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A COLEÇÃO GURI (DÉCADA DE 1960)

REGISTROS SOBRE A COLEÇÃO GURI EM DOCUMENTOS OFICIAIS

4.1 Profissionais envolvidos na produção da Coleção Gur

É imprescindível identificar os profissionais que participaram na concepção e na produção da Coleção Guri, assim como conhecer sua formação e trajetória profissional, entre outras características relevantes, no intuito de dar visibilidade a essas pessoas no campo da História da Educação, pela sua participação nas obras didáticas. Cardoso (2009) diz que:

Perdura o hábito, no Brasil, de considerar o passado editorial como se fosse um fenômeno político e literário, composto por palavras e ideias em abstrato, sem dimensão material, sem levar em conta as práticas culturais e as possibilidades técnicas que o condicionaram. Trata-se de uma distorção, visto que ninguém ignora o peso desses fatores em relação ao presente. A tendência é supervalorizar a memória do discurso, muitas vezes escamoteando os aspectos ligados ao fazer e à técnica, talvez seja legado ainda do bacharelismo, tão marcante em nossa tradição intelectual. Em nível profundo, pode ser que reflita também o menosprezo que a sociedade brasileira sempre reservou para os que sujam as mãos com o trabalho (CARDOSO, 2009, p. 09).

No mesmo sentido, sobre a valorização e sentido do trabalho gráfico, Camargo (2003, p. 161), diz que: “os novos tempos impõem racionalização e impessoalidade, mas a

história da indústria gráfica brasileira está por demais impregnada da mão do artífice para que se possa imaginá-la sem o toque insubstituível de seu talento”.

Concordando com as reflexões de Cardoso e Camargo, entender as funções daqueles que trabalharam e de que forma colaboraram no processo de produção dos livros didáticos é importante para contextualizar o estudo sobre as imagens, visto que eles também interferem em sua concepção, criação e propósito. Sendo assim, a seguir, são apresentados os profissionais da Coleção Guri, entre autores, ilustradores e revisores.

No caso das autoras, elas foram convidadas pelo autor Elbio N. Gonzales a produzirem juntos a Cartilha do Guri, precursora da Coleção Guri, concebida pelo investimento na criação dos demais livros, no decorrer dos anos. Desde o início, ainda com a proposta de publicação da cartilha, foi consultada a Editora Tabajara para os encargos de edição da obra didática, seguindo-se com a mesma empresa nos livros subsequentes.

Em relação aos ilustradores e revisores, foram todos contratados pela editora, que os escolheu e convidou para a prestação de tal serviço, o que hoje seria chamado do tipo

‘freelance’, serviço pelo qual foram pagos para desenvolver um determinado trabalho, visto

que eles não tinham nenhum vínculo empregatício com a Tabajara.

Isso era feito porque não havia um setor com profissionais especializados em atividades específicas de alguma etapa do processo de produção gráfica, o que também incidia na contratação de gráficas terceirizadas, aspectos esses já abordados neste trabalho. Os profissionais envolvidos na diagramação e na arte-finalização dos livros não puderam ser identificados, mas, ao que tudo indica, estariam na mesma equipe daqueles encarregados de executar os processos de composição, impressão e acabamento dos livros didáticos, que integram as etapas da produção gráfica que eram atribuídas às gráficas terceirizadas, das quais não se obteve informações mais detalhadas134.

É oportuno relembrar aqui o que já foi referido anteriormente, no item sobre os procedimentos metodológicos, sobre uma das maiores dificuldades enfrentadas durante a pesquisa, que diz respeito ao fato de os nomes dos sujeitos pesquisados aparecerem escritos de diferentes formas, tanto nos livros didáticos analisados (não há um padrão no nome de uma mesma pessoa, às vezes no próprio livro – aparece na capa e na folha de rosto de forma diferente -, ou dentro de uma mesma coleção ou também em outros livros da mesma editora), como em outros impressos e em dados diversos da internet.

As abreviações, erros de digitação e trocas de letras ou inversão de posição de letras, assim como variações de quantidade de nomes e sobrenomes de uma pessoa, entre outras

134 É interessante deixar registrado que Celso Afonso Tabajara (2018b) comentou, em seu relato, que várias vezes

ele viajou para as cidades onde estavam as gráficas contratadas e ele mesmo revisava os fotolitos dos livros didáticos que seriam impressos. Os fotolitos são filmes transparentes impressos com determinado conteúdo e que são gerados para gravar as chapas e/ou telas que são instaladas nas máquinas impressoras, para a impressão em série dos suportes, os papéis.

