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A COLEÇÃO GURI (DÉCADA DE 1960)

LIVROS DIDÁTICOS DA COLEÇÃO GURI – PRINCIPAIS DADOS EDITORIAIS

TÍTULO DA OBRA TIPO ANO

ESCOLAR REGIÃO ANO EDIÇÃO TIRAGEM

CARTILHA DO GURI – Processo de palavras geradoras letra tipo-script

Cartilha - - 1962 1ª - 1965 7ª - 1966 8ª - 1967 9ª - 1967 10ª - 1968 - - 1969 13ª 200.000

CARTILHA DO GURI Manual do

Professor - - 1968 - -

PRIMEIRO LIVRO DO GURI - Linguagem, Estudos Sociais, Ciências Naturais e Higiene Livro Didático 1º Ano - 1967 1ª 50.000 1968 2ª 50.000 1969 3ª 100.000

PRIMEIRO LIVRO DO GURI – Leitura

Livro

Didático 1º Ano - 1970 2ª -

PRIMEIRO LIVRO DO GURI – Matemática

Livro

Didático 1º Ano - 1968[?] - -

SEGUNDO LIVRO DO GURI - Linguagem, Gramática Funcional, Ortografia, Estudos Sociais, Ciências Naturais e Higiene Livro Didático 2º Ano - 1964 1ª 5.000 1964 2ª 20.000 1964 3ª 20.000 1964 4ª 25.000 1965 5ª 20.000 1965 6ª 20.000 1965 7ª 20.000 1965 8ª 10.000 1966 9ª 25.000 1967 10ª 25.000 1967 11ª 25.000 1967 12ª 25.000 1968 13ª 25.000 1968 14ª 25.000 1969 15ª 100.000 1971 16ª 30.000

SEGUNDO LIVRO DO GURI - Leitura

Livro

Didático 2º Ano - 1970 2ª -

SEGUNDO LIVRO DO GURI - Matemática

Livro

Didático 2º Ano -

Não se tem dados concretos se foi editado e publicado – propaganda na contracapa dos livros didáticos

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LIVROS DIDÁTICOS DA COLEÇÃO GURI – PRINCIPAIS DADOS EDITORIAIS

TÍTULO DA OBRA TIPO ANO

ESCOLAR REGIÃO ANO EDIÇÃO TIRAGEM

TERCEIRO LIVRO DO GURI - Linguagem, Gramática Funcional, Ortografia, Estudos Sociais, Ciências Naturais e Higiene Livro Didático 3º Ano - 1965 Julho 2ª 20.000 1965 Julho 3ª 80.000 1966 Dezembro 4ª 25.000 1967 Fevereiro 6ª 25.000 1969[?] - - 1971[?] - -

TERCEIRO LIVRO DO GURI - Linguagem, Gramática Funcional, Ortografia, Estudos Sociais, Ciências Naturais e Higiene Livro Didático 3º Ano Edição Especial para o Rio Grande do Sul S/D S/ED - Edição Especial para Santa Catarina

Não se tem dados concretos se foi editado e publicado – propaganda na contracapa dos livros didáticos Edição

Especial para São Paulo

Não se tem dados concretos se foi editado e publicado – propaganda na contracapa dos livros didáticos Edição

Especial para Guanabara

Não se tem dados concretos se foi editado e publicado – propaganda na contracapa dos livros didáticos TERCEIRO LIVRO DO GURI

- Leitura

Livro

Didático 3º Ano - 1970 1ª 50.000

TERCEIRO LIVRO DO GURI - Matemática

Livro

Didático 3º Ano -

Não se tem dados concretos se foi editado e publicado – propaganda na contracapa dos livros didáticos

QUARTO LIVRO DO GURI Livro

Didático 4º Ano - 1966 1ª 25.000 1966 2ª 25.000 1967 3ª 25.000 1967 4ª 25.000 1969 5ª 80.000

QUARTO LIVRO DO GURI - Matemática

Livro

Didático 4º Ano -

Não se tem dados concretos se foi editado e publicado – propaganda na contracapa dos livros didáticos

EXAME DE ADMISSÃO Livro

Didático 5º Ano -

Não se tem dados concretos se foi editado e publicado – propaganda na contracapa dos livros didáticos, indicando “em elaboração”. No Terceiro Livro (2ª ed., 1965), há indicação de publicação para 1967.

