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PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

SUJEITOS PESQUISADOS, FUNÇÃO, RECURSOS UTILIZADOS E LOCALIZAÇÃO DE PESSOAS SUJEITO

2.2 Análise de imagens em livros didáticos

Neste item, trata-se especificamente sobre a imagem, apresentando-se as principais definições e discussões sobre suas características, além de alguns aspectos que mostram a sua evolução nos livros didáticos no decorrer dos séculos. Para finalizar, são discutidas algumas possibilidades de metodologias de análise neste tipo de impresso, com vistas à construção daquelas utilizadas nesta pesquisa.

Ao refletir-se sobre o histórico da imagem, convém relembrar que ela existe desde a pré-história. Com o passar do tempo, a imagem sempre foi um importante meio de comunicação, sendo produzido por diferentes métodos e com diferentes materiais. Está se falando de um símbolo criado pelo homem como forma de linguagem, expressão e comunicação, fundamental para o desenvolvimento e constituição do ser humano, na sociedade.

Inicialmente, deve-se entender algumas definições de imagem. Existem algumas raízes etimológicas que se vinculam ao vocabulário relacionado com a imagem. Pela raiz da palavra latina, i-mag-o, é a mesma de mag-ia e carrega componentes semânticos de “encanto”, “feitiço”, ou “atraente”, com o qual certa coisa deleita ou cativa. Pela origem no termo grego eikon, remete a termos como “ícone”, “icônico”, “iconicidade”, “iconologia” e

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“iconografia”.

Recorrendo-se a um dicionário, é possível encontrar as seguintes opções de definição, para a palavra “imagem”:

IMAGEM

substantivo feminino

1. representação da forma ou do aspecto de ser ou objeto por meios artísticos ‹i.

desenhada, gravada, pintada, esculpida›.

1.1 representação de seres que são objeto de culto, de veneração ‹a i. de Cristo› ‹uma

i. de São Francisco›.

1.2 estampa, sem caráter de obra original ou rara, que reproduz temas diversos ou, mais esp., motivos religiosos ‹um álbum de i.› ‹algumas i. marcavam as páginas do

missal›.

2. aspecto particular pelo qual um ser ou um objeto é percebido; cena, quadro

‹imagens da rua› ‹i. urbanas›.

3. reprodução invertida de um ser ou de um objeto, transmitida por uma superfície refletora.

4. reprodução estática ou dinâmica de seres, objetos, cenas etc. obtida por meios técnicos ‹i. fotográfica› ‹i. televisada› ‹i. magnética›.

5. fig. pessoa muito bonita; cromo.

6. fig. aquilo que apresenta uma relação de analogia, de semelhança (simbólica ou real); réplica, retrato, reflexo ‹ela é a i. do pai› ‹a casa era a i. da dona›.

7. fig. pessoa que representa, simboliza ou faz lembrar alguma coisa abstrata; personificação ‹ela era a própria i. da tristeza e solidão› ‹o rapaz é a i. da saúde›. 8. fig. opinião (contra ou a favor) que o público pode ter de uma instituição,

organização, personalidade de renome, marca, produto etc.; conceito que uma pessoa goza junto a outrem ‹um político precisa cuidar de suai.› ‹teve a i. abalada pelo escândalo›.

9. lit. qualquer maneira particular de expressão literária que tem por efeito substituir a representação precisa de um fato, situação etc. por uma alegoria, visão, evocação etc. ‹i. bíblicas› ‹i. camonianas› ‹i. vulgares›.

10. mat. elemento determinado pela aplicação de uma função em um determinado ponto.

11. ópt. representação de um objeto que emite ou recebe luz e que é formada por raios luminosos que passam por uma lente, espelho ou qualquer outro sistema óptico.

12. psic. representação ou reprodução mental de uma percepção ou sensação anteriormente experimentada ‹i. visual, olfativa›.

13. psic. representação mental de um ser imaginário, um princípio ou uma abstração

‹a i. do demônio, da realeza, da democracia, do círculo›.

ETIMOLOGIA: lat. imāgo,ĭnis no sentido de 'semelhança, representação, retrato', pelo

genit., cp. imago; ver imag-; f. hist. sXIII imagem, sXIII ymagem, sXIII omagem.

(HOUAISS, 2018)

Considerando os conceitos acima, é possível afirmar que a palavra imagem é polissêmica. Entretanto, neste trabalho interessam os significados explanados nos itens 1, 2, 3 e 4 do excerto retirado do dicionário, nos quais podem ser associadas as ilustrações, as fotografias e os mapas, objeto de estudo nessa pesquisa, visto que são os tipos de imagem encontrados na Coleção Guri.

