• Nenhum resultado encontrado

ANÁLISE ESTRUTURAL DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A AIDS DE PESSOAS QUE VIVEM

No documento CATEGORIA PÓS-GRADUANDO E DOCENTE - ORAL (páginas 168-170)

COM HIV

Thatiana Araújo Maranhão Elys Oliveira Bezerra Maria Lúcia Duarte Pereira

INTRODUÇÃO: O HIV e a AIDS surgiram no Brasil no início da década de 80. Como naquela época ainda não haviam

explicações científicas para a doença, esta acabou sendo imbuída de nomenclaturas repletas de aspectos morais atribuídos a uma possível orientação homossexual de seus portadores (OLIVEIRA, 2013). As significativas modificações ocorridas no perfil epidemiológico da AIDS e os avanços no seu tratamento fizeram com que as representações acerca da patologia também se modificassem ao longo do tempo (LABRA, 2015). Assim, o estudo da Teoria das Representações Sociais (TRS) torna-se de fundamental importância devido à infecção pelo HIV ser um tema que envolve concepções, opiniões, crenças e atitudes com relação à condição de soropositividade. Nessa perspectiva, a TRS faz alusão à forma como as pessoas pensam sobre determinado assunto e o conhecimento que detêm sobre ele é resultado de interações sociais coletivamente compartilhadas e construídas (JODELET, 2001; WAGNER, 2000).

OBJETIVOS: Identificar os conteúdos e a estrutura das representações sociais sobre a infecção pelo HIV/AIDS de pessoas

que vivem com HIV.

MÉTODOS: Estudo qualitativo que utilizou a TRS e a proposta teórica complementar da abordagem estrutural ou do núcleo

central. A coleta de dados ocorreu de agosto a dezembro de 2014 com 231 indivíduos com diagnóstico de HIV/AIDS acompanhados no ambulatório de um hospital referência em doenças infecciosas de Fortaleza/CE. Aplicou-se o teste de associação livre de palavras (TALP) utilizando-se o estímulo indutor “HIV/AIDS”, sendo solicitado ao participante que dissesse quatro palavras que lhe vinham prontamente à mente quando pensava no HIV/AIDS. Para a análise univariada dos dados sociodemográficos, utilizou-se estatística descritiva por meio do software SPSS 20.0®. Para a análise do produto das evocações livres, foi utilizado o software EVOC2000® e sua posterior distribuição no quadro de quatro zonas. Para a realização da análise de similitude (árvore máxima), utilizou-se o software IRAMUTEQ®. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual do Ceará (parecer 630.908).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Houve predomínio de participantes: do sexo masculino (131; 56,7%); residentes em Fortaleza

(171; 74,0%); com renda individual de até um salário-mínimo (166; 71,8%) e que conviviam com HIV/AIDS há pelo menos 10 anos (114; 49,3%). A média de idade foi de 41,4 anos (dp: ±8,7), com grande parte da amostra concentrada na faixa etária de 40 a 49 anos (96; 41,6%). O núcleo central na análise prototípica foi integrado por elementos negativos, definindo a AIDS como uma doença que gera sentimentos de tristeza e medo, proximidade com a morte e que pode ser transmitida a outras pessoas (transmissão). Próximo ao núcleo central, protegendo-o de mudanças, tem-se os elementos da zona da primeira periferia. Pela ordem de frequência de evocação, foi integrado pelos termos: preconceito (43), tratamento (42), remédio (40), cuidado (27), discriminação (22), viver (22), sem cura (19). A zona da segunda periferia concentra os elementos evocados em menor frequência e não prontamente evocados. Situam-se nesta zona os elementos mais fracos para a organização das representações sociais sobre HIV/AIDS, interferindo com força menor que a das outras regiões estruturais. Os elementos evocados em maior frequência foram: difícil (15), preservativo (14), esperança (12), cura (12), depressão (10). A zona de contraste reúne elementos possíveis de constituírem o núcleo central de alguns indivíduos, apontando a existência de subgrupos que consideram outros elementos organizadores da significância de suas representações. Como elementos de caráter negativo, destacaram-se

480

S A N A R E, Suplemento 3, ISSN:2447-5815, V.15 - 2016 - V COPISP

os que caracterizam o HIV/AIDS como ruim (17), sofrimento (9), sintomas (8), perigosa (8), preocupação (7) e problema (7). Todavia, observou-se indivíduos que citaram elementos positivos evidenciando a possibilidade de ter uma vida normal (11) e de superação (8) das adversidades, apesar da doença. A análise de similitude, representada por meio da árvore máxima, confirma a centralidade dos termos doença, tristeza, morte e medo. Doença foi o elemento mais centralizador, obtendo forte ligação com os termos sem cura, tratamento, remédio, preconceito, transmissão e morte. A sentença de morte foi apontada como a primeira visão que as outras pessoas possuem quando os indivíduos revelam sobre o diagnóstico. Esse conteúdo esteve também associado à fragilidade que a infecção acarreta ao organismo, a necessidade de internação em situações de baixa imunidade, ao sofrimento pela sensação de morte iminente, além da preocupação com os filhos, no caso da morte se concretizar como desfecho. A tristeza esteve relacionada ao enfrentamento do preconceito, à percepção da infecção como o fim da vida, decepção, angústia e arrependimento, pois foi vítima da transmissão de uma infecção prevenível. Para alguns, o sentimento de tristeza intensa, expresso pela depressão, é um problema decorrente da doença, que se expressa pela dificuldade de aceitação e vontade de realizar ações extremas, como o suicídio, para evitar o sofrimento.

CONCLUSÃO: Observou-se a centralidade dos termos Doença, Medo, Morte e Tristeza, os quais apresentam-se coexistentes

tanto na análise prototípica quanto na análise de similitude. Foi possível verificar que as representações sociais da AIDS entre os sujeitos que convivem com a patologia mostraram-se predominantemente negativas com a saliência de elementos centrais, como medo, morte, tristeza e preconceito. Contudo, o sistema periférico aponta para uma visão mais otimista da doença com a saliência de termos como viver, conviver, conformar, cuidado, cura, luta, superação e força. Tal resultado sugere que embora nenhum termo positivo faça parte do núcleo central da representação da AIDS, nem todos os sujeitos convivem com o lado pessimista da infecção, tendo em vista que mecanismos de enfrentamento mais elaborados são adotados por uma pequena parcela dos entrevistados.

REFERÊNCIAS:

JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D.(org.). As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. p. 17-44.;

LABRA, O. Social representations of HIV/AIDS in mass media: Some importante lessons for caregivers. International Social Work, v. 58, n. 2, p: 238-48, 2015.;

OLIVEIRA, D. C. Construção e transformação das representações sociais da aids e implicações para os cuidados de saúde. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v. 21, n. 1, p: 276-86, 2013.;

WAGNER, W. Sócio-gênese e características das representações sociais. In: MOREIRA, A. S. P; OLIVEIRA, D. C. Estudos interdisciplinares de representações sociais. Goiânia: AB, 2000. p. 3-25.

PALAVRAS-CHAVE: Soropositividade para HIV; Infecção; Síndrome de Imunodeficiência Adquirida; Teoria das Representações

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: REPRESENTAÇÕES

No documento CATEGORIA PÓS-GRADUANDO E DOCENTE - ORAL (páginas 168-170)

Outline

Documentos relacionados