Pelos dados expostos, percebe-se que as edições chegam pelo menos à 13ª no caso da Cartilha do Guri e à 16ª no que diz respeito ao Segundo Livro do Guri. Como não foi possível encontrar os dados de edição e tiragem de todas as versões, não há como fazer uma análise evolutiva e comparativa total, mas percebe-se que, entre as quantidades das tiragens que foram identificadas, os números são bastante expressivos, considerando que algumas são bem próximas entre si, pelo ano em que foram publicadas, inclusive com várias tiragens de quantidades menores dentro de um mesmo ano, o que ocorre em mais de um caso, fazendo com que sejam publicadas edições diferentes no período de um ano. Quando a tiragem é de uma quantidade de exemplares especialmente alta, há um intervalo maior entre as datas de publicação.

Pode-se confirmar que os livros didáticos de edição especial destinados a outros estados, especificamente os do 3º ano, também estiveram na lista dos que seriam publicados pela Tabajara. Além desses, há divulgação do livro que seria dedicado à Admissão ao Ginásio, no caso também não localizado até a finalização da pesquisa. Não foram encontrados esses referidos livros e não se localizou informações detalhadas sobre a circulação por vários estados, contudo, no Diário Oficial foram encontradas notas que comprovam a sua aprovação e autorização para uso nas escolas paulistas.

Com relação aos exemplares guardados por Nelson Tabajara, o mesmo informou que restam poucos livros da Tabajara sob sua guarda, junto a outros documentos da editora, em seu acervo particular. Não existe um acervo ou arquivo institucional ou público no qual estejam reunidos os registros, documentos e publicações das Edições Tabajara. Apesar disso, pela consulta das imagens das capas do acervo particular de Nelson Tabajara, verificou-se que havia um setor na empresa, chamado de Arquivo, onde eram registrados e armazenados os exemplares publicados, que eram carimbados na capa e na folha de rosto. Nesses referidos registros carimbados, há um parágrafo informando que o exemplar faz parte do arquivo das Edições da Livraria Tabajara, com campos em aberto nos quais eram preenchidos, manualmente à caneta pela funcionária responsável, os dados editoriais referentes à edição, tiragem, ano e gráfica. Ao final de tudo, também consta a informação de que os exemplares não poderiam ser retirados do local, o que indica a preocupação da Tabajara em conservar uma amostra das publicações em seu acervo, que por motivos desconhecidos, não foi preservado após o encerramento dos serviços na última sede. A Figura 22, a seguir, ilustra um desses registros, encontrado em um dos exemplares da Cartilha

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Figura 22 – Fragmento da capa de exemplar da Cartilha do Guri (13ª ed., 1968/1969, Ed. Tabajara), com o carimbo

do Arquivo das Edições da Livraria Tabajara.

Fonte: Acervo particular de Nelson Tabajara.

Ao ser consultada a respeito dos livros terem sido inclusive publicados para outros estados, além do RS, como os indicados na Tabela 09 referida anteriormente, a professora e autora Flávia E. Braun declarou, em seu relato, não se recordar sobre isso e que isso não teria sido passado por ela. Tanto ela como sua irmã Zenna T. Braun, também professora e autora, demonstraram surpresa ao saber da repercussão que a coleção teve, pela circulação, edições e tiragens. Ambas relataram que não acompanharam esse processo com atenção, pois não se pensava nisso e não se deu o merecido valor e reconhecimento de sua produção na época (Flávia E. Braun; Zenna T. Braun, 2018).

