ásia-Pacífico em prol do progresso e da melhoria do desenvolvimento humano.

Esta oportunidade de liderar a Comissão Económica e Social para a Ásia-Pacífico dará uma contribuição significativa para Timor-Leste desenvolver mais de perto as relações bilaterais com os países do Pacífico do Sul. Por outro lado, o envolvimento na CESAP servirá de ponte entre o Sudeste Asiático e o Fórum do Pacífico do Sul. Na medida em que se partilham muitos desafios e oportunidades com as Ilhas do Pacífico, Timor-Leste contribuí fortemente como observador no Fórum anual das Ilhas do Pacífico, no qual está sempre presente.

A solidariedade do país com as Ilhas do Pacífico196 é sincera. É de salientar que Timor-Leste

congratulou o apoio incondicional de Vanuatu aquando da sua luta pela independência. Por outro lado, uma das relações bilaterais que Timor-Leste tem vindo a desenvolver nos últimos anos é com as Ilhas Salomão, para dar resposta à fragilidade de ambos os países. Timor-Leste está também solidário com a República do Kiribati, com as Ilhas Marshall e com Tuvalu, países estes que se estão lentamente a afundar na imensidão do oceano devido aos perigos das alterações climáticas.

Timor-Leste prestará a sua solidariedade em todas as vertentes e quer contribuir com soluções para alguns dos desafios em termos de desenvolvimento humano com que a Ásia-Pacífico se depara. É evidente que isto envolve não só respostas locais e regionais como também compromissos e ações a nível global.

Estes são porventura alguns dos desafios de desenvolvimento que a Ásia-Pacífico enfrenta. Estes desafios incluem a pobreza disseminada e o aumento da desigualdade e da violência contra as mulheres. Infelizmente, estes desafios são comuns em grande parte do mundo. São também os desafios que estiveram na base da formulação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.

Timor-Leste como nação está atualmente a dialogar com vista a desenvolver a agenda de desenvolvimento pós-2015, para o período a seguir ao fim dos ODMs. Com a Presidência da CEAP, Timor- Leste está, em conjunto com os países do Pacífico, determinado em garantir que as Nações Unidas tomem consciência de que nenhuma nação frágil ou afetada por conflitos atingiu um só Objetivo de Desenvolvimento do Milénio.

Foi por esta razão que, em 2010, Timor-Leste organizou uma conferência internacional sob o tema “Construção da Paz e Construção do Estado”. Um resultado importante da conferência foi a criação do

196 Gusmão, Xanana, (2014),”Discurso do 1º Ministro da RDTL-Timor-Leste e ASEAN: Perspetivas e desafios. Disponível online em: timor-leste.gov.tl. /…/timor- leste-e-a-ASEAN_Perspetiva-e-Desafios-2pdf.

“g7+”, um fórum internacional que permite a países frágeis falar a uma só voz na defesa de alterações às políticas de desenvolvimento global.

Os países do “g7+” sabem, por experiência própria, que não é possível erradicar a pobreza sem que haja paz e estabilidade. É por esta razão que as nações do “g7+” estão a trabalhar em conjunto para garantir que a agenda de desenvolvimento pós-2015 dê resposta à necessidade de paz e estabilidade e para que as perspetivas dos Estados frágeis sejam centrais no diálogo global. Esta mensagem foi repetida de forma clara e em bom som quando as nações do “g7+”, bem como alguns vizinhos das Ilhas da Ásia e do Pacífico e alguns países da África e do Médio Oriente, se reuniram em Díli, em fevereiro de 2014, numa conferência internacional organizada pelo governo sob o tema “Desenvolvimento para Todos”.

A Conferência resultou no “Consenso de Díli”197, o qual estabelece as prioridades mútuas e

esperanças para a agenda de desenvolvimento pós-2015. O “Consenso de Díli” reconheceu que as abordagens padrão ao desenvolvimento não perceberam que os desafios enfrentados pelos Estados considerados frágeis variam consoante os contextos locais. Isto significa que os problemas e as soluções para alcançar o desenvolvimento humano são diferentes numa nação do Sudeste Asiático comparativamente com uma nação-ilha no Pacífico. Da mesma forma, não será possível erradicar a pobreza na Ásia-Pacífico e no mundo inteiro sem primeiro abordar as questões dos países frágeis afetados por conflitos.

Para além de ser um país pequeno, Timor-Leste é também a nação mais jovem na região da Ásia- Pacífico. Exatamente por ser pequeno, é importante que trabalhe em conjunto com os seus vizinhos de modo a melhorar as vidas de seus povos e a contribuir para o desenvolvimento humano na região. É neste rumo, aproveitando para estreitar os laços de amizade e de boa vizinhança com todos os países do Pacífico através de uma política externa sólida, que Timor-Leste poderá garantir as suas questões de defesa e segurança que são consideradas cruciais para o seu desenvolvimento nacional.