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modificações, são aspectos que tornaram a investigação muito mais demorada e difícil, visto que não havia um único padrão de busca e, por isso, para a pesquisa ser mais eficiente, foi necessário rastrear por todas as possibilidades, que acabavam resultando diferentes umas das outras. Contudo, foi possível coletar e reunir alguns dados, apresentados a seguir.

a) Autor e autoras

Neste item, apresenta-se a relação do autor e das autoras que participaram da produção da Coleção Guri. Expõe-se informações biográficas e de trajetória profissional, assim como dados a respeito de sua função profissional e como se deu a participação nas obras analisadas, finalizando-se com a localização dos mesmos em outros livros didáticos e publicações do acervo do Hisales.

• Elbio N. Gonzales

Elbio Neris Gonzales (Figura 28) nasceu em 09 de abril de 1932, na cidade de Itaqui, no Rio Grande do Sul. Faleceu no dia 02 de março de 2018, aos 85 anos, pouco tempo após sua colaboração com esta pesquisa. Era casado com Suely Franco Netto Gonzales135 e vivia

em Brasília/DF desde o ano de 1963. Licenciado em Filosofia e Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUC-RS (Porto Alegre), possuía também os títulos de Master of Arts em Sociologia Política, pela University of Oregon/USA (Estados Unidos), e de Doutor em Sociologia, pela PUC-SP (São Paulo).

Figura 28 – Fotografia de Elbio N. Gonzales, de 1972.

Fonte: Acervo particular de Elbio Neris Gonzales e Suely Franco Netto Gonzales.

135 Suely Franco Netto Gonzales, a esposa de Elbio N. Gonzales, é professora Adjunta aposentada da

Universidade de Brasília (UNB), pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Foi importante colaborada desta pesquisa, para a qual concedeu relevantes informações e respostas ao questionário enviado, além de fornecer documentos e imagens significativas para a investigação. Manteve-se em contato via e-mail e

WhatsApp, fazendo a comunicação e repassando os dados por seu marido, impossibilitado de colaborar sozinho,

Em 1960, a convite do então deputado federal Mariano Beck, tornou-se assessor técnico da Comissão Estadual de Prédios Escolares (Cepe)136 e, posteriormente, da

Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul. De 1960 até fins de 1962, chefiou o Serviço de Expansão Descentralizada do Ensino Primário (Sedep)137 da Secretaria

de Educação e Cultura do RS, durante o governo de Leonel Brizola. Nesse período, foi membro do Conselho Estadual de Educação do RS e lecionou Filosofia na Escola Normal Primeiro de Maio, no curso de formação de professores primários, em Porto Alegre, em 1962. Em março de 1963, mudou-se para Brasília para exercer a função de técnico em educação na Superintendência da Reforma Agrária (Supra), no Ministério da Agricultura. Com a extinção da Supra, em 1964, passou a lecionar na área de Ciência Política, na Universidade de Brasília (UNB). Em outubro de 1965, demitiu-se em solidariedade aos colegas demitidos e em função do clima de perseguição política na universidade e de repressão política no cenário científico brasileiro, no período em que vigorava a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). Esse fato se soma à histórica demissão coletiva de 250 professores da UNB, que tomaram a mesma decisão.

Elbio N. Gonzales optou então pela alternativa de prosseguir sua Pós-graduação nos Estados Unidos, com bolsa de estudos na University of Oregon, como Teaching Assistent, onde obteve o título de Master of Arts em Sociologia Política, em 1968. Em 1969, reingressou na UNB, como professor do Departamento de Sociologia do Instituto Central de Ciências Humanas, onde permaneceu até 1991. Há alguns anos, Elbio N. Gonzales sofreu um Acidente Vascular Cerebral, o que o impossibilitou de seguir trabalhando. Desde então, estava aposentado de suas funções docentes.

Como reiteradamente assinalado, Elbio N. Gonzales é um dos autores da Cartilha do

Guri, que teve pelo menos 13 edições publicadas, além do respectivo Manual do Professor.