Como já comentado anteriormente, a Coleção Guri se originou da publicação primeira da Cartilha do Guri, pelas Edições Tabajara, cuja primeira edição é de 1962. Com o tempo, conforme a demanda e devido ao sucesso obtido com a cartilha, as autoras e os editores da Tabajara decidiram investir na produção da continuidade da Coleção Guri, com os livros subsequentes para os anos escolares posteriores.

A participação do professor Elbio Gonzales foi efetivada apenas na cartilha, pois na época em que as professoras Flávia E. Braun e Rosa M. Ruschel produziram os demais livros, ele se encontrava afastado de suas funções profissionais em Porto Alegre e estava se dedicando a outras ocupações, em Brasília/DF. Já a professora Zenna T. Braun participou como autora apenas do livro específico de Matemática, por ser sua área de especialidade, a qual vinha se dedicando com maior interesse, mas a própria afirmou, em seu relato, que acompanhou e colaborou também na criação das demais obras da coleção.

Tendo em vista o que já foi mostrado até então, a Cartilha do Guri deve ser entendida como uma obra produzida no contexto do projeto educacional de lema “Nenhuma criança sem escola no Rio Grande do Sul”, do governo de Leonel Brizola, cujo objetivo era criar condições amplamente favoráveis de infraestrutura física e técnico-pedagógica para o desenvolvimento do ensino nos municípios do Estado, conforme os dados já apresentados.

Para tanto, o governador Brizola criou o Serviço de Expansão Descentralizada do Ensino Primário (Sedep), anteriormente referido. Durante os dois primeiros anos de existência

(1961 e 1962), esse setor foi chefiado justamente pelo professor Elbio Neris Gonzales, um dos autores da Cartilha do Guri. Nesse período, conforme o relato desse professor, foram executadas duas etapas de expansão do ensino primário municipal, as quais abrangeram todos os então 135 municípios do estado do Rio Grande do Sul (Elbio N. Gonzales, 2018).

Conforme informa o professor Elbio N. Gonzales, em seu relato, a primeira etapa preparou a infraestrutura física, com a construção de mais de 4.000 escolas de duas e três salas de aula, distribuídas por todos os municípios do Estado. Esta etapa foi acompanhada de perto pelo Governador e seu Secretário de Educação e Cultura, que deram todo o apoio ao desempenho pessoal do chefe do Sedep, que era ele mesmo (Elbio Gonzales), para efetivar a adesão dos prefeitos municipais, objetivando os convênios de cada município com o Estado. O professor Elbio N. Gonzales afirma, ainda, que a adesão foi de 100%, apesar das diferenças partidárias entre os 135 prefeitos (Elbio N. Gonzales, 2018).

Esses convênios compreendiam uma distribuição de responsabilidades mútuas entre os municípios e a Secretaria de Educação e Cultura, segundo relata o professor Elbio N. Gonzales. As prefeituras deveriam compor uma equipe local, responsável pela implantação municipal do programa, devendo fazer parte dela, obrigatoriamente, a Secretaria de Educação do ensino municipal, um representante do partido do governo estadual (PTB), um representante do prefeito e um representante da comunidade local. Essa equipe deveria planejar a distribuição e o número das escolas no espaço do município, planejar sua construção e apresentar os respectivos custos. O plano deveria ser aprovado no Sedep. O governo estadual repassava à prefeitura 70% desse orçamento para a construção das escolas. Os restantes 30% eram de responsabilidade do município (Elbio N. Gonzales, 2018). Sendo assim, durante esses dois primeiros anos de implantação do programa, o próprio professor Elbio N. Gonzales coordenou presencialmente um intenso processo participativo de implantação do projeto, por meio de eventos e reuniões principalmente com as Coordenadorias Municipais de Ensino, nas respectivas sedes municipais (Elbio N. Gonzales, 2018). Imagens de uma dessas ocasiões podem ser vistas na Figura 23, referentes a uma reunião realizada em Porto Alegre, em 1962. Na fotografia à esquerda, nota-se a presença, da esquerda para a direita, do chefe do Sedep - o professor Elbio N. Gonzales (sentado à mesa), do então Secretário da Educação - Justino Quintana (em pé, no meio da mesa) e do governador Leonel Brizola (sentado à mesa). A fotografia à direita mostra o público presente nessa reunião, composto predominantemente por professoras e funcionárias dos setores de educação do governo.

