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Vantagens comparativas e projeção económica

CAPÍTULO I – METODOLOGIA E RESULTADO DOS INQUÉRITOS

2.4. Vantagens comparativas e projeção económica

O grupo de pensadores globalistas, considerados globalistas puros, encaram a realidade internacional como uma nova realidade que, resultante do fenómeno da globalização, tem irreversivelmente a economia como fator explicativo determinante das relações internacionais, e uma vez que as relações económicas assumam uma configuração livre, isto é, que se instaure de fato o livre comércio nas relações internacionais, e, por consequência, vigorem as regras de concorrência perfeita, as vantagens de todos os atores serão maximizadas.

Nessa perspetiva está Rosencrance, que, pelas teorias liberais clássicas da economia, encara “os mercados como únicos reguladores possíveis das relações internacionais. O livre comércio permitiria o funcionamento dos mercados como eficientes mecanismos de equilíbrio nas relações entre as nações. O sistema internacional transformar-se-ia, portanto, num sistema de relações entre nações comerciantes100”.

Com base nas teorias acima referidas, debatidas entre liberais e realistas, é que se desenvolve a teoria globalista das relações internacionais, abrindo uma grande linha de discussão e argumentação que tem vindo a ganhar espaço nas últimas duas décadas. Esse debate tem por intuito abordar as mudanças estruturais na organização das sociedades, em articulação com os problemas internacionais na forma como afetam ou são afetadas pelas decisões políticas nacionais.

Nesse sentido, autores como Milner têm examinado a forma como os atores domésticos e seus interesses de grupo influenciam a tomada de decisão dos Estados101 e, naturalmente, como esses grupos e

interesses se relacionam com a realidade externa. Por outro lado, autores como Ruggie102 procuram enfatizar a

importância da cultura e das ideias para o entendimento das relações internacionais atuais, constituindo uma perspetiva “construtivista” dentro da perspetiva globalista de análise das relações internacionais.

Consciente de que hoje a globalização invade todos os espaços com maior dimensão, de tal forma

99 Revista Lusofonia, “Timor-Leste irá assumir a Presidência da CPLP, pela primeira vez, em Julho de 2014”In http://www.revistalusofonia.pt/política/artigo.php?id=o_futuro_da_CPLP

100 Roscecrance, Richard, “The rice of the Trading State: Commerce and Conquest in the Modern World. New York: Basic Books, 1986. 101 Milner, H. “The Limits of European Integration”. NY: Columbia University Press, 1983.

que, mesmo que motivado por questões económicas, esse fenómeno revela, em várias situações, maior intensidade em outros campos da realidade. Este argumento fortificaria a visão desses autores pela maior identificação dos interesses extraeconómicos dos Estados observada na realidade atual, como resultado da assimetria reinante entre estes no campo económico.

Partindo deste pressuposto é que podemos retirar alguns exemplos de afirmação dos Estados- membros da CPLP no mundo, como é o caso do Brasil, ao interligar com o seu espaço geográfico, que é quase o de um continente, e os índices de desenvolvimento que tem revelado para que se torne numa potência mundial, desde já como líder do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), a par dos esforços verificados dos países emergentes da CPLP como Angola, Cabo Verde e Moçambique para se tornarem importantes intervenientes regionais (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental - CEDAO, Comunidade de Desenvolvimento da África Austral - SADC, União Africana - UA) e ainda Portugal, como Estado-membro da União Europeia.

O posicionamento de Portugal é estratégico e, com o conjunto de infraestruturas de transporte existentes, tem condições para servir de ligação entre a China e o Atlântico Sul, promovendo relevantes rotas marítimas internacionais do Oriente ao Pacífico.

A forte ligação de Portugal aos países de língua portuguesa é evidenciada também pelo volume de exportações de bens para estes países, as quais, entre 2006 e 2011, apresentaram um crescimento médio de 14.8% (comparando com 3.5% para o resto do mundo)103.

Em relação a Timor-Leste, cabe agora ao governo saber gerir as oportunidades e as vantagens económicas de que pode beneficiar através das relações com os parceiros estratégicos da CPLP. Como foi constatado anteriormente, a sua posição geográfica na Ásia-Pacífico é considerada estratégica, servindo como janela de oportunidades para o investimento direto estrangeiro nos países da região.