Para levar à efeito seu projeto de produzir uma cartilha que atendesse mais e melhor o novo contexto educacional gaúcho, com o avanço das escolas rurais no governo de Leonel Brizola, ele convidou as professoras Flávia E. Braun e Rosa Maria Ruschel para juntos escreverem e

136 A Comissão Estadual de Prédios Escolares (CEPE) era um dos principais expedientes envolvidos no programa

de escolarização implementado durante o governo de Brizola no estado. Foi criada pelo Decreto n° 10.416, de 25 de março de 1959. Tratava-se de um órgão de cooperação entre a Secretaria de Educação e Cultura e a Secretaria de Obras Públicas. Era presidida pelo secretário de Educação e Cultura e tinha a incumbência de superintender, estudar, planejar, projetar e executar tarefas de conservação, reparos, adaptação, construção, reconstrução e aparelhamento de prédios escolares. Deste órgão, colegiado e especializado, ainda participavam o secretário de Obras Públicas, os subsecretários de Educação e a diretoria do Centro de Pesquisas e Orientação Educacional (CPOE) (QUADROS, 2001, p. 03).

137 O Serviço de Expansão Descentralizada do Ensino Primário (Sedep), assim como o Cepe, era um dos principais

expedientes envolvidos no programa de escolarização implementado durante o governo de Brizola no estado. Tratava-se de um órgão criado e encarregado de gerenciar o Programa de Expansão Descentralizada do Ensino Primário. O programa apresentava características de uma experiência de descentralização da educação e tinha como lema “Expandir, descentralizando”. Baseava-se na celebração de convênios de colaboração envolvendo estado e municípios. Os municípios informavam ao governo do estado suas necessidades de prédios escolares e salas de aula, e o estado fornecia os meios técnicos e financeiros para a execução das obras (QUADROS, 2001).

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publicarem a cartilha, editada pela primeira vez em 1962. Como no ano de 1963 se mudou para Brasília, o professor não teve participação na produção dos demais livros da coleção, que foram realizados pelas mesmas professoras referidas, além de Zenna T. Braun, que não foi autora da cartilha, mas que coproduziu o livro específico de Matemática.

O nome de Elbio N. Gonzales não aparece em nenhuma outra publicação didática no acervo do Hisales de livros didáticos gaúchos produzidos entre 1940 e 1980. Além disso, ele é o único homem autor identificado entre os 340 livros didáticos catalogados, visto que as demais autoras são todas mulheres, em geral professoras e várias delas vinculadas ao CPOE. Há ainda uma outra publicação, realizada pelo professor Elbio N. Gonzales em parceria com as mesmas professoras, Flávia E. Braun e Rosa Maria Ruschel. Trata-se de um livreto intitulado Programa de ensino para Escolas Primárias Municipais do Sedep, que foi editado pela Secretaria de Educação e Cultura do RS, com a colaboração de todos os Coordenadores do Sedep138. Além disso, Elbio N. Gonzales publicou outras obras, nas áreas

de metodologia científica, sociologia e de trabalho na agricultura, por exemplo.

• Flávia E. Braun

Flávia Elisabetha Braun Boni, também conhecida como Flávia Braun, é filha de José Frontino Braun (27/10/1899-29/07/1976) e Maria Idalina Petter (28/02/1902-08/05/1996). Nasceu em 10 de junho de 1932, na Linha Glória, localidade no interior da cidade de Estrela/RS. É viúva de Gian Domênico Boni (23/03/1925-23/06/2015), que também trabalhava na Tabajara139, e o casal não teve filhos. Flávia atualmente está com 85 anos e mora com sua

irmã Zenna T. Braun, dividindo residência em Porto Alegre (capital gaúcha) e em Tramandaí (cidade litorânea, importante balneário gaúcho).

Frequentou o curso ginasial no Colégio São José de São Leopoldo/RS e o secundário na Escola Normal do Instituto de Educação, em Porto Alegre. Estudou no curso superior de Pedagogia e fez pós-graduação em Filosofia. De uma família numerosa e com vários parentes vinculados à educação, Flávia E. Braun estudou nos anos iniciais e lecionou na Escola Pedro Braun140, que recebeu esse nome em razão da doação de terrenos pelo seu avô paterno,

138 A referida obra não tem data de publicação, contém 96 páginas e apresenta os detalhes dos Programas das

disciplinas de Estudos Sociais, Linguagem, Matemática, Ciências Naturais, Desenho, Música, Higiene, Urbanidade e Educação Física, para cada um dos quatro primeiros anos do ensino primário. Foi impresso na Gráfica Sandra Ltda, Rua João Alfredo, 140 – fone 8837. Não há exemplar no Hisales. A informação foi obtida através de um exemplar disponível no acervo particular de Elbio e Suely Gonzales.

