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A opção teórico-metodológica para a análise das informações foi pela hermenêutica-dialética. A justificativa se deu pela própria característica dos objetivos da pesquisa, onde os sujeitos são entendidos em suas dimensões históricas e culturais, numa dada gestão que busca a superação hegemônica de modelos de atenção e gestão em saúde.

A união da hermenêutica com a dialética leva a que o interprete busque entender o texto, a fala, o depoimento como resultado de um processo social (trabalho e dominação) e processo de conhecimento (expresso em linguagem) ambos com múltiplas determinações, mas com significados específicos. Esse texto é a representação social de uma realidade que se mostra e se esconde na comunicação, onde o autor e o interprete são parte de um mesmo contexto ético-político e onde o acordo subsiste ao mesmo tempo que as tensões e perturbações sociais. (MINAYO, 1993; p.227).

Minayo (1993), mesmo fazendo referencia a Habermas, quanto a sua advertência de que a hermenêutica-dialética não determina técnicas de dados e sim sua autocompreensão, propõe alguns passos fundamentados na parceria entre a hermenêutica e a dialética: 1 – ordenação dos dados (transcrição, releitura, organização, em determinada ordem, dos relatos e dados de observação); 2 – classificação dos dados (a. leitura exaustiva e repetida dos textos, prolongando uma relação interrogativa com eles; b. constituição de um ou vários ‗corpi‘ de comunicação se o conjunto das informações não é homogêneo); 3 – análise final, a qual se constitui como ―movimento incessante que se eleva do empírico para o teórico e vice-versa, que dança entre o concreto e o abstrato, entre o particular e o geral é o verdadeiro movimento dialético visando ao concreto pensado.‖ (P.236).

Esse foi o caminho que tracei na elaboração desse estudo, baseado das questões geradoras (roteiro em anexo): 1 – Fale sobre a gestão de Fortaleza no período de 2005 a 2008 e 2 Fale como você se percebe nessa gestão – construí junto com os

informantes um material discursivo com valor para a compreensão das implicações de uma gestão para a formação de sujeitos.

5.4.1 O percurso da análise

Estou implicada neste estudo, como disse Emerson Merhy. Sou coprodutora do fenômeno sob análise. Não parto apenas do lugar a que o outro dá significado, mas do sentido que dou á gestão. E assim crio a minha significação e a do objeto estudado.

Por isto, necessitei realizar o movimento de ‗estranhamento‘ a todo instante na análise das informações. Acredito que consegui me distanciar sem a pretensão de ser neutra, mas, por certo deixei escapulir, em algum instante, uma reflexão menos crítica. Mantenho, contudo, a tranquilidade ética e a certeza de que esta implicação trouxe um diferencial ao trabalho, pois o texto do grupo focal ganhou sentido vivido ao ser lido, ou seja, estava ancorado em outras vivências, impressões.

Talvez o leitor mais exigente nas tradições acadêmicas se interrogue como, por meio de dois grupos focais direcionados a esta pesquisa e o material empírico sobre as Rodas de Gestão, foi permitido um extenso material na discussão dos resultados com uma grande variabilidade de temas. Ratifico o fato de que extrai, sim, de cada expressão linguística, o máximo de conteúdo interpretativo. Isto não foi difícil no sentido de que algumas não eram novas; encaixavam-se num quebra-cabeças de análise que venho montando há quatro anos e intensificado quando assumi o papel de educadora em serviço do SUS-Fortaleza, o que me permitiu transitar em diversos espaços da gestão, como também interagir com diferentes pessoas.

Informo que segui os passos metodológicos descritos na análise qualitativa, chegando à identificação das principais categorias empíricas. Depois escrevi um texto que denominei livre, sem preocupações com formas e teorias, interpretando o que os informantes haviam dito nos grupos focais, enriquecendo com minha experiência. Só depois refiz uma leitura mais crítica, buscando contextualizar o discurso e fazendo a correlação com a teoria.

Algumas vezes, quando relia o escrito na análise, precisei controlar-me para não divagar demais, seja no dito pelos informantes, seja por temáticas que advinham do

discurso. Isto ocorreu pelo meu receio de reduzir o fenômeno estudado, ou mesmo pela minha própria característica em analisar as informações. Digo, porém, que foram necessários para finalizar este estudo recortes de alguns pontos abordados pelos informantes da pesquisa.

Informo que, na discussão dos resultados, não separei a análise sobre o sujeito e acerca da gestão, como, de certo modo, realizado no referencial teórico. Estão mais imbricados um no outro na análise. Cheguei até a categorizar alguns trechos que evidenciavam questões da autonomia, responsabilidade e compromisso, mas percebi que seria uma incoerência esta separação.

Enfim, com a certeza que de este caminho investigativo proporcionou limites, mas também boas informações, nas próximas páginas, a discussão dos resultados estará disponível para apreciação e crítica do leitor.

6 – A DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: SOBRE A CONSTRUÇÃO DE SUJEITOS NA TESSITURA DE UMA GESTÃO EM SAÚDE

Por meio de um discurso que transitou em diversos aspectos da experiência da gestão e atenção em Fortaleza, tive que captar possibilidades e limites de formação do sujeito numa gestão de saúde. Assim, encontrei uma diversidade de categorias empíricas e teóricas interconectadas, que demonstraram a complexidade do tema aqui abordado. Para melhor organização do material a ser analisado, dividi a discussão dos resultados em três partes, na sequência delineadas.

PARTE I – Refiro-me às informações que indicaram uma intencionalidade e um direcionamento político-conceitual na gestão de Fortaleza no período estudado. O discurso e a prática de mudança foram abordados por meio de reflexões sobre o Modelo de Redes Assistenciais e a ampliação da Estratégia de Saúde da Família em Fortaleza. Emergiram temas essenciais para a construção do sujeito, como a importância de uma consciência histórica, da integração das políticas e serviços no âmbito local e da criação de vínculos. Além disso, o concurso público e o perfil dos trabalhadores, o processo de implantação e a complexidade da realidade da periferia de Fortaleza para a ESF foram essenciais para a reflexão sobre processos de trabalho e condicionantes do sujeito.

PARTE II – Concentro os discursos sobre a organização do processo de trabalho na gestão de Fortaleza. Foram trazidos alguns dilemas entre as instâncias da gestão, como ainda a manutenção de lógica de controle e tarefa; competição entre regionais; os lugares e papéis, condicionando os graus de autonomia; concentração de poder, contudo com uma ampliação do ‗acesso‘ entre agentes do sistema. Além disso, trago a polarização entre uma gestão humana e gestão instrumental trazida pelos coordenadores de CSF.

PARTE III – Abordo o que chamei espaços potenciais de formação de sujeito. A Educação Permanente em Saúde, a Humanização e as Rodas da Gestão ganham destaque por criarem espaços para diálogo, formação, distribuição do poder e mudança de prática, o que não significa não possuírem dificuldades intrínsecas para efetivação de seus ideais.

PARTE I - “ESTAMOS MUDANDO MODELOS”: A INTENCIONALIDADE E