“A noção de regionalismo económico pode ser dada como a vontade política dos governos no sentido de favorecer o desenvolvimento de elos económicos internacionais com países geograficamente vizinhos”104

Neste contexto, salienta-se que o modelo de cooperação económica mais atrativo para as economias dos países da ASEAN, em que Timor-Leste neste momento assume o estatuto de observador, é baseada no regionalismo aberto. Por outro lado, é de reconhecer, tal como faz Pedro Parreira, que “o processo de forte industrialização e diversificação produtiva revelou-se para estes países ser uma peça fundamental do sucesso

103 Revista Economia-Lusófona, (2014). “A economia portuguesa com os países lusófonos”, p. 8.

económico alcançado. Na atualidade são dos países que apresentam as maiores taxas de abertura das economias a nível mundial”.105

A presidência rotativa da CPLP no biénio 2014-2016 por parte de Timor-Leste será considerada como uma das grandes oportunidades para defender e levar os interesses económicos comuns da Organização junto dos países daquela região, assim como junto da China e da Austrália, pois estes são grandes parceiros económicos de Timor-Leste.

Em síntese, a posição geográfica de Timor-Leste trará aos Estados-membros da CPLP vantagens no acesso a oportunidades de investimento em diversas áreas da economia, particularmente no comércio. Se os governos da Organização tomarem em simultâneo medidas adequadas, ao nível do investimento e dos negócios, é evidente que juntos alcançarão os objetivos e as metas traçadas. Tal como afirmou o Presidente da República de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, no seu discurso proferido na abertura da Cimeira da X Conferência da CPLP, realizada no dia 23 de Julho de 2014, em Díli: “Estamos em condições de trabalhar para alargar a sua influência e ação, alargando a esfera da cooperação multilateral na CPLP e, simultaneamente, a cooperação dela com organizações multilaterais regionais de que os nossos Estados são membros”.106

Por fim, para confirmar as vantagens comparativas e a projeção económica que a CPLP detém na conjuntura atual, veja-se a figura seguinte:

105 Parreira, N. C. Pedro, (2003),”A economia de Timor-Leste: transição e integração regional e mundial”, Gabinete de Estudos e Prospetiva Económica-Ministério da Economia, p. 87.

106 18 Anos CPLP,”Os desafios do Futuro: aos 18 anos, a CPLP pode olhar o futuro com confiança”, 2014, p. 10. Disponível online em:www.cplp.org/id- 4453.aspx?PID=11131&M=newsV2&Action.

Figura 2 : Mapa antigo domínio de Portugal nas rotas comerciais do Mundo, e hoje transformado na CPLP.

Fonte: Disponível em: http:// www.cecplp.org/lusografo/imagens/lusofonia.g.f

Na CPLP estão representadas as regiões mais prósperas do mundo. É considerável o peso que a língua portuguesa tem atualmente no mundo. Hoje, 230 milhões de pessoas falam a língua portuguesa, o equivalente a cerca de 4% da população mundial, oferecendo capacidade de projeção de influência e poder a cada Estado-membro da CPLP nos diferentes espaços geográficos, tanto terrestres como marítimos, recordando a possibilidade de estreitamento de laços de cooperação com as organizações regionais onde se inserem os Estados-membros pertencentes à comunidade.

“No conceito da maritimidade da CPLP, será importante recordar que o mar cobre mais de 9/12 da superfície do planeta. É e continuará a ser no futuro próximo a via mais eficiente para as trocas comerciais. Além disso, é nas zonas costeiras no planeta que se situam as sociedades mais prósperas”107.

Para justificar esta realidade no espaço geopolítico da CPLP, apresentamos estudos relevantes sobre “a importância da Lusofonia no Panorama Energético Mundial em matéria de hidrocarbonetos nos mares da Lusofonia, dados estatísticos revelados pela Galp Energia e divulgados pelo Chefe do Gabinete da Presidência em Lisboa”108, no dia 29 de Outubro de 2013, referem que 50% das novas descobertas de petróleo e gás

realizadas no mundo, desde 2005, estão localizadas nos países de língua portuguesa: Brasil, Moçambique, Angola e Timor-Leste.

As reservas de Angola ascendem a entre 9,5 e 13,5 mil milhões de barris localizadas na (estimativas da IEA e BP, respetivamente). Descobertas de Gás Natural em 2011 e 2012 farão de Moçambique um importante fornecedor mundial de GN, transformando radicalmente a economia nacional. Houve descobertas também no pré-sal das bacias de Santos, Campos e Espírito Santo (Brasil). Só a Bacia de Santos contará com mais de 50 mil milhões de barris de reservas, segundo a ANP, colocando o Brasil entre os maiores produtores mundiais de petróleo e de gás. O Campo Lula é designado como uma das mais importantes descobertas mundiais dos últimos 30 anos.