139 Segundo relatos de familiares, Flávia teria conhecido Gian, um homem italiano, na época em que começou a

produzir os livros didáticos para a Editora Tabajara, pois ele era funcionário desta empresa e um dos que estava em frequente contato com ela, a irmã Zenna e Rosa Maria Ruschel, a respeito dos trabalhos que estavam sendo desenvolvidos, pois ele buscava as “parciais” (partes prontas) dos livros em sua casa, para dar prosseguimento ao processo editorial das referidas obras. Flávia E. Braun e Gian D. Boni se casaram em 26 de março de 1986.

Pedro Braun, para a comunidade, visando sua construção, feito este conquistado em acordo com o governo, visto que ele tinha envolvimento com a política e contou também com o auxílio de seu sobrinho e deputado, João Lino Braun (irmão de José Frontino – o pai de Flávia E. Braun), para efetivar o projeto.

Por essa escola, cujo patrono também era Pedro Braun, passaram vários integrantes da família Braun, tanto como alunos e alunas quanto fazendo parte do grupo de professoras ou, ainda, na coordenação da instituição. Um dos exemplos é o da professora Zita Braun, que também foi diretora da escola, por 18 anos. Ademais, todas as irmãs de Flávia E. Braun eram professoras141, mas algumas delas não lecionaram na escola fundada pelo avô. Comunitária

e situada na zona rural de Estrela (Distrito de Glória, BR 386 - KM 361), a escola foi descredenciada e cessada oficialmente no início de 2017142. A Figura 29 mostra algumas

imagens do educandário, explicadas na sequência.

Figura 29 – Fotografias da Escola Pedro Braun, em Linha Glória – distrito de Estrela/RS, várias datas.

Fonte: Acervo particular de Zita M. Braun Lautert, por Marlise Lautert (a primeira, na linha superior à esquerda) e

acervo particular de Silvani Eidelwein Bee (as que estão no centro e à direita na linha superior e as duas que estão na linha inferior).

cedidos pela família Braun. Começou sendo chamada por Grupo Escolar Pedro Braun, em 1977 passou a ser identificada como Escola Estadual de 1º Grau Pedro Braun e, por fim, em 2000 foi denominada Escola Estadual de Ensino Fundamental (E.E.E.F.) Pedro Braun.

141 Entre os 11 irmãos, 7 eram mulheres e professoras. São elas, em ordem decrescente de idade: Josepha Braun,

Anna Maria Braun, Zita Margarida Braun (Lautert), Zenna Therezinha Braun (uma das autoras da Coleção Guri), Flávia E. Braun (Boni) (uma das autoras da Coleção Guri), Íris Ignez Braun (Klein) e Marilene Braun (Martins). Os irmãos homens, que não foram professores, são: Arno Aloys Braun, José Pedro Braun, Roque Lino Braun e Paulo Frontino Braun. Havia também uma tia desses irmãos, Lucila (conhecida como Tia Lila), que foi uma de suas professoras quando eles ainda eram alunos da Escola “Pedro Braun”.

142 O descredenciamento e o fechamento da Escola Estadual de Ensino Fundamental (E.E.E.F.) Pedro Braun

(como era denominada desde 2000) se deve principalmente à pouca quantidade de alunos para a oferta de ensino fundamental, deixando assim de integrar o Sistema Estadual de Ensino, em 2017.

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Na Figura 29, acima, na linha superior, a fotografia à esquerda mostra uma turma de alunos com seus guarda-pós (nela está Marlise Lautert, sobrinha da professora Flávia E. Braun, que também se tornou professora) por volta de 1963-1964. A fotografia ao centro é de uma turma de alunos com a professora Íris Ignez Braun (irmã de Flávia E. Braun), na escadaria de entrada na fachada frontal da escola, aproximadamente em 1968. A fotografia à direita, da década de 1970, mostra os alunos no pátio interno da escola, junto ao mapa político do Brasil construído no chão com cascalhos cimentados lado a lado, com o qual se estudava os estados e capitais do país (Silvani Bee, 2018b). Na linha inferior, ambas as fotografias mostram partes da fachada externa da escola, em registros da década de 2010.