A imagem “é um elemento de linguagem capaz de evocar, para um sujeito histórico, social e psicológico, uma série de associações e referências combinadas com base em código e repertório em que se insere tal sujeito”, segundo Coelho (2008, p. 38). Com isso, a imagem, ao representar algo, faz a mediação entre aquilo a que se refere (referente ou objeto) e a percepção/interpretação de um sujeito (interpretante ou referência). É um signo, pois suscita reconhecimento nesse sujeito, significa algo, e a sua “percepção se dá de maneira simultânea,

em que forma e conceito são apreendidos como um todo indiviso” (COELHO, 2008, p. 39). Segundo Santaella (2012, p. 16-17), existem três principais domínios da imagem: a) Domínio das imagens mentais, imaginadas e oníricas - surgem do poder de nossas mentes para configurar imagens; b) Domínio das imagens diretamente perceptíveis - são aquelas que apreendemos do mundo visível e que vemos diretamente da realidade; c) Domínio das imagens como representações visuais - correspondem a desenhos, pinturas, gravuras, fotografias, imagens cinematográficas, televisivas, holográficas e infográficas (ou computacionais). Há autores que incluem também outros dois domínios: o de imagens verbais e o das imagens ópticas.

Entre essas classificações diversas de imagens, a que nos interessa mais especificamente nessa pesquisa, pelo foco de análise pretendido, são as tratadas no item c), que se refere à imagem como representação visual, pois aí se inserem as ilustrações, fotografias e mapas, que são encontrados na Coleção Guri. Segundo Santaella,

as imagens são chamadas de "representações" porque são criadas e produzidas pelos seres humanos nas sociedades em que vivem. É claro que elas são também imagens percebidas, mas distinguem-se daquelas que denominamos perceptivas porque, neste caso, é a nossa percepção que faz o mundo visível naturalmente aparecer a nós como imagem, enquanto as representações visuais são artificialmente criadas, necessitando para isso da mediação de habilidades, instrumentos, suportes, técnicas e mesmo tecnologias (SANTAELLA, 2012, p. 17-18).

Há, pelo menos, três modalidades principais de imagens: a) Imagens em si mesmas - que se apresentam como formas puras, abstratas ou coloridas; b) Imagens figurativas - que se assemelham a algo existente no mundo, ou supostamente existente (figuras imaginárias, mitológicas, religiosas, etc.); c) Imagens simbólicas - mesmo que apresentem figuras reconhecíveis, elas representam significados que vão além daquilo que os olhos veem, através do simbolismo (SANTAELLA, 2012, p. 19).

Pelas características da imagem, ela pode ser: presente e ausente; subjetiva e objetiva; emocional e afetiva; visível e oculta; individual e social; concreta e abstrata; passado, presente e futuro (BADANELLI RUBIO, 2003, p. 70-72).

A partir disso, para estudar as imagens, é necessário compreender que elas são reapresentações do mundo elaboradas para serem vistas e, assim como os discursos, elas têm o real como referente, não como a sua mímesis, conforme os conceitos de Pesavento (2014, p. 85).

Sendo assim, "uma imagem sempre constitui uma mensagem para o outro, mesmo quando esse outro somos nós mesmos" (JOLY, 1996, p. 55). Na perspectiva de Paiva,

[...] é importante sublinhar que a imagem não se esgota a si mesma. Isto é, há sempre muito mais a ser apreendido além daquilo que é nela, dado a ler ou ver. Para o pesquisador da imagem é necessário ir além da dimensão mais visível ou mais implícita dela. [...] lacunas, silêncios e códigos que precisam ser decifrados, identificados, compreendidos. Nessa perspectiva, a imagem é uma espécie de ponte entre a realidade retratada e outras realidades, e outros assuntos, seja no passado, seja no presente (PAIVA, 2006, p. 19).

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No que se refere à mensagem de uma imagem, dependendo de suas diferentes especificidades e estilos, seus objetivos e significados também passam por variações. Mesmo assim, podem ser encontrados em um mesmo suporte, como nos livros didáticos, para fins de representação visual de conteúdo textual, que interferem na percepção visual dos leitores, sejam eles alunos ou professores, sujeitos esses que também podem ser chamados de “usuários” desses impressos.