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Figura 23 – Reunião com as coordenadoras do ensino municipal em Porto Alegre/RS, 1962. Na fotografia à

esquerda, da direita para a esquerda, as três pessoas junto à mesa são: o governador Leonel Brizola (sentado), o secretário da Educação Justino Quintana (em pé) e o prof. Elbio N. Gonzales (sentado). Na fotografia à direita, aparece o público presente na reunião, formado por professoras e funcionárias dos setores de educação do governo.

Fonte: Acervo particular de Elbio Neris Gonzales e Suely Franco Netto Gonzales.

Segundo o relato do professor Elbio N. Gonzales, os convênios foram todos firmados e mais de 4.000 escolas se espalharam no território do RS, nestes dois primeiros anos. Essa etapa foi coordenada e executada pelo próprio professor Elbio N. Gonzales, enquanto chefe do Sedep, apoiado por uma pequena equipe constituída por uma arquiteta, duas secretárias, um técnico em educação, uma copeira e um motorista. A participação e os esforços das equipes municipais foram decisivos no sucesso do programa, nas palavras de Elbio Gonzales. Inclusive, após o encerramento do governo de Brizola, o programa teve continuidade no governo de Ildo Meneghetti (Elbio N. Gonzales, 2018). No que se refere à quantidade de escolas acima citada, embora o professor Elbio N. Gonzales tenha repassado tais números para esta pesquisa, os dados levantados por Quadros (2001; 2002; 2005), anteriormente mostrados, revelam outros números129.

Elbio N. Gonzales também fez comentários a respeito dos contratos dos professores, anteriormente apresentados no texto, através dos dados mapeados por Quadros (2002), na contextualização sobre a educação do período. Segundo o professor, no decorrer das construções das escolas, foi evidenciada a necessidade de aumentar significativamente tanto o número de professoras municipais quanto sua capacitação pedagógica, além de oferecer- lhes instrumentos adequados para desenvolver a atividade de ensino nas escolas construídas. Ao Sedep coube, então, realizar mais duas iniciativas essenciais: o processo de apoio pedagógico com o recrutamento e a capacitação de professoras municipais e a criação de seu instrumento essencial, uma cartilha de alfabetização (Elbio N. Gonzales, 2018).

129 Os números informados por Elbio N. Gonzales foram recebidos via questionário, enquanto que, os de Quadros

(2001; 2002; 2005) foram retirados de suas publicações. É possível que os dados fornecidos pelo professor Elbio tenham sido um número aproximado, de acordo com suas lembranças, na falta de condições de fornecer um valor exato, visto que não foi possível comprovar se houve, de sua parte, consulta a documentos para repassar essa informação. Em relação aos dados de Quadros, são baseados em relatórios e documentos pesquisados em seus estudos. Convém informar aqui que não houve verificação mais detalhada sobre a diferença observada entre os referidos números, indicados por Gonzales e Quadros, durante esta pesquisa.

É deste processo que surge então a Cartilha do Guri, proposta pelo professor Elbio N. Gonzales, que convidou as professoras, pedagogas de reconhecida competência, Flávia E. Braun e Rosa M. Ruschel para produzirem juntamente com ele a referida obra didática. Além disso, ambas as professoras tinham experiência profissional, tanto como professoras como coordenadoras de escolas da zona rural. Também tinham participação profissional na 3ª Coordenadoria Regional do Estado, que abrangia a região de Estrela, cidade na qual haviam trabalhado. Isso confirma que todos esses profissionais já se conheciam previamente à criação da Cartilha do Guri, pelas relações profissionais estabelecidas, visto que, em suas respectivas funções, trabalhavam nos setores da educação daquela região (Elbio N. Gonzales, 2018; Flávia E. Braun; Zenna T. Braun, 2018).

