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CAPÍTULO III. TIMOR-LESTE E A CPLP

3.2. Evolução da CPLP

A Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP)119 é uma comunidade de afetos, alicerçada num

património histórico, cultural e linguístico comum, que articula, através dos seus membros, quatro continentes e três oceanos, que tem capacidade para se afirmar internacionalmente, graças a teia de compromissos institucionais de natureza regional dos Estados-membros e à sua natureza de soft power, e que harmoniza a diversidade étnica e religiosa, dois dos elementos fraturantes da desejável concórdia universal.

A língua portuguesa e a sua comunidade constituem fatores de estreitamento de relações sociais e de relacionamento entre povos e nações, que concentraram esforços na luta pela libertação de Timor-Leste e de afirmação da independência do país.

Neste contexto, é indispensável reconhecer o papel fundamental da CPLP. Esta organização é considerada um fórum multilateral privilegiado, tem como missão manter e aprofundar as relações sociais, culturais e políticas entre os membros. Para o fortalecimento destas relações, um dos elementos-chave é apostar na

cooperação entre os Estados-membros, de modo apoiar e consolidar a concretização dos seus objetivos nacionais, e, por outro lado, a CPLP procura intensificar a sua afirmação nos fóruns internacionais, dando ênfase à via da concertação política e diplomática.

Diríamos, neste mesmo sentido, que a CPLP é uma organização internacional constituída através de uma permanente associação de Estados equipada com órgãos capazes de tomar e executar decisões, e na qual o seu objeto e poderes não se confundem com os dos seus Estados-membros. “A CPLP é a única que desfruta de um momento de crescimento em termos da sua visibilidade económica, política e cultural, mas também no que diz respeito à sua credibilidade internacional”120. A Declaração Final da X Conferência de

Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa,121 que se realizou em Díli,

em 23 de Julho de 2014, é um documento indicador de uma nova fase que promove um novo dinamismo e que poderá representar uma alavancagem económico-diplomática a partir da própria importância crescente da língua portuguesa.

À luz da X Cimeira e da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em Díli, marcou-se um novo capítulo na história da CPLP, pois os oito Estados-membros formalizaram, por unanimidade, a adesão da Guiné Equatorial como membro de pleno direito da comunidade, e assim a CPLP passou a ter nove Estados-membros de pleno direito. A existência da CPLP não assenta exclusivamente no domínio cultural, mas também no potencial económico que esta organização representa, o que faz com que cada vez mais Estados de diferentes regiões do globo queiram tomar parte na CPLP. Com a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, tornando-se esta assim a segunda maior organização a nível mundial no que se diz respeito à produção de petróleo e gás natural, a comunidade adquire um maior peso enquanto agente no espaço internacional. É de salientar, neste contexto, que a CPLP entra numa nova era, desde logo pelo reequilíbrio do balanço de forças entre os seus membros, mas também porque a torna mais dinâmica, devido ao peso económico que a CPLP agora começa a representar na esfera global.

120 Leandro, José Francisco. (2014), ”Revista,Univ. Macau”- CPLP a herdeira do Caminho Comum, p.12

Figura 3: X Cimeira da CPLP em Timor-Leste 23 de Julho de 2014

Fonte disponível em: http://www.presidencia.pt/?idc=10&idi=86186, Acesso em 2/2/2015

À medida que aumenta o número de Estados-membros (Brasil, Portugal, Timor-Leste, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial (9)), de observadores-associados (República da Ilha Maurícia, Geórgia, República da Namíbia, República da Turquia, Senegal e Japão (6)), e de observadores- consultivos (cerca de 60), fortalece-se, também, a importância geoestratégica, geoeconómica e geopolítica da CPLP e potencia-se a língua portuguesa como um instrumento de concertação, de desenvolvimento e de estabilidade.

Como pode verificar na figura 3, durante a Cimeira de Díli, em 2014, “ocorreu a adesão de mais quatro novos membros associados da CPLP, tais como: a Namíbia, a Turquia, a Geórgia e o Japão”.122

122 Governo, “Declaração Constitutiva dos Chefes de Estados e Governos na X Cimeira da CPLP”, Díli, 2014. Disponível online em: https://ventosdalusofonia.wordpress.com/tag/timor-leste.

Figura 4: Configuração dos países membros plenos da CPLP, países observadores associados à CPLP e

países e região em negociações de adesão à CPLP.

Fonte: Disponível em:http:// www.plataformamacau.com

Cabe neste momento a Timor-Leste, assumindo a presidência rotativa da CPLP (2014-2016), encarar os interesses da organização, fortalecer a diplomacia no contexto político, social, cultural e, particularmente, económica com os países da região, por forma a alcançar os objetivos comuns da CPLP.

Timor-Leste, desde que se tornou membro de pleno direito da CPLP, em 2002, tem pela frente a grande tarefa de utilizar esta organização para desenvolver uma política de forma concertada e dinâmica, quer com os dois vizinhos mais próximos, e que detêm maior capacidade nos setores vitais, como defesa e segurança, quer com outros países e organizações da região, como a ASEAN e o Fórum Pacífico do Sul, pelo facto de ser um país frágil em termos de segurança.

A sobrevivência do Estado timorense, em termos políticos e na questão da defesa e segurança na região, é considerada frágil porque Timor-Leste está geograficamente situado entre dois vizinhos, Austrália e Indonésia, com os mais nunca teve no passado boas relações.

Urge, assim, que os governantes timorenses encararem a CPLP com o peso que esta detém junto de outras organizações internacionais, que podem ajudar Timor-Leste a salvaguardar os seus interesses nacionais. Com a Cimeira dos Chefes de Estado e de Governos dos países da CPLP realizada em Díli, abriu-se um novo capítulo para a política externa de Timor-Leste. Nesta cimeira, a Austrália e a Indonésia solicitaram o estatuto de países observadores associados à CPLP, o que pode querer dizer que esta ameaça constante que Timor-Leste enfrenta pode ser reduzida, dependendo da habilidade do Ministério dos Negócios Estrangeiros e dos quadros diplomáticos timorenses em saber lidar com o novo contexto político-diplomático.