Em consonância a isso, Cruder (2008) explica que o ponto de partida de uma imagem é a percepção visual, pois, segundo a autora,

Las imágenes nos instan a transitar desde el orden del fenómeno, es decir, desde el orden de lo perceptivo, desde lo que se considera evidente de por sí. Profundizar la percepción implica recorrer un camino que involucra las particularidades de un sistema cultural atendiendo a las relaciones y repertorios que, a la vez que individuales, son sociales, y que, en definitiva, participan y dan cuenta de un universo simbólico compartido (CRUDER, 2008, p. 22).

Quanto à funcionalidade da imagem no livro didático, pode-se afirmar que os alunos podem aprender mais sobre o conteúdo, quando este estiver composto por palavras e imagens, do que apenas com informação textual, com uso exclusivo de palavras. Esse processo é ainda mais efetivo quando o texto e as ilustrações respectivas a determinada informação fiquem próximos um do outro. Dessa maneira, o processo cognitivo de aprendizagem proposto em um livro didático é mais eficiente quando se é utilizado o recurso instrucional da imagem, que dependendo de seus elementos, contém um tipo de função determinada.

Entre as tantas variáveis e multiplicidades de formatos de uma imagem, vale a referência aos estudos de Twyman (1982), em especial para os livros didáticos, visto que o autor trata das particularidades da linguagem visual. Como canal de emissão, a linguagem visual pode ser dividida tanto em gráfica como não gráfica. Enquanto a não gráfica corresponde à paralinguística, sob a forma de gestos e expressões faciais, a gráfica pode ser subdividida em verbal (textos), pictórica (figuras) e esquemática (símbolos). Sendo assim, de acordo com tais definições, as ilustrações e as fotografias são elementos de linguagem visual pictórica, enquanto que os mapas são elementos de linguagem visual esquemática (RAMIL, 2013).

É interessante registrar aqui o significado e as principais características daqueles que interessam a esta pesquisa - ilustração, mapa e fotografia. Entre esses três, o recurso mais encontrado nos livros didáticos analisados é o da ilustração. Considerando isso, a ênfase maior neste trabalho é dada às ilustrações da Coleção Guri, sendo que os mapas e as fotografias também são abordados, para fins de compreensão do conjunto imagético como um todo, em se tratando de um impresso, composto de páginas sequenciais, nos quais elas se complementam na função didático-pedagógica, junto ao texto, através de suas

representações específicas.

Iniciando-se pela ilustração, em uma explicação básica, partindo de um dicionário, o termo pode ter as seguintes possibilidades de significado:

ILUSTRAÇÃO Substantivo feminino

1. ato ou efeito de ilustrar(-se)

1.1 qualidade do que é ilustre; renome ‹mestres citados por sua i.›

1.2 conjunto de conhecimentos (científicos, artísticos etc.); instrução, saber ‹professor

de reconhecida i.›

2. p. met. pessoa ilustre por seu conhecimento ‹uma das maiores i. do século passado›

3. ato de esclarecer, de ilustrar por meio de explicações; esclarecimento, comentário

‹sempre usa um exemplo como recurso de i.›

4. adorno ou elucidação de texto por meio de estampa, figura etc.

5. p. met.; edit. publicação que contém estampas, gravuras, desenhos etc.

6. p. met.; gráf. desenho, gravura, imagem que acompanha um texto ‹um livro com

belas i.›

7. fil. m. q. iluminismo.

ETIMOLOGIA: lat. illustratĭo,ōnis no sentido de 'ação de esclarecer', p. ext. 'descrição

viva e enérgica, brilho'; ver lu(c)-; f. hist. 1619 ilustrações. (HOUAISS, 2018)

Visualizando o excerto acima, o significado que interessa neste trabalho está contemplado principalmente nos itens 4, 5 e 6. Para além disso, a ilustração, já referenciada anteriormente como elemento de linguagem visual gráfica pictórica, ao ser um tipo de imagem, é considerada um signo, que pode ser compreendido com um sistema de codificação de uma linguagem57 que representa alguma coisa para o observador, em diferentes níveis de

recepção, sendo eles o de informar e perceber a estrutura; comunicar e compreender a mensagem; fruir e interpretar os conteúdos. A ilustração é um meio de expressão visual que tem a função de narrar, informar e persuadir através de seu conjunto plástico, na representação de uma determinada mensagem verbal.

Deste modo, a ilustração também "é linguagem, é comunicação. É tradução do texto e extrapola o texto. É reflexo da união dele com a subjetividade do ilustrador, sua cultura, sua memória, seu contexto histórico" (DIAS; FARBIARZ, 2013, p. 46). Por ser uma arte utilitária, com sua função objetiva de construir imagens visuais que serão reproduzidas, a ilustração é uma atividade que pode ser então inserida no campo do design gráfico, pois implica também ao ilustrador o domínio de determinados fatores técnicos.