Foi constatado também que os livros da Coleção Guri foram utilizados nessa escola, pelos alunos e professores, pelo menos na década de 1960 e 1970. Isso pôde ser confirmado pelos relatos de Marlise Lautert - aluna da professora Beatriz Porto e filha da professora Zita Braun, uma das irmãs Braun (2018) e, também, de Silvani Eidelwein Bee - aluna das professoras Naldina da Rosa Cemin e Íris Ignês Braun Klein, outra das irmãs Braun (2018a). Marlise e Silvani confirmaram terem sido alfabetizadas com a Cartilha do Guri, nos anos de 1963 e 1973, respectivamente, dados esses que também indicam a permanência desse impresso didático em sala de aula, em uma mesma escola, por pelo menos uma década.

A Figura 30, a seguir, mostra duas fotografias. Na que está à esquerda, aparece a família de Flávia E. Braun, em registro realizado em 1949 (da esquerda para a direita: na linha de trás, em pé - os irmãos Zenna, Flávia, Arno, Anna e Zita; na linha da frente, sentados – os irmãos José Pedro, Roque, o pai Frontino, Marilene, a mãe Idalina, Paulo e Íris). Na fotografia à direita, tirada por volta de 1999, da esquerda para a direita, estão as irmãs e professoras Zita, Flávia e Zenna Braun, acompanhadas de uma criança da família.

Figura 30 – Fotografias da família Braun (1949 e 1999).

Fonte: Acervo particular de Zita M. Braun Lautert, por Marlise Lautert.

Além de professora estadual, Flávia E. Braun foi diretora da referida escola. Foi também técnica em Educação, atuando na 3ª Delegacia Regional de Educação (3ª DRE), transformada em 3ª Coordenadoria Regional do Estado (3ª CRE), situada em Estrela, assim

como também trabalhou como orientadora do Sedep e do ensino primário, em especial no setor que atendia as escolas do interior. Na época, o sr. Elbio N. Gonzales era seu chefe. Mudou-se para Porto Alegre e trabalhou na Secretaria de Educação e Cultura (SEC) do Estado, por muitos anos (Flávia E. Braun; Zenna, T. Braun, 2018).

Enfatiza-se, conforme o relato de Flávia E. Braun (2018), que ela e a professora Rosa Maria Ruschel foram convidadas pelo professor Elbio N. Gonzales para a produção da Cartilha

do Guri, o que, provavelmente, além do reconhecimento por sua experiência na área, pode

ter sido facilitado através das relações institucionais de trabalho anteriores, pelas quais todos já se conheciam, devido aos vínculos empregatícios nos setores da educação do estado, como o próprio Sedep.

Posteriormente, pela receptividade da cartilha e pela demanda que se criou nas escolas da zona rural, Flávia E. Braun produziu então os livros subsequentes da coleção, juntamente com a professora Rosa Maria Ruschel. Ambas eram da mesma cidade e também atuaram juntas na 3ª DRE, local onde se conheceram e se tornaram amigas. Além disso, Flávia e Rosinha (como era carinhosamente chamada pelas amigas) foram trabalhar em Porto Alegre, na SEC/RS, e lá moraram juntas durante muitos anos, onde seguiram a carreira de professoras públicas estaduais (Flávia E. Braun; Zenna, T. Braun, 2018).

Na época de produção dos livros da Coleção Guri, elas obtinham autorização para afastamento de suas funções profissionais da SEC/RS, para se dedicarem a esse trabalho especificamente. Reuniam-se no apartamento de Tramandaí, que era da família Braun, no qual ficavam algumas semanas recolhidas, isoladas e focadas no trabalho de criação das obras didáticas (Flávia E. Braun; Zenna, T. Braun, 2018). Vale destacar o fato que aqui aparece, no que se refere à dimensão doméstica da produção de livros didáticos, no contexto dos anos de 1960, quando duas irmãs e uma amiga, todas mulheres e companheiras de trabalho, se reuniam em uma residência para trabalhar nos textos da Coleção Guri.

Segundo o relato de Flávia E. Braun (2018), elas receberam pagamento pela produção desses livros didáticos e consideravam o trabalho prazeroso e tranquilo de ser realizado, sem pressão e não havia prazos definidos, em uma relação ótima com a editora.

Quanto aos motivos que as levaram a produzir a Coleção Guri, coincidem com o que já foi anteriormente apresentado, no que se refere à necessidade de se produzir um material didático-pedagógico adaptado à realidade dos alunos da zona rural e que contemplasse os conteúdos reivindicados utilizando temáticas afins à região, para qualificar o trabalho das professoras em sala de aula e atrair as crianças.

Os livros subsequentes à Cartilha do Guri foram sendo produzidos nos anos