Além disso, a maioria das autoras gaúchas de livros didáticos publicados naquele período tinha vínculo com o CPOE, mas não era o caso nessa produção. O referido centro providenciou uma avaliação e aprovou os livros que integram a Coleção Guri, segundo os critérios adotados, o que repercutiu na sua divulgação e indicação tanto pela Revista do

Ensino/RS como pelos documentos e boletins enviados às escolas.

Segundo os autores entrevistados nesta pesquisa, a respeito da primeira obra publicada da coleção, a Cartilha do Guri pretendia destinar-se então a determinado aluno e a um determinado professor, pois era necessário atentar para a realidade presente naquele momento histórico, em que a maioria das escolas criadas estavam em área rural e, além do mais, havia o desejo de se valorizar também as características culturais do estado do Rio Grande do Sul (Elbio N. Gonzales, 2018; Flávia E. Braun; Zenna T. Braun, 2018). Além disso, em seu relato, o professor Elbio N. Gonzales destacou que a cartilha não era exclusivamente um instrumento didático para aprender a ler, mas tinha um objetivo de formação cultural, de integração social da criança, ao alfabetizar-se (Elbio N. Gonzales, 2018).

Por isso, a cartilha continha um conteúdo adaptado à realidade local e regional do RS, utilizando o recurso das “palavras geradoras”, que foram selecionadas pensando-se tanto pela sua função técnico-pedagógica quanto sociocultural. Além do mais, as imagens utilizadas na cartilha foram também escolhidas e definidas pelos autores, pois tinham como objetivo servirem como indicadores visuais da respectiva palavra ou das frases contidas nas páginas (Elbio N. Gonzales, 2018; Flávia E. Braun; Zenna T. Braun, 2018).

Sobre o título da coleção ter o nome “Guri”, os três autores comentaram, em seus relatos, que foi pelo desejo de utilizar alguma expressão que fosse comum e típica da região do Rio Grande do Sul. Daí surgiu essa proposta, posto que se trata de uma palavra popular, de uso generalizado e simbólico para o estado, e a decisão por ela foi de comum acordo entre todos (Elbio N. Gonzales, 2018; Flávia E. Braun; Zenna T. Braun, 2018). Com isso, para se preservar a identidade do material, foi mantido o nome para os demais livros da coleção, modificando-se a primeira parte “Cartilha”, para “Livro do”, que seria antecedido, para cada

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caso, pelas palavras “Primeiro”, “Segundo”, “Terceiro ou “Quarto”, fazendo, assim, uma referência ao nível de escolarização do aluno.

Segundo consta no dicionário Houaiss (2018), “guri” significa menino, criança130, o

que coincide com o significado regional atribuído no Rio Grande do Sul. Etimologicamente, essa palavra evidencia a influência da língua indígena no português, pois se origina do termo tupi wyrí / gwi’ri / guiri / ki’ri / ü ï’ri (há variações na escrita da expressão), que significa “pequeno” e diz respeito também a um “bagre novo”, o que por extensão metafórica se estendeu para “criança” (ROMANO; SEABRA, 2014). Esse termo, com características regionalistas, é muito utilizado no sul do Brasil e significa criança, do sexo masculino, visto que para aquela de sexo feminino, é utilizada a expressão “guria”. Em outros estados, isso seria equivalente a vocábulos característicos de certas regiões, apresentando variações, tais como “menino”, “garoto”, “moleque” ou “piá”.

Desta forma, a palavra “guri” também absorve as explicações para o significado da expressão “criança”, a saber, que corresponde àquele ser humano que está na primeira fase de existência, a da infância; é o indivíduo que se encontra no período que vai do nascimento à puberdade; que ainda não é adulto; que está no início do seu desenvolvimento e que, nessa etapa, recebe aprendizagens que são essenciais para a sua formação, no decorrer de sua vida. Pelas definições abordadas, compreende-se as justificativas para o título da Cartilha do

Guri, e na continuidade, para os demais livros didáticos da Coleção Guri, agregando tanto a

relação da palavra “guri” com a forma como as crianças comumente são chamadas no Rio Grande do Sul, quanto a participação dos referidos suportes na formação dos guris e gurias, durante os anos iniciais de sua fase escolar.