Para Oliveira (2008), a ilustração pode ser dividida em três tipos, de acordo com a sua função: a) Ilustração narrativa - tem o objetivo de contar uma história, de narrar uma cena, sugerir narrativas; b) Ilustração informativa - típica dos livros de medicina e botânica; c) Ilustração persuasiva - utilizada pela publicidade. Segundo o autor, “as três divisões têm acima de tudo um aspecto didático, uma vez que esses gêneros agem muitas vezes ao mesmo

57 Segundo Coelho (2008, p. 06), utiliza-se "o termo linguagem para nos referir a qualquer sistema simbólico de

comunicação humana, de uso coletivo e consensual, formado por signos das mais variadas naturezas. Temos por linguagem o sistema que possui um repertório de unidades de sentido e um conjunto de regras articuladoras dessas unidades".

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tempo, influenciando-se mutuamente. No entanto, do ponto de vista formal, em termos conceituais, comportam-se de maneira distinta” (OLIVEIRA, 2008, p. 44). Mesmo assim, os níveis de narrativa, informatividade e persuasão podem ser diferentes nas ilustrações.

Segundo Homma (2016), todos os elementos em um livro didático devem ter uma função que os justifique. Dessa forma, ela apresenta algumas funções instrucionais das ilustrações: atrair e dirigir a atenção ao material; apresentar uma nova informação; concretizar uma informação abstrata; comparar; enfatizar pontos; fornecer exemplos; motivar; produzir prazer; promover emoções e atitudes; simplificar; sintetizar; apresentar informações; intensificar a atenção; facilitar a analogia; desenvolver a compreensão; promover a retenção; criar ludicidade; promover informação adicional.

Além disso, conforme a autora (ibidem), existem vários tipos de ilustrações, que podem ser classificadas como: charge; caricatura; infantil; adulta; científica; exata; botânica; artística; técnica; realista; estilizada e cômica. O tipo de ilustração a ser inserida no livro didático é definido a partir do enfoque do texto original da disciplina, e a função que ela deve assumir para determinado conteúdo.

Em relação aos mapas, que aparecem em menor quantidade nos livros didáticos analisados, mas são também importantes na contextualização do conteúdo ao qual se referem, é comum encontrar a seguinte descrição:

MAPA

substantivo masculino

1. cart. representação gráfica e convencional dos dados referentes à superfície do globo terrestre, a uma região dessa superfície, à esfera celeste; carta ‹m. do Brasil› ‹m. astronômico› ‹m. selenográfico› ‹fazer o m. de sua propriedade›.

2. p. ext. representação de algo descrito e/ou figurado com a clareza de um mapa (acp. 1); lista, relação, quadro ‹m. estatístico› ‹m. de despesas› ‹o m. da fome no

Brasil›.

3. fig.; B; infrm. área de observação, de conhecimento, de atuação etc. ‹bandas que saem do m. após um ano de sucesso› ‹riscar uma população do m.›.

ETIMOLOGIA: it. mappa (1357) (no sentido definido) derivado de(o) lat. mappa,ae no sentido de 'toalhinha, guardanapo', já no lat., entre os antigos agricultores, significava 'representação gráfica de um terreno'.

(HOUAISS, 2018)

O item 1, do excerto acima, é o que se adequa aos conceitos dos mapas a que se faz referência nos livros didáticos, pois eles facilitam a compreensão do leitor, ao possibilitar uma informação visual, de características geográficas, de forma reduzida, planificada e adaptada ao formato do suporte.

Conforme a classificação de Twyman (1982) supracitada, os mapas são considerados elementos de linguagem visual gráfica esquemática. Segundo Hollis (2001, p. 4), o mapa, junto ao diagrama e sinais de direção, recursos também encontrados nos livros didáticos, tem a função de “informar e instruir, indicando a relação de uma coisa com outra quanto à direção, posição e escala”. Além do mais, os mapas têm como característica o grau de precisão e a natureza abstrata, com representações planas da Terra. Eles possibilitam a

visualização de grandes áreas que não poderiam ser alcançadas de outra forma, facilitando a visualização de regiões grandes e distantes (VELLOSO; STUDART, 1971).

Já as fotografias aparecem em menor quantidade nos livros didáticos da Coleção

Guri, considerando-se que, no período de sua publicação, as técnicas gráficas e de impressão

deste tipo de recurso ainda eram bastante recentes e implicavam em altos custos na produção, limitando o investimento nesse processo. Segundo definições básicas, pode-se entender a fotografia como:

FOTOGRAFIA substantivo feminino

1. arte ou processo de reproduzir imagens sobre uma superfície fotossensível (como um filme), pela ação de energia radiante, esp. a luz.

2 p. met. a imagem obtida por esse processo; retrato, foto. 3 fig. reprodução ou cópia fiel de algo.

ETIMOLOGIA: fot(o)- + -grafia; f. hist. 1858 photographia (HOUAISS, 2018)

As fotografias, elementos de linguagem visual gráfica pictórica, são imagens cujos registros podem identificar e informar visualmente sobre acontecimentos, locais e pessoas, através da captura de momentos que podem ser "guardados" por muito tempo, através do uso de uma câmera fotográfica ou algum equipamento com as mesmas funções que execute a reprodução de imagens, através de técnica específica por meio de exposição luminosa. Segundo Kossoy (1989, p. 33),

Toda fotografia é um testemunho segundo um filtro cultural, ao mesmo tempo em que é uma criação a partir de um visível fotográfico. Toda fotografia representa o testemunho de uma criação. Por outro lado, ela representará sempre a criação de um testemunho.

Além disso, Samain (2012) diz que as fotografias fixam o espectador num congelamento do tempo no mundo e o convidam a entrar na espessura de uma memória. Segundo o autor:

A imagem é um fenômeno na medida em que torna sensível todo um processo que combina aportes dos mais variados. Tomemos como exemplo a imagem fotográfica. A que processo combinatório ela deve sua existência? Para se moldar, precisou de um suporte: uma máquina captadora de luz, jogos de lentes, diafragma e obturador, uma placa sensível. Para se construir, precisou de uma pessoa, do seu talento, de sua maneira de observar, de pensar e de expressar o que viu, de enquadrar, de retocar, de manipular. Para emergir, ela precisou da existência do tempo, do espaço, da luz e da sombra, das cores, das linhas, dos volumes, das formas, do ambiente... Em poucas palavras, a fotografia precisou da longa história de uma “aventura” icônica. Para viver enquanto imagem, foi necessária a existência de espectador(es), isto é, de seres vivos, “aptos a saberem olhar uma imagem [...], capazes de discernir ‘lá onde ela arde’” (SAMAIN, 2012, p. 157).

Retomando então aos conceitos sobre a imagem em geral, independentemente do tipo, seja ela uma ilustração, uma fotografia ou um mapa, quando colocada próxima a um texto, indicando alguma relação estabelecida entre eles, nunca é vista de forma dissociada deste, pois sempre se tem uma visão do conjunto dos elementos que estão em uma página, por exemplo, para então, após isso, decodificá-los e analisá-los separadamente.

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Porém, é importante destacar que as pessoas registram os elementos visuais com mais rapidez do que os textuais, pois, enquanto a percepção da imagem pelo leitor se dá de maneira quase imediata em um primeiro contato, para o entendimento do texto ele necessita do tempo de leitura e de assimilação do conteúdo. Isso reforça a importância da imagem em uma página, que carrega em si inúmeras capacidades, como a de ter uma função, um significado, de atribuir sentidos e contribuir para a compreensão (o que nem sempre acontece eficientemente ou pode não ser proposital) do que está descrito nos textos, quando for o caso. Além disso, "somos mais capazes de memorizar descrições de objetos a partir de imagens do que a partir de palavras" (SANTAELLA, 2012, p. 109).

Sabe-se que as palavras podem remeter o leitor a associações subjetivas, culturais e emocionais, para além de seu significado literal. Isso também pode acontecer com as imagens, pois dependendo das características gráficas exploradas pelo profissional, seja ele um ilustrador, um desenhista (como era também chamado o profissional entre as décadas de 1950 e 1960) ou um fotógrafo, que destacam determinados aspectos, a imagem pode conter em seu caráter narrativo visual significados sociais capazes de estimular no leitor distintas interpretações que não estão contidas no texto.

Em seus estudos, Burke (2004) defende que as imagens são testemunhos da história. Para o autor, “uma vantagem particular do testemunho de imagens é a de que elas comunicam rápida e claramente os detalhes de um processo [...]” (BURKE, 2004, p. 101).

Outrossim, "a imagem, para ser lida, possui códigos especiais, espécies de ícones ou signos que remetem a uma lógica de significados para uma época dada" e são "dotadas