Quanto às questões burocráticas de inscrição e autorização para utilização dessas expressões pela Tabajara no título da referida coleção didática, foi encontrado no Diário Oficial de 31/05/63 (p. 14 – Seção III), o registro do termo “Tabajara” (Têrmo n° 581.258, de 4-3-63) e no de 18/03/64 (p. 16 – Seção III), dois registros na sequência, um com o termo “Guri” (Têrmo n° 617.598, de 18-11-1963) e outro com “Coleção Guri” (Têrmo n° 617.599, de 18-11- 1963), com as respectivas especificidades. Os informes com os três termos podem ser vistos na Figura 24131.

130 Em alusão às expressões utilizadas na Coleção Guri e valorizando a cultura regional, neste trabalho são

utilizados propositalmente os termos “guri” (masculino) e “guria” (feminino) no lugar de “menino” (masculino) e “menina” (feminino), para identificar essa relação das crianças e seus gêneros, quando necessário.

131 Um fato curioso aconteceu durante a pesquisa, no mapeamento sobre a coleção que estava sendo realizado

via internet, ao deparar-se com outra publicação de mesmo título, publicada poucos anos antes da que se estuda nesse trabalho. A autora Célia Agra dos Santos publicou uma obra didática intitulada Cartilha do Guri, em 1955, pela Gráfica Nossa Senhora de Fátima, no Rio de Janeiro, com 63 páginas (dados do exemplar catalogado no acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro). Conforme consta no Diário Oficial da União (DOU), na página 41 da Seção 1 de 24/02/1956, foram registrados pela Biblioteca Nacional, no mês de julho de 1955, os direitos autorais dessa obra didática, sob Nº 9.986. Nascida em 1926, Célia era professora municipal e também publicou a coleção didática Minhas férias – Exercícios de Linguagem, Matemática e Conhecimentos Gerais, com volumes

Figura 24 – Fragmentos das páginas do Diário Oficial com os registros dos termos “Tabajara”, “Guri” e “Coleção

Guri”.

Fonte: Diário Oficial de 31/05/63 (p. 14 – Seção III), à esquerda, e de 18/03/64 (p. 16 – Seção III), ao centro e à

direita.

Entretanto, mesmo com esses registros de termos acima referidos e aprovados, no Diário Oficial de 29/05/1969 (p. 05 – Seção III) foi encontrado o indeferimento de “Guri” como marca, na seção de “Marcas Indeferidas”, o que havia sido requerido pela Livraria Tabajara S. A., identificado sob N. 617.598, cl. 32.

No texto de Apresentação da Cartilha do Guri (1962, p. 2), os autores comunicam ao leitor o objetivo da publicação. No trecho “Não aspiramos o ideal. Esta Cartilha é uma espécie de resposta a uma realidade. É uma experiência sujeita a ser reconstruída e aperfeiçoada”, a referência é a vida na zona rural. Igualmente no trecho: “Procuramos neste Pré-Livro, com o máximo de simplicidade e de realismo, acondicionar os princípios psicológicos, pedagógicos e didáticos a uma situação sociológica concreta”, abordam a preocupação com a concepção de uma cartilha que agregue esses aspectos, considerando as necessidades das crianças que vivem no interior, diferentemente das que estão na zona urbana.

Além disso, ainda no mesmo texto, os autores frisam também a importância de preparar um material que dê conta da alfabetização de forma simplificada e condizente com o meio em que vivem as crianças, ao dizerem que: “Nossa intenção é a de evitar o sistema mecânico do B-A-BA, sem cair em sistemas por demais evoluídos, inacessíveis a nossa realidade” (1962, p. 2). Os autores finalizam declarando que desejam apenas uma única coisa com a Cartilha: “[...] concorrer positiva e diretamente na solução do problema da aprendizagem da leitura e da escrita e indiretamente na libertação do homem, porque homem